Rodrigo Constantino, economista, blogueiro, rascunhador de orelhas de livros alheios e metido a “pensador independente e libertário”, era bastante admirado quando só falava de única coisa que parecia entender parcamente, que era economia. No entanto, o raciocínio constantiniano peca pelos simplismos retóricos e pelo economecês vulgar. Não passa pela cabeça do cidadão, algo como a complexidade das relações humanas. Tudo se resume ao horizonte técnico, quando na verdade, a economia está inserida na política, na moral, nos costumes, etc. Não é por acaso que o sujeito se tornou motivo de galhofa, com a religião do “deus mercado”, na versão caricatural de um liberal. O “livre mercado” resolve tudo, desde cura pra câncer e hemorróidas, até problemas emocionais entre pais e filhos.
Malgrado as suas visões estreitas, ele agora se atreve a falar mal da religião, em nome de um ateísmo militante. Não tiro o direito dele. O problema é a maneira como a questão da religiosidade é abordada. Tal como o economecês, a religião é vista com estereótipos e descontextos interpretativos, introduzindo ao leitor uma visão falsa da fé. Se não bastassem as asneiras assombrosas, carece ao seu argumento algo essencial em um debate: a honestidade intelectual. O raciocínio de Constantino, tal qual de muitos ateus militantes, parte do seguinte princípio: somos iluminados porque não acreditamos em Deus; logo, se você acredita em Deus, não é iluminado, e como tal, é um obscurantista. Por mais que alguém tenha argumentos razoáveis para comprovar a idéia de Deus, ainda assim, ele coloca uma armadilha retórica em que ou o religioso deve se adaptar aos seus clichês, ou pedir pra fora o penico. O jornalista Olavo de Carvalho foi muito feliz em apresentar os sofismas retóricos de Constantino, em brilhantes ensaios a respeito do “homem de mim”. O problema mesmo é que gente como ele ganha popularidade com as tolices que diz, tal qual o dito “filósofo” Sam Harris, seu guru, o ateu das obviedades e nonsenses argumentativos.
Vejamos o último artigo dele, “ Os perigos da fé irracional”, em que ele se desmancha de amores pelo charlatão do ateísmo. Quem lê o texto, percebe que o Sr. Constantino, desonestamente, confunde a fé religiosa em si mesma, com a irracionalidade. Necessito fazer os seguintes comentários: Em Carta a uma Nação Cristã, Sam Harris se dirige diretamente aos cidadãos cristãos americanos, fazendo um alerta sobre os perigos de sua fé. Ele afirma que as mensagens mais hostis recebidas depois do seu primeiro livro The End of Faith vêm justamente de cristãos. Para ele, isso é uma ironia, pois os cristãos em geral imaginam que nenhuma religião transmite tão bem como a sua as virtudes do amor e do perdão. “A verdade é que muitos que afirmam ter sido transformados pelo amor de Cristo são intolerantes à crítica”, ele escreve. Eu posso atestar que o mesmo ocorre comigo, já que meus artigos sobre religião despertam a fúria de muitos crentes ditos cristãos, que partem para uma agressão verbal repleta de xingamentos. Infelizmente, tal ódio recebe considerável apoio da Bíblia.
Conde- Tadinho do Constantino. Aqui ele foi bastante desonesto. No último debate em que ele participou, na comunidade do orkut do Olavo de Carvalho, nenhum religioso, em sã consciência, o ofendeu. Pelo contrário, era o próprio Constantino quem torrava a paciência com sofismas grosseiros e fugia do foco dos debates para não enfrentar os dilemas que estavam sendo postos . Mas esse é o problema do ateísmo militante: eles criticam a religião e quando são criticados, chamam os religiosos de intolerantes. Quem tem fé religiosa, necessariamente é obrigado a aceitar os postulados primários do Sr. Constantino.
Logo no começo da carta, Harris vai direto ao ponto: “Se um de nós está certo, o outro está errado”. Ou a Bíblia é a palavra de Deus, como os cristãos alegam, ou não é. Ou Jesus oferece à humanidade o único verdadeiro caminho para a salvação, ou não oferece. Ou a Bíblia é apenas um livro comum, escrito por mortais, ou não é. Ou Cristo era divino, ou não era. Não há espaço para meio termo nesses casos. E se a Bíblia é um livro comum, e Cristo era um homem comum, “então a doutrina básica do cristianismo é falsa”. Se for este o caso, a história da teologia cristã é a “história de homens estudiosos dissecando uma ilusão coletiva”.
Conde- Esse debate é feito desde que a religião existe. Ser cristão significa, para questões de coerência, a negação de outros pressupostos que não sejam cristãos, no todo ou em sua parte. E mesmo a discussão sobre o cristianismo significa que os filósofos cristãos buscam respostas para aquelas histórias extraordinárias relatadas por aquele livro. Por outro lado, o trecho acima reflete o desconhecimento das fontes bíblicas: o Livro Sagrado foi escrito por homens. Se é novidade para Constantino ou para Harris, realmente como eles se prestam a debater sobre assuntos que não leram? E um livro que influencia a humanidade a pelo menos três mil anos pode ser qualquer coisa, menos comum.
Os muçulmanos têm as mesmas razões para serem muçulmanos que os cristãos para serem cristãos e, no entanto, cada um dos lados não encara as razões do outro como algo convincente.
Conde- Essa argumentação é profundamente idiota. Dizer que o islâmico e o cristão possuem as mesmas razões de fé significa dizer que o cristianismo é o mesmo que islamismo e que todas as razões com que se explica a fé são as mesmas. Logo, ninguém debateria. É a velha generalização ateística de colocar todas as religiões no mesmo plano, sem dimensionar a validade ou não de seus pressupostos. Na prática, é uma forma de invalidar previamente o que se critica, sem se dar ao trabalho de se fazer comparações.
Segundo Maomé, Jesus não era divino, e qualquer pessoa que pense diferente passará a eternidade no inferno. Mas será que algum cristão perde o sono pensando nisso? Mesmo sem ser capaz de provar que Alá não é o único e verdadeiro Deus, ou que o arcanjo Gabriel não visitou Maomé em sua caverna, nenhum cristão fica sem dormir por conta das crenças islâmicas. Pelo contrário, os cristãos rejeitam essas crenças, consideradas absurdas. Eles lançam aos muçulmanos o ônus da prova acerca dessas crenças. Ocorre que eles jamais serão capazes de provar algo, assim como os cristãos também não podem. Em outras palavras, o cristão também sabe exatamente como é ser ateu, em relação às crenças e ao Deus dos muçulmanos.
Conde-Primeiramente, os cristãos, em geral, não desmerecem a crença monoteísta dos islâmicos. É perfeitamente compreensível aceitar a fé islâmica, no quesito comum de crerem num único Deus, sem, contudo, aceitar o modo ou a maneira como essa fé é vista. E afirmar que os cristãos não têm argumentos contrários à fé islâmica é desconhecer os debates medievais que havia entre cristãos e islâmicos, cada um provando sua fé. A falta de um consenso sobre as religiões não invalida os argumentos de um sobre outros, e mesmo as premissas com que se fundamentam suas respectivas fés. E, sob determinados aspectos, a fé cristã mostra ser mais coerente.
Para os cristãos, é óbvio que o Corão não é um livro sagrado, e que a postura da doutrina do islã representa uma barreira a investigação honesta. Basta apenas que os cristãos compreendam que a maneira como eles enxergam o islamismo é exatamente a mesma como os muçulmanos devotos vêem o cristianismo. E é dessa maneira que os ateus vêem todas as religiões.
Sobre o livro “sagrado” dos cristãos, Harris diz: “A idéia de que a Bíblia é o guia perfeito para a moralidade é simplesmente espantosa, em vista do conteúdo do livro”.
Conde-O Sr. Harris parte do pressuposto de que a bíblia é um livro simplório de regras prontas e acabadas e não um livro religioso e literário, cuja profundidade simbólica, desafia o nosso espírito e que tem uma gênese histórica peculiar. Quem estuda a bíblia e mesmo os debates a respeito de seus pressupostos, através dos séculos, percebe que o Livro Sagrado suscita sempre novas discussões, porque é um livro filosófico e, por conseguinte, sempre atual.
Os exemplos seriam infindáveis. Sempre que os filhos saem da linha, por exemplo, devemos bater neles com uma vara.
Conde- O Sr. Harris, tal como o Constantino, acha que o mundo deve ser regido pelo que acreditamos no século XXI, com a cultura politicamente correta que proíbe os pais de darem palmadas nos filhos. Os pais não têm o direito de educarem os filhos com cinturões ou tapas, ainda que chorões politicamente corretos como Constantino & cia queiram que o Estado faça isso por nós? Se os pais não educam pela cacetada, quem os educa?
Se eles ainda assim responderem com insolência, devemos matá-los (Êxodo 21, 15, Levítico 20, 9, Deuteronômio 21, 18-21, Marcos 7, 9-13, Mateus 15, 4-7).
Conde- Aqui, a argumentação é desonesta, típica de Constantino e Harris. Não estamos falando de nossa sociedade civil complexa, legiferante e estabelecida pelo Estado moderno. Está se falando de uma sociedade tribal e familiar, onde a autoridade patriarcal se confundia com a autoridade pública. A deslealdade de um filho ou mesmo a sua rebelião era algo que poderia ameaçar a unidade daquele pequeno clã. Aliás, a citação de Mateus é uma crítica a rigidez da própria lei hebraica e não uma justificação. Jesus queria dizer que amar o pai e a mãe não devia ser um ato que pudesse haver recompensa, mas tão somente a realização, na figura plena do amor entre pai e filho. Todavia, como Constantino e Harris são dois ignorantes de história, tais literaturas vulgares são pura panfletagem travestida de pseudo-erudição.
Também devemos apedrejar pessoas até a morte por heresia, adultério, homossexualismo, por trabalhar no sábado, adorar imagens etc.
Conde- O termo "heresia" era desconhecido dos judeus antigos. O correto seria blasfêmia. O mesmo pressuposto relacionado ao patriarcado, pode-se dizer com relação à conduta adúltera e homossexual: elas ameaçavam a vida social daqueles tempos e como as relações públicas se confundiam com as relações interfamiliares, certas regras severas eram questões de sobrevivência. O mesmo princípio se aplica a fé religiosa: era um conceito de unidade política e de deveres públicos, sem os quais, aquela civilização não se ordenaria.
Sobre a escravidão, temos o seguinte versículo no Êxodo, capítulo 21: “Se alguém ferir a seu escravo, ou a sua escrava, com pau, e morrer debaixo da sua mão, certamente será castigado; porém, se sobreviver por um ou dois dias, não será castigado, porque é dinheiro seu”.
Conde- Os dois idiotas colocam o texto como se justificasse uma crítica ao sistema escravista descrito no versículo bíblico, quando, na prática, é uma restrição à prática de escravidão. A escravidão bíblica era uma punição, dentro do direito de guerra, e se os hebreus fizeram alguma coisa, foi restringir ao máximo essa prática, já que proíbem o senhor de matar o escravo.
No Levítico 25, 44-45, consta: “Quanto aos escravos ou escravas que tiverdes, virão das nações ao vosso derredor; delas comprareis escravos e escravas”. Basta lembrar que o cristianismo conviveu por longos séculos com a escravidão, e durante a abolição americana, era o sul mais cristão que se colocava contra a liberdade dos negros.
Conde-A argumentação é visivelmente mentirosa. A escravidão foi virtualmente abandonada na Idade Média, por causa do cristianismo, que condenava essa prática, e mesmo os primeiros movimentos abolicionistas americanos e ingleses do século XIX, eram quase todos cristãos, no amplo sentido da palavra. Dizer que o sul era a mais cristã das regiões dos Eua é pura figura retórica, para desmerecer o cristianismo. Há outro adendo, que também é falacioso: a escravidão era uma cultura historicamente constituída, e não haveria nenhum milagre para reverter um costume ancestral. Foi através da reflexão religiosa e humanitária do cristianismo, absorvido pelo movimento iluminista, que a escravidão foi moralmente condenada.
Alguém pretende mesmo seguir a Bíblia como palavra final sobre moralidade? O fato é que a Bíblia não parece nada com algo divino.*
Conde- Lendo esse trecho, “algo divino” é dimensionar a nossa moralidade pelas idéias esdrúxulas de Harris e de Rodrigo Constantino.
Harris lembra ainda que “os ensinamentos da Bíblia são tão confusos e contraditórios que foi possível para os cristãos queimar alegremente os heréticos nas fogueiras, durante cinco longos séculos”.
Conde- As confusões aparentes dos textos bíblicos são originárias de sua complexidade como documento histórico e filosófico, sem contar que foram escritas por várias mãos. Porém, as confusões são apenas aparentes, porque os textos concebem uma certa unidade de princípios e valores e mesmo uma evolução na discussão destes. Daí os variados erros de interpretação histórica sobre o Livro Sagrado e mesmo os debates acalorados sobre o sentido de suas pregações. E a queima de heréticos durante a história européia se deveu e uma circunstância de época, não a uma essência mesma da religião. Por mais lamentável que tenha havido sinais de intolerância em outras épocas, não invalida as contribuições que a religião deu à humanidade. Mas é o jogo desonesto dos ateus: avaliar a religião apenas por alguns detalhes marginais de suas práticas menos nobres, quando são capazes de marginalizar todo o resto. Eles escolhem aquilo que convém a eles.
As interpretações que concluíram que os heréticos poderiam ser torturados partiram dos mais famosos patriarcas da Igreja, como Santo Agostinho, Tomás de Aquino, Lutero e Calvino. Claro que cada um pode interpretar a Bíblia à sua maneira.
Conde- Isso é outra besteira. Primeiro, a descontextualização histórica. Por mais abominável que nos possa parecer o uso da tortura ou mesmo a perseguição a hereges em épocas remotas, o fato em si é que esses grandes homens, como Agostinho e São Tomás não foram imunes a costumes de sua época, cujas práticas nem sempre eram louváveis. Por outro lado, a interpretação teológica católica não é arbitrária: ela tem toda uma tradição constituída para revalidar e reafirmar seus pontos de fé. Constantino e Harris reduzem os debates religiosos como meras questões de gosto, quando na verdade há toda uma fundamentação histórica que valida a interpretação de uns e invalida a interpretação de outros, no joio e no trigo.
Mas como os cristãos poderão alegar capacidade para discernir os verdadeiros ensinamentos do livro enquanto os mais influentes pensadores do cristianismo falharam nesse ponto?
Conde- Falharam em que sentido? No sentido exigido por bestas quadradas presunçosas como Constantino e Harris?
Contar com a infalibilidade papal, no caso dos católicos, tampouco ajuda, visto que já existiu papa totalmente imoral.
Conde- Eu bem queria saber qual papa afetou a doutrina católica a infabilidade para renegar os enunciados do cristianismo? Pode ter afetado os aspectos morais, mas não há caso algum que tenha afetado os aspectos teológicos.
A verdade é que cada um extrai o que quiser da Bíblia, defendendo atos morais ou imorais. A moralidade é, portanto, totalmente humana.**
Conde- Se as pessoas precisam extrair fatos morais, a partir da reflexão de um livro revelado por Deus, como a moralidade pode ser totalmente humana? A moralidade pode se afirmar como humana, na medida que é atributo do homem. Porém, se o homem é criado por Deus, logo, a moral que regulamenta seus atos também é criada por Deus. Os princípios da justiça, da verdade, da retidão moral se refletem nos atos humanos dentro da realidade. Mas essa justiça não é criada pelo homem, mas tão somente percebida por ele, através da razão. Por outro lado, misturar as interpretações bíblicas, dentro de um saco de gatos, não somente é um argumento desonesto, como ridículo. Se alguém extrai mal os fatos da bíblia, a culpa é da bíblia? E quem disse que tudo que a bíblia escreve necessariamente tem que ser extraído? Por acaso, eu pergunto: atualmente os judeus apedrejam adúlteras? Os cristãos queimam infiéis?
Os dogmas religiosos podem, de fato, induzir a uma imoralidade muitas vezes.
Conde- Pelo contrário, a má interpretação e o não entendimento dos dogmas é que podem levar a imoralidade.
Um caso é a preocupação infinitamente maior com os embriões humanos do que com a possibilidade de salvar vidas, oferecida pela pesquisa com células-tronco, que muitos cristãos condenam. Outro caso é a pregação cristã contra o uso de preservativos na África subsaariana, enquanto milhões de pessoas morrem de AIDS todo ano. A cruzada religiosa vale mais que seus resultados, fornecendo uma sensação de superioridade moral aos seus membros, ainda que à custa de milhões de vidas inocentes.
Conde- Aqui o Sr. Constantino mente, e mente de uma forma calhorda, falsificando até a ciência que diz postular e defender. Os embriões humanos também não são seres humanos? Por que alguns indivíduos seriam sacrificados em favor de outros? Por outro lado, se algumas pessoas não usam preservativos, é por causa da moral católica? Ou porque seguem a filosofia promiscua de que qualquer um pode fazer “sexo seguro” com quem bem entender? Partindo da lógica do catolicismo da fidelidade absoluta no sexo, os índices de aids seriam zerados. Se alguém pega aids na África é por causa da promiscuidade sexual, não porque as pessoas se recusam a usar camisinhas por quesitos religiosos.
Sam Harris afirma: “Qualquer pessoa que creia que os interesses de um blastocisto podem prevalecer sobre os interesses de uma criança com uma lesão na espinha dorsal está com seu senso moral cegado pela metafísica religiosa”.
Conde- Um embrião é menos gente do que uma criança? Quer dizer que é real negar a humanidade do embrião, do feto, como se eles fossem cobaias descartáveis em nome da ciência iluminada dos Constantinos e dos Harris? Metafísico mesmo é negar a evidência da vida onde ela existe.
A compaixão genuína pelo próximo, que independe da fé religiosa, desaparece para ceder lugar ao dogma religioso.
Conde- Pelo contrário, como os Srs. Constantino e Harris, embebidos pelas ideologias cientificistas que deram incremento ao materialismo biológico, negam as evidências fáticas da vida humana, mesmo na sua geração, parece que a compaixão genuína, por mais que independa da religião, ao menos a fé educa.
Além disso, o autor questiona: “O que é mais moral: ajudar as pessoas puramente pela preocupação com o sofrimento delas, ou ajudá-las porque você acha que o criador do universo vai recompensá-lo por isso?”
Conde- Cristo nos exorta a ajudar ao próximo, sem receber recompensa, pelo simples prazer de ajudar. Todavia, Constantino, o paladino da moral sem moralidade, agora quer ensinar aos cristãos aquilo que nunca cativou: a preocupação com o sofrimento alheio. É interessante como gente do tipo dele ou do Sr. Harris exige nos outros, aquilo que são incapazes de fazer. Quando se nega a dignidade do nascituro ou mesmo do embrião, não estamos negando mesmo a vida deles ou o direito de existirem?
Sobre a constante alegação de que o abandono da fé religiosa vai inexoravelmente parir regimes como o comunismo soviético ou o nazismo, Harris rebate com vários argumentos. Para ele, “o problema desses tiranos não é que eles rejeitam o dogma da religião, e sim que adotam outros mitos destruidores da vida”.
Conde- O Sr. Harris agora entrou num terreno do humor involuntário. O ateísmo militante que ele comunga não deu espaço às ideologias destruidoras da vida, já que negam um valor transcendental e intrínseco à existência humana? Quer dizer que Hitler ou Stálin não rejeitam os dogmas da religião? Eu bem gostaria de saber qual dogma cristão se baseia o marxismo da União Soviética ou o darwinismo racista do nazismo? Não é o mito cientificista do Sr. Harris quem causou isso, já que ciência, na sua linguagem, também é dogma? Atribuir à religião o que é cria do ateísmo moderno é pura canalhice.
Ele lembra ainda que “a maioria se torna o centro de um culto da personalidade quase religioso, que exige o uso contínuo da propaganda para se manter”.
Conde- Mas é essa a conseqüência fática da descrença na transcendência: os homens acabam se achando deuses. Na verdade, as ideologias materialistas são paradoxais: ao mesmo tempo que colocam certos homens como deuses, transformam outros como rebanhos de ovelhas.
No caso de Hitler, é importante lembrar que o próprio se dizia cristão, e tentou justificar sua luta contra o “veneno judaico” com passagens bíblicas.
Conde- Aqui o Sr. Constantino, mais uma vez, mente. Hitler se dizia cristão para ganhar votos de inocentes úteis estúpidos, que duvidavam da honestidade religiosa dele. Mas o que é o nazismo, senão a doutrina pseudo-cientificista da raça, a tal “gaia ciência” tão adorada pela consciência dos Constantinos ou Harris da vida? Será que o Sr. Constantino ou mesmo Harris não percebem que o nazismo é fruto do materialismo moderno, tal como o comunismo? Claro que percebem! Mas a tentativa de caluniar a religião por todos os métodos sujos é a tônica do discurso fuleiro deles.
Além disso, a Igreja Católica tem um passado vergonhoso de cumplicidade com o nazismo.
Conde- A Igreja Católica tem um passado nobre de defesa dos judeus contra o nazismo, inclusive, arriscando a vida de seus fiéis, liberando passaportes do Vaticano ou mesmo alocando refugiados em mosteiros e conventos na Europa. Falar de um “passado vergonhoso” inexistente da Igreja, quando na verdade, os pseudo-cientificistas como Constantino e Harris mal evidenciam que o nazismo é fruto da mitologia da ciência divinizatória, é um ato grosseiro de desonestidade intelectual.
Harris afirma que Auschwitz, os gulags soviéticos e os campos de morte do Camboja não são exemplos do que acontece quando as pessoas se tornam demasiado adeptas da razão. Não havia nada de racional nesses regimes.
Conde- Depende do que se entende por ótica de razão. Esses sistemas tinham um sistema lógico racional que justificava a matança de milhões de inocentes, embora a lógica, em si mesma, fosse absurda. Eles são filhos do materialismo e do ateísmo militantes, os mesmos pratos no qual comem Constantino e Harris, para depois cuspirem.
“O problema da religião – assim como do nazismo, do stalinismo ou de qualquer outra mitologia totalitária – é o problema do dogma em si”, explica Harris.
Conde- Mais uma vez, um ato notório de canalhice. O Sr. Harris confunde a idéia particular do mito com a religião mesma, como se as ideologias materialistas não fossem o ocaso da divinização dogmática da ciência moderna. A mitologia que engloba a ciência moderna nada tem a ver essencialmente com a religião. É tão somente a negação desta, ainda que tente roubar seus pressupostos e sua função mitológica. Ora, não é o Sr. Harris quem absolutiza a ótica da “ciência do século XXI”, no mesmo padrão que um geneticista racista do começo do século XX falaria com relação às raças? Não é esse mito que gerou nazismo e comunismo?
O ateísmo, Harris é forçado a lembrar, não é uma filosofia. Não é nem mesmo uma visão do mundo. Podem existir ateus honestos ou desonestos, morais ou imorais. O ateísmo é “simplesmente o reconhecimento do óbvio”.
Conde- Quem diz que o ateismo é reconhecimento do óbvio merecia ser enjaulado num hospício. É um sofisma que tenta colocar como evidente o que precisa ser evidenciado. É certo que um ateu pode ser uma pessoa honesta e cumpridora de deveres morais. Todavia, nunca se viu uma sociedade atéia criar pressupostos morais sérios. Pelo contrário, o laicismo levado às últimas conseqüências, deu no que deu no século XX: nazismo, comunismo, fascismo, etc.
Para Harris, o termo nem deveria existir. Afinal, ninguém precisa se identificar como “não-astrólogo” ou “não-alquimista”.
Conde- O argumento, por si só, é presunçoso e idiota. Se a priori, existe uma discussão que engloba tanto a idéia da existência ou a inexistência de Deus, logo, o ateísmo pode ser tanto uma realidade, como uma mera crença. São duas cosmovisões diferentes, que definem o estado de espírito dos indivíduos pela fé. Se Deus existe mesmo, o ateu não é aquele que não acredita em Deus, mas tão somente aquele que acredita que Deus não existe. Se Deus existe, um ateu pode ser um crente, ainda que sendo crente do nada.
Não há uma palavra para definir quem não crê que Elvis Presley continua vivo.
Conde- Há sim. É um descrente.
Harris conclui: “O ateísmo nada mais é do que os ruídos que pessoas razoáveis fazem diante de crenças religiosas não justificadas”.
Conde- Essa frase é de uma puerilidade caricatural. O cara expele uma frase que é tão somente um juízo de valor laudatório sobre si mesmo. Mas, partindo do pressuposto de que essa frase seja verdadeira, a falta de compreensão de Constantino nos assuntos de religião pode soar como algo não justificado das crenças que ele não consegue entender. Em suma, até o atestado de ignorância do Constantino (ou de Harris) pode ser uma atitude razoável. . .Credo quia absurdum est!
Para um ateu, basta o assassinato de uma menininha inocente para lançar dúvidas sobre a idéia da existência de um Deus benevolente.
Conde- Partindo dessa crença idiota, por que não poderíamos dizer “a humanidade é toda má"? Quer dizer que o ato isolado de um assassino responsabiliza Deus pelo ato?
Enquanto alguém, salvo por acaso de uma desgraça como o Katrina, credita seu Deus e sua fé por esse “milagre”, esquece-se que morriam afogados ao lado vários bebês.
Conde- A lógica ateísta precisa afirmar que o mundo é quase todo mal para culpar Deus por todas as mazelas dessa terra. Seria longo demais explicar as razões dos males do mundo, já que a teologia passou quase dois mil anos discutindo sobre as origens do mal. No entanto, há situações que parecem ser milagrosas e que desafia nossa compreensão. E parece que alguém lá de cima olha por nós, apesar de tudo.
É o narcisismo ilimitado e o auto-engano que fazem com que o sortudo se sinta todo especial, um escolhido por Deus.
Conde- Essa afirmação, invertida, seria a mesma que: “é o narcisismo ilimitado e o auto-engano que fazem com o que o sortudo, se sinta todo especial, não crendo em Deus”. Uma frase que não diz nada, apenas um juízo de valor presunçoso, de alguém que fala de si mesmo e daquilo que o desagrada. Ou seja, o juízo de um narcisista ilimitado.
Para Harris, quando cada um deixar de revestir a realidade do sofrimento do mundo com fantasias religiosas, sentirá como a vida é preciosa, justamente porque tudo pode ser abruptamente destruído, sem nenhum bom motivo.
Conde- Pelo contrário, da feita que todo mundo presumir que somos apenas compostos orgânicos que passarão num vazio existencial da terra, num mundo criado pelo vácuo e pelo absurdo, sendo abruptamente destruídos, não serão o nada sobre nada. Aí sim elas perderão todo o sentido de viver. O “mito” de que tanto fala o idiota do Sr. Harris, mas que é incapaz de entendê-lo, nada mais é do que o sentimento do homem de explicar aquilo que está além dele, ou mesmo de compensar a busca da transcendência. Quando a transcendência se perde no vazio, o homem se reduz à estupidez.
Desde muito se questiona o motivo da existência do mal no mundo. Por que Deus não pode ou não quer impedir tais calamidades? Seria ele impotente ou mau? O crente, diante deste dilema, fica tentado a executar uma pirueta, alegando que Deus não pode ser julgado pelos critérios humanos de moral.
Conde- Para quem leu um pouco de Agostinho, jamais um religioso sério falaria uma besteira desse naipe. Mas isso é besteira de ateu. Se há algo que existe na relação entre o bem e o mal é a liberdade de escolha. Deus ama de tal maneira o homem, que dá o juízo e a liberdade de escolher o que é certo, sem interferir diretamente em sua escolha. Essa seria a explicação da relação do homem com o bem e o mal.
Mas são justamente esses critérios que são utilizados para afirmar a bondade divina! Dois pesos, duas medidas. Observa-se somente um lado do mundo para louvar a grande benevolência do criador, ignorando-se todas as desgraças constantes.
Conde- O raciocínio poderia ser colocado de modo inverso, assim: “observa-se somente um lado do mundo a louvar as grandes desgraças constantes, ignorando-se toda a benevolência do Criador”. O mal existente no mundo prova a inexistência de Deus? A resposta é não.
Além disso, qualquer Deus que se preocupa com coisas tão triviais como o casamento gay ou o uso de seu nome em vão não é tão inescrutável assim.
Conde- Se é trivial Deus ter determinado a existência natural dos sexos, de repente o Sr. Harris ou Rodrigo Constantino talvez idealizem a humanidade de forma assexuada. . .ahhhh! falar de sexos é politicamente incorreto! Agora a moda é o “gênero”. . .
Os ateus, diante desse “dilema”, optam por uma possibilidade mais razoável e menos odiosa: “O Deus bíblico é uma ficção, tal como Zeus e milhares de outros deuses mortos que a maioria dos seres humanos mentalmente sãos hoje ignora”.
Conde- Ou seja, optam pela ignorância, já que desconhecem qualquer discernimento concernente ao Deus bíblico e um deus pagão. Eu poderia argumentar em favor de Deus, afirmando que, se a idéia da existência Dele é universal em todos os povos. Logo, a maioria dos seres humanos não ignora a transcendência divina. Mas por que será que o Deus cristão colocou todos os milhares de outros deuses mortos no esquecimento? O Sr. Harris e o Constantino vão proscrever alguma “ciência oculta” para nos explicar por que todas as sociedades crêem, de certa forma, em um Deus!
Outro ponto abordado pelo autor é o conflito entre ciência e religião. Para Harris, tal conflito é inevitável, pois “o sucesso da ciência muitas vezes vem às expensas do dogma religioso; a manutenção do dogma religioso sempre vem às expensas da ciência”. O cerne da ciência, segundo Harris, está na honestidade intelectual, ou seja, a avaliação honesta das provas e argumentos lógicos.
Conde- Que palhaçada! Quando o Sr. Constantino prega a favor do aborto, negando a humanidade do feto, ele está sendo honesto? Se a religião tenta conciliar alguma coisa é com a honestidade intelectual. Quando a Igreja diz que aborto é crime, ela se pauta na idéia científica de que a vida começa pela concepção. E nem sempre a ciência é necessariamente honesta. Da mesma forma que muitas e muitas fraudes foram atribuídas em nome da religião, o mesmo princípio de aplica à ciência. Foi em nome da ciência que se criaram as ideologias racistas, eugênicas, do aquecimento global e outras demais asneiras que fariam da religião recuperar uma boa parte de sua credibilidade. A outra afirmação estúpida é dizer que a religião não tem provas ou argumentos lógicos. A teologia cristã é quase toda ela feita de evidências históricas e argumentos lógicos, que comprovam a existência de Deus. O problema é discutir com dois analfabetos funcionais, que prenunciam que religião é coisa da “Idade das Trevas”.
Para ele, “a religião é a única área da nossa vida na qual as pessoas imaginam que se aplica algum outro padrão de integridade intelectual”. No fundo, ou uma pessoa tem bons motivos para acreditar naquilo que acredita, ou não tem. Ele completa: “Se houvesse boas razões para acreditar que Jesus nasceu de uma mulher virgem, ou que Maomé voou para o céu em um cavalo alado, essas crenças necessariamente fariam parte da nossa descrição racional do universo”.
Conde- A questão é que o universo religioso é algo que desafia muito de nossas conjecturas comuns. Falar do parto de uma mulher qualquer não é a mesma coisa que falar do nascimento de Jesus.
Acreditar cegamente em algo sem provas costuma ser considerado sinal de loucura em qualquer área fora da religião. No campo da religião, é visto como nobre ter certeza absoluta de coisas que ninguém tem como saber.
Conde- Eu queria saber se o Constantino sabe se o homem veio de um ancestral do macaco? Ele, sem dúvida, não sabe, mas deve crer nisso. A religião não é uma crença cega ou irracional, mas sim evidências partindo de testemunhos de pessoas que viram aqueles fenômenos extraordinários.
Além disso, Harris lembra que “é significativo que essa aura de nobreza alcance apenas aquelas religiões que continuam tendo muitos adeptos”. Afinal, qualquer pessoa que declarar ter certeza da existência de Posêidon será provavelmente considerada insana.
Conde- A diferença entre Poseidon e Cristo não somente é uma questão de razoabilidade, como uma demonstração contributiva de cada fé para o mundo. A figura de Cristo é muito mais significativa em todos os aspectos da vida ocidental, no âmbito da filosofia, cultura, artes, do que Poseidon. Isso porque, lembremos, Cristo, de fato, historicamente existiu, ao contrário do deus grego.
A postura científica costuma ser, com algumas exceções, uma postura de humildade perante o universo.
Conde- Quando vejo Constantino e Harris escrevendo sobre assuntos que não entendem, estou perfeitamente “convencido” dessa humildade. .
Ninguém sabe como ou por que o universo começou a existir, por exemplo. A maioria dos cientistas está disposta a admitir sua ignorância sobre tais pontos, levantando no máximo algumas teorias.
Conde- Puxa, que maravilha! Depois desse ato de piedade atéia dos dois, vou virar membro da seita deles. . .eu, pobre cristão coitado!
Não é essa a postura dos crentes. Ironicamente, o discurso religioso com freqüência alega sua suposta humildade, condenando ao mesmo tempo os cientistas por arrogância intelectual.
Conde- Quando os centros de cultura banem a religião como obscurantista e atrasada, sem debater seus pressupostos, ou mesmo querendo transformá-la como mero capricho privado, isso é algum tipo de humildade? Quando o Sr. Constantino compara o Deus cristão com uma seita do tal Flying Spaghetti Monster, isso é sinônimo de humildade? Não, isso é sinônimo de hipocrisia e cretinice, mesclada com a ignorância.
Na verdade, como lembra Harris, não existe nada tão arrogante do que a visão de um crente religioso: “o criador do universo se interessa por mim, me aprova, me ama e vai me recompensar depois da morte; minhas crenças atuais, vindas das escrituras, continuarão
sendo a melhor expressão da verdade até o fim do mundo; todos os que discordam de mim passarão a eternidade no inferno...” Pode algo ser mais arrogante e narcisista que isso? É caso para um divã mesmo.
Conde- Se O Sr. Constantino entendesse quais pressupostos religiosos se baseiam para se tornar verdadeiros e universais no tempo e no espaço, eu até debateria com ele. O problema é que tanto ele quanto seu guru Harris ignoram completamente qualquer significado da religião.
Concluindo, Sam Harris coloca: “Um dos maiores desafios da civilização no século XX é que os seres humanos aprendam a falar sobre suas preocupações pessoais mais profundas – sobre a ética, a experiência espiritual e a inevitabilidade do sofrimento humano – de maneiras que não sejam flagrantemente irracionais”.
Conde- Ou seja, a racionalidade só existe no pequeno e pobre mundo pseudo-iluminista dos umbigos do Sr. Harris ou de Constantino. Ou seja, a tal “ciência do século XXI”. É incrível com os dois abusam de expressões embelezadoras, que na prática, não dizem nada do seu verdadeiro significado. Que dirá então do termo “razão”, algo tão abusado, quanto depreciado?
No passado, como uma espécie de filosofia primitiva, as religiões podem ter tido sua utilidade. Mas “o fato de que a religião pode nos ter servido para alguma função necessária no passado não exclui a possibilidade de que hoje ela seja o maior impedimento para a construção de uma civilização global”.
Conde- Quais impedimentos? Por acaso a filosofia e o pensamentos cristãos no direito, na filosofia política e na cultura não criaram algo como Direitos Humanos? Será que o burro do Constantino ignora que o que concebemos “direito internacional” é todo desenvolvido pela filosofia e teologia cristãs? Mas eu já percebi qual a ideologia o Sr. Constantino e Harris comungam: deve ser a moralidade totalitária no plano global, através do ateísmo militante da ONU ou qualquer outra agremiaçãozinha politicamente correta, revogando tradições milenares instituídas. É muita areiazinha para o caminhãozinho dos dois ignorantes prepotentes.
A enorme quantidade de guerras religiosas que ainda ocorre no mundo é prova disso. São esses os grandes perigos da fé irracional.
Conde- Enorme comparada a quem? Às duas guerras mundiais? Ao comunismo? Ao nazismo? É certo que a religião, nas mãos de gente mal intencionada, matou muita gente. Porém, os ateus não estão no céu das virtudes: as ideologias laicas dos Constantinos e Harris da vida mataram muito mais. A fé irracional não é monopólio dos religiosos.