“Após ter então agarrado cada membro da comunidade e tê-los moldado conforme a sua vontade, o poder supremo estende seus braços por sobre toda a comunidade. Ele cobre a superfície da sociedade com uma teia de normas complicadas, diminutas e uniformes, através das quais as mentes mais brilhantes e as personalidades mais fortes não podem penetrar, para sobressaírem no meio da multidão. A vontade do homem não é destruída, mas amolecida, dobrada e guiada; os homens raramente são forçados a agir, mas constantemente impedidos de atuar; tal poder não destrói, mas previne a existência; ele não tiraniza, mas comprime, enerva, ofusca e estupefaz um povo, até que cada nação seja reduzida a nada além de um rebanho de animais mais tímidos e trabalhadores, cujo pastor é o governo”.
Alexis de Tocqueville.
A democracia, tal como se compreende atualmente, é algo que causa asco, repulsa, porque ela é um sinal moral de decadência. Existe uma desvirtuação dos valores, uma incoerência de princípios, que perverte as concepções instituicionais e políticas da democracia liberal. De fato, se há algo que a deturpa é, sem dúvida, a cultura “politicamente correta”, que ameaça as liberdades nos países democráticos. “Cultura politicamente correta”, por assim dizer, é a engenharia social totalitária das esquerdas no prisma dos valores, usando das artimanhas do Estado para controlar idéias, pensamentos, sentimentos e ações, ainda que de forma sutil e através dos métodos formais da democracia. Alguém me objetará e me rotulará de “fascista” por dizer isso. Mas é justamente por rejeitar esses métodos de coerção perversos no Estado democrático que estou longe de ser um fascista. Pelo contrário, o “fascismo”, no amplo sentido que essa palavra significa, combina perfeitamente com esses adeptos de uma tolerância postiça. Até porque, lembremos, a democratização do chavão antifascista surgiu dentro da propaganda de Stálin (que sabemos perfeitamente, não foi nenhuma maravilha de democrata). Nada melhor que a figura do ditador soviético para personificar a conduta do ativismo social de esquerda!
É curioso que os políticos encontrem mecanismos no âmbito da cultura para regulamentar questões que estão fora da esfera de sua prática. Hoje em dia a democracia não se contenta a legislar sobre condutas: ela agora interfere os gostos, nas aptidões, nas idéias e quer regulamentar julgamentos e “preconceitos” das pessoas. É assim que podemos dizer num ocorrido recente no estado de São Paulo; a Assembléia Legislativa, por obséquio dos caprichos de uma deputada, criou uma lei estadual estapafúrdia proibindo as crianças de comprarem coxinhas nas escolas públicas. A justificativa era a de que a comida engordava ou não era saudável; os garotos deveriam comer alimentos mais nutritivos. A lei não poupa nem mesmo os pirulitos, os doces, as pipocas, massas e folheados, que fazem a felicidade das crianças. Ou seja, para a idiota que criou essa lei, não somos capazes de ajuizar o que comemos; devemos ter a tutela estatal para escolher gostos alimentares. Ou pior, a deputada quer substituir a guarda dos pais, ao regulamentar o que os filhos dos outros devem comer. Inclusive, ela vai resolver os nossos problemas de auto-estima, já que nas palavras dela, os gordinhos vão sofrer com a aparência, coitadinhos. A débil mental ainda justifica o projeto nestes termos: "o cardápio inadequado nas escolas pode repercutir negativamente na saúde dos alunos, contribuindo para o desenvolvimento do sobrepeso, obesidade, dislipidemia (presença de níveis elevados ou anormais de lipídios e/ou lipoproteínas no sangue), diabetes, hipertensão, problemas hepáticos, doenças arteriais, sem falar na baixo autoestima, discriminação social, entre outros vários problemas." Se dependesse desses ursos sábios do Legislativo, o direito de saborear um bom prato estaria abolido para sempre, junto com os temperos: Pizzarias e churrascarias seriam fechadas; pipocas nos cinemas, nem pensar! O negócio mesmo é comer capim!
Na capital paulista, o Estado escolheu outra vítima: os fumantes. O prefeito de São Paulo, junto com os estúpidos vereadores da câmara municipal, indo na onda politicamente correta da Assembléia Legislativa de ditar gostos alheios, revogou o direito dos paulistas de puxarem sua cigarrilha em bares e restaurantes. Ao arrepio da permissão dos próprios bares, que permitem essa prática, o governo se acha na autoridade de ditar regras alheias à vontade do cidadão comum. Da mesma forma que somos idiotas o bastante para nos alimentarmos, os fumantes são idiotas o bastante a não se preocuparem com sua saúde. Quem sabe mesmo de saúde é o governo, mesmo que milhares de brasileiros morram em filas de hospitais públicos. Porém, não há o que se desesperar: o ministro da saúde, o famoso militante pró-aborto José Temporão, já falou que o SUS deveria ser elevado a patrimônio da humanidade!
O totalitarismo no cerne cultural dos comportamentos prossegue em coisas cada vez mais detalhadas e absurdas. Outro político, um deputado federal, sem ter mais o que fazer, inventou um projeto de lei para o Congresso Nacional, que mandará pra cadeia quem negar o holocausto judaico ocorrido na Segunda Guerra Mundial. Agora o Estado vai transformar em dogma qualquer sentido de crença sobre um fato histórico, por mais controverso que seja. Na realidade, o tal parlamentar imita a mesma ação que ocorrera na França, quando o Partido Comunista oficializou a mesma lei, mandando prender quem negasse o extermínio de judeus pelos nazistas. O absurdo desse projeto é criminalizar a pesquisa e dúvida históricas contrárias ao que é comumente aceito. Para se imputar uma lei dessas, será necessária uma “história oficial”, na qual os historiadores serão proibidos de questionar as crenças governamentais sobre os acontecimentos históricos. Ou na pior das hipóteses, é o Estado quem vai nos ditar o que é história.
É correto afirmar que o holocausto existiu, que o revisionismo histórico, em sua grande parte, é uma fraude e que os nazistas fizeram um crime abominável contra a humanidade. No entanto, como toda experiência histórica, há suas controvérsias, e da mesma forma que há fraudes no lado dos revisionistas, não é incomum haver fraudes também nas versões divulgadas pelas fontes judaicas. Houve muitos casos de pessoas que se diziam vítimas do holocausto e que foram desmascaradas como farsantes, mesmo no meio da comunidade judia. Contudo, o holocausto virou uma propaganda ideológica, um espantalho histórico do politicamente correto entre alguns segmentos judeus radicais, obcecados pela idéia falsa da “peculiaridade” ou “singularidade” do sofrimento deles. Isso porque, mesmo entre as fontes judaicas, os dados sobre os mortos do genocídio nazista são incertos. A disposição para “histórias oficiais” é aparato digno da União Soviética ou qualquer regime tirânico do século XX, que deseja moldar a história, não de acordo com as evidências e sim com a ideologia do poder político instituído. Todavia, o cidadão brasileiro médio pode renegar os dogmas da Igreja; pode renegar os dogmas da Cristandade; pode até mesmo renegar os valores da tradição judaica. Porém, se ele renegar o dogma de fé do holocausto vai pra cadeia. . .
A mesquinharia democrática não pára por aí. Ela é um fenômeno universal, da expansão das burocracias nos sistemas democráticos e no império do ativismo ideológico mais rançoso, na promoção destas burocracias, entorpecendo, tiranizando e imbecilizando a sociedade. Recentemente o governo inglês publicou uma lista de pessoas consideradas “personas non gratas” e que seriam impedidas de entrar no país. Entre os estigmatizados na lista, estão um extremista judaico, um militante do Hamas, um racista da KKK e um conservador religioso norte-americano, considerado “homofóbico”. Muita gente deve ter achado a medida belíssima, já que dá o aval da Inglaterra em ser o cúmulo da tolerância. A ministra do interior, responsável pela publicação dos estrangeiros malvistos, fez a seguinte declaração numa cadeia de TV de seu país: "Penso que é importante que as pessoas compreendam os nossos valores e as nossas normas... e o gênero de coisas que tornam quem quer que seja indesejável neste país (...) Se não é capaz de seguir as regras que são as nossas, os nomes e os valores, que são os nossos, será excluído deste país e, ainda mais, os nomes dessas pessoas excluídas serão tornados públicos." A ministra britânica mal percebeu a perversão do seu raciocínio. Ela simplesmente se acha no direito de responder por tudo aquilo que os ingleses pensam e que todos devem se adaptar ao modelo politicamente correto imposto por ela. Por outro lado, as pessoas colocadas na lista não estão sendo julgadas por suas ações e sim por suas crenças. Por mais abominável que seja um extremista judeu, um simpatizante do Hamas ou um racista da KKK, o direito de consciência compete a cada um e não cabe ao governo fazer juízo disso. Reitere-se, ela não falou de condutas, mas de crenças. No entanto, a ministra se acha a personificação da tolerância banindo aquilo que não a agrada. A monstruosidade é mais que clara: quem provara ser fanática, intolerante e visivelmente perigosa foi a própria ministra. Ela demonstra não tolerar qualquer pessoa que fuja do seu modelo de valores e de sociedade e usa da coerção estatal para impô-lo. Se ela pode decretar listas banindo estrangeiros por questões de consciência, em nome dos valores e das normas aos quais ela acredita serem “superiores”, que dirá então de qualquer pessoa moderada que divirja de seus iluminados conceitos? O governo britânico se esqueceu de colocar um nome na lista: o da própria ministra.
Malgrado o surgimento dos amantes da tolerância criando leis intolerantes pra todo mundo, a moda atual é oficializar uma lei, que se posta na prática, vai revogar não somente a liberdade religiosa, moral e ética, como criminalizar a consciência de vez. Esse projeto é a lei anti-homofobia e visa punir qualquer manifestação contrária ao comportamento gay. Em suma, se algum pastor, padre ou rabino pregar abertamente que o homossexualismo é errado, dentro do ponto de vista cristão ou judaico, vai pra cadeia. O mesmo destino será aplicado a qualquer pessoa incomodada com as manifestações públicas de práticas homossexuais. Os movimentos gays extremistas não estão satisfeitos com isso: nos EUA, em algumas igrejas católicas e evangélicas, eles já invadem os púlpitos e profanam os cultos, praticando orgias, beijando-se na boca e constrangendo os fiéis cristãos. No Brasil, Júlio Severo, um militante evangélico e blogueiro que denunciava a tentativa do movimento gay de criminalizar o cristianismo, foi duramente perseguido pelo movimento homossexual. O sujeito sofreu as mais absurdas hostilidades. Seu blog quase foi apagado e se não fosse por conta da pressão de alguns amigos e mesmo advogados, seu site seria tirado do ar. O chefe dos GLS da Bahia, Luiz Mott, publicou seu endereço, junto com o endereço de outros cristãos, para expô-los a agressividade dos gays. Não satisfeitos, esses fanáticos mobilizaram o Ministério Público Federal para processar o evangélico pelo crime de “preconceito homofóbico”. A lei anti-homofobia nem ainda existe e já estão criminalizando pessoas por razões de consciência. Julio Severo não suportou a pressão violenta: acabou saindo do país.
A criadora do projeto de lei 122/2006, que criminaliza a “homofobia”, parte do pressuposto mentiroso de que os cristãos e aqueles que rejeitam o homossexualidade são causadores de perseguição e assassinatos de homossexuais. Inclusive, a deputada criadora desse projeto totalitário diz que o foco de ação da lei é justamente os religiosos, em particular, padres e pastores que pregam juízos contrários à homossexualismo. A lei tem a proeza, em nome da “tolerância”, de revogar praticamente as garantias constitucionais de liberdade religiosa e de consciência, consagradas pela Constituição Brasileira. Na prática, o projeto é um ato sutil de censura prévia a qualquer tipo de opinião divergente do movimento homossexual. Tamanha ousadia não se limita somente a direitos de opinião: é uma lei que dá “super-direitos” aos homossexuais, quebrando a regra de igualdade de todos perante a lei e sacralizando a conduta homossexual como um comportamento distinto e provedor de privilégios a um determinado grupo. A monstruosidade do projeto é clara: ela criminaliza toda uma ordem de valores sociais conjecturados na tradição cristã, que rejeita o homossexualismo e, por conseguinte, a liberdade de pensamento e de opinião. Cada cidadão, de uma hora para outra, será elevado como potencialmente criminoso, por conta de rejeitar a conduta homossexual. Ele será obrigado, traindo sua consciência religiosa ou moral, a acatar algo que rejeita e que acha moralmente repugnante. Em parte, essa lei já existe em sua forma municipal, por conta da cidade de São Paulo, que parece, tornou-se o laboratório de engenharia social in vitro, preparando o espírito do país para tais loucuras. Os homossexuais podem cair em orgias, sodomia e todas as formas aberrantes de promiscuidade sexual na Parada Gay da Avenida Paulista sem serem criticados. Eles serão “intocáveis”. Pelo contrário, se alguém manifestar aversão a tais práticas, mesmo no púlpito de uma igreja, poderá responder processo na justiça. Já conseguiram expulsar um pobre evangélico, que não fazia mal a ninguém e apenas escrevia algumas verdades inconvenientes ao movimento homossexual. Que dirá então quando a lei passar no Congresso Nacional?
O Estado democrático não se limita a determinar gostos alimentares, cigarros, versões históricas, crenças políticas e religiosas ou gostos sexuais. Ele também invade a esfera racial e social quando cria cotas raciais e sociais em universidades, escolas públicas e ambientes de trabalho. O regime das cotas é um dos mais completos atos de demência educacional instituídos no país. Um país mestiço agora é obrigado a seguir as categorias de raça artificialmente fabricadas pelo governo e pelos engenheiros sociais, em particular, os militantes racistas negros. Eles cobram critérios de avaliações racistas sobre os alunos, para determinar o seu lugar na universidade, através da cor de sua pele. Ou mais, a luta de raças na escola é também a luta de classes. Os alunos de escolas privadas terão o ônus maior ao fazer uma prova, já que os alunos de escola pública terão privilégios distintos de avaliação. A premissão marxista é notória: como os alunos de escola privada são os "ricos privilegiados", eles devem ser prejudicados em favor dos "excluídos". O Estado, em nome da tolerância, da democracia e da igualdade, gera as mais monstruosas discriminações de classe e de raça: criou um regime de castas dentro da educação, na qual alguns alunos são mais iguais do que os outros.
O paradoxo da democracia atual é criar estigmas sociais e preconceitos odiosos às bases civilizacionais de seu sistema: a família, a religião, a conduta ética cristã, a Igreja, os conceitos cabais da justiça, da liberdade, etc. Ela promove os mais monstruosos controles sociais e estatais sob o pretexto de “corrigir” as consciências alheias, na prática, com o intuito de destruir as liberdades e os conceitos éticos, morais e institucionais dentro dos países democráticos. Nunca, na história humana, o governo exigiu tanto poder contra o ser humano. Só encontramos um fenômeno parecido no Estado nazista ou soviético. O império dos políticos medíocres, dos senhoritos arrogantes, dos ativistas sociais fanáticos, impregnados de crenças totalitárias, é uma ameaça às instituições democráticas, porque todos eles estão em lugares de proeminência: nas faculdades, escolas, mídia, centros de poder, desvirtuando, corroendo e lentamente destruindo as bases civilizacionais na democracia. Já dizia um astuto escritor: “a democracia é a causa da ditadura”. Nada mais profético do que esses tempos para comprovar essa terrível verdade. E como diria Tocqueville, os braços da burocracia estatal se expandem, até que cada nação seja reduzida a um rebanho de ovelhas, cujo pastor é o governo!