segunda-feira, outubro 01, 2007

O socialismo em vista de seus métodos. . .

Este texto foi escrito num site de um grande amigo, chamado "Liberdade Econômica", datado de 12 de março de 2003. É interessante, pois coloca em pauta, as premissas básicas do socialismo e o porquê de compreendermos que, ao contrário do que é dito, este sistema é tão inimigo das liberdades civis da população. A foto acima é o museu do genocídio, no Camboja, onde quase dois milhões de pessoas foram assassinadas pelo regime comunista do ditador Pol Pot.

O socialismo parece ser um dos ideais mais predominantes na intelectualidade média brasileira. Uma boa parte, senão a maioria da elite acadêmica, como de muitos movimentos estudantis e de jovens, mira o ideário do socialismo como um processo de “libertação” de todas as frustrações e agruras mundanas, numa espécie de inspiração e fanatismo que beira a religiosidade. Em contrapartida ao capitalismo liberal e à democracia, os militantes, envolvidos numa aura de cegueira intelectual, precisam fechar os olhos, quando dissociam um ideário político da realidade, numa mostra viva de válvula de escape. Esse é caso socialista ou comunista, embora os termos quase sempre se confundam.

Se os socialistas perderam crédito e popularidade com a queda do Muro de Berlim, a esquerda tenta dourar um novo discurso, conciliando confusamente o velho discurso radical do marxismo-leninismo com a vertente cor-de-rosa e não menos ultrapassada da social democracia. Se uns não se assumem declaradamente mais comunistas, outros tentam tirar os estigmas da União Soviética, sem, contudo, abandonarem suas premissas totalitárias de governo. Ou então, como é de praxis, o “socialista” se torna um eufemismo para comunista, uma vez que a palavra comunismo se tornou nome feio.

Mas o que estranha na admiração pelo socialismo é que a sua ideologia não é libertária. Seu ideal se pauta em duas questões nebulosas: o igualitarismo radical, no propósito de destruição do individuo como agente atuante na vida social; e a centralização e concentração absoluta e perversa do poder político, econômico e militar. O coletivismo pregado pelo socialismo, na verdade é uma conspiração contra a liberdade, visto que tal ideologia, para impor um consenso de idéias, valores e aspirações uniformes, precisa de métodos dos mais despóticos e coercitivos absolutos de poder. Seu caminho leva somente a um destino, o caminho da servidão.

Sua visão de mundo é fatalista. O socialismo nega a liberdade individual, uma vez que prega que o individuo é mera expressão amorfa da coletividade ou de forças históricas impessoais, podendo ser moldado ao bel prazer dos interesses e poderes dominantes. No socialismo, o individuo é visto como um ser sem vontade própria, sendo reflexo apenas de uma sociedade construída que o condiciona. Na verdade, o indivíduo é mera peça orgânica de uma estrutura social, sendo descartável ou não, de acordo com as conveniências dessa coletividade, muitas vezes artificialmente construída. Aliás, tal fatalismo carrega uma mística religiosa, elevando a ideologia socialista em torno de premissas supostamente “cientificas”, numa completa mitificação da ciência.

Outro aspecto do socialismo é a violência como fator motriz da transformação histórica da sociedade. A “revolução” é uma mudança violenta e radical da natureza humana, no mito artificial da criação de um “novo homem”, visando domesticar sua liberdade e sua consciência, através de uma engenharia social. Essa busca do “novo homem”, na prática, disfarça um niilismo destrutivo de todos os valores culturais da sociedade criados através dos tempos, numa espécie de ruptura com o passado e com a própria história. O socialismo deseja construir a história, destruindo a história. E na ânsia messiânica de um “mundo novo”, ou de um “novo homem”, tal ruptura implica uma violenta lavagem cerebral na memória histórica, através do fanatismo ideológico e da uniformidade de opiniões. No final, a pessoa humana, dissociada de seu passado histórico, e condicionada a ser apenas reflexo de uma vida social artificialmente produzida, acaba por se tornar uma anti-pessoa, uma figura sem identidade.

Um projeto político que busca a coesão uniforme de valores, interesses e idéias através de um domínio político e econômico total e centralizado da sociedade, a sua única possibilidade lógica é o terror em massa. Para agregar a complexa natureza humana num emaranhado de massas obedientes, submissas e suprimir as dissidências, não há outro método senão a coerção e a violência ilimitada, uma vez que o Estado busca o controle absoluto da sociedade. Ao contrário da democracia, feita de indivíduos conscientes e cientes de sua liberdade de iniciativa, o socialismo é uma cultura arrebanhada de massas domesticadas, que obedecem cegamente a um poder central. Esse poder central é o partido ou a nomenklatura, detentores de um poder jamais imaginado a reis e imperadores. A centralização perversa e onipotente do Estado confere a total burocratização e domínio da sociedade pelo poder político, num fenômeno chamado totalitarismo.

A centralização e fortalecimento total do poder do Estado se pautam na hostilidade à independência da vida privada. A crença ingênua dos socialistas é a de que, desaparecendo o equilíbrio entre o Estado e a sociedade civil privada, no alargamento total da estatolatria, naturalmente desapareceria o Estado, sendo todos amarrados dentro de uma ordem homogênea e coletiva. Porém, na prática, o projeto socialista apenas acresce de poderes ditadoriais e divinos ao Estado, dizimando qualquer sinal de vida autônoma e de liberdade na sociedade civil.

Outro aspecto curioso do socialismo é sua aversão a propriedade privada. Se a vida privada será dizimada pelo Estado socialista, logo, a propriedade privada, como contraposição ao poder absoluto, será uma ameaça a sociedade socialista. Porque a propriedade privada autonomiza a iniciativa individual, oferecendo sérias resistências ao poder centralizado.

Se a estatização da vida em geral é por si só perversa, não menos grotesca é a abolição do direito de propriedade. A revogação da propriedade é uma espécie de alienação individual, uma vez que se proíbe ao individuo o direito de usufruir diretamente da coisa ou dos bens que possui ou produziu, em favor de uma concepção abstrata e inócua chamada “coletividade”. A “coletividade”, neste caso, é a burocracia, que se apropria, através de métodos violentos, da propriedade dos outros, e se torna, em causa própria, dona de tudo.

Neste aspecto, a “planificação central” socialista é o propósito de repassar as complexas decisões das atividades econômicas de milhões de pessoas, nas mãos de um poder despótico de meia dúzia de burocratas, dentro de uma casta rigidamente estratificada. Isso desmente o dogma igualitário do socialismo, visto que para o sistema sobreviver institucionalmente, acaba criando as mais perversas desigualdades de poder, ou seja, um grupo burocrático privilegiado e estamental, fechado dentro de uma casta partidária. E em nome da distribuição das riquezas, o socialismo consegue a mais ousada e violenta concentração de renda, no controle e domínio total do Estado sobre a economia.

A ordem socialista é perfeitamente compatível com o militarismo e com a guerra, senão possuindo uma identidade atávica. Numa sociedade rigidamente hierarquizada, absolutista e policialesca, com uma leva de súditos perfeitamente obedientes dentro de uma disciplina rigorosa e marcial; e com uma ideologia que prega a violência, o desprezo ao indivíduo e a hostilidade contra as diferenças como práxis histórica, confere aos regimes socialistas ou comunistas, um caráter belicista, rancoroso e inimigo da paz. De fato, todos os países comunistas, sem exceção, são militaristas, dentro de uma organização disciplinada e obediente das massas servis, sufocadas pelo domínio total de órgãos de segurança e polícia secretas, a fim de fiscalizar os desvios ideológicos dos súditos. A associação entre fascismo e socialismo ou comunismo vão muito além de meras semelhanças históricas. Os discursos de ódio e intolerância dos fascistas não são em nada diferentes das palavras de ordem dos comunistas e socialistas radicas. Eles são apenas pontos opostos para a mesma essência política.

Se o socialismo é uma ideologia, por si mesma, imoral, antilibertária e monstruosa, o seu histórico de prática política foi mais sanguinário ainda. Pode-se dizer que o socialismo e suas variantes comunistas, em menos de um século, foram uma das experiências de engenharia social mais traumáticas, terríveis e desumanas que a historia já registrou, na inumerável soma de vitimas. Deportações em massa, expurgos, fuzilamentos sumários, campos de concentração e toda sorte de arbitrariedades, ao preço de mais de mais de cem milhões de vitimas e a ruína de várias nações. Essa tragédia histórica sem precedentes, muito antes de serem meros desvios históricos, é apenas reflexo das premissas básicas do socialismo aplicado na prática.

Se os socialistas e comunistas se apropriaram de velhos princípios liberais democratas, como “direitos humanos”, “democracia”, “pluripartidarismo” e a mais sagrada palavra das democracias liberais, “liberdade”, é porque tentam, através de meios sutis e nem sempre confiáveis, disfarçarem sua dose de oportunismo. Contudo, ao contrário das ladainhas pseudo-libertárias, o socialismo tem escassa lista de serviços para o bem. Se o socialismo, com seus métodos messiânicos, autoritários e voluntaristas de luxúria e poder, possui tamanha popularidade, só retrata a fusão de rancor que muitos intelectuais e ativistas guardam para si. É perceptível como razoável, pois para certos tipos de pessoas, é mais fácil odiar do que amar. O sonho da pátria socialista de grande parte das elites acadêmicas é a repetição de velhos pesadelos históricos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Conde,

Parabéns pelo blog. Já acompanhava suas postagens pelo orkut, e estou adorando seus textos!!

Anônimo disse...

De fato, um texto claro para neófitos no assunto (combate ao comunismo) como eu. Ouvi falar do seu site no Olavão. Gostei