sábado, abril 21, 2007

O bruto ou um Deus. . .

Aristóteles dizia que o homem anti-social ou é um bruto, ou é um deus. O filósofo nos dá dois extremos à margem do homem: a auto-suficiência divina e a rudeza animalesca. Tal análise não só nos dá uma definição de duas antíteses da humanidade, como mesmo o conceito desta: o meio-termo. A auto-suficiência não existe no homem, pois precisa dos seus semelhantes para sobreviver; e o bruto destrói o convívio social e humano, e, por conseguinte, a si mesmo. Esse raciocínio não somente se aplica à sociabilidade humana, como também ao conhecimento: o homem está no meio termo entre o divino e o brutal. Ele tem a faculdade de conhecer, mas não é e jamais será divino, porque não pode chegar na totalidade e no absoluto que representa a divindade; e a faculdade mesma de conhecer, que é sua capacidade de perceber e racionalizar as coisas o livra da animalidade.

Diz a bíblia que somos a imagem e semelhança de Deus. Essa linguagem diz respeito a uma faculdade humana, dada pelo divino, que é pensar a criar. Tal como Deus, o homem possui uma individualidade que o caracteriza como ser pensante e consciente. No entanto, essa capacidade de criar e pensar têm seus limites, já que enquanto Deus representa o absoluto e cria algo do nada, somos apenas uma sombra Dele e transformamos algo daquilo que já existe. Isso porque a consciência desenvolvida pelo homem nem sempre segue os liames da realidade, nem os desígnios divinos. Daí os aspectos da Revelação e da religião, para orientar aquilo que já existe no homem, só que de forma implícita, ou seja, através da lei moral de sua consciência e do direito natural. Mas há um aspecto curioso dessa relação entre o bruto e o divino: a busca da divindade humana o brutaliza. Em outras palavras, os extremos da ferradura se cruzam nas pontas.

A rebelião de Adão no paraíso do Éden é uma das histórias mais curiosas das Escrituras, senão das mais complexas. Há de se compreender tal texto como uma metáfora do homem, da rebelião gnóstica da humanidade contra a realidade instituída por Deus. Quando o primeiro homem come do fruto proibido da árvore do bem e do mal, manifesta-se o desejo humano de se tornar divino, deturpando o projeto original da criação. Só que Adão descobriu que era limitado demais para ter poderes divinos, e que a sua rebelião contra o poder de Deus, era também uma rebelião contra a sua própria natureza e a ordem das coisas. Em suma, o homem conheceu a corrupção moral e existencial.

A queda do homem adâmico é uma metáfora que retrata muito bem o século XX: muitos homens, rebelados contra a divindade, rebelaram-se contra a natureza das coisas, e, no final, acabaram se autodivinizando. Ou pior, tornaram-se brutos. Uma história, em particular, impressiona muito, pela dramaticidade quase beirando à patologia depressiva: os últimos dias de Hitler. Esses ocorridos são muito bem retratados em um filme alemão, chamado, “A Queda”, que mostra a decadência de um ditador tirânico e monstruosamente sanguinário.

O aspecto mais monstruoso do filme é a prova cabal de como um poder ilimitado e divinizador pode desfigurar um homem. Hitler, nos seus últimos dias de vida, em um bunker cercado de saraivadas da artilharia soviética, é acometido de delírios de grandeza, crendo que a situação poderia estar salva. Os seus generais, medrosos, temem falar a verdade para o seu líder. Em uma cena patética, o ditador manipula exércitos imaginários no tabuleiro de estratégia militar, na esperança de uma reação armada contra o exército vermelho. Para quem tinha dominado uma parte da Europa e almejava conquistar o mundo, era apenas um deus imaginário, comandando um mundo mais imaginário ainda. As pessoas no bunker são envolvidas no sintoma psicótico do ditador. Elas sabem da realidade, sabem do fracasso da Alemanha, da iminente derrota do regime nazista; porém, apáticas, depressivas, quase à loucura, seguem os últimos percalços do seu déspota auto-divinizado. Rebelam-se contra a verdade dos fatos.

A realidade não era o que todos viam, mas as loucuras de seu chefe. Hitler se cria onipotente, onisciente, como, aliás, sua ideologia refletia uma cosmovisão quase divina. O nazismo se postava como uma nova Revelação, em que muitos creram, aderiram piedosamente, tal como os apóstolos de uma nova fé. Visava corrigir as imperfeições da criação divina, em uma nova criação. A supremacia de uma raça eleita na terra e a destruição dos judeus malditos e dominadores era uma espécie de profecia do paraíso celeste para muitos alemães. A bíblia era o Mein Kampf; o Messias era Hitler, a expressão da deidade na Terra; e a suástica era sua cruz. Há um paradoxo demoníaco na doutrina nazista: o ódio antijudaico é a antítese de um verdadeiro povo eleito das Escrituras, para recriar um novo povo eleito pagão, em sua versão caricatural. É a deformidade ideológica do pensamento nazista que dá incremento a uma verdadeira imitação desfigurada de um povo eleito, com uma doutrina insana. A nova aliança de Hitler com a cumplicidade de seu povo “eleito” é uma ligação dos arianos com as Valquírias, os deuses germânicos. Isso incrementava uma dose de eternindade, no “Reich de mil anos”. Como na parábola dos cegos, fingem-se de cegos, guiados por um cego, e ameaçam cair no abismo. Alguns oficiais dão um tiro na cabeça. A mulher de Goebbels não suporta o mundo sem o nacional-socialismo: envenena os seus seis filhos e se mata, junto com seu marido. Até a esposa do Führer toma cianeto. Outros caem na orgia, esperando o pior. Estavam presos nas armadilhas doentias de seu líder, de seu verbo encarnado. E quem ousasse questioná-lo, era sumariamente morto e executado como herege. Foi o que ocorreu com o cunhado da esposa de Hitler, que questionou sua loucura no bunker e morreu fuzilado.


Hitler, o gnóstico divinizado, oscila entre a passividade e a histeria. Trata sua secretária com polidez, no meio da loucura e das ruínas de Berlim, como se nada tivesse acontecido. Enquanto isso, cai num acesso de fúria, quando descobre que alguns oficiais se rendem, entre os quais, seu próprio assecla, Himmler, um dos arquitetos da “solução final” judaica. Insatisfeito, impõe regras draconianas contra seu povo e quando descobre que a derrota é iminente, deseja loucamente a destruição do próprio povo alemão pelos russos. Então ele se mata.

Se Hitler era o gnóstico dos alemães, Stalin era o gnóstico dos russos. Não seria mera coincidência perceber que os dois tinham muita coisa em comum. Pelo contrário, não somente foram aliados políticos, como nutriam admiração mutua um pelo outro. A sanha assassina e os delírios de grandeza tão comuns a Hitler, eram perfeitamente encontrados em Stalin, em escala tão piorada quanto. A doutrina gnóstica era quase a mesma, um evangelho do mal: a criação de um paraíso terrestre e abstrato, com o sacrifício das pessoas reais, na ideologia messiânica, igualitária, redentora e milenarista do comunismo. Dizia um observador, que Stalin era um homem capaz de sacrificar nove décimos da humanidade, para agradar a um décimo que fosse seguidor dele. Era o “guia genial dos povos”, o “defensor dos oprimidos”, o líder mundial a ser seguido como um deus, por todos os comunistas do mundo. Pôsteres, estátuas, cartazes, poesias e músicas divinizavam o insano homem da Geórgia. A demência absolutista comungava de sua sina persecutória e de violência e terror. A obsessão paranóica por movimentos conspiratórios, incrementava a sede sanguinária do homem. Dizem que a loucura de Stalin era tanta, que quando a Alemanha nazista invadiu a União Soviética, não somente ele custou a crer na história, como os seus oficiais tremeram de medo de falar a verdade. Só um marechal, que surpreendentemente sobreviveu aos expurgos, disse na cara de Stalin, a verdadeira situação da Rússia. O mesmo procedimento divino de Hitler dominava Stalin: nos seus últimos anos da vida, cada vez mais fugia da realidade, cada vez menos os subalternos diziam a verdade. As mentiras eram comuns dos seus áulicos medrosos e bajuladores. Mentia-se muito para agradar aos delírios do ditador. Como, aliás, tudo na União Soviética era mentira: as rádios, os jornais, as estatísticas da economia planificada, as exaltações do socialismo, as propagandas; todo mundo fazia o papel de um artista de um palco de malucos, todos no consenso da mentira, para agradar ao tirano e sua polícia política.

Até no ocidente a mentira era contagiosa. Porém, mentia-se no ocidente mais por delinqüência, corrupção descarada, do que por fé religiosa: muitos intelectuais, artistas, professores universitários e militantes simpáticos aos comunistas mentiam por objetivos menos “nobres”. Mentiam por dinheiro, status e poder dados pelo Partido. Havia um ou outro estúpido que mentia, porque acreditava nas fantasias do seu líder divino. Entretanto, qualquer pessoa sabia daquelas histórias de crimes, devassidões e barbaridades que ocorriam contra o povo soviético. Sabiam e fingiam não saber. Simplesmente faziam vistas grossas e participavam do circo. Quando o tirano morreu, os seus fieis devotos, antes apalermados, cuspiram no seu ídolo e foram salvar sua alma na relíquia de formol e trapos do Kremlin: o cadáver do Lênin, o velho Lênin! Na sandice da gnose, quiseram sacrificar o seu antigo líder pela ideologia que o gerou.

Exemplos de sobra existem no século XX, da revolta contra Deus e contra a humanidade: a análise de Aristóteles continua atual, como também a mensagem bíblica. Os déspotas e tiranos se desumanizam, contudo, não viram deuses. Aqueles que se passam por tais, supondo usurpar o lugar de Deus, tornam-se anti-sociais, e, no final, brutos. A divinização do homem rebaixa-o a um nível tal de indigência moral, que o torna um monstro irreconhecível, incapaz de se relacionar com seus semelhantes. Ele carece de inteligência e piedade para ser divino e despreza tanto a humanidade, por considerá-la inferior, que acaba destruindo-a. O notório desdém dos ditadores pela humanidade vem desse desejo incontrolável de poder divino, sem a devida piedade e amor que o divino tem com o sofrimento humano.

E a busca total da divinização do homem o sujeita a um grau de alienação, de ignorância e estupidez, que ele perde a noção mesma da realidade. É como na Torre de Babel: os homens, na presunção de se alcançar a Deus, acabam confundindo as línguas. A auto-suficiência laudatória bestializa a humanidade, presa num bunker, sem contato com o mundo exterior. O autismo mental de Hitler e Stalin é a psicose de dois homens que achavam saber de tudo, não sabendo de nada! Acabaram loucos. . .e brutos!

terça-feira, abril 17, 2007

Paradoxos progressistas sobre o aborto.

Este texto curto tem uma história curiosa: escrevi na casa de um amigo, numa viagem que fiz pelo sul. Assistindo alguns comentários a respeito do aborto, eis que redigi o artigo, analisando as premissas da militância abortista. Completeio-o no dia 20 de fevereiro de 2005, em Araucária, Paraná. Fiz umas mudanças adicionais, mas, no geral, a essência do texto é a mesma. Na época, as poucas pessoas que o leram, em específico, as militantes pró-aborto, ficaram irritadas. Paciência, é pra irritar mesmo!

Há na opinião dos círculos dito “progressistas”, certas curiosidades paradoxais em relação ao argumento pró-aborto. Os movimentos feministas e esquerdistas tentam, em particular, por todos os meios, não somente censurar ou podar os aspectos morais e religiosos embutidos sobre o assunto; eles também policiam em linguagem e pensamentos, com rótulos disseminados contra aqueles que contestam moralmente tal prática. Neste ínterim, os religiosos anti-aborto são encarados como figuras retrógradas, fruto de uma moralidade mística anticientifica e repressora, enquanto supostamente negam os “direitos” da mulher sobre seu próprio corpo. Muitos comentaristas pró-aborto em nossa imprensa já estereotiparam os católicos e protestantes como seres fanáticos, inimigos da razão, obscurantistas, pelo simples fato de defenderem o direito a vida do nascituro, considerado apenas um mero composto químico sem forma humana.

Um velho argumento maniqueísta aí é aplicado, porém, que convence muitos tolos: a idéia “reacionária” de defender a vida do nascituro, recusa o direito “progressista” da mulher de ter o poder sobre o próprio corpo. Mas tal argumento sobre o próprio corpo esconde um leve sofisma: o fato de a mulher ser proibida de abortar não nega o direito sobre si mesma e sim sobre a vida do nascituro. E o paradoxo mais grotesco do progressismo materialista apregoado pelo feminismo é esse: em nome de uma suposta soberania do corpo feminino, o feminismo militante exige que a mulher tenha plenos poderes de vida e morte sobre o filho. Isto implica vários outros paradoxos brutais pela seguinte razão: a de que a militância pró-aborto absolutiza de tal maneira a autoridade materna, a ponto de destruir a vida do próprio filho. E pior, essa autoridade materna absoluta é suicida, pois dispõe a própria renúncia da maternidade feminina, na destruição de uma vida que lhe é alheia e que dá razão a sua própria maternidade.
Devemos nos atentar aos argumentos pró-aborto: a “liberdade” da mulher em escolher a geração da vida e a “autoridade” sobre o próprio corpo. Nestes dois argumentos, no primeiro caso, só há liberdade de escolha moral válida, quando a mulher possui o direito ou não de engravidar. A liberdade de ação aí implícita é uma liberdade de agir sobre si mesmo, não sobre os outros. Direito de escolha se tem sobre nós mesmos ou a nossa vida, não sobre a vida dos outros. Somente neste aspecto podemos dizer que a mulher “tem” a liberdade e autoridade sobre seu próprio corpo. Todavia, essa liberdade e autoridade, no que diz respeito a uma escolha futura da maternidade, não lhe dão poderes nem liberdade de dispor da vida alheia quanto esta é gerada. Eis outra questão: até que ponto se estende essa liberdade e autoridade sobre o feto? Em tal caso, as pregações feministas são uma mistura de incoerência lógica e até desonestidade. Pois a autoridade sobre o corpo naturalmente exclui a autoridade sobre o feto ou embrião que está para nascer, já que o nascituro é um outro corpo, uma outra vida dissociada da mãe. A vida do feto, em suma, não está sujeito a autoridade da mãe.

Se a pose “progressista” é apenas uma roupagem de um reacionarismo despótico, é divertido pensar que a Igreja Católica e outras religiões tradicionais, com todo o conservadorismo, estejam muito mais à frente do seu tempo, ao defender o direito a vida do nascituro. A “autoritária” religião cristã defende o direito de existência do feto precisamente contra o poder de vida e morte da mãe; eleva a vida humana acima de uma maternidade niilista e despótica em torno dos caprichos de uma vontade arbitrária contra um ser humano. O radicalismo da Igreja neste aspecto é maior, uma vez que ela mesma diverge do aborto até nos casos de estupro. É claro que a opinião católica a respeito do aborto nos casos de estupro pode parecer extrema ou radical, uma vez que impõe uma condição muitas vezes conflitante à própria mulher vitima de violência. Contudo, sem querer alongar este tópico, polêmico dentro do âmago da igreja, parece que o catolicismo e as religiões tradicionais se prestam a ser mais coerente com seus princípios do que a própria militância feminista pró-aborto.

Há outro imperativo ético no cerne dos que são contrários ao aborto e que a militância progressista ignora: a idéia mesma moral do respeito à vida. Eis porque quando o imperativo moral é jogado contra o aborto, a militância engajada deplora os aspectos místicos da vida e apela aos critérios “científicos”, e, portanto, aparentemente “amorais” sobre o assunto. A relativização da vida é uma característica deste discurso, querendo reduzir a vida gerada no ventre, como se fosse mero composto químico que poderia ser jogado no lixo. Atribuir a vida que ainda está sendo gerada como mera célula orgânica ou apenas um bichinho que nada tem a ver com a vida é praticamente negar a humanidade de nosso próprio nascimento. Se na gestação da vida o homem não pode ser considerado humano, o que de fato vai gerar além daquilo também pode ser descartável como não humano, o que seria no mínimo, uma incoerência lógica. Aliás, é o que de fato ocorre, pois são omitidos a um público, os efeitos terríveis das práticas abortivas. Elas são por sua natureza muito violentas. Pode-se dizer que o feminismo que defende o aborto não é, nem um pouco amigo das mulheres. Pois o aborto expõe as mulheres a problemas terríveis, não somente na área da saúde física, como na saúde mental. Todavia, o simulacro da linguagem pseudocientífica camufla uma profunda indigência moral. O aborto como argumento cientifico é pretexto para uma completa omissão do discurso moral e ético sobre a vida e sua relação com a ciência. Mesmo porque a ciência não está acima da vida e do bem estar humano. E os aspectos místicos da vida que a religião aborda, no seu culto ao sagrado, são conceitos que estão acima de um mero discurso científico.
Se a mãe pode decidir sobre a vida do feto ainda não nascido, o que falta para decidir sobre os próprios filhos em outras fases da vida? Há as justificativas aparentemente externas, como a miséria, a incapacidade de sustentar os filhos economicamente ou as adversidades sociais como um todo. Porém, se a adversidade social for motivo para obstruir a vida, o que falta fazer para que as mães que concebem seus filhos não os matem de vez, toda vez que eles tiverem alguma dificuldade financeira? Por que uma fase da vida do ser humano teria prioridade sobre outra, no sentido de dar autoridade plena a mãe sobre a vida dos filhos?
Se a Igreja um dia foi condenada no passado por defender uma autoridade patriarcal autoritária, é comicamente retrógrado pensar que feministas defendam o poder de vida e morte de uma matriarca, o que é um sinônimo de despotismo tal, que nem mesmo a Igreja Católica, em sua longa historia, endossou por completo. Muito pelo contrário, a fé judaico-cristã sempre colocou a vida em primeiro lugar, e se o catolicismo fez algo, foi defender as crianças dos abusos dos pais. De fato, os argumentos feministas da autoridade absoluta da mãe sobre o nascituro parecem os velhos patriarcas com plenos poderes de vida e morte sobre os filhos. São, na verdade, as patriarcas de saias, tal como o “pater famílias” romano. Se o patriarca romano tinha o poder de vida e morte jogava seus recém-nascidos no esgoto, as feministas querem ter direitos assemelhados ou maiores que isso. Essas militâncias querem ressuscitar, por argumentos, um poder tão anacrônico quanto nefasto, apenas para satisfazer uma vaidade provinciana de uma “liberdade”, que na verdade, é pura inversão moral.

Há outro jogo retórico na boca dos pró-abortivos: a escolha individual sobre o aborto. Ainda que certas pessoas possam discordar do aborto, crê-se num imperativo de escolha pessoal, inclusive, na idéia de não criminalizar a prática, como se ela tivesse elementos totalmente subjetivos. Contudo, se o direito de tirar a vida de um ser humano é uma escolha permitida, dentro de um processo de formação da vida, o que impedirá de matar em outras fases da vida? O aborto não pode ser uma escolha legítima, porque não é um ato de liberdade em torno de si, mas o arbítrio de um contra a vida de outro. Será que poderemos tirar a vida reduzindo a mera escolha subjetiva, sujeitando a vida de um ao bel prazer de outro? Ainda que os progressistas de plantão falem e reverberem certos “direitos” ou clichês relacionados à mulher, parece que no mínimo, a comicidade do argumento é de um retrocesso atroz, um paradoxo de nonsenses, em suma. Pior é culpar de reacionários, esses que, de fato, defendem sinceramente a vida. Não somente é nonsense do ponto de vista lógico, como uma verdadeira manipulação retórica, além de uma distorção moral.

sábado, abril 14, 2007

Concorrência, justiça e liberdade!

Este texto foi escrito em 08 de outubro de 2003. Republico-o pela atualidade de seu tema, a despeito dos mitos grosseiros contra a livre concorrência...

A livre concorrência mercantil como fator de progresso social é muito criticada por uma boa parte da inteligentsia militante, já que ela é teoricamente culpada de reproduzir as desigualdades sociais em nossa sociedade. Para muitos intelectuais radicais, a competitividade do livre mercado seria a apologia de um aparente individualismo “egoísta”, uma vez que exclui a solidariedade ao próximo, em favor de interesses particulares ilegítimos. Ou que a concorrência levaria uns a insegurança ou a exclusão de recompensa, a quem não dispõe de méritos pessoais para uma finalidade de eficiência. Em contrapartida ao dilema da concorrência “injusta”, que levaria ao egoísmo e a “exclusão social”, para alguns, a solução seria abolir ou redimir a competição em nome de uma seguridade social. Neste modelo, pouco ou nada se avaliaria quanto aos méritos subjetivos de cada um, e sim um propósito de solidariedade coletiva, através de uma coesão forçada de valores, pensamentos e aptidões. .

O grande mito por trás de intenções como “segurança social” e “solidariedade coletiva”, é que tal unidade de princípios, aptidões e idéias que nivelam os indivíduos, só seria possível através da coerção mais sombria, com um preço terrível em desfavor da liberdade. Pior, invoca-se uma contradição de termos, uma vez que, se a livre concorrência permite uma pluralidade de padrões a serem avaliados, numa sociedade uniformemente padronizada, poucas opções teriam àqueles que fugissem de padrões preestabelecidos. É comum que tal principio seja encontrado nas esquerdas moderadas e radicais, além de outros totalitários, inclusive os de extrema direita, que presumem no culto da coletividade e na negação do individuo, a panacéia pronta dos problemas sociais.

Contudo, há um profundo sofisma lógico em tais avaliações “críticas” dos critérios da concorrência em nossa sociedade pluralista. Caberia fazer uma colocação desafiadora, porém, real: a concorrência de mercado é um dos fatores mais significativos da liberdade individual e da democracia.

No mais, a concorrência, em vários âmbitos da vida, é um dado inerente e natural da conduta humana. A competitividade, muito antes de “roubar” e frustrar as iniciativas daqueles que não foram escolhidos, talvez seja um dos mais eficientes critérios de avaliação que possa existir entre as pessoas, já que seus efeitos não são previstos e tudo depende do esforço pessoal de cada um. A concorrência não enraíza a felicidade ou infelicidade de cada um, mas sim a recompensa pelo esforço de quem batalhou melhor.

Nivelar por baixo qualquer grau de merecimento, não somente é algo imoral, como injusto, pois pune o esforçado e o batalhador em favor do menos esforçado. Premia-se o demérito e recompensa a incompetência. Aliás, tal raciocínio de que a felicidade de uns é causa da infelicidade de outros, muito antes de nos dar uma lição moral, não passa de uma cultura de invejosos, incapazes de sofrerem os reveses da vida, sem iniciativa própria para buscarem o melhor de si.

A concorrência em si mesma não exclui os menos capacitados. Por uma seguinte razão; a competitividade e seus critérios de avaliação são pluralistas, pois nenhum padrão definitivo pode ser totalmente imposto ao esforço que cada um compete ao melhor de si. Na melhor das hipóteses, os critérios de qualidade na competição se tornam mais complexos e podem ser aproveitados com riqueza e criatividade. Não é por acaso que na sociedade de consumo, como no mercado de trabalho, a competitividade tende a levar a sociedade num aperfeiçoamento qualitativo permanente de bens e serviços. Na prática, as comparações inerentes ao regime de concorrência engendram a prosperidade social.

A competição não exclui, como relata os seus críticos, o ideal de solidariedade e de compartilhamento social. Até porque a concorrência é apenas um critério de avaliação de méritos e serviços, e um juízo de valor e recompensa em função destes méritos. É claro que a concorrência deve ser embasada em valores de respeito e honestidade nos tratos com as pessoas e seguindo regras justas de competição, sem o qual, a desunião pode imperar. O que causa desagregação, essencialmente, não é a concorrência em si, mas a concorrência desonesta e desleal, cuja finalidade desmerece todo o sentido positivo da verdadeira e justa concorrência. Do resto, concorrência e solidariedade não se excluem. Na melhor das hipóteses, a livre concorrência cria um verdadeiro código de conduta social, em que o exemplo de mérito e do esforço pessoal é visto como algo positivo.

A concorrência, antes de causar desigualdades e injustiças sociais, é uma das mais transparentes e igualitárias práticas em uma sociedade democrática. Por uma questão muito simples: a concorrência é essencialmente inimiga dos privilégios. Os intelectuais que desejam abolir a concorrência em nome de um poder político autocrático e justiceiro, mal percebem o quanto impõem a mais grotesca injustiça, quando distorcem os critérios da competição.

Porque as escolhas deste poder não dependerão do esforço pessoal de cada pessoa, e sim das escolhas arbitrárias que tal poder pretensamente “justo” quer impor como ideal. Não é por acaso que os socialistas e comunistas, desejando criar a sociedade “justa” através de um igualitarismo distributivista e nivelador das diferenças, no aval de um Estado onipotente, acabou por criar os mais detestáveis privilégios. Não é por acaso que em nome de “diminuir” as desigualdades, muitos movimentos socialistas promovem as mais gritantes mamatas, desfazendo o mérito e a eficiência pessoal, em favor de escolhas autoritárias e escandalosamente iníquas. Essas distorções são visíveis nas criações de “direitos sociais” a grupos minoritários e específicos, em detrimento da grande maioria da sociedade. Ou de concessões embasadas em parâmetros de ideologia política. No final das contas, como os critérios de avaliação são políticos, vale muito mais a lealdade submissa ao poder do que necessariamente a competência e independência pessoal.

Ou pior, impondo padrões monolíticos de avaliação e mérito, e impedindo a mobilização e autonomia de um sistema plural de padrões, a sociedade tende a declinar em todos os sentidos da vida social, pois ela é impedida de se desenvolver. Uma sociedade que não se aperfeiçoa econômica e socialmente através de um sistema que busque o melhor de si, tende a cair em decadência. No mais, como os critérios são politicamente autoritários e depende da escolha voluntarista de um poder centralizado, qualquer critério de avaliação que fuga de tais padrões impostos, será marginalizado e excluído.

Não é mera coincidência que os regimes de inspiração comunista ou socialista acabaram por arruinar vários países em todos os sentidos. O que poderia ser a livre concorrência, na democratização do mérito, calcada na soma de esforços conjuntos de cada cidadão em suas escolhas pessoais, acabou sendo monopólio de escolha de uns poucos eleitos do poder estatal e político. Tal comparação apenas prova que no regime de concorrência, a avaliação do mérito não é monopólio de ninguém. Idéias contrárias ao significado do mérito e da eficiência, muito antes de serem injustas, são até adversas ao espírito democrático, calcado no direito e na igualdade.

Ë igualmente contraditório a asserção crítica contra o sistema de mercado, no que diz respeito a idéia marxista de concorrência. Para muitos setores ditos “progressistas”, a competição de mercado levaria a ruína do próprio mecanismo, na criação natural de setores monopólicos privados. O mais contraditório deste argumento, contudo, é a solução encontrada nos pensadores anticapitalistas, ou seja, a substituição do regime de concorrência livre por simplesmente outro regime de monopólio absoluto do Estado sobre a liberdade econômica.
A concorrência, antes de levar-nos ao monopólio privado, é o único mecanismo eficaz de evitar que os monopólios prosperem, uma vez que a tendência constante a competição livre impede que as empresas imponham regras abusivas no mercado. Aliás, a crença de que o mercado gera naturalmente monopólio provou-se historicamente falsa, visto que o mito nasceu do mecanismo dialético marxista e uma análise econômica mais séria derruba tais argumentos.

O termo tirado do marxismo, "de cada um segundo a sua capacidade, a cada um segundo a sua necessidade", tem um significado contraditório na boca dos socialistas inimigos da liberdade de concorrência, em particular no mercado. Como medir a capacidade ou a necessidade de alguém, senão pela avaliação de custos, benefícios e méritos de cada um? Se as necessidades e capacidades de alguns e de outros são desiguais, como seria possível nivelar isso?

O principio pelo qual “se todo mundo busca o melhor de si através de seus esforços, busca o progresso social” (termo tão vilipendiado entre os socialistas mais aguerridos), possui sentido concreto, na medida que, se cada um se esforça em melhorar, logo, o conjunto também tende a aperfeiçoar. Nada mais claro, visto que cada um conhece melhor do que ninguém as suas reais necessidades, possibilidades, escolhas e limitações. E a concorrência, como algo inerente aos esforços pessoais de cada um, é reflexo desta busca de bem estar individual.

terça-feira, abril 10, 2007

O mundo governado pelos despeitados. . .


Um dos piores sentimentos da humanidade é a inveja. Ela não somente é nociva pra quem a sente, como para quem a sofre. O invejoso almeja aquilo que não consegue ter e como é incapaz de conseguir, não quer que ninguém tenha. Aí só resta desejar a destruição daqueles que estão em melhor posição do que ele e não construir nada. Se por um lado, o invejoso destrói, por outro, o invejado acaba sendo vítima das mais sórdidas canalhices. Os seus méritos são depreciados, suas qualidades são podadas, seu empreendimento é boicotado por um canalha incompetente, que odeia sua vitória.

Todavia, parece que o invejoso sofisticou sua perfídia. Para disfarçar o sentimento de inferioridade, ele invoca elevados sentimentos morais ao chantagear e destruir uma pessoa. Na pior das hipóteses, ele quer destruir uma sociedade inteira que odeia, porque é rejeitado por ela. No final das contas, todas as ideologias politicamente corretas são formas racionalizadas de justificar a inveja, uma perfeita conspiração dos medíocres para difamar, subjugar e destruir os melhores. A eficácia da inveja, nesses casos, é convencer a pessoa invejada de que suas virtudes e qualidades são alguma forma de pecado ou mal. A pessoa se sente literalmente controlada e policiada pelo despeito alheio, como se fosse culpada pelo fato de inferiorizar alguém com suas qualidades.

Desgraça mesmo é quando um país é regido pelos despeitados. Como não poderia deixar de ser, o Brasil é governado por uma classe de gente invejosa, medíocre e mesquinha, que odeia tudo que lhe pareça intelectualmente superior. O clássico exemplo disso é o presidente Lula. A presunção laudatória de sua ignorância é diretamente proporcional à sua visível aversão a tudo aquilo que pareça elevado no intelecto ou status social. O presidente parece se revoltar contra a inteligência. O símbolo que mais ostenta é a linguagem vulgar do populacho, como se isso fosse algum mérito simbólico. Muitos idiotas já justificaram o voto no PT, com a idéia estapafúrdia de que as elites inteligentes nada fizeram pelo país. Agora, devem dar chance aos burros governarem. Como Lula e seu eleitorado são medíocres, apregoam o delírio paranóico e maníaco de grandeza, de terem feito tudo “nestepaiz!” Sim, fizeram tudo de pior, em 500 anos de história do Brasil! Não é por acaso que o PT colocou como ministro da cultura, um homem completamente desprovido de cultura, como o violeiro Gilberto Gil. O petismo só entende de cultura, se for a da TV, do Big Brother e do show busness, quando não, as baixezas do DCE acadêmico. Nada que seja bem elaborado no plano do intelecto.

É lugar comum do petista médio idiota crer que a cultura clássica, na música ou literatura, seja desprezível, porque é uma manifestação de elite. A deformação cultural da esquerda se coaduna perfeitamente com a completa ignorância do que seja um conceito formal de exemplos notáveis de liderança. O ódio irracional que o petismo tem pela idéias “das zelite” é precisamente porque as autênticas elites humilham, mostram a nulidade dessa ralé em quaisquer parâmetros da cultura e do poder. Daí a entender a revolta de Lula contra a instrução erudita. Lula não é modelo pra ninguém.

Aqui no Pará, os petistas criticavam o governo dos tucanos, porque estes valorizavam mais a música erudita do que a cultura do populacho. Como se o povo fosse completamente imbecil, a ponto de ouvir só brega ou as músicas chinfrins do ministro Gilberto Gil. Como Ana Júlia Carepa foi eleita governadora do Pará, o nivelamento das atividades culturais será visível. Provavelmente os paraenses vão deixar de ouvir óperas no Teatro da Paz, já que petistas só entendem linguagem de micareta. O discurso demagógico populista do PT despreza a cultura superior e bajula a cultura de baixada, como se fosse grande coisa! Há algo mais subdesenvolvido do que rejeitar uma arte universalmente aceita, em nome de uma suposta cultura popular ou regional? Agüentaremos os enfadonhos cantores paraenses cantando o açaí e a tapioca, enquanto se ignorará um Bach, um Mozart, ou mesmo maestros paraenses de grande talento erudito na música. Para a turma da governadora do Pará, a cultura folclórica excluí a cultura erudita. Já vi Phd de universidade pública, aqui em Belém, dizendo que o folclore paraense não é inferior a Bach; é só diferente. Esse relativismo cultural é tão triste, que mais parece lição vindo de auto-ajuda. Os subdesenvolvidos, invejosos da gloriosa cultura européia, precisam compensar suas mágoas e dizer, “nós fazemos diferente”! E aí vão dizer: e o folclore paraense? Com todo o respeito, que o folclore paraense vá a merda!

Se não bastasse os choramingos de Lula, as asneirices de Ana Júlia Carepa e os apagões da memória amaconhada do ministro da cultura Gilberto Gil, há outro exemplo cabal da inveja personificada numa pessoa e num cargo: Dona Matilde Ribeiro, Ministra da famigerada pasta de “promoção para a (des)igualdade racial”. Em declaração à BBC de Londres, a ministra inventou um novo conceito de racismo: “Não é racismo quando um negro se insurge com um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso (sic)”. Ou seja, negros podem discriminar brancos, podem criar leis constrangendo-os racialmente ou mesmo distinguindo-os em escolas, universidades e mesmo provas, sem serem racistas. Mas o inverso não é verdadeiro, pois os brancos são malvados por natureza. Isso porque as cotas raciais nas universidades elevam os negros a uma condição privilegiada, de “maioria”, enquanto os brancos e outros grupos étnicos são tratados como cidadãos de segunda classe. A população brasileira, felizmente, não compartilha da visão idiota da ministra. Brancos se casam com negros e índios e se misturam sem alarde e sem necessitar de pastas de ministérios inúteis, que querem mais nos dividir do que nos unir como nação. O pior é pensar que uma mulher, que diz promover a “igualdade racial”, crie conceitos discriminatórios e racistas, inexistentes na consciência da povo brasileiro. Na verdade, são ministérios que só servem pra colocar a companheirada vermelha e os caixas dois do presidente Lula. Dona Matilde faz parte dessa trupe de parasitas ignorantes.


Em suma, o Brasil mestiço não existe para ela. Dona Matilde não quer criar a “igualdade racial”, e sim fragmentar, segregar, disseminar idéias racistas na população brasileira. Ela mente quando diz que não quer incitar o racismo: sua política e seus comentários, por definição, são racistas. Se dona Matilde não fosse uma sectária, paranóica e imbecil, diríamos que ela encarnou perfeitamente a novilíngua do Big Brother de George Orwell. Porém, o Big Brother personifica a linguagem totalitária do PT: guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força, democracia é ditadura, igualdade racial é racismo! Tamanho autismo, tamanha burrice, tamanha falta de inteligência é proporcional àquele sentimento comum de baixo-estima que se encontra nas pessoas problemáticas. Dona Matilde faz parte desse tipo de pessoa. Pois, coitados, os negros militantes são vítimas eternas do fardo europeu. Aqui se descobre uma outra peculiaridade da inveja: a vitimização neurótica de si mesmo, enquanto se tenta culpabilizar aquilo que lhe pareça superior. Quando um militante negro responsabiliza todas as suas infelicidades à mera existência da população branca, percebe-se aquele mal estar de inferioridade, pelo simples fato de que a Europa, em geral, fez tudo aquilo que a África não moveu uma palha por fazer. Ainda vão se passar séculos e séculos e os africanos vão ficar na onda mimada de culpar eternamente os europeus pela sua miséria moral e espiritual!


Tal ladainha implica uma fraude histórica, já que a escravidão nunca foi uma prática de brancos, e sim de toda a humanidade, em épocas remotas. Os negros militantes têm uma estranha amnésia: foram os reinos negros da Guiné e os islâmicos de Moçambique que os venderam como escravos aos portugueses. Lembremos, venderam os pretos por tabaco! Claro, indenização, “dívidas históricas”, só contra brancos, já que nas palavras da ministra inepta, negros nunca são racistas, nunca são malvados, nunca são escravocratas. Se há algo que identifique melhor o continente africano é a miséria e a escravidão. E se os negros têm algo a agradecer, com certeza não é Zumbi dos Palmares, notório escravocrata do quilombola, ou a África, que os despejou por um pedaço de fumo. Devem agradecer sim, à cultura cristã européia, que se compadeceu deles e os libertou de uma condição vil e indigna. Os negros deviam criar uma estátua de bronze para uma princesa branca, loira e de olhos azuis, que assinou com uma pena de ouro, o decreto que os tornou cidadãos deste país: a Lei Áurea. Dona Isabel de Orleáns de Bragança é, historicamente, mais importante para os negros, do que Zumbi dos Palmares. O jornalista negro José do Patrocínio e o engenheiro negro Rebouças se ajoelharam de rejúbilo diante da generosidade da princesa. Não se fazem negros cultos e doutos como antigamente. Saímos de homens brilhantes como Patrocínio e Rebouças e agora temos dona Matilde e sua trupe de analfabetos funcionais enraivecidos, saudosos da África. A ministra devia fazer que nem os negros norte-americanos: criar uma nova Libéria, em uma nova versão de republiqueta afro-latino-americana. Ela daria perfeitamente pra criar uma sucursal petista na África e ser uma sargentona tribal do exército de libertação nacional da Guiné portuguesa! O problema é que talvez os pobres africanos nem aceitariam, tão sobrecarregados de guerras e sofrimentos! Chorem meus neguinhos, implorem para que dona Matilde jamais volte pra África!

Se existe o ressentimento racial, há também o ressentimento sexual. O movimento gay, patrocinado por ongs, pela ONU e pelas esquerdas festivas em geral, tentou criminalizar a aversão ao homossexualismo. Em miúdos, rejeitar a heterossexualidade pode, agora rejeitar a viadagem não pode. Criticar a homossexualidade dá cadeia! Tamanha sandice enragé só seria possível dentro de uma completa revolta contra a natureza biológica da humanidade! Os homossexuais militantes querem inverter o sentido biológico sexual da espécie humana, pelo menos, no âmbito cultural. É de uma extrema morbidez, uma neurose doentia chegando às raias da patologia, que a sodomia seja sacralizada, no intento de ser proibido criticá-la moralmente. Pessoas que lutam pra legitimar leis assim estão num grau tal de doença mental, que deviam ser internadas num manicômio judiciário. Sim, pessoas que pregam coisas dessa natureza são perigosas para a sociedade civil! São sociopatas neuróticos e tarados, invejosos de toda a humanidade sã! E quando governam um país, são capazes de criar regulamentos totalitários, ao arrepio do bom senso e da consciência humana mais saudável!

Em uma discussão que eu tive com uns simpáticos venezuelanos, percebi que a inveja é um elemento culturalmente forte na América Latina. Uma boa parte dos governos latino-americanos é invejoso, ressentido de suas falhas. Precisa culpar uma entidade externa pelos seus fracassos. Um dos povos mais idiotas que já cheguei a presenciar na face da terra é o boliviano. Se alguém consegue ser mais idiota do que o brasileiro, é o povo que fala quéchua nos Andes. Eu já vi boliviano idiota se vangloriando com o índio marginal e narcotraficante, o presidente Evo Morales, que destrói a economia e leva o país a uma ditadura. No entanto, é a inveja que move a solidariedade e apoio a Morales. Os índios analfabetos de lá se sentem vingados pela destruição do país. A apologia do ódio é um lugar-comum no discurso deles: ódio aos europeus, ódio aos investidores estrangeiros, ódio ao capitalismo! E junto com o ódio invejoso, há a megalomania do invejoso! A Bolívia se acha uma grande cultura e um grande país de índios, uma tribo evoluída! A demência coletiva na inveja do povo cega o rumo para o caos e a devastação que o espera.

Se o povo boliviano, no geral, vence pela inveja doentia, primitiva, o argentino médio peca pela megalomania. Todavia, megalomania vaidosa e inveja, por vezes, andam juntas. A Argentina é um berço de gente talentosa. No entanto, ela vive no continente dos invejosos. Os argentinos são bem mais elaborados na tagarelice, no disfarce do terrível sentimento. E não menos inéptos e confusos nas idéias. Eles culpam os americanos pela maldade intrínseca da humanidade, em geral, e os ingleses, em particular. Cabe fazer um acréscimo: o perfeito idiota latino-americano tem uma frase pronta pra justificar toda a ordem existencial de seus fracassos: os gringos, isso mesmo, os gringos! Se a inflação explode, se os governos são corruptos, se o Estado cai no populismo e estoura em endividamento público e se o país não cresce, é tudo culpa da dívida externa, do comércio internacional e dos diabólicos norte-americanos! Os Eua têm mil e uma utilidades pra explicar a doença latino-americana! Caiu uma bigorna na sua cabeça? Pegou malária? Tropeçou o pé na pedra? Fracassou na prova? Isso é tudo culpa dos americanos e muito mais! Os americanos, atônitos e perplexos, ficam espantados com tanto absurdo, tanta insensatez! É a inveja, estúpido!
Voltemos aos malvados ingleses. Eu ainda me lembro de um jornalista portenho, afirmando que a destruição de um navio argentino de guerra, na guerra das Malvinas, foi um “crime de guerra” dos ingleses. Em suma, os argentinos podem meter o exército no território inglês e se inflarem de patriotismo; o inverso, o ataque dos ingleses, é algo “criminoso”. Mais cômico foi o depoimentode um esquerdista argentino: enquanto condenava a ditadura em seu pais, chamava o exército inglês de “sanguinário” e “assassino”, precisamente por Thatcher ser, nas palavras dos loucos, “neoliberal”. O povo argentino é tão megalomaníaco, mas tão megalomaníaco, que lutou contra o quarto mais poderoso exército do mundo, por causa de uma ilhota insignificante! E ainda chora Argentina? Se a ditadura dos militares de lá chegou a essa loucura, contudo, a expressão mais marcante de megalomania e inveja na Argentina é, com certeza, o peronismo! O justicialismo, em nome do ódio aos ricos e das elites, conseguiu transformar um dos países mais ricos do mundo numa republiqueta do trigo! Se alguma coisa simboliza Perón e sua esposa Evita, na Argentina, é a inveja fanatizada, odienta! Eva Perón devia ser canonizada na Igreja do diabo: La Santa Evita de los invidiosos!
Imaginemos alguma pessoa razoavelmente normal ter paciência para ouvir as mães da Praça de Maio! Hebe de Bonafini, a chefa xiita do movimento, é o cúmulo da inveja discursiva! Pelo menos ela jus ao discurso, usa um turbante na cabeça! Se ela fosse partidária de uma ditadura comunista argentina, não sobraria mãe pra contar a história de seus filhos! Argentino é famoso pela presunção desmesurada. Entretanto, existe um país rival, continental, que mora ao lado de sua fronteira. Se bestar, a Argentina sente inveja até do Brasil! Que patético!

Aliás, a pobre Venezuela, até então, uma democracia ordeira e pacífica, foi reduzida a pó por uma trupe de ressentidos invejosos, que se apropriaram do país. Chavez explora o sentimento inferior da humanidade, para angariar seu poder pessoal. Seu discurso é burrice e inveja do começo ao fim! A prepotência raivosa se mistura com a incapacidade pra fazer algum bem ao país! Pelo contrário, ainda me recordo de venezuelanos deprimidos, apreensivos com o seu futuro seqüestrado por gente da pior espécie! A frase mais perfeita que ouvi de um venezuelano foi sucinta: Chavez es un delincuente!



Ademais, uma curiosidade a se notar: o socialismo dá certo na América Latina! Há ideologia mais sofisticada e tendenciosa pra justificar a inveja? O socialismo isenta moralmente os invejosos do peso de suas consciências. Roubar, matar, destruir como o demônio é legítimo, precisamente porque o socialismo eleva a inveja num plano ético superior. O pobre que rouba o rico, o burro que usurpa o lugar do inteligente, o desonesto que trapaceia o honesto, o feio que humilha o bonito, enfim, sentem-se totalmente justificados com o mantra da luta de classes e de seus estereótipos grosseiros de dominantes e dominados. O invejoso, além de canalha, ladrão, trapaceiro e bandido, ainda quer ser digno de pena! E ele pode oprimir à vontade todo o resto da humanidade, em nome de combater a opressão sobre sim mesmo! O socialismo é uma redenção para os despeitados! Morales, Lula, Chavez, dona Matilde Ribeiro et caterva não se sentiriam mais realizados. . . Em outras palavras, o socialismo na América Latina (e por que não, no mundo?), é a mais completa politização da inveja!

O Brasil está sendo governado pelos invejosos e despeitados. E o PT é o canalizador da inveja organizada e militante! Tudo é inveja no discurso do governo atual: inveja dos países ricos, inveja dos mais inteligentes, inveja dos bem-sucedidos, inveja dos brancos, inveja dos heteros, inveja dos cristãos, inveja dos bonitos, inveja das elites! É por isso que o governo brasileiro é um desastre! Os sentimentos mais inferiores da massa foram elevados a status social, a uma espécie de valor. E a cultura politicamente correta das donas Matildes, dos Lulas, das Carepas, é uma tentativa de imbecilizar a população, rebaixada ao nível deles. É a classe mais abjeta de pessoas que já tomou conta do país. E aí, tal como as moscas, só resta soltar as larvas do despeito corrosivo, para desmembrar a nação de vez!

sábado, abril 07, 2007

O intelectual brasileiro, esse bichinho de estimação, o nosso gremlin!

Quando ouço alguém falar do intelectual brasileiro, eu tapo o nariz, sentindo o fedor do enxofre e assustado com os chifres, ou melhor, com as orelhas de burro. Ainda reconheço as pegadas do casco no chão. O que ousa se chamar de “intelectualidade brasileira” é mera reprise e modismo das idéias de fora, na prática, resenhistas ruins das academias da França e dos Eua. E pior, resenhas do que há de pior de filosofia nestes países. Em particular, o chamado intelectual brasileiro tem uma séria atração pela morbidez, uma ligação sentimental com o bizarro. Ele nutre um culto doentio pela violência, pelo niilismo e pela vulgaridade de pensamento mais abjeto. Louva modelos políticos fracassados, defende pensamentos econômicos obtusos e eleva ditadores, criminosos e terroristas nas alturas. Ele sonha em cubanizar o Brasil e transformar em qualquer analfabeto funcional esquerdista num ditador. Na realidade, esse pessoal adoraria ser empregadinha doméstica do Partido Comunista Cubano, recebendo polpudos subsídios governamentais, ao mesmo tempo em que não se daria ao trabalho de pensar coisa alguma. De fato, intelectual brasileiro médio não pensa, segue a cartilha de quem paga mais. O PT do presidente Lula é o exemplo mais cabal disso.

Por intermédio da intelectualidade brasileira é que o delinqüente se tornou uma espécie de justiceiro social. Ou seja, se um canalha estuprar a filha do bom moço burguês, é um marginal herói. Se ele esfarelar um garoto no asfalto, o riquinho assassinado é culpado pela violência. Se ele mata um casal de namorados, é porque estes eram felizes e ricos, insensíveis aos problemas sociais dos bandidos, coitadinhos. Luta de classes é modismo intelectual dos enragés chiques deste país. Nem as escolas são poupadas da imbecilidade. Se hoje se legitimou as cotas raciais e de escolas públicas nas universidades, é precisamente porque essa classe imbecil de indivíduos não isenta nem os alunos de seus ódios classistas e racistas. O rico bem sucedido estudioso é um opressor da classe dominante, enquanto o estudante pobre burrinho é um vitimado pelo sistema. A mesma premissa se aplica ao branco inteligente e ao negro burro. Logo, o estudante burro e negro deve ultrapassar o estudante inteligente e branco, porque um é vítima do sistema e outro o opressor. Daí a entender o porquê de uma negra idiota, dita “ministra da igualdade racial”, afirmar que negro discriminando branco não é racismo. O Brasil renuncia a sua mestiçagem histórica, fruto de uma civilidade cultural incomum, para aderir às ideologias estereotipadas do afirmative action norte-americano. Isso está sendo ensinado nas escolas. E ainda essa turba se vangloria de defender a cultura brasileira! Só se for a burrice cultural deste país!

Os intelectuais brasileiros querem destruir qualquer sentido elementar de instrução, para reduzir a educação a uma sucessão bestializada de slogans partidários e ideológicos. Basicamente a destruição da educação no Brasil é culpa do Estado e dos próprios intelectuais e professores, idiotizados com chavões marxistas. Um reflexo patético dessa doença foi quando um secretário de educação do Estado de São Paulo, assecla do ex-governador Geraldo Alckmin, recusou a ajuda de uma associação inglesa, especializada no investimento de alunos pobres brilhantes. Para o secretário palerma, incentivar os alunos mais inteligentes seria depreciar os menos aplicados. No final das contas, como estudar mais é motivo de culpa, rejeição e mesmo de reprovação, só nos restará alunos cada vez mais analfabetos e incultos, analisados por questões alheias ao seu desempenho, como raça e classe social. Sinceramente não vale a pena pagar salários maiores para esses educadores e professores vigaristas, metidos a intelectuais! Deviam morrer de fome, de tão indignos que são. . .A razão de o aluno brasileiro médio ser um dos mais burros do mundo é perfeitamente compreensível. Intelectualidade brasileira na educação não presta. É apenas um bando de tagarelas salafrários, que deviam ser presos ou exilados, por estriparem moralmente a consciência dos menores e do povo. Assustadora é a jumentice presunçosa deles, misturada a indignação raivosa e canina. Filósofos de bosta!

Não é por acaso que o Brasil é um dos poucos países, senão o único, que tem uma Igrejinha Positivista do Augusto Comte e onde o marxismo é glamour. Qualquer historiador ou filósofo de quinta categoria, europeu ou norte-americano, tem sucesso no Brasil. A reverência bovina com que um Sartre ou mesmo um Foucault é recebido no país está na mesma proporção da falta de conteúdo sobre o resto. O Muro de Berlim não caiu aqui. Socialismo caiu por culpa do capitalismo. De fato, o comunismo nunca existiu, é apenas um sucesso mal explicado, nas sábias palavras de Jean François Revel! Até espiritismo faz a fama entre os intelectuais, a despeito de toda humanidade ignorar essa doutrina tão soberbamente tola. Aliás, eu conheci o relato de alguns espíritas que ficaram decepcionados, quando chegaram ao famoso cemitério de Père Lachaise, para ver o túmulo de Allan Kardec. O coveiro, o funcionário e mesmo a burocracia do cemitério nunca ouviram falar do tal Kardec. Só no Brasil mesmo pra alguém acreditar que espiritismo é algum tipo de “ciência”, ciência das galinhas pretas na encruzilhada. Aqui se tem uma mórbida ligação com as idéias francesas, pelos “philosophes” de cafés mais idiotas. Atrair-se por intelectuais de bar parece coisa de mulher que gosta de malandro. O brasileiro médio, e, em particular, o intelectual brasileiro, acredita em tudo que é besteira!



O que diverte neste país é a intelectualidade ignorar a cultural clássica antiga e medieval, porque está ultrapassada pelo novo modismo acadêmico. Ainda me lembro de um professor estupidamente idiota, que tinha até mestrado, dizendo que não lia Gilberto Freyre ou Oliveira Lima, porque eram historiografias “ultrapassadas”, ou seja, não lidas no mundo acadêmico. São perfeitamente racionais os motivos de Oliveira Lima, o grande historiador do império, ao doar toda sua vasta biblioteca para o congresso norte-americano: pra que dar valor aos asnos dessa “terra brasílis”, que nunca o lêem?

Tal pensamento do professor apedeuta me causou um bom riso, já que o sujeitinho achava que a ignorância acadêmica sobre determinadas obras é sinal de cultura. A outra pérola, do mesmo pseudo-historiador, foi afirmar que Suetônio, o historiador dos “Doze Césares”, seria menos importante do que os estudos modernos a respeito de Roma. Ele acha que a mera intuição burra dele poderia revogar por decreto, talvez uma das maiores relíquias históricas do mundo antigo. A patetice desse argumento é negar a capacidade de avaliar tudo o que já foi estudado dentro de um processo histórico. Quem acha que pode entender algo do Império Romano, sem estudar tudo aquilo que já foi dito sobre ele, não é um historiador, e sim um larápio, que devia ser enquadrado no artigo 171 do Código Penal (estelionato). Que dirá então da filosofia, já que os novos filosofastros das academias acham que revogaram por modismo e popularidade, os grandes pensadores do passado? Quando um leitor escutar que Gramsci é muito bom porque é citado em todas as universidades do mundo, fuja, corra, tape os ouvidos! O canto das sereias acadêmicas pode emburrecê-lo. O jornalista e filósofo Olavo de Carvalho, fazendo trocadilho com a figura do “intelectual coletivo” de Grasmci, batizou toda essa turma de “imbecil coletivo”!

Ademais, intelectual brasileiro é um notório leitor de orelhas de livros. Como ele está acostumado a repetir os modismos do dia, daria um intenso trabalho estudar um Aristóteles, um Santo Tomás de Aquino ou mesmo um Agostinho com profundidade. Aí só resta ler coisinhas bem resumidas, crendo que na Idade Média só havia inquisição e que toda a Europa vivia na Idade das Trevas! É mais patético: ele vai dizer que superou a filosofia de Santo Tomás, ou melhor, a filosofia que ele só leu nas orelhas. Isso quando ele lê.

Aqui neste país, “intelectual” não é alguém de cultura, mas tão somente alguém com algum sucesso perante o público. O que faz um Arnaldo Jabor ou um Luis Fernando Veríssimo serem chamados de “intelectuais”, é justamente o grau de rebaixamento mental a que se chegou esta nação, a prova cabal de um povo iletrado. Que dirá então de Emir Sader, Marilena Chauí e muitos outros, citados como gurus iluminados nas universidades? Caetano Velloso, com suas musiquinhas de platéia da esquerda festiva, junto com Chico Buarque e seus porres, são também considerados “intelectuais”. A atriz Lucélia Santos enchendo a cara de Santo Daime, também é “intelectual”. Enfim, neste país, qualquer estúpido é considerado intelectual. A prova disso é que a escolha de Gilberto Gil como ministro da cultura é a representação pública, oficial e política da falência cultural do pensamento brasileiro.

Se há os esquerdóides, há também os liberalóides. Os liberalóides são em menor número, mais obscuros, e, no entanto, ameaçam fazer sucesso no mercado de febeapás (festival de besteiras que assolam o país). Os liberalóides se auto-denominam “libertários”. Eles se acham inimigos da esquerda porque defendem o livre mercado e são, supostamente, contra o socialismo. Mal sabem que até a esquerda, quando lhe convém, defende o livre mercado (vide Lênin, com a NEP e mesmo a China comunista, com seu famigerado “socialismo de mercado). Todavia, há uma ligação espiritual entre liberalóides e esquerdistas: ambos aprovam casamento gay, aborto, eutanásia, liberação das drogas e outras perversidades, em nome da liberdade humana. Junto a essa militância, há uma feroz hostilidade anti-religiosa. Eles se acham “libertários”, “progressistas”, “liberales”, enquanto os “serviles”, os reacionários que defendem o direito a vida, a valorização da família e a proibição das drogas, são “totalitários”, tanto quanto a esquerda! Curioso notar o paradoxo: os conservadores são acusados pelos libertários, justamente por não aderirem a revolução cultural politicamente correta e totalitária da esquerda.

Alguns desses libertários são patéticos. Há um sujeitinho, cujo nome não vou citar, que publicou um livro com os seguintes dizeres sobre si próprio: “um dos mais importantes pensadores da nova safra de intelectuais. . .” Eu juro, senti o cheiro do caldeirão fervente do inferno soltando bolinhas de vapor. E vi na foto do sujeito, aquelas orelhas de burro que se escondem no chapéu. Como ele não usava chapéu, as orelhas eram visíveis.




A safra deve estar muito bichada de pragas no plantio das idéias. Este mesmo cidadão escreveu um artigo, defendendo o “direito de morrer”. Não me conste que a lei brasileira puna o suicídio, para impedir alguém de morrer. Até porque a morte, antes de ser um direito, é uma condição inata que qualquer pessoa, um dia, vai se deparar. Porém, o intelectual da nova safra de bobagens veio simplesmente transformar a morte numa espécie de valor social. Tanto faz se alguém vive ou se joga de um prédio de vinte andares. Se alguém chamar os bombeiros para salvar o suicida, o intelectual da nova safra vai dizer que isso é uma violação à liberdade individual dele de se matar! Ou seja, tanto melhor poupar a combustível e o esforço dos bombeiros e deixar o cara se jogar do prédio mesmo! Isso, o filósofo da nova safra chama de “egoísmo racional”. O individualismo dos libertários é tão esquizofrênico, que uma das prerrogativas deles é simplesmente acabar com a existência do indivíduo.

É o de menos. Eles são tão inimigos do Estado, e, contraditoriamente, defendem a legalização estatal da eutanásia e do aborto, que vai da mera omissão, até apoio logístico para as matanças. Se um doente estiver sofrendo, isso dá o direito de alguém matá-lo. Os libertários têm um subterfúgio para a patifaria: se houver consentimento, matar alguém não é crime. Em outras palavras, se um cidadão pegar uma espingarda calibre 12 e estourar os miolos de outro por consentimento, poderá ser solto livremente, porque fez um grande favor à vítima. O mesmo princípio se dá para a prostituição, as drogas, o casamento homossexual e outras loucuras. O consentimento se torna, por si só, um imperativo ético e moral, independentemente de suas conseqüências. A vida humana, em si mesma, não tem importância. Importante mesmo é a vontade, por mais destrutiva que seja.

Isso é apenas uma parte dos absurdos. Como o libertário presume que a vontade é um valor absoluto, quando diz respeito a si mesmo, ele acha que pode fazer tudo, contanto que não incomode os outros. Se alguém dispuser livremente do seu próprio corpo pra ser consumido num restaurante, o libertário achará legítimo consumir carne humana, porque só diz respeito aos consumidores e ao dono do corpo. São as trocas voluntárias, benéficas paras as partes. Será? Os libertários adoram elevar o livre mercado como a explicação absoluta de todas as relações sociais, ou mesmo seu fator determinante. O economicismo aí é explícito. Marx não sairia mais feliz. Como se não houvesse fundamentação moral na idéia de trocas voluntárias. Para eles, “trocas voluntárias” significam vender até a mãe, contanto que não encha o saco de ninguém.

Não se está negando aqui a utilidade do livre mercado ou que suas trocas, em geral, são benéficas, quando as duas partes estão realmente satisfeitas. Só que “livre contrato”, “trocas benéficas”, implicam regras morais e éticas claras e cristalinas, visando preservar a honestidade pública, a proporcionalidade entre as partes e a dignidade mesma delas. Sem estes valores implícitos na idéia do livre contrato, se verá tamanhas monstruosidades, tamanhas arbitrariedades, que no final da história, o livre contrato não cumprirá sua finalidade lógica e moral, que é o benefício entre as partes. Só os libertários idiotas não conseguem entender um caso tão óbvio. Se na ideologia libertária, “livre contrato” é qualquer coisa estipulada em contrato, pode-se perfeitamente voltar à escravidão por dívidas, por ser a disposição da liberdade algo absoluto. Ou então vai ocorrer aquela cena do judeu Shylock, que pede uma libra de carne do mercador de Veneza, já que ele não cumpriu o contrato. Ou seja, uma barbaridade!

No entanto, o libertário é, politicamente falando, um autista. Como é contra a existência de um poder público e crê em pensamentos anarquistas, ainda que “anarco-capitalistas”, ele nega a importância do consenso político no entendimento da vida social. Se qualquer coisa ocorre com outras pessoas, o problema não é dele. Interessante é a sua ingenuidade, a respeito da justiça: ela devia ser privatizada e fornecida como uma prestação de serviço, tal como um serviço de padaria ou de pizzaria. O problema é que ninguém paga a uma justiça pra perder. Se a justiça sofresse diretamente a pressão das partes e do dinheiro delas, a corrupção seria escandalosa e os juizes atenderiam a quem paga mais. Que dirá então dos problemas legais de soberania da justiça, já que não haveria regras formais e publicamente conhecidas pela comunidade? Qual lei o cidadão deveria obedecer? E quem não tivesse essa tal justiça privada, por que obedeceria? A sociedade cairia num caos político total e seria inviável. Uma coisa tão notória e tão visível de sandice e os idiotas nem conseguem perceber, presos nas suas idealizações paranóicas de intelectuais. A mesma lógica se aplica a segurança pública, que devia ser toda privada. Quem não tiver dinheiro pra pagar segurança, vai ser vítima dos bandidos. Tamanha imbecilidade não seria tão perigosa, se não fizesse fama neste país de dejetos espirituais. O libertário médio demonstra uma completa ignorância sobre o que significa a política e mesmo os conceitos elementares que a estruturam como entidade pública numa sociedade. Ainda que seja um movimento minoritário, está crescendo entre os idiotas e, neste país, idiotas organizados são um perigo para o bem comum e a ordem pública! E eles fazem coro, junto com os esquerdistas, contra os conservadores liberais sinceros deste país. Os libertários são os direitistas que a esquerda pediu a Deus! Ou melhor, ao diabo. . .

Intelectual brasileiro soa como bichinho de estimação para muita gente. Entretanto, intelectualidade brasileira é que nem aquele espécime de cinema, o gremlin: ele parece um inofensivo animal de pelúcia, e quando passa da meia-noite, acaba se tornando um ogro! Quando não se torna um ogro, é um burro mesmo! As orelhas não disfarçam a sina! E o enxofre é inconfundível!