segunda-feira, agosto 28, 2006

O IGUALITARISMO NA HISTÓRIA.



Este texto foi escrito no dia 22 de outubro de 2004. Como nunca o publiquei, resolvi fazê-lo, já que é um bom texto e suas indagações não ficaram superadas. Dividi-o em duas partes, para que não se tornasse cansativo ao leitor.
Quando eu folheio as páginas de Tocqueville, mais precisamente “A Democracia na América”, eis que vejo um verdadeiro profeta dos nossos tempos. Talvez não seja eu o primeiro a falar isso. Chegam a ser impressionantes as análises aguçadas do aristocrata francês convertido a democracia liberal, no que diz respeito aos fenômenos modernos da mentalidade igualitária e democrática. De fato, o objeto de análise de Tocqueville é o pensamento democrático, sua abrangência e influência nos costumes e instituições. E ele coloca em contraposição, as antigas eras aristocráticas, a época do Antigo Regime.

Um dos aspectos mais marcantes que são visíveis no igualitarismo moderno é a sua capacidade de nivelação cultural das pessoas, além da negação de valores superiores e contemplativos. Explico, hoje em dia, as pessoas parecem mais propícias a padronização e as coisas imediatas, do que a busca mesma de valores superiores. Afirmo valores superiores, aquilo que foge ao padrão comum da massa e torna especial a cultura, ou seja, qualquer criação que se eterniza por sua grandeza e seus significados espirituais, que se reavivam eternos e atemporais. É a filosofia, as artes, o pensamento político, enfim, a cultura elevada que faz o homem mais sofisticado, menos medíocre existencialmente e vira tradição através dos tempos.

Todavia, uma questão marcante em nossa época é a falta da contemplação. O homem democrático e igualitário médio, em especial, não é, por regra, contemplativo. Como bem diria Tocqueville, os tempos democráticos são propícios às idéias gerais e simplistas da realidade, principalmente entre os intelectuais. Tais concepções parecem amenizar a falta de reflexão do homem moderno, compensando sua fraqueza de pensamento. Além de serem genéricas, as opiniões comuns dos debates vigentes são transitórias e efêmeras, além de superficiais. O homem moderno talvez não tenha tempo para pensar. A contemplação dá lugar à ação. O prático e o momentâneo valem mais do que o reflexivo e lento. O curioso é que as idéias disseminadas em nosso meio querem sempre ser gerais, porém, partindo de perspectivas subjetivas, e por vezes absurdas, já que são opiniões que não querem ser provadas e sim pregadas como um tipo de ação retórica. Mas agradam as conveniências do momento, pois o importante não é comprovar um argumento por si mesmo e sim seduzir o maior número de adeptos. O contemplativo, o amante da verdade, é um ser em extinção.

Dificilmente teremos em nossos tempos democráticos, um monge medieval, um aristocrata ou mesmo um asceta. Algo nesse sentido parece relegado ao passado. Todavia, se o intelectual do passado era um homem de contemplação, o intelectual moderno é um homem de ação. Ele é rude, direto, extremamente retórico, porém, pouco reflexivo. Ele não busca a verdade, mas milita numa causa. Ao invés de contemplação, ele projeta a realidade em que vive. E como é incapaz de entender os valores do passado, já que concebe sempre o mundo como imediato e presente, ele ignora completamente o legado do passado.

Isto é visível como a história é projetada em nossa época igualitária. O presente é absolutizado e serve de parâmetros para julgar em absoluto o passado. Isso porque o culto do futuro é sempre uma eterna negação do passado e do presente. Como o princípio igualitário sempre se projeta superior culturalmente a todo resto e o dogma do futuro, logo, o pano de fundo democrático se julga no direito de subtrair toda uma cultura intelectual e histórica que nunca foi pautada no igualitarismo, e sim na crença de valores aristocráticos e supremos. O conceito de padronização é notório. A massificação é perigosa.

A palavra de ordem é igualitarismo. Não é o igualitarismo de direitos ou de respeito a escolhas e aptidões, no sentido liberal do termo, tal como fora desenvolvido no século XVII. É o igualitarismo de padrões. O estranho do raciocínio igualitário moderno é sua obsessão sistêmica. O igualitário nas democracias modernas chegou a ponto de crer que o indivíduo é apenas engrenagem de um sistema. A sociedade é apenas um composto orgânico e o sujeito uma peça da máquina. Cada sujeito não tem força própria, é a expressão arrebanhada de uma coletividade, de uma padronização. E como a grande maioria dos padrões se pauta pela mediocridade, logo, o igualitário não consegue tolerar algo que fuja desse padrão. E por isso rejeita a cultura superior e usa como lugar comum, aquilo que está acostumado, sem o menor esforço.

Essa psique é uma constante em nossa época. As universidades e centros culturais estão cheios dessa ideologia perniciosa. As trupes intelectuais socialistas e politicamente corretas julgam obras de arte, literaturas, músicas, filmes, pelas contribuições presentes e futuras ao princípio-mor do igualitarismo fundamentalista, que prima para agradar as susceptibilidades neuróticas de negros, gays e feministas raivosas. Isto porque eles mesmos nivelam todas as culturas, como se fossem iguais. Tanto faz se uma partitura de Bach é superior em talento e espiritualidade em relação às cantilenas do Show Business. Ou Shakespeare ser melhor que qualquer porcaria politicamente engajada disfarçada de literatura. E tampouco se o judaísmo e cristianismo sejam religiões superiores a qualquer culto satânico ou de duendes. Nas academias, os “Coletivos culturais” suplantam a capacidade criativa de indivíduos. Nada passa pelos crivos de seus preconceitos mais odiosos e sua baixeza moral e intelectual.

E na questão histórica, o processo, infelizmente, não é diferente. A obsessão sistêmica igualitária, que reduz o brilho do indivíduo no vazio das multidões é o lugar comum de uma boa parte de filósofos dos últimos dois séculos. E não é por acaso que eles justificaram os piores sistemas totalitários, em nome do igualitarismo. Eis uma nova forma de tirania, a tirania da igualdade ou a ditadura dos medíocres. Quem poderia supor, logo, que a igualdade poderia ser usada como uma forma de opressão? De fato, foi a ditadura de padrões e comportamentos homogêneos, uma das inspirações dos regimes totalitários modernos. Foi pelo dogma do igualitarismo, que se criou um dos sistemas mais injustos da história humana. E foi pela obsessão do igualitarismo, que se renegou algo muito mais importante, que é a liberdade do indivíduo, que por natureza, é desigual.
IGUALITARISMO NA HISTÓRIA (2)

E a história, onde fica? Não é por acaso que hoje, muitas pessoas em nosso país têm uma profunda dificuldade de entender história. Acostumados a padronizações gerais e simplistas de raciocínio, são ineptos ao compreender a riqueza de detalhes que a história nos abre, em leque de visões muito mais complexas e bem menos simplistas. Incapazes de compreender o passado, muitos mal entendem o presente, e dificilmente entenderão algo no futuro. E a historiografia do século XIX, salvo raras exceções, contribuiu para este fim, em esvaziar de sentido, complexidade, grandeza e particularidade, a história humana. É uma historia de projeções, que não descreve os fatos, e sim os reinventa ao gosto das conveniências presentes ou futuras.
Em particular, neste sentido, um dos pensadores mais perniciosos para estudar história, sem dúvida, se chama Karl Marx. Que uma boa parte da intelectualidade tenha admiração por um sujeito desses, é um enigma que devia ser mais apurado. Contudo, devemos lembrar que o intelectual médio do igualitarismo não pensa, usa a retórica. E nisso, Marx é um mestre. Ele oferece uma boa dose de argumentos simplistas e gerais para explicar a história, como a totalidade da realidade humana. E como um típico igualitário fanático e radical, ele presume sua época histórica superior a todas as outras, e que todas necessariamente serão substituídas por uma época vindoura e hipotética.

O igualitarismo marxista, como uma boa parte dos igualitarismos radicais antigos e modernos, não é libertário. O homem não é dotado de igualdade, no sentido de dignidade e direito à liberdade, mas num conceito mecanicista e sistêmico da realidade. O homem é mero reflexo das condições econômicas e do meio histórico e social, e através de um processo histórico, o destino humano está predeterminado. Se Tocqueville previu, já na sua época, entre os historiadores e pensadores, sem contar uma parte da população, as idéias genéricas e sistêmicas da realidade, Marx é a personificação mais concreta desta profecia. O interessante nesse tipo de visão história é o processo fatalista de investigação histórica. Se o destino humano está predeterminado por condições objetivas “materiais” da sociedade, ou qualquer outra justificativa difícil de se provar, o homem não é livre para escolher e tampouco é um sujeito histórico. Tocqueville afirmava que se tal pensamento fatalista fosse introduzido de tal forma na alma dos povos democráticos, os povos seriam reduzidos da natureza de cristãos a dóceis turcos.
Será coincidência que onde o materialismo histórico proliferou, ele transformou pessoas em escravas turcas? Tocqueville dizia que era um ato heróico preservar a religião no seio das sociedades democráticas. Mas por quê? Porque a religião, ironicamente, seria a única coisa que restaria de superior que pudesse se contrapor à doença do igualitarismo radical.
O Cristianismo é a cultura antiga e o imperativo da moral de um Cristo contra multidões arrebanhadas que o condenavam, como o judaísmo é o Shemá Israel de D*us para seu povo eleito, a Lei, a mitzvá que cada judeu guarda pra si, no intimo de sua consciência. E isto poderia se opor ao fatalismo das ideologias materialistas.

Uma questão interessante a ser discutida é o tipo de debate sobre história em nosso país. Os jovens na escola, como os acadêmicos, na mania absolutista de julgar tudo pelo igualitarismo ou pelo marxismo, que é sua expressão máxima, impõem arbitrariamente critérios de valor, em termos ideológicos, políticos ou mesmo preconceitos históricos, sem se dar ao trabalho de analisar os sujeitos históricos, os indivíduos e suas instituições. Eles dificilmente entendem os valores culturais de uma época, pelo prisma dos próprios sujeitos que a viveram e não fazem a menor questão de entender o porquê daquilo.

Um exemplo clássico dessa experiência foi um debate que eu tive com uma feminista e um socialista radical. A feminista condenava o homem malvado e a sociedade patriarcal através da história, por causa de uma suposta “opressão” machista. A mulherzinha chegou até a condenar os rituais do casamento, pois a cerimônia da entrega da guarda da filha ao marido, era outras das sandices do machismo malvado. E o socialista condenava todos os sistemas aristocráticos, por causa de seu credo igualitário radical. Nisto, os dois não pouparam criticas a Igreja Católica, aos nobres e até a natureza humana, que devia ser “transformada” historicamente.

Quando ouvimos relatos como esse, parece que a jovem pensa que existia Delegacia da Mulher na Idade Antiga e Média. Se hoje as mulheres são frágeis, imaginemos na Idade Antiga e Média, em que a força da espada contava mais do que qualquer outro tipo de lei. E quando uma jovem como essa é ameaçada por um mau elemento e implora o socorro do namorado ou marido, ela mal percebe que reproduz historicamente, tudo aquilo que milenarmente condena. O patriarcado para a mulher, em outros tempos, antes foi um ato de generosidade do que de opressão. Porém, para uma jovem fechada no viés do igualitarismo, ela não consegue conceber um mundo senão aquele idealizado no seu autismo ideológico.
O socialista radical comete a mesma falha de raciocínio. As lideranças, como hoje, em épocas imemoriais, sempre foram personalizadas na figura de um homem, até porque a liderança é um dado inato na sociedade humana. Qualquer forma de organização social, política ou mesmo familiar, só podem subsistir se houver hierarquia e capacidade de comando. Quem ignora uma questão tão óbvia e peculiar, desconhece completamente a gênese da sociedade humana. Hierarquia e liderança na sociedade, muito antes de ser um atributo da maldade humana, é uma questão de sobrevivência. E em épocas remotas, liderar gerava privilégios, como hoje, e gerava encargos pesados. Um nobre poderia ter muitos servos, mas o fato de se arriscar numa batalha com bravura por causa de uma mísera aldeia fazia-o amado pela comunidade. Ninguém entenderá a lealdade familiar que um camponês tinha pelo nobre, se não entendermos o que movia esses valores e sentimentos. Isso está muito além de ideologias, como muitos adoram reverberar. Eram verdadeiras alianças políticas e sentimentais, muito próximas entre si. Soaria incompreensível para um socialista militante entender por que em plena revolução francesa, (o prenúncio de tantas tragédias do igualitarismo), uma legião furiosa de camponeses se rebelou pelos seus nobres na região de Vendéia.

Interessante nessa visão é a condenação total do passado, em nome de um futuro hipotético. Vemos isso nas comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil, em que os mesmos grupos igualitários radicais e marxistas simplesmente condenaram a existência do Brasil. A ignorância histórica chega a tal comicidade, que precisam odiar até o que são, já que nunca entenderam história. A interpretação tendenciosa que se alimentaram, sempre no culto fanático de um igualitarismo hipotético, cegou-os da realidade mais elementar. O marxismo chega a ser um ópio para certos indivíduos. Ou quem sabe alguma seita messiânica.


Para entender tudo isso, é preciso, acima de tudo, salvar o sujeito histórico. E isto está fora da compreensão de muita gente, já que uma boa parte delas está envenenada por esse tipo de interpretação errônea e absurda, que rouba esvazia de sentido a história mesma, por projeções sistêmicas irreais. Se qualquer cidadão é incapaz de entender os dramas e os dilemas de uma época, o porquê de tais pessoas pensarem daquele jeito, o que motivava aquelas pessoas, as crenças, os mitos, as práticas cotidianas, as instituições, a maneira de ver as coisas do mundo, este cidadão jamais entenderá história. E a história é, infelizmente, um conhecimento de poucos, ainda que muitos digam que lêem.

Isto não nega o fato de que a história deva ter comparações e juízos de valor. Porém, é humanamente absurdo relativizar todo o passado e absolutizar totalmente o presente. O presente está dentro de um processo histórico e se ele pode ser comparar, ele também pode ser comparado em suas falhas. E fazendo uma comparação entre a análise da história, perdemos muito no momento presente, ao negar o sujeito, os valores, as suas criações, a ação fantástica de indivíduos, reduzindo a explicações simplistas e desagradáveis do tipo do materialismo histórico, que em muitos aspectos, não passa de uma falsificação grosseira da história. Comparar o passado e o presente e tirar os prós e contras de uma idéia são alguns dos grandes e eternos desafios dos historiadores.

E devemos abandonar de vez essa ideologia pseudo-científica do igualitarismo, no caso, o marxismo e outras ideologias sistêmicas similares. A história não tem destino e finalidade alguma e é totalmente assistêmica. Não sabemos de onde viemos, nem para onde vamos e isso é um dos grandes mistérios da Criação, na melhor das crenças judaico-cristãs. E o fato de a história não haver futuro determinado, prova que muitas questões históricas pendentes estão em nossas mãos. O fato de o futuro não está previsto, é a nossa prova cabal de liberdade de ação. Foram os atos humanos que criaram o passado e vão criar uma boa parte que está para o futuro. O homem é senhor dos seus atos. E como dizia Cícero, a história é a mestra da vida.
Leonard0 Bruno

segunda-feira, agosto 21, 2006

As mentiras que os políticos “pinóquios” contam. . .

A grande maioria do povo reclama das mentiras dos políticos. Em parte, não sem razão, mas reitere-se, só em parte. Quando a propaganda política é disseminada nas eleições, os narizes dos políticos crescem, prometendo mundos e fundos, enquanto a cara de pau abjeta de Pinóquio é vista a olho nu. Os demagogos se locupletam. E os falsários roubam a cena do teatro político. Todavia, o vício da mentira não é culpa somente dos políticos. Há algo bastante falho na democracia, que é o eterno mimo das classes governantes ao povo, como se o povo fosse algo digno de nota a ser parasitado com promessas levianas. Os cidadãos democráticos adoram ser tratados como criancinhas. De fato, se atentarmos às mesquinharias comuns da democracia, é o gosto que o povo em geral tem pelas mentiras dos políticos. Os políticos em geral mentem, porque o povo adora ouvir mentiras. E tal fenômeno, antes de ser um valor autêntico na democracia, é a prostituição dela.

As mentiras dos políticos refletem não somente o baixo caráter de alguns, como a cumplicidade infantil da população em outros. Falar a verdade ao povo raramente ganha votos e eleições. Porque falar a verdade é, às vezes, ofender o povo. Mas isso não é de hoje. Todavia, estamos longe das épocas em que os profetas das Sagradas Escrituras humilhavam o povo com suas verdades e se faziam respeitados. Nem sempre. Às vezes eram também odiados. Mas tinham caráter e pulso para tanto, para enfrentar as multidões e fazê-las calar a boca, quando necessário. Porém, como a entidade “povo” é o bezerro de ouro das épocas democráticas, qualquer sinal de estupidez popular é elevado a culto divino! Nada mais hipócrita do que os romanos: Vox populi, vox Dei!

Há situações em que a mentira é um mal necessário, não só do governante, como da vida social, para evitar infortúnios maiores. Há verdades que nem sempre devem ser contadas, até porque nem todas as pessoas estão preparadas para ouvi-las. Há horas para se dizer a verdade, no momento certo. E há horas em que a verdade tem que ser falada nua e crua, para desagradar a todos. Porém, no geral, deve haver em cada consciência, uma noção mínima da verdade, um devido respeito e reverência a ela, dentro da moralidade pública, e um máximo de limite para a mentira, sem o qual, qualquer sociedade se deprava e enlouquece. A verdade, ainda que nem sempre contada, deve ser preceito absoluto na consciência de qualquer povo. Um povo democrático é maduro, quando reconhece como elementar no senso comum, a idéia mínima e absoluta da verdade em sua realidade e comportamento social e moral (ainda que as falácias retóricas na democracia sejam a sua aparência). . .


No caso brasileiro, a coisa chegou a patologia clínica: nunca se viu um povo tão bovino, tão servil a crer em tantas mentiras de tão soberbo charlatão que tomou o poder em nossa insana república! Proclamaram um bobo da corte presidente da república, e no fim, viramos bobos da corte!

Nunca se sentiu a necessidade de se falar a verdade nua e crua neste país, e no entanto, raramente se demandou tanta mentira para o povo ouvir. O brasileiro médio se infantilizou, de tal maneira às falácias dos políticos, que se tornou cínico, venal, vendido. A mentira se tornou convenção. E como mentir se disseminou entre o povo, o dogma do povo como “Vox Dei” acabou por tornar a mentira num pressuposto absoluto.

O problema grave desse dilema é que a moral se politizou e se amesquinhou. Ninguém se escandaliza com um governo corrupto e desmoralizado. Tampouco com um governo inimigo do Estado Democrático de Direito. Basta que o povo engula números, estatísticas maquiadas e uma completa invenção de uma realidade paralela, e pronto, todo mundo está satisfeito. O hiato completo entre a realidade e a mentira neste país chegou ao cúmulo da esquizofrenia: muita gente acredita estar bem, mesmo tudo indo tão mal. É a mesquinhez tola de um povo que finge que não vê, e consola-se com a visão mais ainda mesquinha de uma ilusória prosperidade. Um povo que aceita a mentira como pública, mente pra si mesmo. E um povo que se corrompe pelas mentiras, inverte todo o sentido da compreensão da realidade, caminhando, tal como cegos, para o abismo.

Não adianta contar ao pobre que se vende a uma migalha de rendas do governo, que o seu pão, é, futuramente, o roubo do seu ganha-pão; que a classe média sufocada por impostos é o fim da prosperidade; que a dependência parasitaria e pública que o governo quer impor aos cidadãos, é uma forma concreta de tornar o povo subjugado com seu próprio dinheiro; e que o agigantamento estatal idealizado pelos políticos e exigido pelo povo, é uma forma perversa de dominação. O grau de mentiras que os políticos contam reflete o grau de mentiras que o povo quer ouvir, ou foi induzido para tal. . .ou pior, a extensão e onipotência do poder do governante é a extensão das mentiras que o povo acredita! Nada mais verdadeiro, dentre as mentiras canhestras de nosso Presidente atual, do que a sua propaganda política: o povo realmente é somatizado por legiões de Lulas, milhões de moluscos, invertebrados, sem cérebro e espinha dorsal. A bajulação das massas ignorantes depravou a democracia! E as mentiras que os políticos contam perverteram a consciência moral de toda uma sociedade, para o rebaixamento moral, numa completa alienação do povo!

Leonardo Bruno

21 de agosto de 2006

sexta-feira, agosto 18, 2006

Sem novidades no Front Oriental . . .

O cessar-fogo no Líbano demonstrou uma estratégia completamente favorável aos inimigos que os judeus combateram: a “guerra assimétrica”, a desigualdade dos métodos de ação dos terroristas, contra o exército israelense. A reação de Israel contra o Líbano foi legítima: os terroristas do Hezbollah passaram anos se armando, com a ajuda da Síria e do Irã, e com a complacência do governo libanês, atacavam constantemente os civis israelenses, lançando foguetes e mísseis. E o estopim da reação judaica foi o seqüestro e morte de soldados de Israel na fronteira.

De fato, a reação israelense, nascida de legitimidade de auto-defesa, acabou por se tornar um fiasco. A grande baixa de civis libaneses, em parte causada pelas táticas do Hezbollah, que as usou como escudo humano, e em parte, por erros militares de Israel, acabou por inviabilizar os ataques do exército judeu. É por isso que aparentou a uma boa parte da mídia ocidental, que os ataques de Israel ao Líbano foram “desproporcionais”. Claro, raramente houve enfrentamentos diretos entre Hezbollah e as Forças de Defesa de Israel! Os terroristas preferiram atacar em meio de bairros residenciais, entre mulheres e crianças! Ainda que os efeitos aparentes sejam a destruição de uma parte logística do Hezbollah, houve uma vitória moral do terrorismo islâmico, já que Israel saiu da guerra como a vilã da história. E no final da história, Síria e Irã, que promoveram por baixo dos panos os ataques contra o Estado judeu, saíram fortalecidas do episódio.

Mas essa tática também está sendo usada no Iraque. Qualquer pessoa bem informada a respeito do conflito sabe, que o grosso de civis mortos no Iraque é causado pelo terrorismo islâmico. A estratégia é expandir o terror permanente contra os civis no país, até levarem um caos total, com o intuito dos terroristas de tomarem o poder. A perversidade desses métodos é inverter totalmente a responsabilidade e o conceito moral da guerra. Atualmente, Israel é condenada, precisamente por se exigirem mais escrúpulos aos judeus, do que os libaneses islâmicos terroristas que expõem sua população civil ao conflito. Os judeus estão amarrados na sua liberdade de se defenderem, enquanto o outro lado se acha legitimo pra qualquer ação terrorista e bélica. O mesmo princípio se aplica aos Eua. Enquanto os abusos de soldados americanos de Abu Graib viram histeria da imprensa ocidental, terroristas iraquianos cortam cabeças e publicam vídeos na internet, sem escândalo e alarde algum. Explode-se bombas nas ruas de Bagdá e os culpados são os americanos, não os xiitas que levam seu fanatismo até as últimas conseqüências.

Na verdade, a guerra assimétrica lembra as trincheiras da primeira guerra mundial, quando exércitos ficavam no atoleiro dos buracos e do alvo das metralhadoras. Só que as trincheiras são humanas: os cadáveres libaneses se tornaram os empecilhos do exército judeu. As explosões nas ruas de Bagdá e os ataques misturados a civis, são os métodos para debilitar o moral das tropas americanas. Os terroristas libaneses tiraram um grande proveito publicitário, pois, expuseram seu país a uma guerra insana, e por outro lado, tiraram dividendos de propaganda contra Israel. E o terrorismo no Iraque dá uma idéia de caos total, ainda que o exército americano tenha reconstruído o país a duras penas, e com o apoio de uma boa parte da população iraquiana.


Todavia, nada seria tão desabonador, se não houvesse uma cumplicidade da parte de muitos simpatizantes de terroristas no ocidente. Soma-se a condenação total das ações dos judeus e americanos, a barreira moral e ideológica que lhes é exigida, a trincheira invisível que lhes suga as forças. A mídia ocidental, no geral, está dando razão aos terroristas e a lógica doentia deles. E a chantagem emocional de apelos éticos sobre o mundo ocidental está sendo uma grande arma contra a força de combate ao terror. Enquanto o mundo inteiro cobra a paz no Líbano, os inimigos da paz estão se armando como nunca e amarrando os meios de defesa daqueles que podem, de fato, manter a paz. Nenhum pacifista lembra que o Irã poderá ter bombas atômicas e ameaçar a paz mundial. Todos os pacifistas já esqueceram do terrorismo disseminado na Europa e do trágico 11 de setembro de 2001. E a ameaça existe, já que foram desbaratas várias ações no sentido de repetir o evento trágico de Nova York. A guerra assimétrica é isso: o ocidente invadido, hostilizado, aterrorizado, é criminalizado, enquanto os terroristas que matam inocentes estão cheios de moral, precisamente porque não crêem em moral alguma. E a mídia ocidental contribui para essa lógica assimétrica, absurda e estapafúrdia. O cessar-fogo contra o Líbano é aquilo que um escritor veterano alemão dizia da primeira guerra mundial, quando os alemães morriam aos milhões nas trincheiras da frente francesa: sem novidades no front oeste! É o atoleiro judaico no front oriental!


Leonardo Bruno

Belém Pará

18 de agosto de 2006

O status jurídico dos corruptos!



Há algo que detesto acompanhar, que é a política do Pará. Não que o Pará não tenha certa importância na política do meu cotidiano. Porém, tal como outras capitais brasileiras, salvo raríssimas exceções, são as mesmas caras políticas, os mesmos corruptos de sempre! O PMDB de Jader Barbalho é a corrupção tradicional: se alguém é mais sinônimo de corrupção no Pará, reconhecido no país inteiro, o nome de Jader Barbalho fala por si só. Não que Jader não seja um brilhante político: é um homem de uma inteligência fora do comum. É interessante observar que muitos do sul e sudeste crêem piamente que Jader é um coronel do Pará. Nada mais errado que isso. Jader é um político de bastidores, de articulações nas câmaras escuras do poder, nunca foi um “painho”, como seu rival ACM, da Bahia. Jader é sofisticado demais pra ser um coronel nordestino. Ele é um político tipicamente urbano, com um discurso populista característico do PMDB. Para os interioranos que prestam uma certa devoção a ele, está mais para o “dotôr” do que um “coroner”. Todavia, como já dizia a frase latina, “corruptio optimi pessima”, a corrupção dos ótimos é péssima. Jader Barbalho poderia ser um glorioso estadista, se tivesse algo chamado “caráter”. Como é mau caráter, só lhe resta a pose de um extraordinário ladrão de casaca. Banpará e Sudam que o digam, galinhas dos ovos de ouro de seu patrimônio pessoal. . .

Mas ele não é o único. Simão Jatene, o governador do Pará, tem uma fama nada bela de corrupção. Ele é acusado de perdoar as dívidas tributárias da cervejaria paraense Cerpa, financiadora de sua campanha. Aliás, Almir Gabriel, seu aliado, tem uma péssima fama de promover corruptos: se não é o governador Jatene, é o senador Luis Otávio Campos, um bandido de mão cheia, que de tão barato, roubou treze milhões de dólares do Banco do Brasil, para financiar uma empresa de navegação falida. Que dirá do prefeito de Belém, Duciomar Costa, famoso charlatão e falso médico, acusado dos trambiques mais vulgares que se há noticia! Isso porque o eleitor paraense, cansado dos desmandos da incompetência e autoritarismo corrupto petista de Edmilson Rodrigues, resolveu agüentar o risco de votar no charlatão pra mudar a esfera administrativa! Há também o ex-senador Ademir Andrade, famoso andrajo de moralista, cujo vexame foi ter sido preso por causa das falcatruas das Companhias das Docas do Pará. Quem já viu a criatura falando, acredita piamente que é o paladino da moralidade santarrona mais soberba. Nós, os pobres eleitores do Pará, votamos numa balança de relação custo e benefício: a relação do menos corrupto que mais faz, o velho dilema “rouba, mas faz”! Se na elite política paraense é assim, o caos de vigarice política no interior do Pará é algo assustador e legitimado! A Assembléia Legislativa, nem se fala! E a Câmara Municipal de Belém é o cabide de emprego e rapinagem do dinheiro público por excelência!

Quando se vê tamanhas falcatruas, tamanhas patifarias administrativas e vultosas fortunas com o dinheiro público, chega-se a seguinte conclusão, entre patética, trágica e cômica: o cidadão honesto é um cidadão de segunda classe, enquanto esses homens que estão no poder possuem um status jurídico diferenciado de todo o resto da nação. Todos sabemos que corrompem, em maior ou menor grau. Que se houvesse leis sérias, judiciários independentes e Ministérios Públicos combativos, todos eles estariam na cadeia. Contudo, a impunidade dá um caráter privilegiado, diferenciado dos demais. Em outras palavras, o político corrupto brasileiro é um sujeito que se diferencia do brasileiro médio, precisamente porque está acima das leis, pois é uma casta instituída. As escolhas do eleitor refletem um alto grau de impotência a respeito de suas oportunidades de escolher. É a mesmice de sempre, os velhos potentados, tal qual uma velha aristocracia feudal, que confundem seu patrimônio privado com o patrimônio público do povo. Esta casta de corruptos se perpetua no poder, precisamente porque os mecanismos de proteção do povo contra os governantes absolutistas são escassos, senão inexistentes. Os cidadãos brasileiros estão simplesmente desarmados contra essa máfia de criminosos. . . porque a lei é para os inimigos, e aos amigos tudo!

A política brasileira se retrata num aspecto curioso: raramente uma pessoa honesta derruba um corrupto. Collor de Mello foi derrubado por um Congresso Nacional picareta dos anões, tal como Jader Barbalho foi preso, supostamente, por pressão de seu inimigo, o senador ACM da Bahia. Na verdade, a campanha de moralização neste país, nada mais é do que uma briga de dossiês de corruptos lutando entre si, cada um pedindo a cabeça do outro, como urubus na carniça. Será coincidência que o partido mais incrivelmente corrupto do Brasil foi o mesmo que se promoveu na “Campanha da ética na Política”? Contudo, como diria o ex-presidente bebum Jânio Quadros, são as “forças terríveis” que movem este país.

O povo, metade vitima, também se torna metade cúmplice. Há uma espécie de satisfação com a corrupção, ainda que alguém a condene publicamente. Uma parte do eleitorado médio, apático, tolerante, compassivo com a corrupção alheia, talvez sonhasse em ser o corrupto, se também possuísse o poder de governar. Ora, uma boa parte desses políticos se elegem oferecendo mundos e fundos aos seus currais eleitorais! São cabides de empregos, facilidades governamentais, cestas básicas, privilégios, tudo para distinguir o cidadão comum dos demais! Não que estas mazelas não existam em países mais sérios. Porém, enquanto lá é exceção, aqui é regra. Há uma certa condescendência do eleitor médio com a corrupção, ora por apatia, ora por interesse. E ninguém consegue pensar que o preço a ser pago pela falta de moralidade pública é a desmoralização das instituições democráticas e a falência do Estado Brasileiro. Pior, os serviços públicos não funcionam, os cidadãos ficam mais pobres e miseráveis e nem se cogita que, o eleitor médio vendido ao político que o seduz, está, na verdade, se vendendo com o próprio dinheiro que paga! E não pensemos que alguns eleitores se vendem por pratos de comida! Muitos se vendem por preços maiores!

Não é por acaso que a corrupção, historicamente consagrada, está se tornando instituição de status no Estado Brasileiro. Só que ficou descarado, público e notório. O petismo que governa o poder hoje é fruto do mesmíssimo pensamento de alguns eleitores e políticos que encontramos no Pará. A diferença é que um grupo político inventou um pretexto fantástico para justificar a própria imoralidade: se todo mundo é presumivelmente corrupto na política, logo, os petistas também têm o direito de sê-lo. Nada mais autêntico que a corrupção petista! E o resto é discurso “udenista”. . .

Os cidadãos honestos dessa república são servos de uma casta estatal. Estão abaixo da lei, tratados como reles bezerros no pasto, enquanto os iníquos, os canalhas, os desonestos e as aves de rapina da pior espécie estão no poder. Enquanto o cidadão comum pode ser preso pelos crimes mais insignificantes, os corruptores-mores da república têm foro privilegiado e um arcabouço legal de impunidade que os tornam intocáveis. Os cidadãos comuns pagam tributos exorbitantes aos déspotas, tal qual pagariam tributos a César. Mal se percebe que neste país, há um abismo intransponível entre a classe política estatal e os cidadãos comuns. Do Presidente da República ao prefeito do município, todos possuem privilégios de casta e quase todos são corruptos! Atestado de honestidade é anátema, coisa das castas marginais da sociedade. E num país onde o marasmo e a torpeza são relevadas com anormal tolerância, só nos resta a criminalidade institucional tomar tudo, como aliás, já tomou: o governo federal fala por si mesmo! Se o Pará é um caso perdido, que dirá do Brasil. . .
Leonardo Bruno

Belém, Pará, 18 de agosto de 2006



terça-feira, agosto 15, 2006

Universidade pública: ou laboratório de totalitarismo!


Quem se encontra numa universidade pública, deve se impressionar com a posição dos seus ditos “intelectuais” povoando as cátedras acadêmicas: o enorme desprezo pela idéia da liberdade. Muitos destes homens doutos simplesmente desconfiam desta palavra, encharcados que são por ideologias coletivistas. Tais lugares-comuns de idéias se embasam da negação da liberdade individual e da existência do individuo, em favor de uma ordem abstrata, consciente e racional de controle da sociedade.

Esta ordem racional na boca destes iluminados seria a glorificação inócua do “coletivo” sobre o indivíduo, personificado na glória de um poder estatal despótico e absoluto ou de um partido condutor de massas. A ladainha comum de grande parte dos acadêmicos é a do governo “forte”, messiânico, transformador do homem “corrompido” pelo individualismo. Essa transformação que nega o livre arbítrio do homem, que o torna apenas produto do meio ou servo das opiniões dominantes, é isso que estes intelectuais conspiram.

Porém o mais assustador é o que isto produz na comunidade acadêmica: uma verdadeira esterilidade intelectual, um consenso de pessoas ao instinto de massa ou de rebanho. Aliás, um conjunto de pessoas incapazes de seguirem pelos seus próprios conceitos, enclausurados nas mesmices corporativas e coletivas de preconceitos e idéias preestabelecidas e estereotipadas. De tanto negarem a idéia da liberdade humana, de tanto acreditarem que são produtos das forças materiais, da cultura, da educação, do meio, das conjunturas históricas e de outras rotulações abstratas, acabam sem perceber, por reproduzir tal papel com se fosse autêntico, numa espécie de servidão voluntária.

Se tais pessoas não fogem de padrões estabelecidos, por outro lado, a falta de iniciativa incorpora uma idéia de obediência e servilismo intelectual perniciosa. O coletivismo, que nega ou despreza as opiniões independentes, é propício ao poder despótico, uma vez que os indivíduos, incapazes e imaturos de refletirem por seus próprios meios e fazerem suas escolhas, alguém vai refletir e tomar a iniciativa por eles. Este será o ditador, o partido ou Estado absoluto. Na prática, tais intelectuais difundem uma idéia de fatalidade histórica, atribuindo-se a forças impessoais e abstratas, um destino inquebrantável dos atos humanos.

Tocqueville, em suas sábias conclusões sobre as “eras democráticas” e as atribuições coletivistas do determinismo histórico, bem previa com salutar lucidez, tais conseqüências:

“Se essa doutrina de fatalidade, que tem tantos atrativos para aqueles que escrevem a história nos tempos democráticos, passando de escritores a seus leitores, penetrasse assim em toda massa de cidadãos e se apoderasse do espírito público, pode-se prever que logo paralisaria o movimento das sociedades novas e reduziria os cristãos a turcos”.

É assim, de fato, que as cátedras estão se transformando, uma comunidade de turcos dóceis e obedientes, crentes de uma incapacidade de ação condicionada pelas fatalidades de possíveis “leis históricas” ou “científicas”. Ou então, quem sabe, a espera de um sultão.

Mas esta síndrome, misto de imprudência e venalidade entre os intelectuais, de certa forma penetra e mina os ânimos da sociedade, uma vez que esta inteligentsia possui enorme influência na opinião pública (tendo acolhida, inclusive, em certos setores da igreja católica!). Se a saga de um intelectual sério é a busca maior da liberdade de opinião e a capacidade de independência do pensamento, grande parte deles não cumpre este papel. Na pior das hipóteses, utilizam a liberdade de opinião para conspirar contra a própria liberdade, que, de fato, usufruem. Criticam os valores democráticos, individualistas e liberais, para patrocinarem uma nova ordem política muito mais tirânica e autoritária. Ou melhor, uma ordem totalitária, onde os atos, expressões e desejos humanos subjetivos serão sufocados em nome de uma coesão obediente de princípios e idéias impostas por um poder político ilimitado e rigidamente centralizado. O indivíduo e sua capacidade de iniciativa serão vilipendiados, aniquilados, para se tornarem massas submissas, reproduzindo as utopias perversas dos engenheiros sociais.

O pior, contudo, é o fanatismo incutido em tais idéias supostamente “progressistas”. O coletivismo apregoado reduz toda crença a um propósito de interesse corporativo, pouco importando a verdade ou mentira de suas premissas, a não ser, claro, se o grupo corporativo se beneficiar de tal credo. O conhecimento deixa de ser um modo de esclarecer para obscurecer. A crença não tem razão por si mesma, tampouco o sentido ético ou moral, apenas tendo utilidade aos agrados do poder instituído coletivamente, sendo relativizado aos agrados e desvarios luxuriosos das circunstâncias.

Quando muitos intelectuais militantes apregoam que o conhecimento, a ciência, a arte, a filosofia, e várias expressões do intelecto são frutos de “interesses de classe” ou de outras nomenclaturas corporativas, muito antes de definir a realidade, eles definem a sua própria visão de mundo, restrita a um grupo determinado com idéias e valores coesos. Cabe afirmar, como muitos o já afirmaram, que as inclinações corporativas e intelectuais totalitárias são tribais. Elas partem do pressuposto de uma identidade grupal perfeitamente organizada e desconfiada da universalidade e das diferenças do homem, ao mesmo tempo em que se auto-afirma como casta iluminada.

De fato, a consciência tribal é incompatível com a diferença, senão hostil a ela. E o coletivismo, com seu messianismo de ideais únicos e padronizados, confere uma aura mística a tribo, da mesma forma como se atribui o mesmo fenômeno aos grupos totalitários. É só observar certas condutas da inteligentsia, que muito antes de ser uma mera convicção política, possui um sentido quase de devoção e fé cega. Tal casta de eleitos possuem símbolos, idéias, aptidões e padrões que condicionam não somente a vida privada do individuo, mas até sua visão de mundo.

Isso é perfeitamente notório na desonestidade comum entre o universo intelectual de inspiração coletivista e totalitária. Se o ideal é um fim em si mesmo, logo, quaisquer métodos são válidos, ainda que ilimitados, desde que satisfaça a pretensão do ideal. Malgrado o fanatismo ideológico, sua premissa, insatisfeita, parece tornar válidos qualquer tipo de método, seja o mais degradante e violento possível, a fim de se realizar seu exercício de poder.

Quando certos tipos intelectuais condenam a violência ou a guerra em certos grupos que os desagradam, e ao mesmo tempo legitimam os crimes que favorecem a seu ideal, tais fatores apenas revelam o quanto de venais e inescrupulosos são determinados grupos. Na prática, os fatos aparentemente “morais” e a retórica indignada são apenas instrumentos políticos ou estratégias, de acordo com os dividendos e conveniências da busca do poder. Mas o radicalismo ideológico não se contenta em lidar com princípios éticos: a ideologia é o princípio maior, ainda que para consegui-lo, os escrúpulos sejam jogados na lata do lixo. Mentir, falsificar dados, ludibriar, enganar e manipular, são os instrumentos que se utilizam os totalitários de quase todas as ideologias, para adaptarem a realidade às premissas falsas de suas ideologias. Exemplos clássicos são os fascistas, nazistas e bolchevistas.

Um dos propósitos mais horrendos no coletivismo é sua propensão a intolerância e seu desprezo pela dissidência. Numa sociedade em que todos serão obrigados e condicionados a um padrão nivelador de igualdade, a diferença, em si, será hostilizada, como contrária a este ideal. Se o ideal é fim, logo, o individuo é mera engrenagem desta sociedade, podendo ser descartado se não cumprir o papel preestabelecido socialmente. O coletivismo é um ideal com sacrifícios inúteis, pois dissocia o bem estar humano da própria finalidade buscada. Em outras palavras, o individuo é usado como um meio para o ideal, que se torna um fim em si mesmo. O pior de todo propósito de intolerância ideológica é a distância entre a finalidade idealizada dos atos, pelos meios arbitrários de consegui-la. Na verdade, para tais grupos radicais, os fins justificam os meios, sejam eles quais sejam, na busca de um ideal. O curioso é que o fanatismo imposto pela ideologia é uma forma extravagante de alienação de sua finalidade com os objetivos humanos.

Por outro lado, o ódio à diferença é sinônimo de afirmação de uma idéia, um propósito permanente de coesão de grupo. Não basta somente a coesão ideológica. Deve-se escolher um rival em potencial, a fim de manter a unidade grupal. Neste repertorio estão o “judeu”, a “conspiração sionista”, o “burguês”, o “capitalista”, o “revisionista”, o “trotskista”, o “sabotador”, o "inimigo do povo", o “kulak”, o “neoliberal”, enfim, os bodes expiatórios que movem a sanha do totalitarismo. Se tais grupos não se vêem como indivíduos, e sim como meras representações corporativas, também é certo que para estes, os rivais não são nem humanos, mas apenas estereótipos corporativos proscritos.

Quando as ideologias e os radicalismos se fortalecem, a tendência de tais grupos é perderem o senso das proporções de seus atos. De fato, existem grupos, cujo radicalismo não se contenta em apregoar uma idéia, mas combater uma idéia: o fanatismo ideológico não só leva em conta a intolerância nos próprios princípios, mas também dos princípios alheios. Para que a ideologia sobreviva, não basta que ela se prove por si mesma, ela deve derrotar seus inimigos reais e imaginários. Já não vivem somente na razão de seus próprios fundamentos, mas na contestação dos fundamentos alheios.

Os métodos, de tão arbitrários e violentos, acabam por assemelhá-los na loucura, no despotismo e no raciocínio dogmático e maniqueísta de supostos contrários. Não existe meio termo. O grupo radical quase sempre se julga o “bem” e o todo o resto como “mal”. Neste caso, a dialética vulgar é uma sublimação do bem e do mal religioso, dos bonzinhos e malvados, dos escolhidos e condenados. E embora certos grupos queiram matar Deus na Terra, cada um a sua maneira, têm sua religião: o progresso, as “leis” da história, a dialética, o materialismo histórico, a ciência, etc. Ou então, para alguns grupos totalitários conservadores, a figura de um Deus ou de uma ordem tão autoritária e tão fanática quanto eles. Uma característica comum em vários desses grupos radicais, é que embora diferentes nos pressupostos ideológicos, seus métodos de raciocínio se parecem. Os extremos, tal como a curvatura da ferradura, se tocam. Não existe muita diferença nas artimanhas dos fascistas e dos comunistas radicais. A intransigência, a intolerância mórbida é mutua e patológica. Há quem diga que o ser humano tem mais propensão a odiar do que amar. Nada mais verdadeiro, como mostram os grupos intelectuais de inspiração totalitária.

Apesar de todo esse histórico horrendo, as ideologias coletivistas, que visam padronizar o individuo possuem enorme popularidade entre os intelectuais universitários e alguns grupos políticos radicais da inteligentsia. Em particular, o socialismo, ideologia tal qual desacreditada em boa parte do mundo, em alguns setores têm recepção de uma maneira desproporcional. Explica-se isso ao fanatismo, provincianismo e até mau caratismo de membros da comunidade acadêmica, obcecados pela idéia do poder.

Ou então, uma válvula de escape de frustrações e ressentimentos pessoais, na crença fantasmagórica das utopias salvacionistas e na culpa de supostas causa externas a nós. Tais raciocínios simplórios aliviam as tensões de certas pessoas na ilusão de certas idéias, justificando, até certo ponto, as suas agruras e decepções.

O pior, contudo, é que nosso país tem uma grande propensão ao totalitarismo. Tal afirmação, em parte, pode ser exagerada. Porém, quando se vê uma imprensa, uma opinião pública e uma grande soma de intelectuais tão homogêneos em opiniões e idéias, e quando tais grupos alimentam hostilidade à divergência, isto se deve ao fato de arraigar-se entre nós uma longa tradição autoritária, incapaz de se lidar com diferenças. Não se aprecia muito aqui o intelectual livre, polêmico e antipático, e sim o intelectual da moda, o que repete aquilo que todo mundo quer ouvir. Isto tem a ver com um país que apresenta uma escassa lista de respeito aos direitos civis, políticos e individuais, além de fracas instituições democráticas através de sua história.

Embora a opinião pública de nosso país seja livre, ela é não é necessariamente independente e autêntica. Ela opina com o poder e por temor de desfavorecer o poder. Somos um país de tradições fortemente corporativistas, onde as tramas das relações interpessoais desprezam o mérito e a qualidade subjetiva, em favor dos conluios e conchavos grupais. Em particular, as idéias coletivistas e socialistas possuem fortes apelos entre os intelectuais e afins, pelos próprios costumes patrimoniais herdados do país.

De fato, a história totalitária e despótica de certos paises tem muito a ver com as características tão comuns a nossa cultura política: instituições democráticas frágeis, grupos intelectuais radicais e um forte senso na idéia da população, de um poder paternalista e autoritário. A tendência paternalista possui em contrapartida, um desprezo completo a idéia de iniciativa própria, tachada como inconveniente ou usurpadora. Não é por acaso que a iniciativa privada neste país é vista com desdém, enquanto o Estado é visto como uma autoridade suprema, detentor da moralidade e dono da verdade. Uma contradição em termos, pois é a política intervencionista e autoritária do Estado, o maior obstáculo ao desenvolvimento econômico e político do país. Possui-se em nosso país uma reverência perniciosa ao poder, propícia ao populismo demagógico ou mesmo ao poder arbitrário.

Um dos atributos mais heróicos, salutares e virtuosos de uma pessoa é seu senso de independência moral, espiritual e intelectual. É esta capacidade inerente a algumas pessoas que fizeram o mundo melhor. Se ocidente possui regimes democráticos e valorizamos os direitos humanos, se criamos a arte ou a filosofia, devam-se a essas qualidades daqueles que amam a liberdade e a iniciativa de seguir por seus próprios pés, a ponto de questionar os poderes constituídos. São esses atributos que dão razão a valorização do homem, ou seja, o de um ser único, cuja personalidade não é um molde mecânico do meio, mas sim uma existência particular e insubstituível.

São nas sociedades liberais, onde se valoriza o individuo, é que prevalece a tolerância às diferenças e o respeito à livre iniciativa. Presume-se que tais sociedades não são uma massa compacta de pessoas, contudo, uma sociedade pluralista, em que as diferenças são respeitadas. A tolerância, por princípio, é uma virtude individualista, pois se pauta na idéia do respeito e no reconhecimento das escolhas do indivíduo.

Não se está falando do individualismo político, na idéia como vulgarmente é divulgada entre os intelectuais socialistas. Aliás, há uma idéia profundamente equivocada do que isso representa. O individualismo não significa a afirmação do egoísmo humano. Significa a valorização da pessoa humana e de suas escolhas particulares. Pode-se dizer até, que se o sentido mais negativo atribuído ao individualismo é o egocentrismo ou “egoísmo”, em contrapartida, é muito mais inofensivo do que o coletivismo absoluto. O egoísta só limita seus atos aos parâmetros de sua existência. Já o coletivista quer impor um princípio acima da vida e da escolha e todos. Muito antes de propor um interesse “social” ou “coletivo”, talvez a tendência ao coletivismo seja a mais egoísta, mais egocêntrica, mais nociva e intolerante, pela incapacidade de conviver com as diferenças em nome de um ideal.

Se certas tendências em nosso país são predominantes entre os intelectuais, e muito levadas em conta, tais como as ideologias radicais socialistas, isso é motivo de sérias preocupações, pelo desprezo que tais pensamentos zelam pela liberdade. É público e notório que os intelectuais conspiram para o caminho da servidão. Se a história não se repete totalmente, porém, alguns eventos históricos podem ocorrer novamente, uma vez que as escolhas de certos indivíduos primam pelos mesmos erros do passado. Em miúdos, são questões que nunca podemos subestimar, pela influência negativa que tais grupos têm na educação e na opinião pública. Os totalitários em nosso meio estão por aí revelando a finalidade de suas aspirações. Decerto querem transformar a sociedade de cristãos em turcos.

O "PATRIMÔNIO ÉTICO DO PT"



No mar de estupidez, maluquice, ignorância e loucuras que este país está se afundando, é mister afirmar que, no governo do Presidente Lula, não basta derrubar o PT, mas sim destruir o mito que gerou a farsa petista. Aliás, o pior problema que este país vivencia é sonhar com um mito que é uma sucessão de mentiras: uma mentira existencial, uma mentira ética, uma mentira moral, uma mentira política e uma mentira econômica.

Em qualquer canto deste país, vive-se a mentira da realidade alienante, a mentira ética do cidadão comum, a mentira dos princípios morais comunitários, a mentira política de um projeto de governo e a mentira econômica de uma cultura estatizante. A mentira existencial se aplica a uma completa incompreensão da realidade pelo brasileiro médio, preso nas superstições ideológicas e mitos que a imprensa ou mesmo uma classe intelectual gerou por décadas de escolas e universidades. A mentira ética do cidadão comum é uma cultura de servidão ao Estado, cuja crença na cidadania é uma ânsia neurótica por mais paternalismo estatal. A mentira dos princípios comunitários se pauta na idéia de que ninguém quer se responsabilizar pelos seus atos, mas sempre quer responsabilizar os outros. A mentira política é a mentira do Estado salvador estatizante e não é por acaso que o socialismo tem larga popularidade nestes trópicos, a despeito dos fracassos assombrosos. E a mentira econômica é a crença famigerada de que, quanto maior o poder estatal (leia-se, poderes dos políticos e da burocracia), maior será nossa prosperidade. Ou seja, um conjunto de atos esquizofrênicos, por si só.

Quem encarna melhor estes valores, quem é paladino de muitas das misérias morais e intelectuais que este país sofre, está no poder. A esquerda e o PT encarnam toda essa perversão de crenças e idéias no imaginário cultural, que foram destilados a conta-gotas a uma sociedade cada vez mais apática e imbecil. E embora os casos escabrosos de ladroagem derrubem toda a cúpula do PT e as denúncias apareçam como areia, o imaginário, o mito cultural do esquerdismo petista sobrevive e se fortalece como nunca, na idéia estúpida de que há patrimônio ético numa trupe de escroques, guerrilheiros e terroristas totalitários elevados pela democracia através do voto.

Estamos numa das crises mais graves da democracia brasileira: a completa partidarização totalitária do Estado e um golpismo de um partido, que em nome do poder, é capaz de corromper, depravar, subjugar e corroer as instituições democráticas. O pior de tudo é que esta partidarização do Estado visa criar uma forma de poder permanente, despótico, concentracionário, cujo elemento mais coerente é apenas levar o país a uma ditadura.

A podridão do governo petista não nos leva somente aos atos tradicionais de corrupção, mas sim a um projeto diabólico de poder ditatorial, na criação do Estado-Partido onipotente, tão comum aos brios da esquerda. O pior deste modelo político é que ele se funde com a sociedade civil organizada e independente do Estado, controlando-a e esvaziando sua liberdade civil. Se hoje há uma imprensa dócil, uma oposição inepta e variados movimentos sociais calados ou mesmo apoiando o governo Lula com escândalos tão monstruosos, deva-se ao projeto de mesclar Estado, Partido e sociedade civil dentro de um projeto totalitário. Na aparente diversidade de estratégias de vários seguimentos da sociedade, vê-se a unidade de ação do Partido dos Trabalhadores, o partido totalitário por excelência, que quer impor em nosso país, nada menos que uma ditadura socialista.

Mas temos o mais grotesco mito do PT, o mito que o promoveu, a despeito de seu histórico duvidoso de estratégia revolucionária: o seu “patrimônio ético”. O curioso deste patrimônio ético, é que ele retrata não necessariamente uma ética, e sim uma anti-ética, cuja cultura política nos últimos 25 anos, nada mais foi do que a delação, a espionagem, a denúncia caluniosa e a chantagem dos inimigos políticos. O patrimônio ético do PT é um rebaixamento ético, na cultura de traidores, bisbilhoteiros, fofoqueiros, que espionando a vida do vizinho, criam uma falsa aura de moralidade com a desgraça e a destruição da reputação alheia. Ética pressupõe reflexão contrita de nossos atos e não a vigília alheia dos outros. É antes pensar em nossas atitudes para não errarmos do que apontar o dedo nos erros alheios. O cristianismo é sábio nas palavras de Mateus: olha a trave do olho, seu fariseu hipócrita!

Porém, a cultura de delação e inquisição petista em nada difere de qualquer regime comunista totalitário. A ânsia da traição, do cinismo da denúncia, é uma regra comum para um partido que tem como inspiração, a ditadura de Fidel Castro ou Hugo Chavez, ou mesmo qualquer ditadura de Hitler ou Stalin. O patrimônio ético petista só gera uma conseqüência lógica: a destruição da confiança pública, da honestidade comum, numa revolução cultural de traiçoeiros que violentam suas relações e suas ligações privadas mais sagradas, em nome do culto de lealdade ao Partido-Estado. Uma cultura de denunciadores caninos é uma sociedade amorfa, desunida e moralmente destruída, em que a inquisição dos atos alheios se torna uma completa irresponsabilidade moral pelos próprios atos.

Quando o Presidente Lula disse que não havia ninguém preparado para discutir sobre ética com ele, ninguém entendeu as entrelinhas de Sua Excelência. Ele não fala da ética, tal como entendemos na filosofia grega e no Cristianismo. Ele fala de uma ética partidária, na presunção de se achar no direito arbitrário de denúncia e na crença cega de que detém o monopólio da capacidade de julgar alguém. É apenas uma sede de poder. O PT é um partido imoral que se acha no direito de julgar alguém. A depravação moral petista se junta com a capacidade canina de julgar moralmente as pessoas. Isso consiste o patrimônio ético petista, o patrimônio de inquirir as pessoas para seu projeto particular de poder.

A malignitude do PT tem efeitos piores: além de viver da chantagem e de extorsão mais descarada, ela consegue envolver os outros no próprio crime. Ao mesmo tempo em que o Partido se eleva como paladino da moralidade, por outro lado, ele corrompe de tal maneira a classe política, que todos os envolvidos acabam por cair na própria sujeira do projeto petista. Ou seja, o PT se posa de partido ético, enquanto qualquer um que o denuncie, o mesmo partido “ético” usa de sua fábrica de chantagem para aqueles que participaram da própria sujeira do partido. O PT cria as próprias sujeiras que denuncia e torna seus inimigos cúmplices. É por isso que a oposição está amordaçada. Ela também está comprometida, de alguma forma, nas tramóias petistas.

É incrível como este “patrimônio ético” depravou as consciências. O país está ficando cada vez mais bruto, mais imbecil, vivendo numa completa farsa do projeto cultural petista. É terrível ligar a televisão e ver que os debates são teatros marcados, as discussões são clichês estéreis, as idéias, burras e anacrônicas, de um artificialismo tenebroso. Vê-se a farsa dos jornalistas que simulam debates, dos comentaristas que vivem no reino da fantasia ideológica, com a crença famigerada de resgatar o "patrimônio ético do PT", na própria farsa que gerou o petismo. Interessante é perceber que como essa farsa se tornou uma moral excelsa e inquestionável, logo, porque a culpa do PT é sempre da “direita”, do “neoliberalismo”, da “direita” do PT. Os jornalistas acabam nos convencendo de que o projeto petista errou precisamente porque ninguém quer ser bem mais petista que a normalidade. Porque talvez não sejamos esquerdistas patológicos. O petismo é corrupto, mas o esquerdismo que apregoa encarna a mais grandiosa moralidade nos princípios.

Não é por acaso que um país enlouquecido elege uma fanática estúpida como Heloisa Helena tal como a encarnação do novo petismo. Só num país de pessoas levianas é que histeria e denúncia canina são sinônimos de moralidade. De fato, até a derrota do PT promove os ideais esquerdistas do PT, naquilo que são mais bizarros e totalitários.



É impressionante o quanto o nosso país está beirando a esquizofrenia moral, lógica, ética e moral.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Cuba e os Intelectuais!


Certas declarações simpáticas a ditadura de Fidel Castro, atribuídos a alguns intelectuais nacionais, refletem um grande problema de caráter comum do século XX: a irresponsabilidade dos indivíduos pelos próprios atos, acusando em forças abstratas, a justificativa covarde de suas ações. Destarte, este problema de caráter não se revela somente em uma ditadura, porém, até em paises democráticos.

Primeiramente, como enquadrar este dilema na ditadura comunista de Fidel Castro? Muito simples; para justificar todas as aberrações do regime, culpa-se o inimigo abstrato, e não o sistema concreto, pela supressão das liberdades civis em Cuba. Se Cuba fuzila os dissidentes, a culpa é dos Eua. Se Cuba censura a imprensa e controla a vida do cidadão cubano através de um Estado policial, é pela "ameaça" do governo americano em invadir a ilha. Se houver democracia e o partido único sair do poder, os americanos dominarão a ilha. Enfim, um conjunto de justificativas vazias que primam em dar sustentabilidade ao regime. Na mais absurda das hipóteses, o governo, com seu propósito paternalista e tirânico de calar a população, apenas mostra o desprezo pelas suas opiniões e idéias políticas, antes querendo pensar e agir por eles.

Decerto um regime despótico precisa de um elemento para direcionar o ódio do povo, como forma de mobilização e fanatismo, e com isso, fugir de suas próprias expiações. Quando os meios praticados fogem de tal maneira dos fins, a válvula de escape é renovar inimigos ocultos, bodes expiatórios, a fim de eximir de toda culpa os fins e meios praticados. Se não são os Eua, são os "contra-revolucionários", os "gusanos" (vermes), os "inimigos do povo", enfim, uma horda inumerável de inimigos escolhidos pelos caprichos do Estado.

Outro discurso popular entre as inteligentzias totalitárias é justificar as atrocidades em Cuba, porque outros países também o fazem. Reduzem a gravidade da repressão na ilha caribenha, como aumentam as atrocidades dos Eua ou de outro rival real ou imaginário. Na prática, o cerne da violência, da opressão e de atitudes vis em nome da política, não é vista de acordo com propósitos morais, mas sim o que é conveniente ao grupo que está no poder. Ou seja, a violência em si mesma não é má, a não ser claro, quando não se atende aos fins almejados de tais movimentos. É este raciocínio irresponsável e insano com que muitos intelectuais fazem suas pregações em favor de uma ditadura totalitária.

Tal discussão perde o sentido de provar verdade ou erro, para nivelar como hipócritas todas as afirmações, inclusive as de quem provar impreterivelmente os fatos como verdadeiros. E o pior, a negação da busca da verdade tem o sentido de condescender mais ainda com as arbitrariedades em nome de tais idéias e poderes. Reduz-se todo o discurso a falta de escrúpulos, a má fé e a venalidade, como um mero jogo de ganho e perda.

Provar que a ditadura cubana é perversa, não significa um fato em si, mas um "instrumento dos agentes imperialistas". Se a ditadura reduz a miséria grande parte da população pela corrupção e despotismo da burocracia, a responsabilidade é do "embargo econômico". Se Fidel manda fuzilar dissidentes cubanos, os Eua e alguns paises de certa forma matam, portanto, redimindo o regime de Cuba de executar apenas sujeitos insignificantes, pois na prática, todo mundo o faz.

Tais argumentos são afirmados com explicações das mais abstratas. Da mesma forma que fuzilar dissidentes significa combater o inimigo, pode-se entender também como "defender a revolução" ou o "socialismo", ignorando solenemente a felicidade de pessoas de carne e osso. Se a razão da ditadura de Fidel é o "embargo americano" ou a existência dos Eua, apenas se comprova de como ele aprecia as medidas norte-americanas, que alimentam a sanha do Estado, ansioso em inventar inimigos. Procurar forjar inimigos internos e externos é a práxis de regimes totalitários para impor um governo marcial.

De fato, a lógica é muito simples: se alguém for violento, matar, esfolar, a culpa dos outros que são maus ou porque a sociedade é má! Se existe estupro contra a mulher, é culpa é dela porque é bonita ou porque é safada! Ou no mais, se se presume que todos são hipócritas, ladrões, facínoras, logo, eu também serei hipócrita, ladrão e facínora, ainda que exalte em nome disso, altos ideais, visto que todo mundo é assim. Desse modo é como os princípios que norteiam a nossa sociedade e a conduta de certos intelectuais caminham, em seres cínicos, desprovidos de caráter, fanáticos e perversos.

Esta psicologia totalitária, que oficializa as mais deploráveis ditaduras, é uma das doenças morais de nossa sociedade. Inculcada por anos em escolas e universidades, costuma-se atribuir a questões de força maior, o que é pura atitude de sujeitos conscientes, que fogem de suas obrigações. Atribuir falhas humanas à miséria, ao capitalismo, ao sistema, à sociedade, à pobreza, ao imperialismo, muito antes de refletir um condicionamento social desfavorável, são apenas respostas simplistas, uma fuga da responsabilidade individual de nossas mazelas. Esses pensamentos não são diferentes das ditaduras totalitárias, que acusam em forças externas, as conseqüências dos atos de seus burocratas e líderes. Tais premissas, muito antes de aliviarem o peso ético da responsabilidade pessoal, apenas fragilizam moralmente a sociedade, apática diante da crença de um fatalismo da realidade.

O pensamento totalitário, de certa forma é fatalista. Atribuir simulacros de fatores abstratos como propósitos absolutos da conduta individual, reduzindo-a a forças dissociadas da vontade e dos objetivos humanos, são as razões de uma ideologia déspota, como o sonho de um regime déspota. Isto é Cuba, com seu governo ad infinitum, em que o poder permanece absoluto e as perspectivas de vida e de iniciativa foram roubadas do povo pelo governo, que dita o que se come, o que se pensa, o que se vive. E como tais pessoas são incapazes de se pensarem como indivíduos, culpam coisas externas, porque só fizeram isso, viver da fuga de si mesmos. Isto é a nossa inteligentzia, que na divulgação de tais crenças niilistas e destrutivas, almeja o poder pelo poder, e, por conseguinte, a negação das liberdades mais básicas.

Se existem intelectuais numa democracia, que injetaram todo este veneno moral de miséria e opressão no caráter da sociedade como um todo, é porque como estamos muito mal orientados moralmente. Pior é levar a sério como uma ilusão do paraíso tropical, uma ditadura bananeira e militarista de quase meio século, que permanece condenada no limbo da história.

Seria ridícula, senão cômica, a bajulação do regime comunista de Cuba, se não fosse a penca de pessoas importantes que lhe prestam tributo e simpatias. Porém, se tais pessoas influentes difundem tal crença de boa ou má fé, ou se muitos acreditam, não há razões, em contrapartida, para subestimar. Os totalitários de pensamento, embora aparentemente inofensivos, estão a toda prova, conjugando a falsidade de seus ideais, com o desprezo pela sociedade aberta. Falsidade que seduz, porque abrandam as consciências do juízo, e no fundo, o inferno acaba se tornando os outros. O preço, todavia, é caríssimo, pelas experiências que a história está para mostrar.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Se dependesse deles. . .


Uma questão a se indagar em nossos meios midiáticos é fazer uma breve reflexão sobre a posição de certos articulistas de esquerda, no que diz respeito às suas opiniões e suas ojerizas às práticas do governo Bush, em relação ao combate ao terrorismo. Ou seja, o que seria do mundo se as opiniões desses diletos progressistas pacifistas e justiceiros militantes prevalecessem. Impressiona a prepotência de certos jornalistas em criticarem os métodos de George W. Bush, sem, todavia, mostrarem nenhum argumento concreto, senão hostilidade aos americanos. Isso porque muitos deles odeiam os norte-americanos e apregoam pensamentos desonestos em nossa tão inepta imprensa. Vejamos:
1- O pacifismo - Todo mundo esbraveja contra a guerra do Iraque e chora as mágoas de Saddam, como se ele fosse vitima de uma malvada nação imperialista. Existem até esquerdistas radicais que acham mais válido apoiar uma ditadura cruenta como a de Saddam do que a invasão americana, alegando abordagens questionáveis do tipo “soberania nacional”, como se ditaduras criminosas tivessem alguma legitimidade. Vamos voltar a anos atrás, colocando esses pacifistas na época do nazismo. Já pensou se eles protestassem contra a guerra a Hitler, por causa dos civis inocentes que iriam morrer? Isto porque foi por intermédio desses pacifistas, comprados a peso de ouro pelos nazistas e comunistas, é que a idéia falsa da paz fortaleceu essas duas nações totalitárias. Foi pela condescendência do ocidente e a união oportunista de duas nações totalitárias, que geraram a segunda guerra mundial. Se o ocidente guerreasse contra Hitler quando ele não tivesse tanto poder, o mundo estaria mais seguro. E quanto ao Iraque? Num mundo estupefato com o terrorismo internacional, o Iraque é um país que naturalmente se fortaleceria com a venda do petróleo a UE e que poderia se armar, dentro de uma região que é estratégica, como o petróleo. Imaginemos se, com o dinheiro contrabandeado da Europa, Saddam formasse um novo exército e construísse uma bomba nuclear?Sem contar que as supeitas de armas de destruição em massa eram factuais, precisamente porque o Iraque já as tinha usado contra os curdos. Devemos lembrar do Afeganistão, cujo vizinho, o Paquistão, tem bombas atômicas. Ou seja, nada impediria que os terroristas produzissem armas cada vez piores e que ameaçassem o ocidente. Mas é claro, se dependesse de nossos "pacifistas" jornalistas, articuladores e tutti quantti, o mundo seria uma gigantesca ditadura islâmica, associada a burocratas comunistas da China, Coréia do Norte ou mesmo da ONU, ou então, se eles vivessem há 60 anos atrás, o mundo teria uma bota no rosto com Stalin ou Hitler.
2- A suposta "defesa da democracia" – A esquerda festiva, camuflando o atavismo comunista, chora pelas mágoas dos golpes militares de direita ocorridos no Brasil e no Chile, que derrubaram a “democracia", enquanto pregam ideologias declaradamente inimigas da democracia. Ora, os golpes militares no Chile e no Brasil não foram golpes, mas contra-golpes de uma ascensão de ditaduras comunistas, que possivelmente ocorreriam, se os militares não tomassem providências. Allende estava ajudando na implantação de uma ditadura comunista, tal qual o Sr. Jango, que não era em si um comunista, mas um populista fraco, e seria derrubado pelos comunistas. Claro, democracia para a esquerda é a ditadura socialista. Estranho é defenderem, em nome da democracia, políticos esquerdistas que queriam liquidá-las, enquanto hoje condenam a mesma democracia que antes defendiam, quando a esquerda estava no poder. Se dependessem deles, estaríamos numa cubanização monstruosa do continente e jamais veríamos as liberdades que hoje temos, com a saída dos militares do poder. Isso sem contar que a repressão política seria muito mais violenta. Aliás, essa tentativa de “cubanizar” o continente existe até hoje!
3- Kerry e Bush- Por que a esquerda antiamericana foi tão pró-democrata e pró-Kerry? Simples, porque Bush incomoda. O que ele incomoda? Ele incomoda uma elite intelectual e política totalitária, que vive no conforto de nossas democracias, apta em destruí-las. A defesa do Iraque totalitário, como do talibã, não somente serve de prova a admiração que eles têm pelos regimes totalitários, como pelo ódio que nutrem pelos sistemas democráticos. Se dependesse deles, os americanos escolheriam um socialista banana, que pediria a rego aos terroristas, tal qual os espanhóis fizeram com os socialistas bananas de lá, a despeito dos ataques terroristas em Madrid. Ou seja, os Bin Ladens da vida ficariam mais felizes do que nunca, para destruir livremente o ocidente. Aliás, articulistas cabeças de vento do tipo Arnaldo Jabor & Cia. elogiaram a covardia dos espanhóis e condenaram a coragem dos americanos. Se os americanos pensassem como Jabor e os espanhóis, o mundo livre estaria em franca decadência.
4- Israel x Palestina & Líbano - Por que a esquerda totalitária apóia o terrorismo palestino? Eles querem a libertação da palestina? É claro que não. Eles querem a destruição de Israel, único braço democrático ocidental em contraposição ao totalitarismo árabe. Isso quando não adotam pregações anti-semitas capazes de dar inveja aos nazistas. Eis porque os judeus são acusados de práticas nazistas, enquanto não se vê nada de errado com as pregações árabes de destruição da nação israelita. E a guerra de Israel contra o Líbano provoca furor dos pacifistas de plantão, acostumados a qualquer pretexto para achincalhar o ocidente, e em particular, as nações democráticas. Muitos saem às ruas de todo o mundo, fazendo protestos “pacifistas”, enquanto ainda apregoam palavras amorosas ao Hezbollah e toda a trupe terrorista da Síria e do Irã. Claro, para os nossos “pacifistas”, os israelenses têm o dever moral de receber mísseis do outro lado da fronteira do Líbano, caladinhos, enquanto os terroristas fazem a festa contra os civis. Existem até nocivos idiotas, fazendo coro às falácias árabes, que falam da existência de Israel como um “erro político” da ONU. Só falta os judeus levarem mísseis atômicos do Irã, para que a Palestina vire um deserto radioativo. Isto porque muitos idiotas esquerdistas defendem o direito do Irã de ter armas atômicas. O terrorismo árabe e a intolerância dos grupos terroristas são o maior empecilho ao Estado palestino, como para a paz em todo o Oriente Médio. Mas se dependesse de nossos “pacifistas”, Israel seria destruída do mapa, os judeus seriam jogados ao mar e a Palestina seria mais outro estado teocrático ou terrorista. Ou quem sabe um pó atômico.
5- Por que a esquerda critica a Alca e é contra o embargo sobre Cuba? A esquerda defende Cuba pelos mesmos caprichos totalitários que sempre defenderam em sistemas opressivos: mais burocracia estatal, mais ditaduras, mais ânsia pelo poder. Ela condena a Alca porque o livre comércio pode ser uma proposta de enriquecimento geral da população e uma verdadeira limpeza das mazelas corporativistas e autoritárias, nas quais a esquerda se alimenta. Sem dúvida nenhuma, o modelo democrático se espalharia com o livre comércio, e a esquerda obtusa, temendo isso, quer isolar a América Latina num novo totalitarismo com discurso populista. Vejam Hugo Chavez et caterva?! Eles empobrecem propositalmente a população, para justificarem suas aberrações tirânicas. Se dependesse deles, seríamos uma Albânia gigantesca ou uma Coréia do Norte tropical, menos nações livres e ricas. Curioso é que o ideal esquerdista atual é uma mistura doida e confusa de abertura econômica no estilo chinês e uma ditadura socialista, ou seja, o tal “socialismo de mercado”. Claro, o "liberalismo" para alguns beneficiados pelo sistema burocrático estatal socialista corrupto. E citam países indignos e miseráveis como Cuba e China, como exemplos a serem seguidos em todo o mundo.
6- E por que será que a esquerda defende o protecionismo, sabendo que favorece aos paises ricos? Por que será que os bem alimentados universitários europeus e americanos de Seattle, que quebram pau com a polícia, são tão antiglobalizantes, enquanto na prática protegem os interesses protecionistas dos países ricos?
Resposta: porque o esquerdismo é apenas uma ideologia de elites, para elites, que se serve do igualitarismo para dominar cada vez mais por intermédio de burocracias. Se o mundo seguisse os conselhos de nossos esquerdistas, com certeza ele estaria bem pior.

sábado, agosto 05, 2006

POR QUE A DIREITA PERDEU O PODER?


Uma grande questão que deve ser colocada, embora muitos a evitem por desconhecimento de causa ou mesmo por ignorar, é o declínio das forças de direita em nosso país. Muito do que se diz sobre a “direita” está muito longe dos ideais em que as várias faces da direita se firmaram como valores, crenças e projetos políticos. Na prática, por tamanha predominância esquerdista que assola o país, talvez a falta de uma direita aguerrida e unida confunda os termos que tanto se coloca em relação ao que, de fato, a direita representa. Não é por acaso que se mistura os valores da direita com partidos de centro-esquerda como o PSDB, dado um exemplo. Ou então, qualquer política liberalizante, ainda que necessariamente isto não represente um programa feito pela direita, e sim pela esquerda, apesar de muito a contragosto. E como não deixaria de ser comum, isto, com a complacência da esquerda militante, a direita acaba sendo confundida como “fascista” ou “nazista”.

Os chamados partidos de “direita”, como o PFL e o PL, muito antes de possuir um projeto direitista, não passam de legendas clientelistas e arcaicas, sem nenhuma força que pudesse mobilizar. Pelo contrário, unem-se ao poder pelo poder, ainda que aparentemente contrários a seus tão alegados princípios, posto que se aliam tanto a Deus como ao diabo.

Uma pergunta poderia ser feita: por que a direita perdeu o poder? Uma característica particular em nossas direitas é sua incapacidade de se adaptar aos novos tempos democráticos. Talvez um fator que contribuiu para isso foi a urbanização e industrialização da sociedade, em que as pessoas em geral são mais exigentes na política, num eleitorado que a velha direita nunca foi motivo de simpatias. Também pudera. Nunca tivemos de fato, uma direita partidária liberal e democrática forte, tal como existem em países de sólida tradição parlamentar.

Nossa compreensão comum de "direita" está entre a decadente oligarquia coronelista, o autoritarismo dirigista, o positivismo nacionalista do exército, o catolicismo, entre o retrógrado e o integralista, ou misturado com um pseudo-liberalismo hostil aos princípios democráticos. Estas aspirações são totalmente conflitantes com a mentalidade atual de uma sociedade urbana, já que seus paradigmas ficaram ultrapassados e desgastados pelo uso. Por outro lado, a tradição direitista liberal mais moderna, dita “clássica” ou de centro-direita, que poderia fazer jus a uma nova mentalidade democrática, nunca foi totalmente forte a ponto de angariar forças políticas. Os liberais e conservadores democratas autênticos nunca tiveram força para estruturar um projeto social alternativo ao histórico autoritarismo patrimonial ou o corporativismo de esquerda. Tais aspirações ficaram resumidas a alguns poucos intelectuais e políticos isolados. E os liberais carregaram o estigma de um passado conturbado da direita.


A direita velhusca e oligárquica perdeu espaço, porque o grosso de seus votos, coletados no meio rural e entre grupos humildes de regiões pobres estão com seus dias contados. O clientelismo patrimonial tão comum ao caráter da direita coronelista está aos poucos desaparecendo do país. O autoritarismo dirigista, que inspirou outros grupos conservadores de direita, em especial em alguns centros urbanos e os militares, na tentativa de modernizar o Brasil por métodos autoritários, também perdeu espaço, uma vez que as sociedades democráticas aparentemente não estão sujeitas ao voluntarismo que renegue a sua participação no cadinho do poder. De fato, é o igualitarismo massificador que domina as mentes das eras democráticas. E as direitas liberais, sejam elas democratas ou conservadoras, inspiradas nos países liberais constitucionais, ainda não conseguiram ocupar o vazio político, ora alguns caindo em nostalgias ao conservadorismo oligárquico, ora não se encontrando como uma contrapartida ao esquerdismo reinante nos meios políticos, intelectuais e acadêmicos.

Mas se em parte, o Brasil saiu nas garras de direitas autoritárias, por outro lado, o país experimenta outro perigo: a proeminência das esquerdas totalitárias. Os velhos vícios que a direita autoritária nos deixou, ou seja, o clientelismo, o nepotismo e o dirigismo, estão sendo reciclados por novos vícios, atribuídos aos grupos de esquerda no país; o corporativismo e a burocracia totalitária e centralizadora. O que aparentemente os meios urbanos aspiram em valores políticos no cerne da esquerda, parecem sublimar velhos despotismos com novas roupagens, ainda que a realidade seja aparentemente mais pluralista. A sociedade cada vez mais urbanizada, democratizada, contudo, não consegue superar certas práticas autoritárias e voluntaristas do poder. Na verdade, o fato de uma sociedade urbana e democrática ser mais exigente ou militante, nem sempre significa dizer que ela seja mais tolerante ou mais liberal. Neste aspecto, talvez o grande perigo seja a inspiração dos novos grupos políticos que hoje dominam o Estado. Quando a sociedade se omite de resguardar a paz, a tolerância e os direitos individuais como os valores mais preciosos da democracia, a tendência é que ela possa se degenerar em tirania. E as inteligentzias urbanas radicais, em seu visível desprezo a tais valores, aspiram uma espécie de poder muito mais ilimitado do que às direitas autoritárias.

Destarte, as esquerdas souberam aproveitar com certo grau de astúcia e oportunidade, naquilo que as direitas mais moderadas e democráticas não conseguiram fazer. Dominaram os centros intelectuais, as cátedras, tornaram-se referências nos centros urbanos, numa crença enganosa de “modernidade”, em contraposição às direitas, sejam elas velhas ou novas. E chegaram a tal ponto de se apropriar de discursos e símbolos atribuídos as direitas liberais e democráticas, como direitos civis e humanos, Estado de Direito e outras liberdades, apesar do sentido ser precisamente o oposto do que é pregado. Nunca foi o forte das esquerdas, em particular, as esquerdas radicais tão militantes em nosso país, a crença em direitos civis, fetiches atribuídos às democracias ditas “burguesas”. Contudo, souberam instrumentalizar toda a linguagem, outrora desprezada, em seu favor, como condição estratégica.


A intelectualidade liberal, munida de uma sofisticação poderosa, nunca foi totalmente organizada o bastante para resistir a tais intentos. Isso se deve em parte ao caráter profundamente individualista de muitos de seus escritores e cronistas, pouco afeitos aos grupos militantes, e com forte senso de independência pessoal. Há algo característico em muitos liberais, que é hostilidade a idéia de grupo, em parte, pela visível aversão que um liberal tem pela perda de sua autonomia intelectual. Não é por acaso que os liberais acabam sendo vozes solitárias no deserto, ainda que bem ajuizadas. Tal conduta pode ser vantajosa por um lado ético. Entretanto, é prejudicial por outra, visto que muitas atribuições para terem força política, precisam de um certo senso de união, ainda que questionável em termos.

A grande curiosidade, porém, é que foram as direitas instruídas do país que patrocinaram a modernidade que não souberam aproveitar em favor de si. Elas foram as empreendedoras da urbanização, do desenvolvimento industrial e da instrução pública do país, além do crescimento econômico. Inclusive, foram as direitas de vocações mais moderadas e mais liberais que conseguiram resguardar o modelo de Estado de Direito democrático, tal qual todos os modelos políticos e econômicos historicamente desprezado pelas esquerdas. Apesar de seus serviços, a direita, exposta a críticas, erros e alguns fundamentos obsoletos, e o desgaste, causado pela proeminência do poder, perdeu espaço político para novos grupos em ascensão. Tal fato em si não foi de todo negativo. Pelo contrário, foi pretensamente positivo, visto que o processo democrático se pauta na pluralidade de opiniões, idéias e diretrizes políticas e rotatividade do poder, ocasião em que a sociedade cobrava mais exigências de novos experimentos políticos.

Se hoje em dia grande parte da população rejeitou facções políticas arcaicas e parasitárias em nome de novos modelos de eficiência a serviço da decência pública e de valores democráticos arraigados, tanto melhor para ela. Todavia, o vácuo de poder deixado por grupos que poderiam fazer contraposição aos caprichos dos ditos “progressistas” e alguns grupos decadentes, em nada contribuíram para a democracia. A falta de um liberalismo que contraponha a velha direita clientelista e autoritária e a nova esquerda corporativista e totalitária, deixou a democracia empobrecida de escolhas mais produtivas. Na pior das hipóteses, a velha tradição estatizante e burocratizada do poder, tão ao gosto das direitas oportunistas e esquerdas radicais, pode ser um empecilho a grandes reformas necessárias ao país, dentro dos caminhos democráticos. Por outro lado, carece às esquerdas militantes, o senso de moralidade pública condizente com a democracia, já que preconizam uma moral utilitária, oportunista e um projeto de poder totalitário. Em outras palavras, o vácuo institucional e político na democracia brasileira é quase total.

Numa época em que é visível o perigo da concentração de poder do Estado e da intervenção cada vez mais arbitrária na vida econômica e política do cidadão comum, um liberalismo democrático que resgatasse os valores do individualismo político e restringisse os abusos de poder das classes governantes e de grupos corporativos, seria de grande valia para a criação de uma direita comprometida com os valores democráticos em nosso país. Reformas nas instituições, onde a diminuição das burocracias estatais e a fé na livre iniciativa e senso de liberdade dos cidadãos fossem incentivados, seriam projetos de força, num emaranhado de preconceitos paternalistas e autoritários tão comuns à direita clientelista e aos ditos “progressistas” de esquerda deste país.

Isto, com o devido respeito às regras do jogo democrático, incluindo o prezo pelas leis, pelas liberdades civis e políticas, pela vida e propriedade dos cidadãos e o respeito pelas instituições e pelas oposições, sejam elas quais sejam. Em suma, a defesa do Estado de Direito democrático e da economia de mercado como baluartes das liberdades individuais, em contraposição ao dirigismo autoritário do Estado e as inclinações totalitárias de grupos radicais. De fato, a boa democracia funciona num saudável e civilizado equilíbrio de forças divergentes, que resolve pacificamente as diferenças e conflitos no âmbito político e social através do voto, da liberdade de pensamento e do debate sincero entre as partes.

Portanto, cabe um grande desafio aos grupos liberais democráticos de centro-direita que defendem a sociedade aberta do país. O Brasil, enfim, chegou nas “eras democráticas” de Tocqueville. O grande desafio é que a democracia seja liberal e não se transforme em totalitária.

quinta-feira, agosto 03, 2006

O HOMEM E O MITO: Che, apenas um assassino!


Nos centros acadêmicos estudantis, principalmente àqueles em que a esquerda é mais atuante, é comum encontrar o retrato de Che Guevara na parede, simbolizando, aos olhos de seus fãs, a figura romântica de um idealista exaltado, de um eterno protetor dos fracos e oprimidos, contra os desmandos do imperialismo americano e do capitalismo internacional. Nas comemorações de trinta anos da morte de Che Guevara, milhares de adeptos o cultuaram como verdadeiro “santo” dos tempos contemporâneos, numa espécie de nostalgia de um suposto paraíso desconhecido: desde o Éden cubano na Ilha de Fidel, até as “revoluções populares”, as aventurescas revoltas armadas contra os malvados tiranos e caudilhos oligárquicos da América Latina. Contudo, a figura de Che Guevara, antes de ser uma figura romântica, simbólica e até histérica contra a opressão das políticas norte-americanas, o invólucro do mito não se sustenta no que foi o homem Che Guevara: um fanático, capaz de fuzilar seus inimigos políticos com uma crueza implacável, um ministro da economia medíocre, que levou Cuba à bancarrota econômica e um guerrilheiro incompetente, perdedor de quase todas as guerrilhas que participou, inclusive literalmente perdendo a vida para o mísero exército boliviano.

Mas o papel de Che Guevara, desde os tempos da Revolução Cubana até hoje fora este: o de um homem carismático, que transmitia, como relações-públicas do regime, o apelo pseudo-idealista, sentimentalista, na disfarçatez de um crônico irrealismo da revolução. De fato, Che Guevara agrada muito mais a uma classe média excluída, supostamente letrada e recalcada de estar à margem do poder, do que realmente o povo em si, que o vê na mais extrema a sábia indiferença. Che é um homem, que desde a sua ascensão política, sobreviveu no que ele nunca foi, (um verdadeiro idealista ou um grande político), numa completa aparência, numa mentira muito bem contada, para que as classes médias universitárias cabeças de vento e invejosas das classes dominantes, sempre o almejem e com ele se identifiquem, numa espécie de alter ego do arrivismo e do gosto pelo poder.

Grande parte da propaganda projeta uma história ingênua, o do jovem rico indignado com as misérias do Terceiro Mundo, a fim de libertar o povo do imperialismo americano. Che Guevara é um modismo, um rosto de uma classe média decadente, pseudo-voluntariosa e extremamente paternalista, que na falsa lisonja das massas e na defesa dos oprimidos, quer ser o novo opressor. Não é por acaso que Che, vindo da tradicional e decadente oligarquia argentina, antes de inspirar valores democráticos realmente populares, condiciona seus propósitos supostamente “libertários” ao velho caudilhismo latino-americano, com seus velhos líderes patrimonialistas, tirânicos, populistas e messiânicos, que adoram o mito para ocultar as mazelas de seu regime. O socialismo cubano é reflexo de uma velha ordem com nova roupagem, e Che, com sua cara bonitinha e simiesca da classe média, é a versão latino- americana do jacobinismo que veio a ser as revoluções do século XX: um complexo de ditaduras monstruosamente sufocantes, endêmicas de arbitrariedades, cruéis e desumanas em seus princípios de desprezo às liberdades individuais e as liberdades políticas (e até a vida humana). Che encarna valores políticos mais retrógrados e atrasados da América Latina, e em matéria de obediência e subserviência a autoridade constituída, nos ditames do fenômeno totalitário e do Estado absoluto.

Outro fator que favorece o mito Che Guevara, incapaz de se ver o “homem” no espelho, é porque a morte, antes de apagar o mito, acabou por privilegiá-lo, no provérbio que diz que a morte torna verdadeiros mortos físicos e morais em celebridades. Se Che vivesse até hoje, o máximo que este indivíduo atrairia seria um senhor desprezo por ser visivelmente um medíocre, como, aliás, sempre o foi, e pelas tolices verborrágicas, uns sonoros bocejos seriam freqüentes. Se em vida, Che viveu de mitos sobre sua pessoa, a morte o impediu da fazer mais asneiras, o que facilitou para o regime cubano e para as esquerdas, a preservação e o rebuscamento da farsa.

“Endureserse, pero, sin perder la ternura jamas”. Esta frase, pronunciada como sinônimo das virtudes revolucionárias, se observada pela ótica de quem a pronunciou, antes de expressar voluntarismo e poesia, só reflete sectarismo e fanatismo mórbido. Destarte, Che realmente “endureció” quando mandou fuzilar sumariamente centenas de inimigos sem julgamento justo e imparcial, justificando “la ternura”, com a retórica da “vingança do oprimido” contra os “opressores”. A apologia do idealismo se confunde com a romantização da violência institucionalizada, da opressão generalizada e da legitimação do crime feita por um Estado revolucionário. Antes de patrocinar a “vingança do povo”, é típico dos fanáticos projetarem para outros os atributos que lhe são próprios. Os fanáticos querem que todos sejam como eles ditam. Na Revolução Francesa, os jacobinos, insatisfeitos com as limitações do poder, apelavam a cada vez mais derramamento de sangue, mais guilhotina, mais perseguições políticas, mais prisões sem julgamento, para “purificar” a revolução com o sangue de seus opositores. O idealismo guevarista é o sinônimo rudimentar de um idealismo inócuo e perverso, levado às últimas conseqüências, pois o fanático, nada mais é do que um idealista exacerbado, que não tolera as diferenças que ameacem seu platonismo. O “oprimido” continua sendo o povo, e a Revolução Cubana apenas trocou o poder para um fanatismo mais elaborado do que o regime anterior, pragmático e venal. Os tribunais revolucionários são apenas o retrato de um novo poder, que se legitimando pelo “povo”, acabou por suprimir a liberdade do próprio povo. As vinganças de um regime, antes de serem vinganças populares, supostamente desforrando a violência contra antigos algozes, no caso, os colaboradores da ditadura de Fulgêncio Batista, foram retaliações patrocinadas pelo próprio Che, como Chefe dos tribunais revolucionários, que manipulando o povo, acabou por fazer atos de tirania, estendendo a repressão, não aos velhos donos do poder, mas a todo aquele que discordasse do regime. Che Guevara, antes de inspirar valores nobres, voluntarismo, preocupação com os oprimidos, não passa de uma verbosidade mal preparada, para àquelas pessoas que consomem a inocuidade de idéias geradas pela apelação barata e pelo folhetim propagandístico. “La Ternura” é a roupagem mitológica de um regime e de um homem, que em toda sua vida, só fez “endureser”, nos desmandos de um regime despótico e uma cartilha pseudo-revolucionária. Os Comitês de Salvação Pública e o “Terror”, em plena Revolução Francesa, não são meras coincidências perto do que foi ou é hoje os tribunais “revolucionários”; os jacobinos e seus descendentes guevaristas são a inspiração mais perfeita e acabada disso, da guilhotina republicana ao paredón revolucionário. Che está para o paredón cubano, como Saint-Just está para a guilhotina.

O mais incompreensível, contudo, são as admirações extasiadas pelos feitos militaristas de Che Guevara. Na revolução cubana, que foi ganha pela astúcia de Fidel Castro e pela inépcia do exército de Batista, Che Guevara acabou se tornando o garoto-propaganda dos guerrilheiros da Serra Maestra, na super exaltação de seus dotes de guerrilheiro. Na prática, porém, a capacidade militar de Che Guevara era sofrível, seus movimentos guerrilheiros eram inócuos, acabando por perder para exércitos igualmente medíocres, como as tropas congolesas e bolivianas. É cômica esta admiração a um militar tão ruim, pois ao contrário do que o seu mito apregoa, as táticas guerrilheiras de Che fizeram a festa dos exércitos, que debelaram com extrema facilidade, as guerrilhas comunistas na América Latina que se inspiraram nele.

Para as cátedras de economia que adoram criticar os monocórdicos economistas “direitistas”, os “neoliberais” e toda a sorte de economistas igualmente duvidosos e ineptos que regem o país, é um nonsense ostentar em seus centros acadêmicos, a mística e o retrato de Che Guevara como modelo político-econômico a ser seguido, pois o seu exemplo como ministro da economia cubana levou o país a uma hecatombe de racionamento pior do que o oferecido pelo embargo americano. Não é por acaso que sabiamente Fidel Castro se livrou o mais rápido o possível dele. Espertamente, se Fidel Castro o baniu sutilmente de Cuba, aproveitou o culto produzido pelo mito, a fim de promover os grupos guerrilheiros patrocinados pelo seu regime. Para a classe média “idealista”, a propaganda pegou como água, na horda de clones de Che Guevara espalhados pelas universidades, centros estudantis e acadêmicos, como um sacerdócio a ser seguido, na mistura de fanatismo sectário, culto messiânico e pressuposta defesa da “justiça social” e dos “oprimidos” com a apologia mais descarada da violência, da imoralidade política e da ditadura unipartidária. Os empresários e capitalistas, bem mais espertos, fizeram de uma podre mercadoria ideológica, uma marca de camiseta, ganhando rios de dinheiro. Bem que Fidel poderia cobrar patentes pela sua produção publicitária mais genuína. Com uma legião de pequenos burgueses entediados da vida, rebeldes sem causa e problemáticos com os pais, Che Guevara é um produto de consumo que enriquece, unindo o apelo folhetinesco com os hormônios exaltados de jovens desocupados, possuídos por uma aura de intelectualidade pretensiosa e de valoração duvidosa, que confundem popularidade com sabedoria, justiça com inquisição ideológica, discurso racional e senso crítico com demagogia acusatória e canina. Pelo menos o mito de Che serve para alguma coisa útil; gera empregos e capital nas indústrias têxteis.

Eis a explicação do mito e sua contradição com o homem, em que a vida denuncia o mito, a práxis desmente a teoria. Che Guevara é um produto ideológico que permanece intacto, numa reputação fabricada e inexistente que nunca foi tocada, pela cumplicidade tendenciosa de seus cultores e pela unanimidade monolítica de seus admiradores. Munidos de uma grosseira fantasia, injetam projeções libertárias em um homem que nada inspirou de autêntico como legado, a não ser a demagogia, o lugar-comum, o fanatismo ideológico e a ditadura como modelo, além da superficialidade cultural dos universitários, que incapazes de se libertar de um atavismo ideológico decadente, (de um fanatismo rústico transformado em “idealismo”), precisam chorar o leite derramado na perda das verdades prontas e absolutas. Ademais, choram sem razão, pois os cubanos, soviéticos e tutti quantti, têm razões de sobra a chorar, e de Che Guevara e adjacências, estes cidadãos não têm motivos para idealizar, só para ter pesadelos.