quinta-feira, dezembro 21, 2006

A verdade libertadora. . .


“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. As sábias palavras de Cristo, descritas em João 8:32, não somente refletem a justeza da revelação cristã, como a importância da verdade como norte para o homem. Nesta declaração há uma correlação entre dois conceitos: verdade e liberdade. Ninguém pode ser realmente livre, se é incapaz de conhecer. A ignorância, a escuridão mental, as trevas da estupidez, fazem da liberdade do homem um ato irracional e destrutivo. Na prática, nem é livre, até porque não age segundo sua consciência, já que nem possui nenhuma. Complementando o raciocínio cristão, milênios depois, John Locke afirmou que só podemos ser livres, na medida em que somos racionais. Nada mais perfeito.

A capacidade de conhecer é o que racionaliza o uso da liberdade para que é bom, belo e justo. É a liberdade, dentro da justa razão, que conclama a boa escolha moral e a virtude. Ainda que o homem tenha tendências ao pecado e ao erro, a idéia mesma de conhecer a verdade o faz nunca perder a bússola que o orienta para aquilo que é certo ou errado. O mal da humanidade não é em si pecar, pois todos nós, seres imperfeitos, pecamos. O trágico da humanidade é perder a razão, a direção dos seus atos, e o próprio sentido do viver, na falta das referências transcendentais. A fé de um cristão está nisso.

Ademais, a filosofia moderna negou um atributo fático da verdade, ou da busca dela: a fé. A fé está tão ligada ao nosso cotidiano, que nenhuma credibilidade se pode dar as coisas sem ela. Os contratos, o reconhecimento público de um documento ou mesmo a confiança mútua entre as pessoas só pode existir, se houver fé. Em suma, ninguém consegue viver sem um tipo de fé em alguma coisa. Até a negação completa da fé, como os modismos relativistas que a engendram, é, de alguma forma, uma espécie de fé. A diferença entre a fé de um cristão que ama a verdade, e de um relativista que a nega, é que a suposta descrença do cético militante é uma forma de crença postiça, falaciosa, niilista. Em nome de negar a existência da verdade, previamente ele se nega a ver a realidade como ela é. É um ato de loucura, sob a aparência presunçosa de um ato racional. Um ato de ignorância, porque só pode haver conhecimento amando a verdade e tendo fé.

Por outro lado, só podemos conhecer a verdade possuindo liberdade. A capacidade de conhecer exige independência, asceticismo individual, coragem. Ninguém pode conhecer sendo coagido a algo que não crê. Nenhuma razão pode ser criada livremente se não houver a liberdade de ir até aos mais sinceros dramas de consciência, na busca da verdade. Há quem diga daqueles homens que ganharam o mundo e perderam a sua alma. Um cristão verdadeiro é destemido, precisamente por achar que a verdade vale mais do que as pressões coletivas. Deus, na sua Divina Providência, deu liberdade moral e de consciência ao homem para isso. Deu inteligência para ter o discernimento. A Bíblia diz, sabiamente, que somos a imagem e semelhança Dele. O homem pensa, cria, possui a consciência das coisas ao redor e a dimensiona conhecendo. E o Todo-Poderoso, demonstrando um completo amor pela humanidade, deu a devida liberdade para o homem escolher o certo e errado e assumir as responsabilidades pelos seus atos. Deu o direito ao homem de ser um indivíduo.

E onde está a Revelação na humanidade? Uma crença comum na Idade Média dizia que Deus havia criado dois livros: a Bíblia e o mundo. A vertente poética desta crença deduz que as coisas do mundo estão para serem conhecidas como os livros, que devem ser lidas e meditadas na consciência humana. Ainda que haja transformações aparentes no mundo, há elementos imutáveis e eternos na natureza, que retratam a unidade da criação divina. E a Revelação demonstra aquilo que está no íntimo da consciência de cada homem, ou seja, o direcionamento moral, intelectual e ético de sua liberdade. As verdades filosóficas são unas no tempo e no espaço. Se não houvesse universalidade do conhecimento, os homens seriam como o Babel bíblico, perdidos no tempo e no espaço, vítimas de suas próprias fantasias e de suas meras relações contextuais, incapazes de possuírem um idioma comum de compreensão de si mesmos e do mundo. O conhecimento humano seria arbitrário e o conjunto da experiência histórica tradicional perderia continuidade e não teria sentido. Cada mentalidade histórica possui uma característica peculiar. Todavia, seus dilemas humanos, no que tange ao conhecimento, à moral e à filosofia, e mesmo à religião, estão presentes em todos os tempos. Porque, no final das contas, a realidade é una. A Revelação se casa com a filosofia, ao afirmar a existência pressupostos absolutos em todas as épocas e realidades.

O direito medieval retrata bem isso: jus aeternam, jus naturalis et jus civilis. O “jus aeternam” é a Revelação enquanto um caráter ético imutável que está implícito na consciência do homem e que é reconhecido pelo amor à verdade das Escrituras. São os dilemas éticos que servem como orientação da consciência humana, a partir dos desígnios de Deus para os atos do homem. Ele é eterno, porque seus pressupostos são imutáveis. Eles se confundem com o próprio "jus naturalis", porque ele está na natureza das coisas e do próprio homem. O direito natural é um princípio que é compreendido pela razão, no que diz respeito ao fundamento do direito. Como a Revelação, ele também é um princípio filosófico. Só que, enquanto a Revelação é compreendida sob o prisma ético e moral interior da consciência, o direito natural é a medida como as coisas se processam naturalmente, a partir da realidade e da conduta inata humana. O homem tem atributos naturais percebidos pela razão e condicionados pela ética e moral. O direito natural se sujeita ao divino, na medida em que os atributos da natureza humana são direcionados para as virtudes morais e éticas da Revelação. E o "jus civilis", direito civil, comum, convencional, é reflexo legal e formal destes dois princípios basilares da conduta humana. Dentro dos parâmetros do direito natural e divino, a humanidade é dotada de uma dignidade intrínseca à sua existência. A dignidade humana não é mera formalidade do direito positivo, mera proteção do Estado ou um capricho da legalidade humana, mas, um imperativo que transcende os poderes terrenos, na medida em que cada homem representa uma individualidade única, insubstituível e inalienável, ordenada por algo superior. O valor da vida do homem está, salvo em alguns casos, acima da vontade de outros homens.

Se a Revelação orienta a conduta humana, ela também explica a existência e o sentido da vida humana. Aqui há vários perigos: muitos tentam buscar nos textos bíblicos uma explicação literal das coisas, como se cada versículo fosse uma espécie de legalidade formal imposta a todos, de caráter coercitivo. Ou então uma descoberta da totalidade dos mistérios do mundo, como se todo conhecimento fora do âmbito bíblico fosse dispensável. Tais interpretações são presas fáceis para fanáticos e soberbos, que se presumem serem intérpretes da vontade de divina, e se idolatram, presumindo serem a própria vontade de Deus. O fanático não é um homem apaixonado pela verdade, e sim pelas suas opiniões. Em alguns casos, ele é capaz de sacrificar a verdade que o incomoda, pela sacralidade daquilo que julga crer. Quem presume conhecer a verdade não teme os questionamentos intrínsecos à sua busca. Simplesmente os expõe. E, no entanto, alguns homens se acham os eleitos da divindade, pelo simples fato de ditarem a Bíblia de forma totalitária. Nada mais errado e absurdo. O sábio rei Salomão já dizia: stultorum infinitus est numerus (os números dos estultos são infinitos).

Alguns aspectos da realidade humana e dos mistérios da criação estão além de uma observação detalhada. Até porque os elementos lingüísticos da Bíblia tentam explicar algo que está além de nossa existência, que é a transcendência, por meio de alegorias. A Bíblia não é ciência exata, é filosofia, teologia e religião. Salvo os elementos históricos reais, a Bíblia tenta explicar a humanidade e seus destinos, como suas origens, através de uma linguagem poética, simbólica, aproximada, nunca totalmente literal, do homem e de sua ligação com a Divindade. Há de se conjecturar que a Bíblia é também um livro histórico. Como tal, se alguns de seus princípios são eternos e imutáveis, outros são filhos de seu tempo, apreciáveis dentro da realidade e do contexto particular do povo judeu. É absurdo adaptar secamente tudo o que a historicamente a Bíblia apregoa. O fundamentalismo religioso quer realocar noções bíblicas fora de uma realidade histórica, desvirtuando e corrompendo a finalidade de justeza e razão dos preceitos bíblicos. Acaba tornando a Bíblia um livro opressivo, intolerante, estático, completamente imune à realidade e à racionalidade. Ignoram a sabedoria de Eclesiastes: “todas as coisas têm seu tempo, e todas elas passam debaixo do céu segundo o termo que a cada uma foi proscrito”.

Os seus heróis e suas histórias estão intrinsecamente ligados a uma relação entre Deus e a humanidade. Porém, essas histórias nunca são pacificas: elas se conflitam, por variados contextos e situações inimagináveis de sofrimentos e dramas humanos, com o que os protagonistas dessas histórias se deparam. Na Bíblia, encontramos o devoto Abraão, que treme diante de Jeová e o desafiante Jó, que O desafia e O interpela; o Eclesiastes que questiona a sabedoria humana e o Eclesiástico que a exalta; em contrapartida, há o erotismo adúltero de David e Betsaba e o erotismo místico de Cantares de Salomão e a Rainha de Sabá e a famosa Sabedoria salomônica, apesar das mulheres; lamentações pela queda de Jerusalém, guerras, patriotismo, apelo à paz e às armas, e punição divina pelas iniqüidades de Israel. Shemá Israel, Ouve ó Israel, já diziam os profetas, para que não esquecessem os legados da Lei e da justiça. E a figura de Cristo, como o clímax deste romance entre Deus e o homem, é o divisor das águas entre épocas e civilizações, entre a mentalidade do passado e do futuro e da eternidade da Palavra Divina por todos os tempos, Saecula Saeculorum. E um Evangelho separa o Livro Sagrado e a história. . .

E por falar em Cristo, raramente uma história apaixonou tanto a humanidade como os passos do Messias. Há um elemento marcante em Jesus que é o amor pela verdade, pela beleza dos atos, pelo pensamento da virtude. E sua história é um misto de ternura e tragédia, na figura de um homem manso e enérgico, sábio e humilde, nascido do ventre de uma virgem e que, conforme as Escrituras, viveu a agonia do Getsêmani, o suplício do Calvário, morreu pelos pecados da humanidade e ressuscitou, provando seu caráter divino. Na verdade, a idéia mesma do sacrifício de Cristo é o grau de amor que Deus tem pela humanidade pecadora, sofrida, ao doar seu filho, pelos erros do homem. É o Deus que se sacrifica e sofre como e pelo homem. É a prova do amor divino que serve de exemplo a todos os homens.

Cristo apaixona a todo aquele que ama, de alguma forma, a verdade. Ainda que haja aqueles homens de pouca fé, raramente alguém é indiferente à Sua Imagem. As forças de seus preceitos são firmes, determinados. A Bíblia chega a ser impiedosa, seca, direta, nos seus ditames. Não poupa comezinhos da justiça e da equidade. É implacável na crítica aos perversos. Todavia, é piedosa e amorosa com os honestos, os decentes e os pecadores necessitados e penitentes. Da mesma forma que a verdade e a liberdade andam juntas, a justiça e a misericórdia são atributos reais do verdadeiro justo. Daí a condição primaz de amar o pecador, ainda que odiar o pecado. É o princípio de que a justiça deve dar espaço ao perdão e só muito raramente a punição. O Natal lembra a história deste grande homem, que falou grandes verdades que libertam: a busca incessante da compaixão ao próximo, do amor ao conhecimento, da integridade do espírito, do sentimento e da razão sobre os atos humanos. Milhões de famílias refletem sobre seus atos, ao comemorarem essa data. Cada Natal é o despertar de uma criança no ventre de uma mãe, um dia de iluminação que serve para o que fazemos e o que vamos fazer. E cada pessoa nasce de novo, no significado espiritual do nascimento de Cristo.


Cristo também significa o nascimento de uma grandiosa civilização, a Cristandade. Há peculiaridades de nosso cotidiano que são produtos da fé e valores cristãos. A formação familiar, a moral, a ética, o direito e a filosofia do ocidente têm um grande débito com o Cristianismo. As etiquetas amorosas, na idéia sublime do amor enquanto elemento espiritual, são tradições cristãs desenvolvidas largamente na Idade Média. A equivalência no plano moral entre homens e mulheres também é outro valor herdado da cultura cristã. A mulher não é um elemento secundário, antes, parte importante da família, digna de ser protegida e amada pelo seu par. Os valores da dignidade humana, a defesa dos fracos contra os fortes e até a formação das associações de caridade, hospitais, universidades e os conceitos de institucionalidade política e de liberdade individual, são devidos ao cristianismo. Isto porque é apenas uma breve exposição das contribuições cristãs ao mundo, no âmbito de um processo civilizador. O seu maior legado é de uma fé religiosa, que transforma o homem interiormente e o coloca num plano de valor ímpar, exclusivo, já que a vida é o único bem precioso que o homem reconhece sua existência. Já dizia o Mestre Divino: Vós sois o sal da terra! A vida é tão importante na fé cristã, que não se limita à existência deste mundo. Ela se estende a um reino de outro mundo, para aqueles que, no sentimento legitimo da fé e da verdade, esperam, com as provas das coisas que não se vêem. . .é neste sentido da esperança dado aos céus, que o Natal renova todos os corações em Jesus Cristo. Assim seja!


Leonardo Bruno
20 de dezembro de 2006

sábado, dezembro 16, 2006

O espectro do General Pinochet. . .


Quando o cadáver do ditador Pinochet foi exposto à visitação da população chilena, o espectro do general causou um mal estar profundo nas esquerdas raivosas, que passaram anos injuriando-o. Mostrou um povo profundamente devoto ante a sua aura, a despeito de 17 anos de ditadura no país. Tal fantasma mexeu com a presidente do Chile, a socialista Michele Bachellet, que tremeu ao se deparar com um morto tão odiado e tão temido. A recusa da presidente em reconhecer as honras de chefe de Estado ao general causou certa indignação em uma boa parte dos chilenos. O caso é que uma boa parte do povo reconhece, com as devidas proporções, que embora não sinta saudades da ditadura, Pinochet salvou o país do caos e estabilizou a economia. O mais perfeito legado de Pinochet foi entregar uma nação em completa estabilidade política e econômica. Uma completa estabilidade, que nem os socialistas ousam mexer, de tão benéfica que foi ao Chile.

Todavia, alguns jornais e cronistas, rancorosos com o passado, escreveram homéricas asneiras sobre a economia chilena. Uma delas, diz respeito a eficiência das aplicações da Escola de Chicago na economia. Muitos deram a entender que o crescimento do país só foi sentido quando os socialistas e democratas cristãos tomaram o poder. E que supostamente a lorota da “justiça social” caridosa dos socialistas é que tem causado a redução das desigualdades sociais e pobreza no Chile. Sem contar as ações econômicas do governo chileno, no que diz respeito a recessão econômica de 1982. Muitos idólatras do estatismo e do keynesianismo quiseram dar a entender que a economia chilena só se desenvolveu por causa da intervenção estatal naquela situação peculiar. Nada mais falso.

Há outras mentirinhas bem mais sofisticadas. Uma delas, a mais incrível, diz respeito à pobreza no Chile. Fala-se que a política de Pinochet aumentou a pobreza e desemprego no país. E para demonstrar isso, fazem um ato deliberado de falsificação histórica: maquiam os dados para “provar” que o Chile possuía uma porcentagem de pobres, na ordem de 20%, em 1970, para que em 1990, chegasse na ordem de 38%! O grande problema dessas falsificações oculta um caso peculiar no Chile: quando Pinochet herdou a economia chilena, ela foi simplesmente arruinada. O país estava literalmente devastado e à beira de uma guerra civil: a inflação estava nas alturas, a produção agrícola virtualmente desaparecera e as indústrias quebraram, em parte, por uma sucessão de vandalismos, invasões, saques e fuga de capitais. Inclusive, o povo estava vivendo a base de racionamento de bens de consumo e mercado negro, por causa das medidas desastrosas do governo Allende. O correto seria comparar os índices de 1973 a 1990 e não os índices anteriores do Chile. É claro que os socialistas nunca vão fazer essas comparações. Porque o mito da maldade de Pinochet e da bondade sacrossanta de Allende nunca podem ser tocados.

É interessante notar que a política chilena foi uma aula de pragmatismo. Quando tomou o poder, Pinochet repassou a economia nas mãos de uma junta militar. Como os militares entendem mais de casernas do que de economia, o projeto fracassou, porque, dentre tantas falhas, eles ainda aplicavam a lógica estatizante, aumentando a divida pública e a inflação. O jeito foi dar o poder para os economistas Chicago Boys, que aplicaram medidas ortodoxas de privatizações na economia e redução dos gastos públicos. Toda uma política de enxugamento da máquina estatal causou inicialmente uma depressão econômica, já que o Estado tivera que demitir funcionários públicos e liberalizar empresas estatais deficitárias, para que elas se adaptassem ao mercado. Porém, a inflação e a divida pública diminuíram e o Chile experimentou um leve crescimento econômico. Todavia, a economia chilena ainda era fragilizada e sentiu o peso da recessão, com a crise de 1982. Muitos socialistas e keynesianos justificam essa fase, como um “suposto” fracasso dos liberais, no que diz respeito a ortodoxia dos Chicago Boys, já que Pinochet retrocedeu sua política de liberalizações. Como sempre, os lunáticos do estatismo inventam um paralelismo da realidade, pra adaptarem-na à ideologia.

Na verdade, o caso é que a economia chilena ainda sentia o peso de sua fragilidade bancária, e uma ortodoxia economia liberal numa economia pequena e ainda insegura, precisava de uma graduação e estruturas legais e políticas para que ela tivesse eficiência. A economia do Chile foi pega de surpresa por uma recessão imprevista, que acabou por inverter seu balanço de pagamentos e aumentar a dívida externa, além de ameaçar falir seus bancos. Sem contar o cambio fixo, que acabou por cristalizar e inviabilizar uma melhor flexibilidade na moeda. Na verdade, faltou às reformas chilenas, uma reestruturação bancária eficiente e segura, que pudesse sobreviver às recessões e que não quebrasse o mercado. A solução foi intervir nos bancos para que não houvesse bancarrota no sistema bancário e mesmo em algumas empresas privatizadas, ora monitorando indiretamente seus serviços, ora reestatizando-os. Alguns bancos foram liquidados pelo governo. Tais empresas, em particular, estavam ligadas a serviços públicos essenciais e era perfeitamente compreensível que o Estado interviesse no seu esquema, para salvar a economia. O processo de intervenção nos bancos chilenos lembra, e muito, o Proer, quando os bancos brasileiros ameaçavam falir.

Curiosamente, por desconhecimento de causa, muita gente crê que a intervenção bancária seria algo contrário ao liberalismo de Friedman e dos Chicago boys. Nada mais equivocado. Os liberais admitiram perfeitamente a necessidade da intervenção governamental, a fim de salvar os bancos, sob pena de não o fazendo, o país iria ao abismo como um todo. Há um erro grotesco de analisar o pensamento liberal em economia: presumem os seus críticos, que é uma visão ideológica da realidade, tal como as ideologias de engenharia socialista. A visão econômica liberal é realista: por princípio e por eficiência notória, o livre mercado é o melhor mecanismo de crescimento econômico. Contudo, isso não exclui a intervenção estatal, quando ela se faz necessária, a curto prazo. E foi assim que o Chile fez. Tal concessão não os seduziria para a volta de um projeto keynesiano, o que seria um retrocesso, porque causaria um endividamento público futuro. A frieza do governo chileno nos assuntos econômicos era de arrancar os cabelos de qualquer idealista. No entanto, criada as estruturas seguras para um sistema bancário mais sólido, a economia chilena novamente começou a se liberalizar, e o segundo processo liberal foi novamente aplicado, gerando o boom da economia que está até hoje enriquecendo o Chile. As empresas de serviço público e os bancos foram novamente reprivatizados, enquanto foram criados mecanismos, dentro do banco central, no sentido de assegurar melhor estabilidade cambial da moeda. Feito isto, o Chile foi entregue à democracia, através do voto plebiscitário e hoje o país é mais politicamente estável da América Latina. Mais ousada ainda foi a privatização do sistema previdenciário. Virtualmente, o país resolveu praticamente todos os problemas relacionados ao déficit da previdência, que ameaça arruinar países da Europa e mesmo o Brasil.

Há ainda idiotas que asseguram o sucesso chileno ao aumento do preço do cobre e do salitre. Outra mania de destituírem os méritos do ditador. Na época da Unidad Nacional de Allende, o cobre chileno estava com o preço nas alturas. Todavia, a incompetência do governo acabou por reduzir drasticamente a venda do cobre, gerando um colapso total na mineração chilena. Pinochet sobreviveu muito bem à recessão de 1982, quando o cobre caiu de preço no mercado e os capitais externos ameaçavam fugir do país. Hoje, o cobre continua sendo um produto importante na economia chilena: no entanto, a economia chilena, por causa dos seus tratados de livre comércio e aberturas comerciais, é cada vez menos dependente dele.


Os socialistas chilenos aderem àquilo que até então condenavam, enquanto a figura de Allende, servida como totem, do resto, todos evitam lembrar o fiasco econômico e político de seu governo. Ainda querem roubar os frutos do trabalho alheio. Comentaristas deram a entender que a economia chilena só experimentou crescimentos maiores, por causa dos governos democráticos. Isso, de fato, é correto. Porém, as democracias não pegaram o trabalho sujo de criar as estruturas necessárias a uma economia de mercado eficiente. Pinochet herdou uma economia falida, enfrentou problemas inimagináveis de recessão econômica e conseguiu entregar a economia do país com as contas seguras. Ele enfrentou um ocaso de vários desastres econômicos, as limitações de uma nação com poucos recursos e soube pluralizar as oportunidades do país, abrindo-a ao livre comércio. Enquanto o Brasil, Bolívia e Venezuela afundam suas economias nas paixões demagógicas e populistas dos socialistas e keynesianos de plantão, o Chile experimenta a prosperidade liberal e capitalista, sem paixões, sem alardes, distante da velha burrice latina.

Em três anos de governo, os socialistas chilenos arruinaram umas das economias mais prósperas e uma das democracias mais estáveis da América Latina, para que o Chile passasse 17 anos numa ditadura, sujeita a políticas ortodoxas, que recuperaram o estrago de tão pouco tempo. Essa glória pertence ao ditador Pinochet. Muitos podem acusar a sua ditadura de brutal e violenta, como de fato foi. Há elementos profundamente odiosos na reputação de Pinochet, e, portanto, indefensáveis. Podem até insinuar casos de corrupção em seu governo, envolvendo seu nome, o que ainda parece duvidoso, embora possível. No entanto, por muito tempo, Pinochet será lembrado em seu país como o homem que salvou o Chile do caos, e cujas políticas, por mais contraditórias que fossem, pacificaram e democratizaram o país. E os socialistas chilenos, por muito tempo, haverão de engolir seco essa herança dúbia, nem totalmente maldita, nem totalmente bendita, e que no final, foi benéfica à estabilidade da nação chilena. A união partidária da “Concertación” chilena, em particular, os socialistas, ficou totalmente desconcertada. . .

Leonardo Bruno

Belém Pará em 16 de dezembro de 2006

quinta-feira, dezembro 14, 2006

A legitimidade de um golpe de Estado.



A morte do ex-ditador Augusto Pinochet Ugarte revelou um alto grau de hipocrisia da mídia, dos comunistas e, principalmente, dos liberais, ao demonizarem sua figura. É preciso fazer jus à história, ao explicar o espectro do general. O golpe de Estado no Chile, em 1973, e o que ocorreu posteriormente, são camuflados por uma sucessão de mitos, que não explicam a realidade histórica. Os contextos foram omitidos e os bandidos viraram mocinhos. Até os americanos, que foram cúmplices do ato de Pinochet, lavaram as mãos, como se o golpe de Estado fosse alguma maldade hispânica e oligárquica contra a democracia. Nada mais falso.
Há de se entender que um governo democrático estável, (como uma boa parte das sociedades políticas), sobrevive dentro de dois binômios: os valores de consenso político, que implicam em leis, regras, instituições públicas e privadas, os poderes constitucionais da república ou da monarquia, a fim de assegurar o entendimento comum entre os cidadãos; e a pluralidade política, que é o dissenso de vários grupos sociais e indivíduos, que fazem valer e negociar seus interesses particulares, na esfera pública. A sociedade cria as regras do jogo político, com o intuito de resolver pacificamente seus conflitos. E na democracia, o dissenso pacífico é sinal da pluralidade e participação dos indivíduos nos assuntos públicos. A sociedade política é um pacto de indivíduos e grupos sociais, que através das instituições, firma um acordo comum de como a coisa pública será governada e como seus interesses serão conciliados. Os limites entre governantes e governados, as garantias individuais, as atribuições estatais, entre outros, são formas de delimitar poderes e conciliar interesses conflitantes em uma sociedade.
Quando um grupo governante está no poder, não governa apenas para si mesmo num sistema democrático. Ele deve prestar contas a vários interesses políticos dissidentes e ao mesmo tempo obedecer as regras mínimas das leis, evitando assim, a destruição dos consensos políticos e da paz na sociedade. Daí a limitação do alcance do Estado e a garantia de que a pluralidade e as oposições serão mantidas. Essa dicotomia entre o dissenso e consenso se reflete na própria divisão dos poderes do Estado: um poder legislativo representa um conjunto de facções políticas que criam as regras do jogo, organizando a totalidade estrutural do Estado e do escopo jurídico, dentro de um sistema de pluralidade. O Parlamento é o teatro da vida política do dissenso, no que diz respeito em como as leis serão forjadas. Por outro lado, o executivo é a gerência unitária dos negócios públicos, cujo direcionamento implica uma solitária tendência política em particular. E o judiciário fiscaliza as atribuições das regras criadas pelo parlamento e executadas pelo executivo, pacificando, por força coercitiva das leis, o consenso político e jurídico. Quando as regras políticas são formalmente violadas, os consensos políticos se quebram e os meios pacificadores se invalidam. É assim que uma democracia acaba sendo liquidada, porque os pressupostos fáticos que fundamentam sua autoridade, como a lei e os pactos, são ignorados. Isso ocorre, quando um grupo político renuncia aos métodos pacíficos da política e apela à violência, usando da força para tiranizar a população como um todo, e a oposição em particular. E aí, só resta a guerra civil.
De fato, foi assim que ocorreu no Chile de 1973. Essa história se inicia, quando o marxista Salvador Allende é eleito Presidente da República, manifestando convicções contrastantes às tradições democráticas chilenas. O congresso nacional, receoso das crenças de Allende e de seu grupo, a Unidad Popular, obrigou-o a assinou um acordo, em que ele juraria defender a Constituição e as instituições do país.
O Chile é um país de sólidas tradições democráticas. No século XX, quase não conheceu nenhuma instabilidade política, ao contrário das aventuras caudilhescas dos vizinhos hispânicos e mesmo do Brasil. A sua Constituição, até sua modificação, em 1980, era datada de 1925. Porém, durante três anos, de 1970 a 1973, o Chile vivenciou um dos períodos mais violentos e conturbados de sua história. Tudo o que o povo chileno assistiu, sob o governo da Unidad Popular, foram arbitrariedades de um presidente leviano, déspota, irresponsável, que tentou destruir a democracia e implantar uma ditadura comunista.
Allende quebrou todos os juramentos que ratificou constitucionalmente, ao tomar posse. A demência de transformar o Chile numa nação socialista, fez a Unidad Popular aproximar-se mais do modelo da União Soviética e distanciar-se mais das tradições democráticas do país. Allende violou os direitos de propriedade, confiscando empresas, fazendas, indústrias, ativos bancários, sem nenhuma indenização. Os efeitos de uma política desastrosa, resultado do caos institucional do país, acabaram por gerar uma inflação devastadora e, conseqüentemente, o colapso da economia chilena. A inflação de 1970, que era da ordem de 50% ao ano, alcançou 300% ao ano, em 1973.
O governo, ao instituir a reforma agrária, insuflou invasões de grupos de esquerda nas propriedades rurais privadas, em vias de estatizá-las. Na prática, o governo tentou coletivizar a agricultura. Os conflitos de terras causaram uma queda abrupta da produção de trigo do país e uma onda de assassinatos políticos no campo. Em particular, vários proprietários de terra foram assassinados por radicais de esquerda. O Chile, que era um dos maiores produtores de trigo do mundo, experimentou uma queda de 50% de sua produção, e dias antes do golpe de Estado, o trigo ameaçava simplesmente sumir.
O governo Allende usou das estatizações para controlar a economia e a vida do povo. Oficialmente, o Chile havia renunciado ao livre mercado e as liberdades civis pautadas na propriedade, em favor do projeto de planificação socialista. A crise econômica escasseara os alimentos e outros bens de consumo, e a população rapidamente empobreceu. Nos terríveis dias de caminhada para o marxismo-leninismo, o povo chileno esperava filas e mais filas de racionamento para a compra de mercadorias controladas pelo governo. E o governo liberava papéis de racionamento, com o intuito de controlar os víveres e os passos da população.
A Unidad Popular estimulou a guerrilha armada no país. O terrorismo de grupos armados financiados por Fidel Castro,(que foi recebido com pompas pelo presidente Allende), se alastrou como nunca, ameaçando e matando opositores do governo. A Unidad Popular tentou, por todos os meios, censurar a imprensa recalcitrante e a oposição. Jornais foram ilegalmente fechados e jornalistas foram presos arbitrariamente por Allende. Inúmeras pessoas foram torturadas e sumariamente executadas por grupos de extrema-esquerda, apoiados pelo governo. Destruindo os consensos políticos da democracia, o governo Allende levou o país à beira da guerra civil. Estava arruinando a economia, as instituições democráticas e ameaçava gravemente a liberdade civil e política de seu povo. Nada fugia à lógica marxista-leninista de seu governo, que em nome da luta de classes, imporia a ditadura. O Congresso Nacional, junto com o judiciário, declarou ilegítimo o governo da Unidad Popular, pelas flagrantes ilegalidades constitucionais, e exigiu a renúncia de seu presidente. Allende, apoiado pelos grupos radicais que promovera, resolveu não ceder. E o único jeito foi exigir a entrada do exército para preservar a ordem. No dia 11 de setembro de 1973, entra em cena um obscuro general, para modificar e marcar para sempre, a história do Chile: o general Augusto Pinochet Ugarte.
Pinochet reprimiu duramente os movimentos comunistas e terroristas de esquerda que dominavam a política chilena. Herdando uma economia dilacerada pela inépcia econômica da Unidad Nacional, fez um revolucionário projeto econômico no país, abrindo as portas do Chile ao mundo, privatizando empresas estatais falidas e saneando o Estado. Inclusive, privatizou o sistema previdenciário. Os resultados, em longo prazo, foram duradouros: Pinochet transformou o Chile em uma das economias mais prósperas da América Latina. Depois de 17 anos no poder, o ditador submeteu-se a um plebiscito, no qual a população exigiu sua retirada e o país teve sua democracia pacificamente restaurada. Os consensos políticos da democracia foram restaurados e a república chilena é, hoje, um país estável. Pinochet lembra uma similaridade comum em várias ditaduras de direita: a resistência autoritária contra uma ação totalitária. Na verdade, Pinochet não é partidário de um movimento ou projeto político, mas sim, uma reação contra um projeto político muito mais violento e cruel.
Um exemplo clássico disso, e também ocultado pelas mentiras das esquerdas, é o legado do ditador espanhol Francisco Franco. Tal como Pinochet, sobre Franco há um estigma carregado de amor e ódio, uma profunda divisão entre apaixonados defensores e críticos. Aliás, a Espanha do século passado foi praticamente dividida entre duas etapas: a era anterior e pós-Franco. E no entanto, Franco salvou a sociedade espanhola de uma fúria totalitária, talvez, mais cruel e indômita do que o caso chileno: simplesmente livrou a Espanha dos brios de Stalin! É interessante observar que tanto Pinochet como Franco nunca foram políticos carreiristas. São homens, cujos destinos foram traçados pelas circunstancias de seus países. E cujos países deveram seu destino a eles.
A Espanha passou por uma das maiores tragédias de sua história: a queda da monarquia, a degradação da república espanhola e a guerra civil. Quando o general Rivera dera o golpe de Estado, em 1923, em nome de proteger o regime monárquico, acabou por expor as suas fraquezas, abrindo as portas para o palco das ideologias totalitárias, até então, minoritárias no país. A queda definitiva da monarquia, em 1931, acabou por dar incremento a grupos radicais, tanto de direita, quanto de esquerda nas searas do poder. Todavia, o apelo à violência e a ilegalidade política, de fato, manifestara no Partido Socialista, o PSOE, e nos movimentos anarquistas e comunistas, que em 1934, já insuflavam revoltas operárias armadas, como no caso da rebelião das Astúrias, que foi duramente reprimida pelo exército. Os valores políticos e os consensos foram quebrados, com a radicalização socialista da república.
Aos poucos, os socialistas cresceram de poder, e junto com eles, os comunistas. Quando eles ganharam as eleições em 1936, a Espanha estava à beira do caos: as esquerdas queimavam igrejas, assassinavam padres, estupravam freiras, destruíam jornais dissidentes, faziam prisões ilegais, fechavam as Cortes para os opositores, infiltravam comunistas no exército e matavam políticos rivais. Túmulos de eclesiásticos católicos eram violados e muitas propriedades foram confiscadas pelo governo. Nem a Igrejas espanholas foram poupadas. Marchas paramilitares dos partidos de esquerdas eram comuns nas ruas de Madrid e Barcelona. Os cartazes de exaltação a Lenin e Stalin eram espalhados em todas as repartições públicas da Espanha. Grupos minoritários de esquerda brigavam entre si, disputando distritos e áreas de influências, e se não houvesse uma reação da direita, era bastante provável que o país cairia numa guerra civil entre esquerdas. A direita moderada, os falangistas, os carlistas e outros, de uma hora para outra, viram um golpe de Estado lento, gradual e irreversível, que levaria a Espanha ao bolchevismo. Os comunistas espanhóis estavam prestes a implantar uma ditadura no país.
E neste caos político, na completa destruição da democracia espanhola, surge a figura do General Francisco Franco, um militar carreirista, que por uma fatalidade histórica, veio resgatar a ordem, salvando a Espanha de Stalin. Franco era um brilhante militar: aos 34 anos era o mais novo general de um exército da Europa. Seu nome já era conhecido, quando participou de ferozes batalhas contra os marroquinos e quando esmagou a revolta operária nas Astúrias, em 1934. Franco não era um fascista. Sua particular antipatia pela Falange era conhecida, embora, ele soube usar seu apoio para combater os comunistas. Mesmo as suas alianças com Hitler e Mussolini foram circunstanciais e esporádicas, mostrando antes pragmatismo político do que simpatia. Por pensamento, ele era um ultraconservador, monarquista e católico. Por temperamento era um homem frio, íntegro, determinado, isento de paixões políticas. Comenta-se que quando foi notificado, em sua mesa, sobre o término da guerra, ficou impassível, lendo seus mapas, sem levantar a cabeça, indiferente. A idéia dele, nostálgica e lamentosa, era a de que a Espanha jamais devia ter saído da institucionalidade monárquica conservadora que a estabilizava. Num país fragmentado por bascos, galegos, catalães e valencianos separatistas, o general era um típico espanhol, naquilo que a identidade espanhola mais se identificava: ele encarnava a monarquia, o exército, a Igreja Católica e a cultura castelhana, ou seja, as instituições que moldavam a unidade do país. Era, em suma, um patriota.
É admirável que um militar de carreira, sem muitos vínculos políticos, conseguisse reunir sob sua liderança, grupos de direita tão diferentes, como a Falange, republicana e de tendências fascistas, e os carlistas, atávicos monarquistas. Sem contar a sina de um exército dividido, fragmentado em várias tendências políticas, cujos setores tradicionais da instituição nutriam um profundo respeito e reverência pelo jovem general. E no dia 17 de julho de 1936, dias depois do assassinato de um político de direita, Calvo Sotero, uma parte do exército espanhol, junto com Franco, sublevara, iniciando-se uma guerra civil.
Na verdade, essa data é apenas uma formalidade. A guerra civil já existia, quando os comunistas, usando de métodos de violência, destruíam a legalidade republicana e impunham uma ditadura stalinista, com o apoio total de Moscou. Atualmente sabe-se que a NKVD, a polícia política soviética, e os agentes do Kominten, atuavam livremente na Espanha, impondo uma série de crimes além das fronteiras da Rússia. Os expurgos de Stalin foram sentidos até no Partido Comunista Espanhol. Grupos de tendências anarquistas como o POUM foram esmagados pelos comunistas espanhóis e agentes soviéticos. E outros milhares de militantes de esquerda foram assassinados pelo próprio Partido Comunista. Na Guerra civil, Barcelona foi conhecida como o centro da NKVD espanhola, massacrando dissidências internas esquerdistas e supostos inimigos de direita. E quando a capital da Catalunha foi libertada por Franco, a população, cansada das atrocidades, saiu eufórica às ruas, saudando a vitória dos nacionalistas. Ainda que por muito tempo os catalães perdessem sua autonomia política, ninguém mais agüentava o partido comunista na região.
A guerra civil espanhola é cheia de mitos. Uma delas, diz respeito ao bombardeio de Guernica, uma das mais fantásticas propagandas de desinformação soviética, alimentada pelo pintor Pablo Picasso, naquela época, membro do Partido Comunista. Mitificado como um crime dos franquistas espanhóis, na realidade, ele foi menos pior do que os muitos bombardeios patrocinados pelos republicanos comunistas, que devastaram várias cidades espanholas. A “denúncia” de Guernica, forjada como crueldade específica de Franco e dos fascistas, serviu para ocultar os crimes e expurgos comunistas nas cidades dominadas pelos republicanos. É claro que existiam crueldades monstruosas da parte dos nacionalistas. Todavia, os comunistas conseguiram angariar simpatias, ocultando as suas matanças, enquanto mostravam a nu apenas a matança dos franquistas. Daí a visão negativa em torno de Franco, exagerada pela propaganda de esquerda. Até hoje, historiadores esquerdistas usam desse artifício de denúncia, para camuflar crimes piores cometidos pelos comunistas na Espanha.
Uma coisa é certa: Franco preservou todas as estruturas políticas que engendraram a monarquia constitucional e democrática espanhola. Ele resgatou a Espanha do totalitarismo comunista, e embora o preço tenha sido muito alto, porém, a Espanha é uma democracia ordeira por causa dele. Quando o ditador consolidou o poder, espertamente ele fortaleceu a monarquia e sujeitou gradualmente os falangistas, enfraquecendo-os, garantindo assim, depois de sua morte, uma passagem segura e gradual para um sistema constitucional.

Entre Franco e Pinochet há tantas peculiaridades, quanto são peculiares os fatos históricos que enfrentaram: de uma forma extremada, feroz e enérgica, eles esmagaram o dissenso subversivo e destrutivo, pela salvação do consenso político que preservava suas respectivas nações. Pode-se dizer, com toda propriedade, que as suas ditaduras foram um cordão sanitário contra as manifestações totalitárias: uma fronteira política em que as forças da reação venceram, porque foram proporcionais à brutalidade da manifestação revolucionária, que ameaçava devastar o país. Ainda que haja uma sombra de barbaridade nos seus regimes, o caso é que a realidade assim o exigia. Não havia outro jeito, senão apelar para a violência, pois o outro lado, a facção inimiga, havia renunciado aos meios pacíficos da política e assumia os riscos a que se propunha. Partindo dessas conclusões, não há muito que condenar nos ditadores.
Os golpes de Estado no Chile e na Espanha foram legítimos, porque fizeram parte de uma resistência armada contra as injúrias de um governo ilegal e criminoso. Foram manifestações totalmente válidas de legitima defesa de uma sociedade política contra uma ação injuriosa, que varreria a institucionalidade do mapa, se o totalitarismo prevalecesse. É, decerto, lamentável a truculência dos regimes de Franco e Pinochet. Contudo, os grupos políticos vitimados pela repressão tornaram o processo inevitável. Para o bem ou para o mal, os espectros dos generais vivem: se Franco morreu reverenciado como um cruzado espanhol moderno, o cadáver de Pinochet faz tremer seus inimigos. Até sua morte causou mal estar para aqueles que o odiavam. Entretanto, o Chile democrático deve seu futuro a ele, queiram os socialistas gostem ou não. E só resta aos socialistas chorarem suas eternas lágrimas de crocodilo, diante de seus fracassos.

Leonardo Bruno
Em 13 de dezembro de 2006

domingo, dezembro 10, 2006

A opressão invisível das democracias.


Um fenômeno chama a atenção na democracia moderna e contemporânea: o extremo alargamento do Estado na vida privada e a solidão do indivíduo nas massas e multidões. Ainda que os totalitarismos tenham sido derrotados, na longa floresta negra do nazismo alemão e do comunismo soviético no século XX, contudo, a democracia ainda padece deste vil perigo. De fato, a democracia parece contraditoriamente contribuir para a sua própria destruição. A essência mesma do sistema democrático moderno, sem valores estruturais de ética e formação política, transforma o Estado democrático num poder totalitzante e perigoso, capaz de destruir todas as esferas autônomas do indivíduo.

Mas como este fenômeno se processa? O problema da democracia moderna é que ela está muito longe de se identificar com os valores com o que ela foi criada, a partir do século XVIII. A democracia compreendida na sua fundação, seja pelos whigs ingleses do século XVII, como pelos colonos das Treze Colônias americanas, era fundamentada na idéia de preservação de velhos valores tradicionais da família, da propriedade, da religião e de valores comunitários privados, contra o crescente aumento do poder real, representado seja pela monarquia e, posteriormente, pela república. A preocupação central do sistema democrático idealizado pelos anglo-saxônicos da Idade Moderna visava preservar uma sociedade civil cada vez mais complexa, dinâmica e independente, contra a obtusidade de um poder real autoritário ou contra a centralização republicana da União contra os Estados federados.

Em particular, no caso americano, a idéia da federação, uma herança medieval da autonomia política, e que depois foi aproveitada pelos holandeses, tanto em aspectos estruturais como doutrinários, serviu de base para a proteção das pequenas autonomias locais, contra a totalidade do poder centralizado. Em parte, essa herança veio da própria formação da nação americana, na união voluntária de várias comunidades autônomas, em que o poder central, embora fosse sinônimo de unidade, necessariamente não seria uma forma arbitrária de governo onipotente. Ainda que se unindo numa forma compacta de uma república una, as velhas autonomias ainda assim seriam preservadas. Interessante, em específico, é o processo eleitoral norte-americano. O peso da autonomia local de uma federação vale mais do que a proporcionalidade dos votos válidos individuais para as eleições de presidente da república. Isto, sem contar que cada Estado federado tem sua lei e sua forma própria de estrutura judiciária e eleitoral. A vantagem deste tipo de poder é aproximar os governantes dos governados, e diversificando e autonomizando as formas de poder, o sistema democrático americano evitava a demasiada concentração do poder estatal. Parece que os Pais da Pátria norte-americanos previram como ninguém, o perigo da ascensão das massas no processo democrático. Individualizando o poder político e descentralizando-o, os americanos, por muito tempo, souberam preservar uma boa parte dos direitos individuais desde então.

O processo inglês não foi diferente. O parlamento serviu de elemento canalizador de discussões políticas, já que a figura do rei tornou-se um elemento simbólico de unidade do Reino. Se o rei representava um símbolo de unidade institucional do país, o parlamento representava a pluralidade dos sujeitos políticos. É o consenso monárquico constitucional equilibrando o dissenso parlamentar. Não devemos esquecer que, por outro lado, a estrutura legal inglesa, o commow law, um conjunto de regras, valores e costumes arraigados na sociedade inglesa sem uma legislação escrita, de certa forma ajudara a descentralizar os poder político.

Muito se discutirá a respeito do aspecto “elitista” da democracia do século XVIII com a democracia de hoje, na questão do voto censitário, comum a ambos os ingleses e os norte-americanos daquele período. Todavia, há um detalhe, que reflete um conceito cultural e ético de política: a sociedade democrática nascente era arraigadamente aristocrática. Ela se pautava na idéia de que para deliberar sobre política, os homens, no mínimo, deveriam ser independentes e destacados politicamente, além de possuírem méritos. O pequeno fidalgo rural inglês e o proprietário de terras americano tinham algo em comum, que é o reconhecimento histórico de um poder político tradicional. Se por um lado, as elites se imbuíam de uma ética aristocrática de privilégios, em contrapartida, elas tinham noções claras de deveres e responsabilidades perante a comunidade. Este conceito tradicional estava arraigado no âmbito mais forte de participação política, que era a propriedade. Partia do pressuposto romano do “civitas”, ou seja, de que o sujeito político é aquele que está ligado civicamente à sociedade e à terra de origem, através da ligação e domínio pessoal sobre o espaço.

É pela propriedade e pela fixação domiciliar é que se reconhecia o caráter de participação política do súdito inglês ou do proprietário de terras norte-americano. Aliás, no caráter político do século XVIII, a idéia de propriedade mesma tinha ligação com a idéia de independência dos sujeitos políticos em relação ao governo e quem não detinha propriedades, era considerado alguém não ligado a sua terra. Que para a nossa concepção moderna, tal sistema poderia ser aparentemente antidemocrático ou eivados de privilégios indevidos, até certo ponto tem sentido. Contudo, a extensão deste poder político era muitíssimo pequeno e a grande maioria das comunidades, sejam elas inglesas e norte-americanas, viviam mais de laços comunitários privados da família ou da igreja do que a mercê das influencias dos poderes do governo ou do parlamento. A política do parlamento inglês ou do sistema norte-americano, para a maioria dos cidadãos, se não era indiferente, não havia tamanha influência. Isto porque, até o século XVIII, não existiam parlamentos permanentes na Inglaterra e muitos cargos eletivos tinham poucas prerrogativas governamentais. E os pobres, ao contrário dos abastados parlamentares, não pagavam impostos, e as leis do Commow Law eram ditadas pelo poder judiciário, que já no século XVII era independente.

Porém, ainda que os valores fossem aristocráticos, a peculiaridade das democracias americanas anglo-saxônicas era a força dos indivíduos de origem não aristocrática nos negócios do governo. O parlamento inglês e a democracia americana eram já considerados avanços para época, precisamente porque, embora os valores aristocráticos de antigas elites fossem cultivados nessas elites ascendentes, os grupos de origem não aristocrática tinham sólida participação política. No caso americano em particular, este igualitarismo foi ainda mais radical, no alargamento maior de direitos políticos. Ao contrário da Inglaterra, onde havia uma aristocracia historicamente constituída, a nação americana era feita de homens de origem plebéia, cujas propriedades de terra eram acessíveis uma boa parte da população.

Por outro lado, o sentimento religioso e comunitário dos calvinistas contribuiu e muito, para uma definição ética da cultura democrática americana. As igrejas presbiterianas eram constituídas de cargos eleitos dos presbíteros, onde os fiéis deliberavam sobre questões pertinentes a comunidade. Essa tradição, vinda das assembléias dos burgos comerciais holandeses e em específico, do cantão de Genebra, arraigou-se profundamente na cultura política inglesa, através dos presbiterianos escoceses, onde um parlamento forte, constituído pelos comuns, foi de grande afronta ao poder monárquico. Nas palavras de um nobre inglês anglicano: - Hoje, ele votam nos presbíteros. Amanhã eles vão querer votar nos reis. . .

A propriedade privada e os laços políticos privados ditavam muito mais do que os parlamentos, que apenas tinham o dever de proteger os direitos e regras costumeiras da comunidade, em particular, no que diz respeito a impostos e tributos. O processo democrático, antes elitista, acabou por se disseminar por todas as classes sociais. O sufrágio universal acabou por se legitimar nas comunidades anglo-saxônicas. Em compensação, toda uma ética religiosa, moral e aristocrática, além da divisão dos poderes do Estado, foram formalmente preservados na comunidade, como uma harmonia de valores comuns aos membros da comunidade.

No entanto, houve uma transmutação do pensamento democrático. A democracia antiga visava preservar a liberdade e a politéia, ou seja, a interação plural de indivíduos dentro de uma participação política comum, conciliando interesses divergentes, seja nos parlamentos ou tribunais. E o Estado se obrigava apenas de funções limitadas dentro desta mesma sociedade, sendo que em outras funções, a sociedade agia por si mesma. O igualitarismo do século XIX, junto com o racionalismo mecanicista aplicado a sociedade inverteu este conceito. O igualitarismo contemporâneo, junto com o racionalismo mecanicista, idealizava uma sociedade como se fosse um projeto sistêmico de funcionamento social, tal como engrenagens de uma máquina. Neste raciocínio, o Estado, que antes era apenas um ente político dentre os demais na sociedade, acabou por se tornar o elemento totalizador de toda uma sociedade, ditando, uniformizando e padronizando os indivíduos. De fato, o socialismo foi o elemento chave para a disseminação da onipotência do poder político e do culto messiânico da organização das massas fundida com o Estado.

Devemos nos atentar as origens históricas e intelectuais do igualitarismo e estatismo democrático: as ideologias alemãs e francesas do Estado moderno, fruto de uma tradição cultural e política centralizadora e autoritária, e que uma boa parte dos sistemas democráticos atuais em geral acabaram por absorver. Até mesmo as liberais e austeras nações protestantes não se livraram de suas perniciosas influências.

Um aspecto que facilitou a disseminação de tais idéias foi o sufrágio universal. A crença do sufrágio universal, não como um elemento de participação política individual e autônoma, mas como um elemento totalizador do Estado e de uma “vontade geral” comunitária, criou conseqüências graves para a velha democracia antiga e para suas liberdades. Contraditoriamente, se o Estado democrático moderno se pautou por uma idéia de totalidade sem indivíduos, em contrapartida, o voto universal diversificou as exigências dos cidadãos perante o Estado, já que para muitos, o poder político estatal se tornou uma nova espécie de panacéia social, pronta para agradar aos caprichos de milhões de indivíduos.

Em outras palavras, na idéia mítica do Estado democrático moderno benfeitor e na massificação do voto universal, a exigência de um governo que satisfizesse a exigência caprichosa dos cidadãos, não somente diminuiria as esferas de liberdades dos indivíduos, como aumentaria o poder da burocracia estatal em fazer praticamente tudo. De fato, o famigerado “Estado Social de Direito”, com sua crença megalomaníaca de satisfazer as necessidades subjetivas de milhões de indivíduos isolados e atomizados, alargou de tal maneira uma burocracia capaz de sufocar e destruir toda uma sociedade civil livre constituída. Em suma, o que antes era a sociedade de indivíduos, acabou por se tornar a sociedade de massas. Como o Estado é um elemento político totalizador e centralizador, e como tal, um poder de coerção e força, a sua intervenção arbitrária, ao invés de satisfazer aos indivíduos, acaba-os por subjugá-los e padronizá-los. Na prática, a essência do Estado democrático moderno é essa: totalizar os indivíduos como se fossem peças de um sistema mecânico de engrenagem social e uniformizá-los como elementos maleáveis de um poder político burocrático e racional.

Há uma outra curiosidade na democracia moderna, que raramente havia na democracia antiga, nos moldes anglo-saxônicos. Se o individualismo no aspecto liberal clássico do termo, era simplesmente a capacidade de ação autônoma dos indivíduos, sendo estes responsáveis pelos seus atos e atribuições morais, a corrupção espiritual da democracia moderna arregimentou uma legião de cidadãos apáticos, esperançosos e submissos à vontade do Estado: dependentes moralmente das ações governamentais, são capazes de exigirem as intervenções mais absurdas na vida privada da sociedade civil, enquanto se mostram ineptos, como indivíduos, de assumirem atitudes espontâneas para com seus concidadãos, em atos de solidariedade.

Um dos piores fenômenos da democracia moderna é a exploração do infantilismo moral das massas. Quanto mais as massas exigem proteção do Estado Democrático, mais renunciam a sua prática de homens políticos, de zoon politikon. Ao invés de atuarem por si próprios, eles delegam cada vez mais poderes a elementos estranhos à própria comunidade. São as burocracias complicadas e diminutas, que aos poucos, pelas exigências das “demandas sociais” da democracia, regulamentam, monitoram e controlam a conduta ética, moral e a vida mesma dos indivíduos. O processo da burocratização da sociedade civil não somente torna os indivíduos cada vez mais isolados e desconfiados de seus laços comunitários mais próximos, como eles são manipulados por um poder superior invisível, onipotente, acolhedor e opressor.

Outro aspecto que parece justificar tamanha subserviência é a busca do bem estar material no sistema democrático. Se o cidadão médio da cultura democrática moderna parece abdicar de sua liberdade política aos agrados de uma burocracia voluntariosa, nada o impede que o faça em nome de meras regalias econômicas. A justificativa ideológica do Estado socialista é precisamente a mesma de alguns setores ou pensamentos encontrados na democracia moderna atual: comer e beber são mais válidos do que ser dono de sua própria vida!

Se muitas sociedades agüentam as piores distorções em nossas democracias, pelo simples fato de ter um conforto material, que dirá dos regimes totalitários em ascensão, que destruíram as democracias, precisamente por essas crenças disseminadas na própria democracia? Dentre alguns aspectos da ascensão social meteórica do nazismo e o fascismo nos sistemas democráticos, um deles foi precisamente o apelo materialista do bem estar social. Muitas das crenças laicizantes, materialistas e deterministas criaram o terreno propício para o apego mesquinho das sociedades democráticas ao bem estar social, a ponto de negar valores e imperativos éticos e morais superiores, como a liberdade, a dignidade, ou mesmo a vida. O homem é reduzido apenas a uma dimensão econômica, ignorando-se seus valores morais mais autênticos.

A democracia moderna parece cada vez mais distanciar os governantes dos governados, e o poder é cada vez mais oculto aos olhos do cidadão comum, no que diz respeito a sua atuação. O que implica aqui uma forma de descontrole e margem de arbitrariedade perigosa do novo poder que se estabelece. A burocracia se torna mais distante, mais minuciosa, mais numerosa, e cada burocrata cria uma esfera arbitrária e descontrolada de poder. O pior são as ideologias de engenharia social disseminadas nestes meios. As exigências do processo democrático moderno dão cada vez mais poder a eles, e cada vez mais as relações privadas da sociedade estão dominadas pelo Estado.

Não é por acaso que uma classe política atuante e uma burocracia querem ditar normas e valores para uma sociedade cada vez mais desarmada e destituída de suas próprias instituições privadas. De forma lenta, gradual e indolor, a família, a propriedade, a religião, os valores comunitários privados espontâneos estão sendo castrados por essa burocracia em ascensão nas democracias mais estáveis. Na prática, a intervenção governamental em todas as esferas morais particulares e religiosas da sociedade, acaba por instituir uma nova forma de moralidade, e, concomitante, uma espécie de nova religião civil estatal, acima de todas as crenças e religiões milenares. Em último caso, o Estado quer se prejulgar superior, ao revogar por decreto, milênios de cultura moral, familiar e religiosa consagradas por toda uma história humana. O seu declarado laicismo é uma espécie grosseira de credo materialista e estatal, que ambiciona substituir os credos religiosos na sociedade democrática. A burocracia quer revogar Deus por decreto e se permitir a tudo.

Em algumas de nossas escolas brasileiras, ainda podemos ver crianças usam kipás, segurando bíblias, usando uma camisa com símbolos religiosos, sem constrangimento nenhum. Que intelectuais estúpidos queiram importar uma espécie de censura contra os hábitos religiosos e costumeiros da nação brasileira, imitando a revolução cultural dos países desenvolvidos, isto é um processo contínuo que já ocorre no Brasil e com o apoio governamental. Que as ideologias totalitárias tenham larga aceitação na intelectualidade brasileira e na educação, pelo menos parece que ainda há uma margem de esfera em que esta ideologia não se totalizou nestes meios, onde a manifestação espontânea do individuo se contrasta com elemento massificador do Estado. Por enquanto. . .já que o perigo existe, na ascensão cultural de uma ideologia castradora dos valores e da religião, insuflada por uma educação controlada pelo Estado, como é o caso de nosso país. O trágico é pensar como essa cultura conservadora vai resistir as pressões do Estado e da intelectualidade militante. E não há nada organizado de vocação conservadora que possa contrabalançar essa flagrante violação das consciências neste país.

A nação americana, muito mais estável que a nossa e campeã das liberdades civis, e muito mais tradicionalista que a nossa, é agora assolada por uma forma de opressão digna de regimes totalitários. E a Europa, por uma tradição ainda mais estatizante de política, a intervenção é pior ainda. E tais ventos, aos poucos, chegam a América Latina, por intermédio de intelectuais pernósticos, ávidos na engenharia social.

Os religiosos são proibidos de manifestarem publicamente sua fé religiosa, no intento de não ofender outros credos. Os estatólatras engenheiros sociais ateus que controlam muito das burocracias democráticas, querem simplesmente destruir a liberdade religiosa em nome de preservá-la. Em nome da tolerância, se proíbe qualquer manifestação religiosa pública. Um verdadeiro golpe para uma nação tão arraigadamente religiosa como a norte-americana. O mesmo se aplica aos olhares, as cantadas, aos laços de amizade. A histeria das demandas sociais do Estado dá o devido espaço de ele se meter em tudo. Sob o pretexto de reivindicações mimadas e neuróticas de alguns indivíduos ou mesmo grupos, exige-se que se regulamente a mínima conduta privada dos cidadãos. Cada vez mais, os indivíduos fracos, isolados, depressivos, desconfiados de si mesmos e dos outros que estão próximos, são dominados por um Estado que os oprime de maneira silenciosa, no intento retórico de defender seus direitos.

As duas nações protestantes mais fantásticas e mais liberais do mundo, Estados Unidos e Inglaterra, vivem num dilema que contraria suas tradições mais arraigadas: as ideologias igualitárias e totalitárias modernas estão para destruir todo o complexo arraigado de liberdades que existem nas nações anglo-saxônicas. Elas se infiltram na democracia e se autodeclaram parte dela, como elementos estranhos à própria vida democrática destes países. Tais ideologias de massas roubam o espírito empreendedor tão arraigado neles. Minam-lhes o espírito e os tornam passivos, medíocres, domesticáveis como um cordeiro no pasto. Se uma nação tão brilhante como a inglesa hoje é apenas sombra do império que foi, deve-se precisamente ao parasitismo estatal que assolou a alma dos ingleses. O mesmo caminho pode ser visto a outra grande nação, os Estados Unidos, cujos valores são cada vez mais ameaçados por este projeto de engenharia social.

Muitos dos valores que hoje fazem do ocidente um destaque para o mundo, no que diz respeito a tolerância e as liberdades civis, estão nas mãos das nações anglo-saxônicas, isto, sem contar Israel, que é um caso a parte. São as únicas nações realmente fortes para preservar os valores democráticos tão ameaçados pelo terrorismo moderno e pelo totalitarismo, precisamente porque muitos dos antigos valores religiosos, comunitários, cívicos e éticos resistem a perniciosas influências, com força, grandeza e uma sólida militância política. E se o veneno do totalitarismo moderno, camuflado por uma revolução cultural, dominar de tal maneira o corpo e a alma dos anglo-saxônicos, veremos a decadência não somente dos valores liberais modernos, como mesma da própria civilização. Se as nações mais fortes sucumbirem, as mais pequenas nações vão juntas. E tudo que o ocidente construiu durante séculos, poderá ir porá água abaixo.

Há de se repensar a democracia moderna, nos perigos da onipotência do Estado, e isto é uma responsabilidade comum de qualquer nação liberal. A democracia deve ser um sistema que deva preservar as liberdades civis e conter os abusos do poder dos governantes, como, aliás, essa sempre foi esta sua função. E as nações sinceramente democráticas, como baluartes de uma admirável raiz política e com o peso nas costas de um mundo conturbado, devem usar de todos os esforços para a preservação das mais caras tradições de uma sociedade livre.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Paranóias do relativismo: ou a ditadura da mentira.


Este texto foi escrito no começo de janeiro de 2006. Parece-me atualíssimo, já que o relativismo moral e cultural se apossa de tal maneira nas academias brasileiras, que é um dado a ser comentado. Ainda ninguém se apercebeu do veneno que significa tais premissas de pensamento, pois elas são, na prática, negações lógicas do pensamento humano. Daí a idiotização total em nossas universidades, a incapacidade elementar de avaliar os conceitos e a padronização de um discurso automatizado e imbecilizador. Nietszche e Marx são apenas alguns pais espirituais dessa loucura, ou pelo menos, os mais populares. Há coisa tão pesada quanto. . .
Um aspecto curioso encontrado em boa parte dos debates acadêmicos, midiáticos e pretensamente intelectuais, é a idéia difundida do relativismo, em miúdos, da negação da verdade como elemento válido de descrição da realidade. De fato, o termo “tudo é relativo” é um cacoete mental repetido a exaustão, associando a sua força retórica com argumentos computados na antropologia e filosofia moderna. Vindo das raízes do materialismo, em particular, da popularidade sombria de Marx ou Nietzsche, a idéia de que a verdade não existe é um conditio sine qua non da cultura intelectual dominante, já que a tal maldita verdade é um capricho inútil, refletindo apenas questões classistas, antropológicas, ou a “vontade da potência”, o desejo do poder. Aqui a crença numa verdade não é vista como a busca racional do conhecimento, mas sim uma imposição retórica de interesses, em que cada um tenta convencer quem mente mais racionalmente. Isto porque, a razão, no ideário relativista, não é um juízo de compreensão objetiva da realidade, através da análise de uma relação de causa e efeito das coisas. É sim uma forma opressiva de justificar interesses particulares ou mesmo de cada um impor sua própria vontade.


Malgrado o mito da inexistência de uma verdade, esta é condenada em nome do combate ao dogmatismo. Afirmar que uma verdade existe, em certos meios culturais, é dar atestado de intolerância com as opiniões alheias. Inclusive, muitas pessoas condenam a crença na verdade absoluta, por julgá-la até “totalitária”. O mais impressionante, senão trágico, é que essa relativização total da verdade acaba se tornando contraditoriamente uma verdade dogmática. Por outro lado, qualquer negação da verdade se torna um contra-senso lógico, porque tal negação se presume ser uma premissa verdadeira.

A máxima “tudo é relativo” das academias e centros culturais esquece de relativizar o relativismo que apregoa e, no final, acaba negando o próprio enunciado lógico, caindo num nonsense. Aliás, a relativização de certos conceitos ou idéias, antes de ser um ponto contra a verdade, é, talvez o maior ponto favorável a ela. Isto porque só se pode negar uma verdade com outra verdade. Relativizar em si mesmo não é negar uma verdade, e sim relacionar uma verdade com fatos específicos até então não percebidos. Quando alguém afirma que algo é relativo, ele se esquece de afirmar que é relativo a alguma coisa e a não ser que ele seja um louco, ele deve acreditar numa outra verdade que implique essa relação.


De fato, eis a maluquice dos queridinhos de plantão, Marx e Nietzsche, e seus demais seguidores. Eles usam premissas absolutas de verdade para negarem a verdade. E pior, acabam por negar suas próprias verdades, pelo mesmo nexo lógico que fundamentam. Quando Marx afirma que os valores e as crenças da superestrutura espiritual são apenas um reflexo da infra-estrutura material e de um contexto histórico que reproduz esses valores, ele mesmo nega sua própria filosofia da história. É que o marxismo também está enquadrado na história como filho de seu tempo, e, portanto, os fatos históricos e as estruturas materiais também podem negar o marxismo. E o pensamento dialético materialista marxista não pressupõe, pelo seu próprio nexo lógico, que o marxismo possa também ser negado dialeticamente. Schopenhauer dizia que quando um hegeliano era pego nessa contradição ao ser refutado pela própria dialética, este afirmava, sofisticamente, que isto era a prova da dialética. Que dirá do marxista? O absurdo lógico se conclui assim: até a negação da dialética com algo contrário, é prova da existência da dialética. Eis a questão: o marxismo se acha superior a própria lógica que prenuncia e não está sujeita a ela. Ou seja, ele se afirma como filosófico e como verdade absoluta, mesmo relativizando e negando verdades absolutas em tudo. Marx preconizava que os valores como verdade e a moral são apenas reflexos da classe social dominante. Mesmo afirmando essas insanidades de pensamento, Marx não coloca sua própria teoria na lógica da classe dominante.


Quando Nietzsche afirma que a “vontade da potência” é o que determina as crenças da verdade, moral, lógica, e que a racionalidade implica apenas um reflexo instintivo do desejo de poder, ele está nos dizendo apenas algo que ele racionalmente crê verdadeiro. Nietzsche nega a validade objetiva da razão, declarando uma verdade e racionalizando algo que ele crê como objetivo: a negação da objetividade e da verdade. O interessante dessas análises, é que elas mesmas se assumem mentirosas nas entrelinhas; a verdade não é um entendimento da realidade, contudo, um recurso utilitário da persuasão e mesmo da indução e farsa mais descarada, em específico, como uso estratégico de luta pelo poder.

O efeito do relativismo nas áreas do conhecimento foi simplesmente devastador, ameaçando toda uma criação intelectual de mais de dois mil anos. A sua força destrutiva se refletiu na história, na moral, na cultura e mesmo nos valores políticos, levando praticamente a destruição da cultura ocidental. Foi pior do que isso. O relativismo promoveu os piores regimes tirânicos que se há noticia: os sistemas totalitários que dominaram o século XX.

A negação de conceitos absolutos e universais de verdade, cultura, moral e política, acabou por reduzir qualquer procedimento na ordem dos valores como um elemento de imposição arbitrária da mentira de um contra a mentira de outros. Por outro lado, a negação prévia de uma busca da verdade tende por pressuposto, uma completa inércia do pensamento, já que se os homens são incapazes de ajuizar valores compreensíveis e universalizáveis a todos os seus semelhantes, a conseqüência lógica disso é a indiferença, a inépcia e o niilismo. Observa-se no relativismo, dois tipos de ações permissivas e desastrosas: uma, é a anulação prévia da consciência, pela presunção de que o homem é impotente para compreender a realidade; e outra, a perversão da consciência, que julgando como ação e pensamento a mera projeção da vontade e do instinto, nega qualquer pressuposto de honestidade intelectual e utiliza a mentira, como método de explicação do mundo. E para isso, não somente se nivelam os valores, como os negam, destruindo a relação básica entre verdade e erro.

Muitos querem dissociar Marx e Nietzsche dos dois sistemas mais sanguinários da história humana: o comunismo e o nazismo. Todavia, para quem apregoou que a verdade, os valores e a moral são revogáveis por interesses lógicos inerentes a apenas a algum grupo ou a uma circunstância, não se pode negar as conseqüências catastróficas deste pensamento: a verdade não existe, logo, é permitido fabricar uma visão que condiz apenas com o que se quer impor. E os valores e os escrúpulos só existem enquanto convenientes ao desejo determinado de um grupo, ainda que o preço a ser pago é a matança, o extermínio em massa e a barbárie, já que a moral é relativa, e, portanto, não existe como regra geral. Pode-se mentir a vontade, pois a relação verdade e erro são apenas interpretações desconexas de desejos pessoais, e a “verdade” que predomina é aquela que de fato é imposta pela força. E aqui se pergunta: o que há de diferente no pensar de Marx e Nietzsche e Stálin e Hitler? A diferença apenas é de teoria e prática. Stalin e Hitler são as realizações práticas de Marx e Nietzsche. A mentira totalitária alucinante que povoou tanto o discurso do regime soviético como do nazista é fruto trágico da negação da verdade objetiva.

Ademais, o relativismo ganhou aura de filosofia elevada, posto que se supõe tolerante, uma vez que nega por si só, toda a tese dos malvados “donos da verdade”, “dogmáticos”, precursores dos piores fanatismos em torno de suas convicções. Sem contar as pérolas da antropologia cultural e da moralidade relativista, pomposas nas bocas das castas acadêmicas, achando-se progressistas por negarem qualquer juízo de valor na comparação das culturas ou mesmo na avaliação qualitativa de juízos morais. Para tais doutos niilistas, não existe juízos de valores que possam prejulgar em termos universais as culturas humanas, ou mesmo uma moral universal capaz de se tornar referências lógicas a humanidade como um todo, porque tais juízos estão apenas restritos a cultura de cada povo. No entanto, a loucura implícita deste raciocínio nos leva a terríveis engodos lógicos: primeiro, a negação de qualquer comparação cultural implica a negação da universalidade humana em favor das particularidades culturais. Segundo, só o fato de existir um juízo relativista no plano da cultura, já se presume que ele se nega enfaticamente, precisamente porque está sujeito a um juízo cultural particular, que não pode ser aplicado a outras culturas.

E o mais gritante, senão absurdo: se as culturas são apenas diferentes, e não podem nunca ser comparadas, pela impossibilidade lógica de se deduzir valores universais acima delas, logo, a cultura é elevada num plano absoluto, negando mesmo a idéia da humanidade. Como cada cultura não pode ser comparada, logo, cada cultura é um fim em si mesmo, e a relação que liga a humanidade enquanto espécie é negada. É mais grosseiro, o relativismo cultural, negando a humanidade, nega o intercambio cultural e as comparações que fazem desenvolver as culturas humanas. O relativismo, em suma, crê a cultura como monolítica e determinista. Na prática, o relativismo, em nome da tolerância cultural, cria a mais completa dogmatização da cultura, o seu mais completo autismo e mais grotesco absolutismo.

Os regimes totalitários, exaltando ao máximo a negação total da moral enquanto parâmetros objetivos e racionais; e mesmo negando a premissa básica da humanidade enquanto interação comum de uma espécie irmã, não somente recusou a dignidade elementar a diferentes indivíduos e culturas, como negou qualquer respeito universal ao ser humano. Se os valores da dignidade humana são tão válidos em relação a aquelas culturas em que ela é negada, como poderemos defender o respeito ao ser humano, quanto a massacres, genocídios, assassinatos em massa e todas as crueldades em que nossa história foi testemunha? Com que substrato moral, cultural e ético universal pode-se condenar os campos de extermínio nazistas contra judeus ou os arquipélagos gulags soviéticos sob o prisma do relativismo? Resposta: nenhum. Os crimes, como a moral, são apenas manifestações culturais particulares, e matar um judeu ou um dissidente soviético vale tanto quanto defendê-lo da barbárie, porque a moralidade de um nazista ou bolchevista valem tanto quanto de um cristão devoto. Pois na visão totalitária do relativismo cultural, um judeu não é humano tanto quanto um alemão e ambos refletem contextos culturais diferentes, que são determinantes, muito mais do que pelo fato de todos serem humanos. Que dirá dos absurdos de certos antropólogos, que em nome da autodeterminação de certas culturas, são capazes de defender as peculiaridades indígenas de comer carne humana, matar crianças indesejadas e outras bizarrices culturais? O direito à vida valeria no mesmo sentido, tanto quanto os hábitos alimentares hediondos ou o infanticídio, encontrados em determinadas comunidades.

Se o relativismo cultural leva a um total nonsense, a conseqüência fática disso é o relativismo moral que hoje impera em nossa sociedade. Na verdade, a relativização total da moral nega qualquer relação lógica entre atos humanos e conseqüências. Ou seja, tudo pode ser válido e permitido, pois se a moral não limita ou orienta nada no que diz respeito à consciência e à conduta, qualquer indivíduo pode fazer tudo que seja acima de seu limite. O mais terrível desta concepção antimoralista, é que ela supostamente crê “libertar” o homem de supostas formas de “repressão” que a moral implica. A pregação a favor da liberdade sexual irrestrita, os ataques à família, à religião, e a exaltação permissiva de conduta, seja na apologia irracional da violência ou numa suposta “resistência” a sistemas supostamente “opressivos”, levam somente a destruição das bases morais em que se fundamenta a solidariedade comum em sociedade. A falta de consciência moral no homem o barbariza, brutaliza. O domínio irracional do instinto acaba por prevalecer sobre a razão elementar. E se hoje, nos grandes centros urbanos, a violência beira a guerra civil, o terrorismo se torna prática política respeitável e o respeito mínimo a dignidade humana é solenemente ignorado, deva-se a esses pseudo-intelectuais militantes, partidários de uma esquizofrenia filosófica delirante, que em nome de libertar o homem, querem destruir todos os valores libertários que dignificam o homem. Sem contar a inversão de valores que hoje se apregoa sobre a sexualidade, no caso da apologia ao homossexualismo e mesmo da pedofilia, colocando-a no mesmo patamar de desejos sexuais heterossexuais. A família natural é negada como referência, com o advento do casamento e adoção de filhos por homossexuais, enquanto a infância é gradualmente erotizada e violada em sua inocência.


As filosofias ocidentais materialistas e relativistas são “uterinas” e alienantes. Elas parecem retroceder todo um processo histórico intelectual formado há milhares de anos para simplesmente nos reduzir a condição do animalesco. O relativismo é uma espécie de mal de Alzheimer, que de tanto negar a realidade, acaba por voltar a infância, ao instinto mais reducionista e primitivo da negação do pensamento. É como se numa inversão histórica, saíssemos do século XXI para voltarmos a Idade da Pedra do pensamento, retrocedendo a toda uma sorte de experiências vividas, para cair num completo vazio da existência.

A pior e a mais completa ditadura não será da violência física sobre o corpo e tampouco a censura intelectual externa da alma consciente. O fato de alguém agredir o corpo e censurar a alma é porque o poder despótico se sente ameaçado por um corpo que age e uma cabeça que pensa fora da área de seu domínio, o domínio interior da consciência. A pior ditadura será aquela que, negando qualquer juízo de conhecimento, parâmetros morais, epistemológicos, ou mesmo a verdade, transformará a consciência humana num automatismo irracional, incapaz de pensar no engodo em que vive, sem quaisquer referenciais para julgar a realidade. Enquanto a consciência oprimida tem idéia de sua opressão espiritual, porque consegue compreender a realidade, o relativismo nos leva a um grau de servidão em que ninguém se sente oprimido, precisamente porque a consciência racional é destruída. O matrix idealizado pelo totalitarismo, na destruição completa da divisão básica entre verdade e erro e na total negação de compreender da realidade, é um sonho que almeja ser alcançado. Em suma, a pior ditadura será aquela em que desvasta a consciência e a leva a loucura. É a ditadura do relativismo, a ditadura da mentira.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

UM DISCURSO E UM CONTRA-DISCURSO:O movimento de massas e a tirania de novas elites. . .

Grande parte dos movimentos políticos “populares”, acadêmicos e estudantes universitários de militância vazia e audaciosa, embeleza o discurso político, conciliando a apologia dos valores democráticos e de supostos ideais libertários, mesclados com a mobilização organizada das “massas”. No viés populista, prenunciam uma espécie de redenção messiânica, através de valores coletivistas, nos dizeres de uma sociedade solidária e igualitária. A crença comum destes grupos políticos é a de que o “povo”, a “massa”, enfim, precisa se unir num pensamento único, num valor homogêneo, num ideal de consciência corporativa monolítica, a fim de “transformar” a sociedade e impor seus propósitos e projetos, como se a mística das “massas” ou do “povo” fosse um só corpo, um só pensamento, uma só inspiração.

A solidariedade popular, neste caso, não consiste numa expressão de cooperação voluntária entre indivíduos, mas numa tentativa de uniformização total de princípios que são seguidos à risca. É como uma pseudo-religião, que promove fanaticamente uma pressuposta característica artificializada de “união”, na crença fantasmagórica da pretensa superioridade da “maioria” contra a “minoria”, numa panacéia contra as injustiças sociais e as malvadas elites individualistas.

Se o culto das “massas” é a ordem suprema das verdades e das políticas e idéias preestabelecidas, qualquer indivíduo que não se enquadre na regra, na ótica destes militantes, representa uma ameaça a “unidade”, a coerência massificada do povo. Ou seja, ainda que os propósitos sejam da “liberdade”, “solidariedade” e toda a sorte de adjetivos, o indivíduo nada vale. Sua liberdade individual não conta, senão aquela que está nos ditames do grupo, na massificação servil de idéias e valores, nas cartilhas oficiais impostas em nome da coletividade.

Os jovens estudantes de passeatas e os militantes que gritam ensandecidos nos holofotes contra as mazelas do governo, quando exaltam aos chamados movimentos de massa e ao mesmo tempo criticam as arbitrariedades das “elites”, na prática, seu discurso se contradiz com os ideais que julgam seguir. “Massa”, não é, como os militantes dizem, um “povo” que questiona os desmandos da política (até porque a palavra “povo” é mera nomenclatura abstrata e sociológica). “Massa” é antes um conjunto coeso de seguidores, que incapazes de valorarem por opiniões subjetivas vindas da consciência individual, são reflexos induzidos por uma minoria que os governa. Ora, massas não pensam, indivíduos é que pensam. E “massas”, antes de serem detentoras do poder, são feitas exclusivamente para serem dominadas, mandadas, posto que de fato, as massas têm elites poderosas e mandonas.

A mitificação da “maioria” e do “movimento de massas” concede muito mais poder às novas elites que o apregoam do que qualquer outro movimento elitista declarado. Porque os ditos movimentos de massas padronizam as opiniões dos indivíduos numa nova espécie de controle de pensamento, como se no seio da sociedade todas as pessoas fossem meros robozinhos a seguirem um discurso sem um questionamento severo. As organizações de massa são formas mais aperfeiçoadas de dominarem os indivíduos, presos na armadilha dos critérios absolutos de uma opinião majoritariamente produzida. As novas elites que se sustentam neste discurso, ganham muito mais poderes, visto que na nivelação, no igualitarismo uniformizador de idéias e princípios, qualquer questionamento independente será suprimido pela aura fictícia da “maioria”. O pior é a verdade e a moral serem suprimidas pela mera idéia artificial do consenso. A razão elementar não implica aí a persuação racional independente e sim a imposição ideológica de uma mentira aceita pela maioria. Como a maioria sempre tem razão, mesmo mentindo, qualquer perversão social pode ser justificado em nome dela, até mesmo uma ditadura. Aliás, a perversão intrínseca dessa lógica é absolutizar o conformismo social. A liberdade é sempre a manifestação de uma minoria independente e questionadora. Destruindo os valores que protegem as minorias opositoras, só resta a qualquer indivíduo obedecer cegamente ao poder governante , já que o conformismo é a regra absoluta da condição política. Pode-se entender perfeitamente o porquê da força do despotismo totalitário. Como o conformismo social dita tudo, a mera manifestação isolada é considerada criminosa. A população se torna é cúmplice do próprio crime: o coletivismo os impele para a mais completa servidão! E o cidadão realmente livre é esmagado sob o peso da solidão insuportável em meio a multidões obedientes.

Curiosamente, o domínio moderno das novas elites já não é mais pela desigualdade, e sim pela radicalização da igualdade. As reivindicações das “massas” são migalhas de um paternalismo autocrático, que em nome de certos direitos, as pessoas (ou as massas) abdicam da liberdade. A “solidariedade popular” na igualdade forçada é um resumo da imbecilização massificada, da perda de identidade do individuo, na impessoalização dos atos, cada vez mais aprisionado e menos independente para agir.

A liberdade individual é o único clamor que impede o domínio total das elites. É na esfera da consciência, da privacidade, que as elites se vêem limitadas no seu domínio, na resistência contra os desmandos do poder único, do pensamento único. Não é nas massas aglomeradas que as liberdades respiram mais aliviadas. É sim, na liberdade individual de cada sujeito que a liberdade mesma é sua expressão mais genuína. Um movimento social só é autêntico, se o clamor da liberdade individual existir e um movimento social só se justifica, porque sua razão está na liberdade de manifestação independente. Qualquer discurso que visa a mobilização de massas e ao mesmo tempo a supressão da liberdade individual, não passa de uma nova artimanha de tirania, na autopromoção de novas elites mais poderosas, que se aproveitam da cartilha igualitária, para nivelar e aniquilar a livre expressão de indivíduos que contestam o seu poder.
O apelo a favor das massas é o apelo da servidão voluntária das massas e a promoção de elites pensantes por ela. O desprezo que os militantes nutrem pela liberdade individual é porque tal fundamento ameaça o poder destes aspirantes a novas elites. O discurso do movimento de massas acresce de poderes quase totais às instituições políticas que estão por trás das organizações de massas. Na prática, as novas elites são autoritárias em nome da totalidade que supostamente os legitima. Neste caso, as representações "democráticas" das massas são meros artifícios circenses conduzidos pelo poder governante: a livre escolha não existe no modo de agir político. Eleições, manifestações públicas do partido, manifestações "espontâneas" do povo, são apenas o teatro de um consenso fabricado pela violência e pela supressão política do indivíduo. É o Estado policial, o Partido Único, o Líder onipotente, as suas representações hierárquicas e absolutistas, na condução do sistema! São, em suma, as ditaduras socialistas do século XX e XXI!

De fato, os movimentos populares, ignorando os princípios da liberdade sobre a coletividade, são as redundâncias do fenômeno totalitário, que nas vozes dos estudantes, falsificam a solidariedade com opiniões uniformizadoras. Vêem o povo, não como um conjunto de pessoas, que apesar de atributos comuns da comunidade, são indivíduos com personalidade e expressões próprias, porém, como um cabresto a ser conduzido às raias da fanatização de elites cada vez mais sectárias, pelo falatório lisonjeiro e bajulador da população. E o apelo democrático e "cidadão" dos militantes políticos é apenas uma roupagem retórica, no falseamento do sentido consciente dos princípios da democracia e da liberdade. Invocam-na como seus porta-vozes e são os primeiros a abdicarem destes valores, a fim de invertê-los em favor de seu domínio e na institucionalização perversa de um novo poder.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

A sexualidade “científica” dos vira-latas!


Um dos maiores mitos de nossa época é a de que a ciência explica tudo. Desde que a ciência se tornou o dogma da modernidade, ela é um sustentáculo de fraudes sem fim, uma forma disfarçada de imposição de ideologias e interesses espúrios, ao arrepio da própria verdade. É pior, ela se tornou o oráculo religioso para uma sucessão monstruosa de vigaristas, charlatões e pseudoprofetas, que usam do argumento cientifico como instrumento de poder. Tornam-se intérpretes desse oráculo, como descobridores de algum fundamento místico e determinista que condiciona nossos comportamentos. A ciência, em suma, tornou-se revelação gnóstica, cabalística. Os cientistas se transformam em sacerdotes desses oráculos de segredos, subtendidos na natureza, que só existem na cabeça deles.


É um discurso tão impregnado de determinismo, que a tal “ciência” só falta crê que somos dejetos biológicos, rebaixando-nos a uma classificação pior do que os animais. As ideologias racistas nos classificam como bestas de laboratório, meros reflexos de uma seleção biológica, instintivamente capazes de nos dizimarmos em nome da pureza da raça ou da sobrevivência dos mais aptos. Do materialismo histórico, o estômago manda em nossas cabeças. Não são nossas mentes que pensam; o que produzimos economicamente é o que determina a moldura abstrata de nossos cérebros, em nome da ânsia de comer. E a história é o reflexo de como produzimos materialmente para alimentar o estômago. Isso implica uma certa dose de evolucionismo: a história dos mais aptos não é de raças, e sim classes. A humanidade é uma sucessão de grupos sociais se matando entre si, até o dia em que uma classe vai dizimar a outra e prevalecer sobre o resto do mundo.

Desde que Freud surgiu, qualquer psicanalista acha que a humanidade se resume a meros efeitos dos instintos sexuais. A esquerda de botequim não se cansa de falar que todas as pessoas do mundo são sexualmente infelizes, e que só a “libertação sexual” (leia-se a suruba, a pedofilia, o homossexualismo, etc) vai redimir a humanidade de todas as formas de repressão. Se os comunistas fracassaram na socialização da riqueza, vão é socializar o sexo. Ninguém será mais de ninguém. Aliás, inventou-se aí a psicologia de botequim, de preferência, para descrever os inimigos. Para quase todo esquerdista idiota, o direitista médio é um homossexual reprimido, hidrófobo e odiento do progresso humano. Por que quase todo idiota de esquerda usa esse argumento? É uma questão que o próprio Freud explica: ele chamaria isso de “projeção”!


Todavia, é apenas um exemplo ilustrativo. Recentemente apareceu um filme a respeito do famoso Alfred Kinsey, um cientista estudioso de vespas, que acabou por fazer relatórios a respeito das mais variadas práticas sexuais do comportamento humano. Kinsey é exaltado pela esquerda chique e pelos pseudo-libertários do mundo, como o destruidor de tabus sexuais, o paladino da educação sexual nas escolas e da revolução sexual. Inclusive, os comentários a respeito do filme são de glamour, já que Kinsey é retratado como um professor liberal e à frente do seu tempo, lutando contra os preconceitos de uma sociedade sexualmente repressora e puritana.

Embora o filme tente romantizar sua história, as entrelinhas do enredo acusam a fraude. Kinsey, tal como muitos autodenominados “cientistas”, não quer provar uma verdade, e sim oficializar uma ideologia. Ele forjava previamente as premissas “cientificas” que queria provar. E quando alguma parte desses experimentos fugia daquilo que ele esperava, sacrificava a verdade pelo que dizia provar. Marx foi um grande mestre neste artifício. Comenta-se que ele falsificou algumas estatísticas e citações em seu livro “O Capital” para adaptar às suas teorias. E a história do “socialismo cientifico” é uma sucessão de patifarias, meros arremedos para adaptar a realidade nas premissas ideológicas. Quem não se lembrará de charlatão Lissenko, queridinho de Stalin, que condenou o estudo da genética na Rússia, porque era considerada ciência “burguesa” e “trotskista”? O racismo biológico é outro pressuposto pseudocientífico, que mostra a completa indução do cientista nas premissas que se quer provar. E por que não dizer, dos políticos? A doutrina nazista é a conseqüência fática dessa indução mentirosa.


Sem contar as bobagens psicanalíticas. Já se ouviu histórias afirmando que a vontade empresarial de lucrar é uma forma sublimada de impotência sexual. Cabe acrescentar a louca salada cultural de marxismo e psicanálise, assimilando o capitalismo a todas as formas de repressões sexuais. Neste sentido, muito mais do que os argumentos científicos, muito mais do que a tentativa de libertar sexualmente o homem, Kinsey foi motivado pelo ódio à sua educação puritana conservadora. Ele utiliza o argumento da ciência para justificar suas taras sexuais mais sombrias, para fazer apologia pessoal e ilimitada do hedonismo. O mais assustador era a capacidade que este cidadão tinha de manipular as pessoas ao seu redor. Casado, Kinsey não tinha respeito nem pela mulher, mãe de seus filhos.

No filme, Kinsey tinha vários pupilos que acompanhavam suas pesquisas. Um deles, num simples experimento, foi pra cama com ele. Kinsey era um homem tão perverso, que não poupava os pupilos e pupilas dentro de suas experiências. Aliás, usava-os como cobaias sexuais dele. Depois da farra, Kinsey abriu o jogo à esposa, acabando por magoar a pobre mulher. No entanto, fez uma proposta a ela, tudo em nome da ciência: doou-a para o pupilo libertino. E os três conviveram num ménage a trois, até o dia em que o pupilo, insatisfeito com a bissexualidade, resolveu se casar. A noiva sabia de todos as práticas de Kinsey. E um dos assistentes da suruba, aproveitando a ausência do marido, levou a recém-esposa do outro para a cama. No final, o marido e o amante estavam se socando no meio do escritório; a esposa queria deixar o marido. Kinsey não se fez de rogado: todo mundo devia trepar sem envolvimento afetivo, porque todos eram ratinhos brancos de laboratório dele! Ou quem sabe, vespas! Todos eram, para efeitos científicos, animais. . .

A apologia irrestrita da liberdade sexual, no fundo, despreza milênios de cultura amorosa, moral e familiar, para nos reduzir a bestas que fornicam no meio da praça. A humanidade saiu da cortesania amorosa, dos galanteios sutis, das juras de amor e responsabilidades mútuas de família, para uma sociedade de cães promíscuos e pirentos! A individualização do amor e do sexo foi uma das maiores qualidades que a espírito humano já desenvolveu. Ela não somente desenvolveu a cumplicidade entre homem e mulher, como a família, e por conseqüência, a própria civilização. Talvez seja uma das peculiaridades que nos fazem diferentes de qualquer tipo animal. Nelson Rodrigues, na sua primorosa ironia, dizia que a educação sexual era coisa para vira-latas! É claro que há exagero nessa declaração. Porém, ela reflete a ideologização do tema, no epíteto pseudocientifico de se educar sexualmente.

Dentro de suas “pesquisas”, Kinsey chegava às seguintes conclusões: não existem padrões sexuais “normais”. Todos os padrões sexuais, dos mais pacatos, até os mais perversos, são aceitáveis, porque são naturais. Isso implica a pedofilia, o estupro, o sadomasoquismo, o homossexualismo e outras formas de taras. Ele afirmava que os Estados Unidos não deveriam ser colonizados por puritanos do Mayflower, mas por prostitutas e degredados, pois seriam “livres” sexualmente. O Brasil até causaria uma inveja!

Uma das cenas mais chocantes do filme é quando Kinsey entrevista um médico com problemas de ejaculação precoce, que catalogava suas relações sexuais. O sujeito chegou a relatar o orgasmo de crianças fazendo sexo, já que entre seus “experimentos”, os menores faziam parte. Na vida real, comenta-se que o próprio Kinsey participou dessas experiências bizarras. Dizem até que nem as crianças recém-nascidas eram poupadas. Através desses atos, ele desenvolveu uma idéia monstruosa de que os menores poderiam ter vida sexual desde sua nascença. Ademais, as estatísticas de sua pesquisa são abertamente falsificadas e tendenciosas: a grande maioria dos pesquisados não reflete a realidade norte-americana. Uma boa parte dos voluntários entrevistados eram criminosos, prostitutas, homossexuais e exibicionistas notórios. Daí os “cálculos” na ordem de 10% da população americana ter experimentado relações homossexuais, nas palavras de Kinsey. Estudos mais sérios revelam que essa porcentagem é muita mais reduzida. Todavia, as falácias do pesquisador permanecem até hoje, como coisa séria!

A educação sexual, endossada como ciência, se tornou uma arma para destruir a moral conservadora e legitimar toda sorte de perversidades sexuais. Na verdade, é uma forma de moldar comportamentos e hábitos sexuais, dentro de um disfarce. Se a liberdade sexual era aprisionada pelas obrigações matrimoniais, agora o processo se inverteu: ser virgem é um ato de vergonha. Monogamia e casamento se tornaram um fardo para os amantes. Adultério é modismo justificado cientificamente. Os sanitaristas, esses primores da saúde, que desejam dedetizar a humanidade como ratos, neurotizam até os casados com a obrigatoriedade de usarem camisinhas. Numa sociedade onde todo mundo faz o que quer, cada marido deve desconfiar de sua esposa e vice-versa! Os doutores nos presumem adúlteros por antecipação. Usa-se a camisinha com o cônjuge, porque o esposo ou a esposa dispensou a camisinha com relação ao resto!

E se a homossexualidade é idolatrada como casal familiar, ainda se assistirá à sexualidade das crianças e o direito inalienável dos pedófilos. Em alguns países campeões da libertinagem sexual, como a Holanda, existe até um partido pedófilo. As orgias inomináveis de Woodstock, regadas a muita droga e rock’n roll, são as conseqüências da lógica “cientifica” do Sr. Kinsey. Se Locke já dizia que somos livres, na medida em que somos racionais, os libertários nos dizem que somos livres, na medida em que somos animais irracionais!


Ainda me lembro de uma feminista histérica, que gritava no meu ouvido, afirmando que a maioria dos estupros e espancamentos contra mulheres era feito dentro de casa. Nada mais notório do que a ideologia a la Kinsey! Ela denunciava a maldade do macho, na figura do pai, namorado ou marido, como demônios encarnados. Seria como dizer que qualquer mulher é mais segura com um estranho, em plena meia-noite, na rua, do que ao lado dos parentes. E que os presídios seriam cheio de tarados sexuais que se passavam por bons moços de família. Só faltou ela dizer que todo pai ou namorado devia ser preso e que a família deveria ser extinta, porque era criminosa e malvada com as mulheres. A sociedade, na figura criminosa da moral e da família, camufla seus incestos, seus abusos de poder. Como Kinsey, claro!

Um brilhante texto de Nelson Rodrigues descreve essa mania sexual, na pessoa da feminista norte-americana Betty Friedan. A figura enragé dizia que todos os papéis femininos eram sexuais. A noiva, a esposa, a mãe, eram apenas padrões sexuais impostos pela sociedade machista e que a feminilidade não existia. O velho cronista, irônico, afirmava que a mulherzinha era uma translúcida idiota, que merecia ser amarrada num pé de mesa. Para Nelson, Bety Friedan não via diferença entre uma mãe amorosa e uma rata prenha!


Que dirá então de uma mulher de família nivelar-se à prostituta? Tive uma oportunidade de ouvir uma jovem honesta defendendo as rameiras, presumindo que não se poderia julgá-las moralmente. Nas palavras dela, o comportamento sexual da prostituta não seria reprovável, pois considerava um comportamento como outro qualquer. Prostituir-se não teria implicações morais: seria um capricho aceitável ou uma profissão tão honesta quanto ser professorzinha de jardim de infância. Ao menos, a mulher da vida ou garota de programa poderia ser moralmente boazinha! Se a jovem fizesse o esforço de ir a um prostíbulo, com certeza mudaria de idéia! Todavia, como toda prática sexual é apenas um fatalidade da natureza, não é de se espantar que se exigirá o respeito às prostitutas, o que só é merecido às mulheres honestas e de bem. Bruna Surfistinha e toda sorte de garotas de programas são celebridades. Aparecem na TV como modelos a serem seguidos. O exibicionismo explícito e vulgar de suas vidas insignificantes são expostas ao voyeurismo mais grosseiro! “Não te apartes da mulher sisuda”, já dizia a bíblia. Entretanto, se algumas moças de família aceitam a prostituta como alguém moralmente aceitável, qualquer dia soará como elogio ser chamada de puta! Ou mesmo de filha da puta!

Estou longe de ser puritano. Tampouco tenho razões pra ditar regras morais à sexualidade alheia. Cada um que cuide de sua vida com responsabilidade. Contudo, psicanalistas, sexólogos, médicos, biólogos e cientistas do sexo querem nos ensinar uma antimoralidade, colocando-nos no status de animais. E com status cientifico! Eles presumem que sejamos as vespas e os pupilos de Kinsey, um tarado, pedófilo e exibicionista elevado à cientista sexual, pela publicidade da Fundação Rockefeller! A mesma Fundação Rockefeller que financia os desajustados vermelhos do FSM e toda sua camarilha intelectual comunista! Nelson Rodrigues tinha razão: Educação sexual (vindo desse povo) é somente para vira-latas!