sábado, outubro 18, 2008

A morte do capitalismo?

A crise atual na economia americana implica discussões apaixonadas entre os liberais e os socialistas. O ocaso da bolha imobiliária e, ao mesmo tempo, a quebra de vários bancos americanos, suscitam novas discussões sobre a necessidade ou não de intervenção estatal na economia. Interessante notar que esses debates já ultrapassaram as questões acadêmicas de economia há um bom tempo. A discussão em si não é técnica. Ela tem elementos morais, políticos e ideológicos, que influenciam, e muito, os destinos da economia mundial.

O que está em jogo nessa discussão? A salvação da economia americana? O resgate dos bancos? A restituição dos credores? A recuperação da economia mundial? Penso que não. O que está em jogo, basicamente, é o sistema político e econômico de liberdades e propriedades que mantém as democracias em pé. Os arautos anticapitalistas, os milenaristas marxistas de plantão, já estavam decretando antecipadamente o “eschaton”, a morte do capitalismo e, em particular, do “neoliberalismo”. Se atentarmos aos apelos contra o livre mercado na ótica destes apocalípticos, há na sua proposta uma tendência perigosíssima de um completo agigantamento da burocracia estatal, como se esta fosse a fiel salvadora da economia capitalista. Não deixa de ser patética essa hipótese, pois quase todos eles sentem uma dolorosa saudade do falecido e criminoso modelo soviético. Um amor que não ousa dizer o nome. . .

É curioso perceber que a falácia da burocracia voluntariosa e salvadora é um lugar-comum nos comentários de jornalistas, economistas e acadêmicos, como se a existência mesma do livre mercado fosse uma corrupção moral tolerável dentro dos limites da benevolência do Estado. A crise de 1929 é o espantalho destes notórios profetas, relembrando a figura do New Deal e de Roosevelt como salvadores do malvado e corrompido capitalismo norte-americano. Este mito, forjado nos anos 30, não deixou de ter um dedo da União Soviética, já que muitos tecnocratas da administração Roosevelt eram francamente stalinistas, fanáticos estatólatras. Aliás, a idéia da burocracia voluntariosa e sábia chegou a ser uma mania daqueles tempos. É paradoxal que eles exaltassem as medidas de planejamento centralizado bolchevista, quando na mesma época, a União Soviética experimentava o maior surto de fome e miséria de sua história, com a coletivização das terras na Ucrânia. Tragédia que custou a vida de milhões de ucranianos pela fome e reduziu o país ao canibalismo. Em suma, a desproporção, além de desonesta, é paranóica.

É desonesta e paranóica porque falsifica a compreensão histórica do século XX. Se há algo que se tem de rememorar no Estado contemporâneo é o de ser organismo mais destrutivo que se tem notícia. As piores crises econômicas do capitalismo foram justamente causadas pela intervenção estatal. Aliás, se há algo que o Estado fez, em todo o século passado, foi criar problemas inexistentes para depois presumir resolvê-los. Estranha metodologia, porém, perfeitamente compreensível, em parte, pela idéia mítica do Estado engenheiro social e de uma sociedade lapidável, tal como uma argila de um oleiro. O governo intervém na economia e na sociedade civil em nome de resolver seus problemas. Quando ele não os resolve, ou mais, piora os males, exige mais burocracias e, em nome disso, mais poderes sobre a sociedade civil. E cada vez mais, o Estado destrói a vitalidade, a espontaneidade, a capacidade criativa da sociedade, para tornar tudo sumariamente coercitivo, compulsório, forçado. É espantoso que o processo seja um circulo vicioso, uma espécie de louca autofagia. E além de não resolver os velhos problemas que se propõe, o Estado cria outros novos, inexistentes, até o dia em que a sociedade definha.

Não é novidade, para os mais estudiosos, que a crise de 1929, como a crise atual, tem no Estado o seu maior responsável. Todavia, o espírito totalitário e idolátrico do Estado parece bem vivo na mente de muitas pessoas, como atávicas a um processo de servidão. É estranho bradar a crise de 1929 como o pecado original do capitalismo liberal, quando na verdade, seus diletantes escamoteiem os fracassos (e por que não dizer, crimes?) da economia estatal planejadora. Isso porque há de se recordar, a crise de 1929, como a crise americana atual, é pecado original do espírito planejador do Estado.

Uma boa parte dos que aderiram ao discurso de morte do capitalismo tem o espírito stalinista dentro de seus devidos corações. São as viúvas do Muro de Berlim, os nostálgicos da Gosplan soviética da vida, amantes naturais da ditadura comunista chinesa, cubana e norte-coreana, que odeiam o sistema de liberdades civis, no qual os americanos representam seu maior símbolo. Nesta lista entram os fracassados caudilhos cripto-comunistas, os Chavez, os Morales da selva latino-americana , junto com seus adeptos cretinos do fracasso permanente, que de tão permanente, acabam se tornando um sucesso insistente de público. São verdadeiros fantasmas brigando contra a realidade viva. Até porque o livre mercado e a propriedade privada são garantias materiais para as liberdades civis que o ocidente usufrui. São essas instituições que preservam os direitos individuais, sem os quais, o Estado controla tudo e a sociedade é subjugada. São, em suma, garantias para o progresso natural da economia. O resto é conversa mole!

segunda-feira, outubro 13, 2008

Direto do país dos Bruzundangas. . .na república dos bestializados.


Estou na loja da minha mãe, cuidando dos negócios da família e eis que vejo um santinho de um candidato a vereador, em cima da mesa de trabalho, nas seguintes palavras: “vote no ‘anormal’ do brega”, professor e advogado!”. Aquela cena me pareceu curiosa, senão saída de um romance. Lembrou-me do brilhante folhetim escrito por Lima Barreto, “Os Bruzundangas”, que falava justamente da República Velha, com seus conchavos e suas parvoíces políticas e a degradação moral das elites governantes. De fato, já havia uma comicidade em nossa república: ela já nasceu velha! Se o Sr. Lima Barreto vivesse hoje, seu texto seria bem mais fecundo. Ainda não vi ninguém imitar a vida com a arte. Em nosso país, a realidade é tão surrealista que supera a arte do cômico.

Naquele cidadão vulgar, candidato a vereador, observava o rebaixamento moral, intelectual e ético das elites políticas brasileiras atuais. O mesmo princípio se aplicava às candidaturas a prefeito da minha cidade. Todos, em maior ou menor extensão, queriam parecer como o populacho ralé, sem as distinções graves e necessárias que se exigem nas lideranças políticas virtuosas. Todos queriam ser comuns, padrões medíocres da massa. Mais grotesco do que essa constatação é a falta de personalidade nas classes políticas. Se há algo que desapareceu nessa república foram às oposições. Se não bastasse a vulgaridade dos candidatos, quase todos beijavam a mão do vulgar-mor, do homem-massa, da personificação da revolta dos ralés da república: o Presidente Lula.

Às vezes me pergunto quais as qualificações do “anormal do brega”? Vejo um candidato a prefeito falando assim: “- Eu sou burro e pobre como você, logo, vote em mim”. É como se a burrice e a pobreza, tão comuns ao povo, fossem alguma virtude, dessem alguma moral para governar. Para contrabalançar a vulgaridade, o nosso candidato a vereador nos assevera: “professor e advogado”. E me pergunto: o que um “anormal do brega” pode ensinar de louvável ao povo? A baixeza cultural se associa ao mais rasteiro bacharelismo, como se o papel timbrado de um diploma desse autoridade intelectual ao vulgar. De fato, o que menos falta neste país são pessoas incultas, iletradas, porém, nobilitadas com algum título de “doutor”.


As elites democráticas atuais não vêem exemplos em instâncias superiores de cultura, política e moral que as distinguam. Elas mesmas não se exigem para esses fins. Agora quase todo político quer fingir ser do povo. O presidente da República se exalta por violar o português ou soltar sofismas de botequim sindical. Os candidatos vão na mesma onda, ora exaltando as virtudes da própria indigência moral e intelectual, ora exaltando uma falsa origem de pobreza. Quando o rei quer se parecer com o lacaio ou quando o prefeito quer se assemelhar a empregadinha doméstica ou dona de casa da propaganda eleitoral, é porque alguma coisa está errada com essa classe política. Antigamente, as empregadas domésticas e os lacaios sabiam fazer distinções. A massa buscava a se assemelhar aos melhores da elite. Ainda me lembro de um sujeito simples do povo, porém, muito sábio e honesto, que dizia: “- Eu não voto no sicrano, porque ele é parecido comigo, porque eu mesmo jamais saberia governar o país”. Agora é justamente o contrário. Mimados por discursos demagógicos, o lacaio ou a empregada doméstica acham que devem votar no rei semelhante a eles próprios. Ou pior: as elites querem ser piores do que o povo. A democracia, neste aspecto, é um circo, um fingimento, uma palhaçada. É um povo inepto, sem hierarquias de valores para escolher como ser governado. É uma elite inepta, postiça, nula, sem senso de autoridade e auto-exigência do dever moral para governar.

Se por um lado, quase todo político se orgulha de ser “massa”, ninguém quer assumir as distinções e deveres inerentes às elites. A “elite”, para a classe política, é o inimigo, o rival. É como se a distinção fosse em si mesma má. Claro, isso implica dizer que a padronização é um referencial de proximidade com o povo. Na prática, porém, é uma perversão moral das lideranças e uma destruição completa de valores hierárquicos no povo. Tal ódio contras as elites tem o aspecto cabal da inferioridade moral de nossos tempos, que é a inveja, o desprezo por aquilo que soa diferente e superior. Tudo que fuja aos padrões da massa em matéria de criatividade, zelo pelo dever moral, originalidade e inovação, é suprimido pela imensidão das multidões ignorantes, incapazes de saberem distinguir os bons e os maus. Os maus políticos, do mesmo modo, seguirão os padrões idiotizados da massa.

Há outro aspecto assustador neste fenômeno: as lideranças políticas, camuflando as distinções notórias de seu poder e seu status, acabam se escondendo nos anseios irresponsáveis das massas. Qualquer político que diga ser como o povo, de alguma forma, está mentindo. No entanto, a sua responsabilidade como líder se dilui na vontade das massas. É muito cômodo acusar os males de elites imaginárias, quando na verdade, são as próprias elites que se acusam nos outros! Quem dirá que o Presidente da República, este notório vigarista e charlatão, não é um membro da elite? Grotesco é ele se afirmar eterno operário, mesmo sendo a figura política mais poderosa do país. O grupelho intelectual petista, formado pela USP e pela UNICAMP, que o diga, na farsa de ser contra as elites, quando na verdade, tem quase toda a máquina cultural e universitária do país em seu poder!

Se analisarmos, por outro ângulo, o “anormal do brega” poderá ter algum sentimento de culpa de sua distinção. É, nas suas palavras, um advogado e professor. Contudo, para se mostrar mais povão, diz que é cantor de algo popular. Entretanto, tudo nos leva a crer que o homem é vulgar mesmo, e é mais promissor para ele se dizer um “anormal” de uma música visivelmente anormal, do que ser professor e advogado. Na verdade, chego à conclusão de que a realidade é bem anormal neste país.

Eu ainda sinto nostalgia de uma sociedade nobiliárquica, de eclesiásticos, de estamentos sociais, enfim, de reis. Sinto, inclusive, falta de profetas. Os do Antigo Testamento ofendiam o povo à exaustão e os enviavam pragas e punições divinas! Os nobres não fingiam que não mandavam: sabiam de seus deveres de casta e de governo. Os eclesiásticos colocavam ordem moral e espiritual nos reinos e principados. E a massa sabia e reconhecia seu devido lugar de insignificância. “Soberania popular”? Acaso as donas de casa e empregadinhas domésticas orgulhosas votariam em reis naqueles tempos? A civilização deixaria de existir antes de nascer! Nelson Rodrigues tinha razão: antes do século XIX, o mundo era feito de uma imensidão de idiotas e meia dúzia de notáveis. Quando os idiotas viram que eram maiores em número, acabaram colocando seus similares e afins no governo, nas universidades, nos lugares nobres de excelência. E os idiotas se rebelaram contra a ordem natural das coisas, invertendo tudo, como se a vulgaridade fosse sinônimo de excelência. Aí temos Lula no poder. E também o “anormal” do brega e muitos outros "anormais" da política. E outras figuras miúdas, senhoritos arrogantes e satisfeitos, invadindo as esferas mais graves do poder e da cultura. A democracia brasileira é a ditadura dos homens estreitos. É o país dos Bruzundangas. É a república dos bestializados!

terça-feira, outubro 07, 2008

De bunda pro chão!



Meu querido amigo economista André Mariosa, de São Paulo, mandou-me este texto engraçadíssimo a respeito da bolha imobiliária americana que abalou o mercado de ações em todo o mundo. A explicação dele é bem didática e cheia de senso de humor.

Eu não vejo muito cinema, eu não sou muito ligado em filmes. Eu não sei exatamente o motivo. Quanto tempo dura um filme? Uma hora e meia? Duas? Eu acho que não vejo filmes porque duas horas é tempo demais pra ficar sem falar, é tempo demais pra ficar sem importunar alguém, é tempo demais pra ficar sem dar petelecos na orelha da minha companhia.

Pra vocês terem uma idéia da minha alienação cinematográfica, o último filme que vi e me marcou de alguma forma foi Forrest Gump, e isso foi em 1994. Ontem, eu lembrei de outro filme em que Tom Hanks atua. Eu estava andando numa galeria, ignorei o aviso de piso molhado e minha bunda magricela quase foi ao chão. Acho que o vigor da juventude permitiu que eu me segurasse e desse só aquela sambadinha ridícula. Na hora, eu lembrei de "O Terminal". No filme, a diversão do tiozinho da limpeza é assistir a queda das pessoas que ignoram o aviso de piso molhado. As pessoas sempre ignoram o aviso.

Mas não é de cinema que vou falar aqui, é de economia. Vou tentar explicar a tal crise didaticamente. Sem o terrível economês, tentando deixar o assunto claro para qualquer pessoa.

É importante dizer que essa é em grande parte uma crise causada pelo “Bin”. Explico: com os atentados de Bin Laden em 11 de setembro de 2001, os EUA baixaram seus juros de forma acentuada, para estimular o consumo e levantar o moral dos americanos. Os juros, na verdade, determinam o grau de risco que os grandes jogadores do mercado vão correr. Explico de novo: os juros remuneram os títulos da dívida dos EUA, que são considerados seguros, quase risco zero. Como a remuneração desses títulos –juros- caíra, os grandes bancos precisavam achar uma saída pra ganhar tanto quanto ganhavam quando a remuneração destes era boa. E qual a saída? Eu disse que queriam estimular o consumo, e estimularam até demais. Com a procura em alta, os preços foram parar nas alturas e qualquer quarto e sala com vista para uma folha de árvore do Central Park passou a custar muito dinheiro. Então os bancos pensaram que seria uma boa emprestar dinheiro para as pessoas e pegar os imóveis delas como garantia, já que o preço dos imóveis não parava de subir – a famosa “bolha”-; achavam que era interessante emprestar até para quem não tivesse um histórico de bom pagador –os chamados “subprime”.

Tudo começou com os juros baixos e tudo terminou com a alta dos juros, que foi necessária para conter a inflação. A bolha dos imóveis estourou e o preço deles passou a cair. Até o tomador de empréstimo pensar: espera aí, eu devo 200 mil dólares, a garantia é meu imóvel que custava 300 mil. Agora ele custa 100 mil. Não seria melhor eu entregar a garantia? O tomador não pagou e desencadeou todo efeito dominó.

Essa crise era anunciada. Lembro que ouvi dizer desse problema da bolha imobiliária em 2006. Todos sabiam que a bolha estouraria e que os excessos seriam enxugados, só não sabiam quando.

O ex-presidente do Banco Central americano, Allan Greenspan e o atual Ben Bernanke preferiram ignorar os sinais que indicavam piso molhado, e os EUA caíram com a bunda no chão.

O tiozinho do filme deve estar achando graça.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Tio rei espetacular: Reinaldo Azevedo, por ele mesmo.

O jornalista e articulista da Revista Veja Reinaldo Azevedo fala sobre suas idéias e a publicação de seu livro, "O País dos Petralhas". Entrevista espetacular!