segunda-feira, julho 31, 2006

Israel, a última fronteira ocidental


Quando nos deparamos com a história de Constantinopla e o ocaso de sua queda, em 1453, nunca entendemos ao certo, por que houve tamanha comoção com a tomada do último bastião do Império Romano no Oriente. De fato, a queda do império bizantino representou, não somente o fim de um modelo imperial, como de uma época, a Idade Média. No entanto, pouca importância é dada ao fato, a não ser essas duas peculiaridades. Ignora-se, que além do aspecto cultural e simbólico de Constantinopla, ela era a última fronteira geopolítica do ocidente, a última linha da Cristandade, contra a invasão ameaçadora do Império Otomano. A tomada de Constantinopla pelos turcos abriu todas as portas ao Mediterrâneo e ao Leste Europeu, hostilizando o mundo cristão durante mais dois séculos. Quem, de fato, salvou a Cristandade mediterrânea dos turcos, foi a Espanha, na batalha naval do Lepanto, em 1571, quando as galeras islâmicas foram esmagadas no golfo do Chipre, pela Armada espanhola e a Santa Liga Católica. Neste episodio, são lembrados o impetuoso Dom João da Áustria, comandante dos navios cristãos, e seu irmão, o melancólico Rei Felipe II da Espanha. Mas, por terra, os turcos atacaram até chegarem as portas de Viena, em 1683. O Grão Vizir Kara Mustafá estava de frente com as portas mais estreitas do mundo cristão, quando foi derrotado pelas forças cristãs alemãs e pela ajuda polonesa. A ameaça de uma invasão otomana por toda a Europa, depois de séculos de hostilidades, enfim, foi definitivamente abortada. Atualmente, o mundo ocidental tem sua última fronteira, sua linha divisória entre a civilização e a barbárie, entre a liberdade e as ditaduras, entre a democracia a o totalitarismo. Esta jovem nação se chama Israel.

A linha atual não é mais de um reino cristão e sim de um Estado judeu. Todavia, um Estado que em tudo tem a ver com o que há de mais atávico ao mundo ocidental, no que diz respeito a sua mentalidade política e cultural: a democracia, o Estado laico e as liberdades civis e individuais. Israel é o sucesso ocidental construído num mundo de fracassos islâmicos. É a redenção de um povo que foi massacrado, perseguido e quase extinto, há mais de quatro mil anos, e, no entanto, apresenta uma obstinação, uma força e uma resistência fora do comum. Das cinzas do quase extermínio e da loucura nazista, e da conquista de um pedaço de deserto, construíram um pequeno país, corajoso e extraordinário. Das lamentações da Diáspora, retornaram à Terra Santa, Eretz-Israel! E, todavia, o preço de Israel é ser uma eterna ilha, vivendo em hostilidade conjunta de inimigos por todos os lados. É a Viena oriental, sitiada pelos turcos, as portas para o mundo ocidental. É a Constantinopla que jamais sucumbiu. . .

Muitos caluniam e mentem sobre o Estado judeu, chamando-o de “genocida”, “racista”, “imperialista”, “militarista”, de oprimirem os palestinos, os libaneses e os árabes em geral. O caso é que ignoram que todas as guerras que Israel venceu, foram causadas pelos mesmos árabes que hoje se passam por vítimas, já que o Estado judeu apenas se defende de seus inimigos declarados, que desejam varrer sua existência. Em 1947, quando do nascimento de Israel, os palestinos se recusaram fielmente a aceitarem o reconhecimento do país pela ONU, prometendo esmagar os israelitas e implantar-lhes um segundo Holocausto. Em 1967 e 1973, o Egito encabeçou duas grandes guerras contra os judeus, ameaçando-lhe, mais uma vez de destruí-los. E, todavia, Israel doou o território sagrado do Sinai aos egípcios pela paz. Como atualmente retirou suas colônias judaicas em terras palestinas e suas tropas no Líbano, ainda que comprometendo sua segurança.

Israel é um Estado “imperialista” hostilizado, de fato, pelas investidas imperialistas dos árabes, que não querem ver uma nação bem sucedida, a quem consideram “intrusa”. Sim, Israel é uma intrusa: é o único país que dá certo, a única realmente economia rica e benéfica para seu povo no Oriente Médio, o único país realmente livre naquela região. Isso incomoda os árabes, porque os judeus encarnam os valores fronteiriços do Ocidente, os valores da democracia contra o barbarismo ditatorial islâmico que os rejeita.

Israel é um Estado “racista”, já que 20% de sua população é composta de árabes, com plenos direitos políticos e cidadania. Tão “racista” é o Estado judeu, que ele sustenta, tirando do seu bolso, até os serviços burocráticos e assistenciais de seus inimigos palestinos da Autoridade Palestina, que votam no Hammas, contrariando seus próprios beneficiários. É a mesma Israel quem banca uma boa parte dos empregos dos palestinos, pagando os melhores salários da região.

Israel é um Estado bélico, “militarista”, já que bombardeia impiedosamente um país fraco como o Líbano. Só esquecem de dizer que Israel havia respeitado a promessa de desocupar o Líbano, com a condição de não ser mais hostilizado pelo Hezbollah, grupo terrorista apoiado pelo governo libanês. E que o Líbano ignorava qualquer projeto de paz, jogando bombas em Israel e seqüestrando soldados israelenses na fronteira. É interessante notar o discurso tolo de que Israel precisaria ser fraco pra combater inimigos fracos: se Israel não tivesse a força que tem, seria varrida do mapa há muito tempo. A força de Israel existe precisamente para contrabalançar umas cinco ou seis nações árabes, que unidas, seriam mais poderosas que o Estado Judeu. Decerto é chocante assistir a tragédia que ocorre no Líbano, com a exposição de civis inocentes ao conflito do exército israelense e do Hezbollah. Contudo, a visão aqui é unilateral. Ninguém ainda discutiu que causador da guerra, expondo o próprio povo libanês às investidas do inimigo, foi o governo do Líbano, junto com o Hezbollah e a Síria. Mas a crítica anti-israelense é tendenciosa na essência: é mais uma propaganda política do que realmente uma descrição real dos fatos.

Tirando essas conclusões, qual seria a situação do ocidente, se um dia, Israel sucumbisse a uma invasão islâmica, ou, no linguajar terrorista árabe, fosse “riscada do mapa”, “jogada no Mediterrâneo”? Por mais que houvesse idiotas que defendam o fim de Israel, na mídia européia, americana e latino-americana, papagueando as besteiras enganosas e odientas dos palestinos, árabes e afins, não somente seria uma derrota moral para o mundo democrático liberal, como uma tragédia de proporções imprevisíveis. O mundo assistiria, provavelmente, mais outro genocídio judaico, e a fronteira ocidental seria rompida, pronta para a expansão árabe islâmica no ocidente. A destruição de uma nação ocidental seria um pretexto para expansão do terror no mundo e tudo aquilo que chamamos de “civilização” estaria ameaçado de caminhar para o abismo. Porque na questão geopolítica do Oriente Médio, a linha divisória, a última fronteira ocidental de contenção da expansão islâmica seria rompida. Se Israel for nossa segunda Constantinopla, decerto o caminho da barbárie será pior do que os turcos. O ocidente estará de portas abertas aos novos tártaros do oriente. . .

Leonardo Bruno
30 de julho de 2006

sexta-feira, julho 28, 2006

A QUEM OS JUDEUS DEVEM TEMER?


(Este texto foi escrito em 13 de outubro de 2004, todavia, nunca havia publicado. Mas a ocasião dos conflitos do Oriente Médio e a posição da mídia a respeito de Israel, deu certa atualidade a este artigo).
Certos artigos escritos por historiadores, em particular judeus, descrevem o Holocausto como um elemento único na história da humanidade. Na ótica desses historiadores, o Shoah, no século XX, possui elementos singulares, que não poderiam ser comparados a outros elementos genocidas no triste século.


Ademais, tive uma surpresa quando li em um livro de história, um artigo de uma historiadora judia, cujo nome não vou dizer, afirmando que a violência sofrida pelos cambojanos, causada pelo Khmer Vermelho, não poderia ser comparado ao sofrimento do povo judeu. Dissertava ela que não se equiparava a fuga em massa de cambojanos de seu país, por causa de um governo opressor e brutal, enquanto o terror nazista se prontificava num programa de extermínio industrial e maciço de um povo. E por fim, a historiadora exaltava a exclusividade do Holocausto aos judeus, num mistura explosiva de emoção e parcialidade. Há neste discurso, uma espécie de vitimização do sofrimento judaico, numa idéia pejorativa do senso comum do “povo eleito”, que expia as culpas no mundo hostil. Para a historiadora, a idéia de fazer similaridades entre o genocídio judaico a qualquer forma de extermínio de um povo, seria uma espécie de “banalização” do Holocausto. E nesta linha de raciocínio, qualquer genocídio que tenha como prática, o extermínio de um povo, não pode ser comparado ao sofrimento judaico, por uma particularidade de sofrimentos, que só o povo judeu supostamente presumiria ter.
Contudo, este raciocínio histórico, longe de prestar culto aos judeus mortos pelo nazismo, acaba esvaziando a história de conteúdo ético e moral, e pior, cria uma falsa noção de privilégios históricos, como o povo judeu fosse mais vitima que outros povos que sofreram o extermínio. É pior, pauta-se num raciocínio obtuso, mesquinho e anti-histórico, além de ser um completo desserviço à própria memória do povo judeu e do mundo.

Que o holocausto judaico guarde peculiaridades históricas, e que todos os fatos históricos, por definição, são únicos, isso é inegável. Neste aspecto, a idéia de “singularidade” do Holocausto se torna redundância. Que existem alguns detalhes particulares ao genocídio judaico, isso também é válido. E que tais questões não podem ser esquecidas, disto não se tem dúvida. Porém, se atentarmos ao fato de que acontecimentos semelhantes não ocorreram somente a judeus, ele não é um fato exclusivo aos judeus na história do século XX, tal como o termo “singularidade” quer exprimir. Ainda que sejam peculiares os métodos de matança industrial dos campos de extermínio nazista, o genocídio não é uma particularidade dos judeus. Não são os métodos de matança que tornam os judeus especiais nos crimes. Se há uma singularidade no extermínio judaico, não é tanto pela prática premeditada de aniquilação de um grupo social somente e sim pelos pressupostos intelectuais, políticos e ideológicos que legitimaram e oficializaram o extermínio. Ou seja, um sistema único pela monstruosidade e pela violência mais alucinante: o totalitarismo.
Não existe o evento “único” do holocausto aos judeus e sim uma somatória de conseqüências lógicas de um modelo político criminoso, que praticou em vários povos, essa natureza assombrosa de crimes. Quando a historiadora critica a “banalização” do holocausto e nega comparações históricas, ela omite um fenômeno muito mais abrangente do que possamos imaginar. Primeiramente, o regime nazista não matou somente judeus. Ignora-se também o sofrimento dos ciganos e eslavos, que sofreram horrores com a lógica dos campos de concentração, sem contar a matança dos deficientes mentais, em nome de uma raça pura e superior. Só esta observação já não torna a matança totalitária do tipo nazista exclusivamente uma tragédia judaica.
Quando se crê que os nazistas só visavam o extermínio judaico, estamos omitindo a base racional de quase todas as ditaduras totalitárias: a escolha de um inimigo abstrato como bode expiatório, tudo para justificar a natureza ideológica fictícia do regime. Esse inimigo é volátil, de acordo com as conveniências políticas do regime, já que o elemento lógico totalitário é destruir qualquer ameaça contrária a realização de sua ideologia. A base do nazismo não está no ódio anti-semita, mas no mito da superioridade racial. E embora o judeu tenha sido o bode expiatório do nazismo, nada impediria que destruindo os judeus, os nazistas escolhessem outros grupos nacionais ou étnicos para exterminar. Como, aliás, já foi dito, o massacre nazista não foi restrito aos judeus, atingindo de maneira furiosa e destrutiva, os ciganos, poloneses e russos. E os campos de extermínio tampouco pouparam dissidências políticas ideológicas.
Chega a ser estranha a posição da historiadora, quando ela nos relata que o extermínio judaico não pode ser comparado à fuga em massa de cambojanos. Parece que a mesma ignorou que a fuga dos cambojanos foi precisamente a fuga de um extermínio patrocinado por um Estado totalitário. Mas este é o perigo da falta de memória história: fala-se e centraliza-se tudo na ótica do nazismo, cujas idéias estão totalmente desmoralizadas, enquanto outros totalitarismos, com um jogo lógico muito parecido, estão mais vivos do que nunca. Isto porque o totalitarismo ainda vivo a que me refiro, chama-se o comunismo.

O comunismo foi muito mais abrangente em violência do que o nazismo. E embora semelhantes nos métodos nazistas, tanto na lógica, como na organização política e mesmo nos critérios de execução em massa, tais como os campos de concentração, políticas de extermínio em massa e deportações de populações inteiras, é o menos relatado, o mais desconhecido. Se os judeus assassinados pelos nazistas são lembrados, contudo, eles são esquecidos quando falamos do genocídio comunista. O número de matanças patrocinadas pelos comunistas engloba uma coleção de barbaridades, que impressionantemente é ignorada por uma boa parte dos historiadores e do público. Um grau de barbaridades que supera, e muito, as barbaridades dos nazistas.
Neste contexto, só podemos entender o extermínio judaico como “singular”, partindo de um contexto da natureza de um sistema singular em matéria de extermínio em massa, como o foram todos os totalitarismos. Não é em si o extermínio judaico que é singular, mas a natureza, os métodos e a ideologia do regime que o exterminou. Porque visto e comparado, o genocídio judaico pouco difere da matança dos ciganos, dos eslavos, dos campos de concentração soviéticos ou mesmo da matança dos cambojanos. Quase todos os elementos odiosos de perversidade são encontrados nos tipos totalitários nazistas e comunistas e no sofrimento das vitimas, apenas modificando as justificativas ideológicas aparentes de extermínio e o nome dos povos, apesar de as premissas serem as mesmas.

Se refutarmos essa idéia, no sentido de que a ideologia nazista matava os inimigos de raça, sendo o povo judeu uma etnia, enquanto nos regimes comunistas, a matança era de classe, ignoramos que os totalitarismos não discriminam grupos sociais de qualquer natureza, para buscar seus intentos de extermínio. Os totalitários manipulam as coerências ideológicas, já que sua lógica é apenas momentânea e coerente para justificar sua soma de assassinatos. É perfeitamente possível que o comunismo seja anti-semita, tanto quanto o nazismo seja anticapitalista. O nazista tanto pode matar judeus em nome de combater o “capitalismo judaico”, como o comunista soviético poderia matar judeus, em nome de “combater a burguesia” ou a “conspiração judaica mundial sionista”. De fato, Stalin massacrou populações inteiras de ucranianos, cossacos e poloneses, em nome de seus intentos políticos monstruosos, ainda que o elemento “raça” não estivesse envolvido diretamente. E pouco antes da morte de Stalin, a propaganda soviética, prenunciando novos expurgos em massa, divulgou na imprensa, a falsa história dos médicos judeus “conspiradores” contra o regime socialista, só abafada com a morte do ditador. Na mentalidade stalinista, classes e raças se fundiam para justificar os piores crimes. No regime totalitário, os termos “raça” e “classe” são meras abstrações, cuja lógica de assassínio, tirando os estereótipos raciais e classistas, é a destruição física de grupos sociais, sejam eles quais forem. A matança periódica de nações, grupos sociais e etnias, é um dado comum em ambos os regimes totalitários. É o dado comum, que vão dos judeus aos cambojanos.
O pior de tudo isso é que a ideologia totalitária comunista não somente continua viva politicamente, como ela domina praticamente uma boa parte da intelectualidade universitária e classe política, apta a restaurar o sistema. E quase todos eles nutrem o mesmo raciocínio de matança que ensangüentou o século XX: Estado onipotente, Partido Único e violência política contra as dissidências. Enquanto os judeus ainda choram o Shoah, eles se esquecem que os elementos intelectuais que mataram seus compatriotas continuam atuantes como nunca.
Quando se afirma que as tragédias históricas dos judeus não são comparáveis a outros massacres, estamos negando o direito comparar outros algozes aos nazistas. Se o massacre judaico não serve de parâmetros para outros crimes, ele não tem a menor utilidade para o mundo. Ele só serve como parâmetros para os judeus. Ele se torna elemento isolado, e como “único”, ele nunca se repetirá. Ora, se o holocausto é elemento “único”, por que lembramos tão repetitivamente sobre o massacre judaico? Por que o massacre judaico pode ter parâmetros universais de condenação ao genocídio, se ele mesmo se posta de um sofrimento que só os judeus supostamente acham compreender? Isso é um grave erro histórico. Até porque toda uma classe intelectual totalitária militante está aí para mostrar os novos perigos para a democracia liberal no mundo, e, em particular os judeus.
Não é por acaso que tive a oportunidade de ouvir um rabino culpando o cristianismo por todos os males do povo judeu. Impressionou-me a estreiteza mental desse sujeito. É aquilo que a filósofa judia alemã Hannah Arendt chamou a “história lacrimogênea dos judeus”. Nota-se que alguns judeus nutrem uma neurose obsessiva pelo seu sofrimento, num exagero vitimológico preocupante.

É de uma soberba estupidez alguns judeus criticarem os cristãos, enquanto o mundo cristão é cada vez mais amigo e solidário aos judeus. É pelas instituições liberais da sociedade cristã do ocidente que os judeus possuem seus melhores aliados. E mesmo as igrejas cristãs, em sua maioria, atualmente são os seus mais confessos defensores. Os judeus perdem tempo caçando anti-semitas imaginários no cristianismo, numa histeria politicamente correta, enquanto chegam a aprovar idéias espúrias e totalmente alheias ao credo judaico. Enquanto o papa pede desculpas e os honestos alemães luteranos e católicos cantam Mea Culpa por todos os crimes nazistas, os judeus ainda alimentam o infantilismo do cristianismo hostil. São capazes de ver o pior anti-semitismo no filme cristão e inofensivo de Mel Gibson, enquanto acham perfeitamente normal que esquerdistas, entre os quais, muitos judeus, sejam completamente hostis a fé judaica e a própria existência de Israel.
Os judeus deviam atentar a um dos maiores inimigos do judaísmo: as ideologias materialistas, historicistas, deterministas e coletivistas do século XIX, algumas, em grande parte, contribuições de intelectuais judeus. Curiosamente, as ideologias historicistas e deterministas, além de coletivistas, que deram incremento aos sistemas totalitários, têm em muitos intelectuais judeus, uma enorme contribuição. Não é no cristianismo ou os valores cristãos do ocidente que os judeus são hoje ameaçados, mas nas ideologias materialistas que renegam a fé religiosa e a liberdade do indivíduo. As mesmas fontes materialistas de pensamento que deram origem aos totalitarismos.

São os grupos atuais de esquerda, hegemônicos nas universidades em nosso país e uma boa parte do mundo, que hoje pregam o fervor das ideologias totalitárias e é nestes grupos em que o anti-semitismo é cada vez mais forte e virulento. A ideologia da superioridade da raça branca, doutrina básica do nazismo, tornou-se inexpressiva, relegada a grupos marginais. Mas o ódio antiliberal, antidemocrático e anticapitalista está mais vivo do que nunca, e é projetado nos judeus, quando são direcionados as criticas a Israel e ao “sionismo internacional”. Se associarmos a crença muito comum da esquerda atual, da “mídia sionista”, do “mercado financeiro judaico”, e outros estereótipos antijudaicos e anticapitalistas, eles são os mitos mais comuns da linguagem nazista. Tais estereótipos são alimentados por uma larga literatura anti-semita que a esquerda adota do nazismo, para justificar o ódio antijudaico. E esta linguagem é notória quando o esquerdismo militante critica a própria existência do Estado de Israel, apoiando, inclusive, o terrorismo islâmico.
O chavão anti-sionista é a justificativa nova e original que esconde o ódio antijudaico. Cabe fazer uma colocação: é perfeitamente possível ser anti-sionista sem ser anti-semita. Alguns aspectos sionistas, levados ao extremo, como o nacionalismo exacerbado ou mesmo o culto racista étnico judaico, são realmente desprezíveis e condenáveis. Todavia, a critica “sionista” se tornou um pretexto para a velha hostilidade contra a própria existência do judeu como religião, povo e nação. Não é por acaso que os anti-sionistas pregam o fim do Estado de Israel e o destino do povo judeu a ser jogado no Mediterrâneo pelos árabes.

De fato, as propagandas mais virulentas contra o Estado de Israel, como a completa hostilidade ao povo judeu na atualidade, vêm precisamente desses grupos “progressistas” de esquerda que apregoam as velhas ideologias totalitárias, agora pelo viés econômico. O maniqueísmo dialético marxista não é mais a luta de raças, mas de classes. Os judeus não são a “raça” e sim a “classe opressora”. E Israel, junto com os Eua, representam o sistema capitalista opressor, enquanto esses grupos esquerdistas são solidários a ditadura genocidas como Coréia do Norte, China, Cuba e Vietnã, além das ditaduras árabes, ou a líderes terroristas como Osama Bin Laden e Yasser Arafat.
Enfim, a crença do Holocausto como um evento único e incomparável na história humana é uma negação histórica de uma interpretação mais profunda do Holocausto. Ela permite que os judeus se abstenham de perigos muito mais próximos do que caçar nazistas imaginários, já que quase todos os nazistas estão mortos. Muito longe de lembrar o sofrimento judaico, em alguns aspectos, acaba se tornando uma grotesca caricatura de visão histórica. Todavia, os velhos raciocínios totalitários são outros. E quando negamos o entendimento do fenômeno totalitário, nas cegueiras intelectuais judaicas de obsessões nazistas inexpressivas, enquanto outros massacres são negados à sua similaridade ao holocausto, o totalitarismo cada vez mais se renova intelectualmente. Ele não tem força nos skinheads, nos neonazistas e na trupe de marginais carecas, que não passam de desajustados e ignorantes. Os totalitários estão nas elites universitárias, na imprensa, nas ditas cabeças pensantes, que nos seus pensamentos tresloucados de engenharia social misturado ao ódio, querem repetir novas tragédias. Eles não planejam o holocausto contra os judeus, mas contra o mundo. E quando os judeus se amesquinham com a idéia exclusiva e insuperável do próprio sofrimento e ainda crêem que o totalitarismo é nazista, os verdadeiros totalitários, com nomes trocados, exploram oportunamente a cegueira chorosa de uma boa parte dos judeus. E nisto, os judeus devem temer, tanto quanto o nazismo, a essência mesma dos totalitarismos que os oprimiu, visto que parte de uma ignorância histórica abissal. Porque se o povo judeu negar o sofrimento de outras vitimas do mesmo tipo de regime, ainda que com rótulos diferentes, apenas viola sua memória, numa banalização vulgar do sofrimento judaico e humano, esvaziando o sentido mesmo de história do genocídio.
O Holocausto não é um problema judaico, tampouco é o sofrimento único dos judeus. Como o sofrimento dos eslavos, ciganos, chineses, norte-coreanos, cambojanos e muitos outros povos massacrados por regimes criminosos e desumanos, o holocausto é o sofrimento de todos nós.

A INVENÇÃO DO RACISMO NO BRASIL: reflexos de uma doença acadêmica.


É modus operandi da comunidade universitária atual denunciar o “mito” da democracia racial brasileira. Partindo de tal premissa, defende-se as cotas raciais em vagas de empregos e universidades, posto que os negros supostamente são discriminados no mercado de trabalho e por isso recebem salários mais baixos do que os brancos. Uma das manias intelectuais mais esquisitas em nossas universidades públicas e certos setores da imprensa é o alardeamento desse “mito”. A idéia de “democracia racial” foi desenvolvida por Gilberto Freire, na sua famosa obra, Casa Grande & Senzala, onde retrata a formação cultural do povo brasileiro, através da miscigenação das raças e na integração dos povos que fincaram aqui raízes no Brasil. Numa época em que as idéias racistas ainda estavam em voga na Europa, principalmente com a ascensão do nazismo na Alemanha, Gilberto Freire percebeu a grande virtude da sociedade brasileira, ou seja, a da mestiçagem, na integração harmoniosas entre as raças, se comparada ao que ocorria em violências raciais na Europa e nos EUA. A idéia de democracia racial, na verdade, dizia respeito ao convívio pacifico do emaranhado de raças da sociedade brasileira, em comparação aos guetos judaicos alemães e poloneses e os apartheids americanos e sul africanos.
A democracia racial, antes de ser uma propaganda enganosa feita de boa ou má fé, isto nas palavras de muitos militantes negros, ou uma ideologia de “hegemonia racial”, (embora ninguém não especifique de quem), retrata sim, a auto-imagem de um povo, que por natureza mestiça, não consegue aceitar o racismo. O que a militância pró-cotas e negra não explica é a miscigenação esmagadora, isto num país, que acusa de ser racista. Não explica que uns 70% ou mais da população branca têm algum ancestral negro. Não explica que os negros e brancos se misturam sem maior escândalo, que muitas loiras estão se misturando a torto e a direito com algum africano ou descendente de africano. Não explica o porquê de não termos guetos raciais, bairros só para brancos ou bairros só para negros. Tampouco explica por que muitos judeus moram num bairro cheio de árabes muçulmanos e até agora ninguém se matou pela Palestina, pelo contrário, tem muçulmano que casa com judia.
A idéia disseminada dos defensores das cotas, de que a crença na democracia racial visa “despolitizar” as raças “não hegemônicas” ou desestimular a “identificação grupal”, lembra que o exemplo mais acabado disso foi o nazismo, onde os critérios da raça foram fatores políticos determinantes no mito da “raça ariana” e na exclusão dos judeus. Ou Slobodan Milosevic na Iugoslávia, onde a politização da “raça” sérvia contra os bósnios, croatas e tutti quantti gerou uma guerra sanguinária e genocida. A despolitização da raça no Brasil se deve menos a ocultação do racismo, do que a inexistência do termo “raça” em nossa cultura, que infelizmente os movimentos negros querem reinventar, alimentados pelos cânones racistas norte-americanos. A “consciência coletiva” de uma democracia racial se deve a todo um convívio social de um país pautado na história mista de raças, onde brancos, negros e mestiços possuem uma origem comum.
Quando se vê a popularidade de tais idéias tresloucadas, é assustador o quanto um emaranhado de premissas falsas podem levar a conclusões falsas e idéias absurdas. Um exemplo claro disto é quando o governo atual deseja legalizar um estatuto de “igualdade racial”, que nada mais é do que um estatuto racista, que visa desigualar os indivíduos pela cor de sua pele e estigmatizar os cidadãos como membros de uma “raça” instituída pelo governo. De fato, é de se imaginar quanto há de loucura, quando acadêmicos, presumindo a igualdade racial, criam uma das mais odiosas desigualdades, um dos mais odioso status, o status jurídico da raça. Mas a conseqüência lógica da lei racista que tenta vigorar na legislação de nosso país é fruto de um emaranhado de sofismas pomposos falados a exaustão na comunidade acadêmica, que acabaram se oficializando como dogma do mundo “cult”.
Movidos por uma completa ignorância da realidade e presos aos preconceitos acadêmicos e a projeções de pessoas notórias em seu meio cultural, os militantes são totalmente desprovidos de analise lógica dos assuntos que se prezam a avaliar. Pelo contrário, eles, muitas vezes, não querem entender a realidade, mas reproduzir uma. Precisam abdicar completamente da compreensão real pela ideologia. E a ideologia da moda é a “raça”, mais precisamente a “raça negra”.
Quando os militantes das cotas ou denunciadores do racismo brasileiro fazem premissas comparativas de desigualdades entre as raças, há uma sofisma implícito aí. É como eles invocam o conceito de igualdade. Primeiro, a idéia mesma de igualar as “raças”, já implica uma falsidade lógica, uma vez que só podemos presumir igualdade entre indivíduos, não entre raças. Isto porque só podemos conjecturar algum tipo de igualdade no que diz respeito aos direitos, não aos méritos. Há uma completa distorção da idéia de “igualdade”, uma palavra que, de tão desviada de seu conteúdo original, acabou distorcida pra justificar as piores iniqüidades.
Ou seja, as estatísticas, comparações e nivelações entre questões raciais entre negros e brancos são falaciosas na sua essência. Porque elas induzem uma crença de “igualdade racial” abstrata e proporcional, implicando justamente uma desigualdade racial concreta entre indivíduos. É como se as estatísticas e os militantes das cotas presumissem a igualdade enquanto elementos grupais. É absurdo criar um estatuto da “igualdade” entre raças, baseando numa proporcionalidade de “brancos” e “negros” ricos ou pobres, até essa proporcionalidade cria justamente a discriminação racial entre indivíduos. “Igualdade” não implica proporção coletiva igual, mas condição igual de tratamento entre indivíduos, independentemente da raça. Pois a característica física de um grupo racial não preconiza talentos específicos de indivíduos. É o talento individual que preconiza a desigualdade de méritos. E é a igualdade de tratamento entre indivíduos que se preconiza a verdadeira justiça.
Por outro lado, há outra premissa, que também é falsa e esvazia de sentido o conceito das cotas: a própria idéia de raça num país mestiço. Os alardeadores das cotas adoram apregoar racismo no Brasil, mas nem sequer conseguem provar uma “hierarquia racial” na conduta mestiça dos brasileiros. Na falta de uma identificação racial com que possam legalizar pelo Estado, inventaram uma artimanha patética, conceituando “socialmente” uma identidade racial. Agora inventaram a raça auto-declarada por imposição legal deles. Se isso não fosse somente um sofisma, diríamos que isso é uma fraude não somente acadêmica, como jurídica.
Um exemplo clássico disso é a questão das diferenças salariais entre negros e brancos. Sobre essa questão, é curioso saber o que seria definir negro ou branco neste país? Se for catalogado quem se considera branco, negro, pardo, mestiço, teríamos literalmente um verdadeiro samba do crioulo doido. Se for considerado pela nomenclatura da inteligentzia “sociologuesa”, ou seja, “afro-descendente”, até eu, que tenho a pele branca, sou afro-descendente. Numa sociedade mestiça como a nossa, é tremendamente difícil avaliar a situação econômica dos ricos e dos pobres somente pelos critérios da raça. Ainda mais num país socialmente pobre, onde a maioria dos brancos, negros e mestiços são incontestavelmente pobres. Onde brancos têm irmãos mulatos, onde mulheres brancas têm maridos e filhos negros, a definição de quem é mais miserável é quase sempre imprecisa e em alguns aspectos absurda.
As cotas raciais são tão fora de nossa realidade, que muitas pessoas do povo estranham uma lei que julga as pessoas pelo critério da raça, e isto por uma razão muito simples: o racismo no Brasil é um elemento historicamente superado, isolado, residual, sem vivência prática no convívio social. O racismo é tão inútil, que a maioria das pessoas têm vergonha de declarar-se como tal. O que exclui certos setores da sociedade não é o racismo, mas sim a miséria, a falta de oportunidade e a decadência das escolas públicas do país. Dizer que esta falta de oportunidades é monopólio dos negros é desconhecer o próprio país. A maioria dos mestiços também estão nesta redoma de carência, como a maioria dos brancos.
Se muitos brancos são privilegiados pela educação, o que isto tem a ver estes afortunados com os brancos sem educação somados com os negros e mestiços? É uma incoerência lógica tremenda excluir os brancos pobres só pelo fato de haver mais brancos ricos do que negros ricos, conforme adoram verberar os sociólogos, colocando em pauta estatísticas duvidosas. Contudo, deve-se entender que a denúncia militante ao racismo é apenas uma projeção ideológica de militantes e intelectuais, que usam premissas visivelmente racistas em tudo. Tal obsessão denuncia sim, o fanatismo deles.
Entre as coleções de sofismas básicos sobre as cotas, há outro, a de acusar a nossa sociedade camuflar o racismo, como se houvesse uma conspiração racial para esconder algum conflito étnico prestes a explodir. Supostamente, uma malvada "elite branca" inventou o mito da mestiçagem racial, pra esconder uma dominação imperceptivel, capaz de domar os negros, eternos escravos da miséria e opressão. A falácia deste argumento é bastante simples: Uma sociedade que considera o racismo como valor cultural não se envergonha de declarar sua hostilidade a outras etnias. Pelo contrário, a assume declaradamente, sem rodeios. Se um brasileiro médio se envergonha de se declarar "racista", é precisamente pelo fato de que o racismo não ser bem visto pela sociedade. Entretanto, a militância negra, querendo buscar o racista "oculto" dentro de nós, canaliza mais sofismas nestes termos:
1) a ausência de negros em determinados setores de nossa sociedade é prova de que a sociedade os discrimina; 2) que há preferências pessoais de contratantes por pessoas mais claras; 3) ou que diferenças salariais refletem discriminações raciais. As análises aqui são petições de princípio, pois julgam evidenciado um fato sem ao menos ter sido provado.
Com que pressupostos podemos dizer que a ausência de algum grupo racial num ambiente de trabalho ou universidade é prova de racismo? Resposta: nenhum. Até porque existiriam mil e umas razões para que os contratantes escolham seus funcionários e nem todos os negros estariam disponíveis, em dado momento, a ser mão-de-obra para tais empresas ou associações. E no caso das universidades, os critérios de avaliação são iguais para todos, já que os alunos são avaliados pelo nível de conhecimento que apresentam nas provas, não pelas variadas cores de suas peles.
Em contrapartida, com que critérios o Estado pode avaliar a subjetividade de um contratador? Desde quando o Estado, que deve tratar por igual os indivíduos, pode impor preferências raciais acima da vontade particular do contratante? Com que direito o Estado pode impor uma desigualdade em provas e avaliações de vestibulares, para escolher suas próprias preferências raciais, ao arrepio da lei? Se alguém tem preferências por contratar pessoas claras, outras preferem pessoas magras, gordas, mulheres, homens e negros. E nos vestibulares, os alunos são classificados, de fato, por seus talentos individuais. É bastante provável que a maioria dos empresários contratem pessoas, julgando irrelevantes os critérios raciais. Porém, é mais absurdo que o Estado interfira na liberdade individual de contratar, precisamente porque ninguém é obrigado a aceitar com algo que seja contrário às suas preferências. Pior, é o Estado impor a desigualdade nos critérios de avaliação do vestibular, criando uma forma legalizada de racismo. Isto porque o Estado quer impor sua subjetividade racial, partindo do pressuposto de uma falácia de presumir supostas preferências em ambientes de trabalho e universidades. O Estado, em nome de uma presunção de racismo no meio social, acaba legalizando uma forma grotesca de racismo.
Outro sofisma repetido à exaustão é relacionada às diferenças salariais. Para os defensores das cotas, os negros recebem salários menores do que os brancos, porque presumivelmente há critérios discriminatórios de raça refletido nas remunerações. Há a premissa inicial falsa de comparações entre “raças” e não entre indivíduos; e por outro, esse esquema de pensamento ignora outros fatores, como nível educacional, qualidades particulares dos mais capacitados e competitivos no mercado de trabalho, que dependem mais de méritos exclusivos do que de projeções raciais.
Os paulistas e sulistas possuem renda média maior do que os cidadãos do norte e nordeste do país. Os europeus têm um nível de renda e instrução maior do que os negros da África. Os americanos natos possuem um nível salarial maior que os imigrantes mexicanos. Há diferenças salariais entre eles? Sim. E por quê? Precisamente, e apenas, por causa da diferença do nível de instrução e economia deles. Dizer que negros ganham menos que brancos por causa do racismo, pode ter o mesmo sentido ridículo de dizer que paulistas ganham mais que nordestinos por racismo. . .ou seja, um nonsense lógico, embasado em presunções erradas e até fraudulentas.
Se num ambiente de trabalho, um homem considerado negro for mais instruído e educado que um branco, é provável que um negro tomará seu lugar e ganhará mais. O fato de um negro muitas vezes ter salários mais baixos que os brancos, não reflete nada de racismo, mas sim a comparação de instrução entre negros e brancos, como também, a investida de uma nova classe média negra no mercado de trabalho, em comparação aos brancos que já consagraram seus empregos. Ou seja, a tendência é que muitos negros, só com seu esforço, com o tempo ganharão mais do que muitos brancos. Este fenômeno ocorre também entre as mulheres, que conquistaram seu espaço no mercado de trabalho e só pela sua formação, há muito tempo já conquistam os melhores cargos de advocacia e medicina. No Brasil existem mais médicas e advogadas do que médicos e advogados. E não se precisou de nenhuma lei injusta e discriminatória privilegiando as mulheres. E esta tendência, da mesma forma que beneficiou as mulheres, beneficiará os negros.
Não se poderia dizer que o racismo não exista. Ele existe. Só que as discriminações no Brasil estão associados mais à miséria do que a raça em si. Os negros são discriminados porque são pobres, não porque são negros. Mas isto não acontece somente aos negros, mas também a brancos e mestiços. E se houver atos racistas, a lei nos invoca a igualdade inclusive racial, e cabe combatê-los pela lei.
Não cabe, portanto, criar novas formas de racismo, tais como as cotas, porque são por princípio, contrárias a lei, e por sentido ético, degradantes e imorais. A igualdade é para resguardar o mérito pelo esforço individual de cada um, não para privilegiar indevidamente a quem não merece, seja por privilégios raciais e sociais. O pior de tudo é que a ladainha, em nome de combater o racismo, vai é sim estipular um racismo mais pernicioso, e pior, oficializado. Ao invés de inventar privilégios indevidos e fomentar um racismo artificial e grosseiro, por que estes militantes das cotas raciais não apregoam a igualdade, no acesso irrestrito às escolas e locais de trabalho, tanto de brancos como de negros, através do mérito e do trabalho individual, ignorando os atributos ou infortúnios da raça? Muitas pessoas defensoras das cotas aparentam um discurso cheio de boas intenções. Todavia, ao contrário do que se pode presumir, a denúncia militante ao racismo é uma propaganda enganosa.
As cotas raciais seduzem os sociólogos de plantão, porque parece um lugar-comum da engenharia social moldar a sociedade por decreto e pelo poder do Estado. Criticam o racismo, contudo, criam cursinhos exclusivos para negros e índios. Criticam as desigualdades, mas estipulam privilégios raciais para algumas raças, excluindo outras. Criticam a democracia racial brasileira, porém invocam modelos dos guetos racistas americanos na perversão “separados, mas iguais”. Na prática, os intelectuais, em nome de denunciar o racismo, estão é sim inventando o racismo. Em miúdos, em nome de denunciar o mito da democracia racial, estão é inventando uma falsa auto-imagem, o mito do racismo no Brasil. É, em suma, uma doença intelectual.

quarta-feira, julho 26, 2006

HOMICÍDIO EDUCACIONAL


O cacoete intelectual bombardeado às tontas em nosso imaginário acadêmico pedagógico, é o visível desprezo e preconceito insano pela educação e escolas privadas. A militância engajada, no culto do Estado paternalista e doutrinador, adora reverberar o clichê de que a educação não é mercadoria, cabendo ao Estado deter um monopólio total da educação. Não é por acaso que quase todos pensem assim. Nossos núcleos pedagógicos educacionais, antes de educarem para o conhecimento, viraram verdadeiras fábricas de politização ideológica totalitária. Eu bem me pergunto o que Marx e Gramsci contribuíram para a educação, já que ambos são ensinados largamente nas cátedras de pedagogia, sempre imbuídas na idéia mal fadada da “transformação da realidade” (leia-se, a restauração dos velhos regimes comunistas do Muro de Berlim).

Não é por acaso que um cidadão tão infame como Paulo Freire seja tiete dessas figuras carimbadas do marxismo intelectual provinciano, povoados em nosso país, ávidos por inventarem a roda. Um sujeito que prega como “pedagogia de libertação” a mais descarada lavagem cerebral de ideologização da educação, não passa de uma completa pedagogia do opressor, e pior, uma pedagogia da farsa mais monstruosa. Na prática, criando uma hegemonia, no sentido gramsciano do termo, a militância radical acaba por reproduzir in vitro nas universidades públicas, o que gostaria de reproduzir na sociedade como um todo, ou seja, nada mais nada menos do que um regime totalitário, um regime do rebanho de unanimidades amestradas. Não é por acaso que o desprezo à educação independente seja condicionada a uma subserviência deprimente e dependência total do poder político, como gerenciador absoluto da educação.

O pior de tudo isso é que este discurso camufla não somente uma grotesca obsessão pelo poder, como uma primorosa hipocrisia. Os mesmos professores e educadores militantes que criticam a “mercantilização” da educação são precisamente os mesmos que fazem greves e mais greves em nome de seus privilégios corporativos e dinheiro no bolso, às custas do contribuinte, que paga forçadamente por esses serviços. A palavra “privatização”, então é anátema. Em outras palavras educação só é “mercadoria” quando é privada. Quando a educação é uma mercadoria pública de chantagem e extorsão de professores e educadores públicos ruins, ela é apenas sintoma de “inclusão social”. Bem que eles gostariam de possuir o monopólio da “mercantilização” da educação sem educarem nada. A educação é “privatizada” sim, mas aos caprichos somente deles! Como se estes paladinos da justiça social trabalhassem de graça ou por virtude da caridade!

Unindo forças ao grotesco de um governo visivelmente demagógico e de uma intelectualidade pedagógica visivelmente burra e que nada educa, temos agora a pérola das cotas para escolas públicas. Um prêmio à incompetência do governo e de educadores públicos que são pagos e fingem que educam. O governo, em nome de uma pressuposta justiça social, agora quer recompensar a sua própria inépcia de educar, em detrimento das escolas privadas. Ou seja, o nosso governo esquizofrênico agora quer culpar a eficiência da educação privada pela ruindade das escolas públicas.


A argumentação é das mais pífias. O governo responsabiliza as desigualdades na educação, como culpa da capacidade dos alunos de escolas privadas de serem mais instruídos e passarem na frente dos alunos de escolas públicas, por regra, mais medíocres. E em nome disso, vai punir os melhores escolados, criando vagas privilegiadas para os menos instruídos. O que há de mais imoral nisso é que além de um governo criar castas de alunos privilegiados às custas do mérito pessoal e da eficiência de uma educação escolar melhor oferecida e constituída, vai discriminar quem teve uma boa formação escolar, em favor de pessoas totalmente despreparadas para esse fim. Ou seja, o governo educa mal e ainda premia sua própria incapacidade.

É pior. O governo se julga no direito de onerar os alunos de escolas privadas, que experimentarão riscos injustos e desiguais, já que serão sujeitos a uma avaliação desigual de concorrência, a despeito de seu melhor preparo. Nunca se viu tamanha recompensa à mediocridade e tamanho culto às regalias mais odiosas. O esforço pessoal sendo punido, o mérito sendo depreciado, a mediocridade sendo incentivada. Políticas como essas, se não fossem em si mesmas indecentes, elas são simplesmente fraudulentas. O governo finge que alfabetiza e forma alunos e depois finge que forma universitários.

Ora, se o governo é incapaz de dar boa formação de primeiro e segundo grau, como estes alunos terão preparos para uma universidade? Qual será o impacto de universitários semi-analfabetos e incapazes de serem avaliados dentro das faculdades? O que será da formação de um médico que mal sabe escrever um texto ou de um economista que não saiba a sabatina da tabuada?


Muitos falam das mal-fadadas oportunidades dos alunos das escolas públicas em relação às escolas privadas, e por essa razão, justificam essas hilariantes desigualdades estatais. Contudo, antes de alargar as oportunidades, o governo mais se omite em sua obrigação legal de oferecer educação decente para os alunos pobres. E o governo justifica essas idiossincrasias, na esparrela estruturalista de que as diferenças dos alunos são apenas reproduções desiguais da educação ou de formação, e ignoram os esforços pessoais dos alunos que de fato, aproveitaram as oportunidades possíveis, sejam públicas ou privadas pelo mérito de passar no vestibular. O mais ignominioso desse argumento é que retira o esforço pessoal do aluno de decidir os destinos de sua própria vida, e transfere ao governo a decisão arbitrária de decidir quem pode ou não ingressar numa faculdade. Ou seja, o esforço é punido e a indolência é alimentada, já que a educação não requer a busca do aprimoramento pessoal, mas sim a satisfação da mediocridade como pressupostos de escolha do governo. Já que tudo depende apenas dos pressupostos caprichosos de uma formação escolar desigual e não do esforço do aluno, logo, basta o governo por decreto, colocar semi-letrados em universidades públicas, e pronto, teremos grandes profissionais! É em suma, uma anti-ética, uma distorção moral deformante.

Nenhuma educação garante nada se não houver o esforço pessoal da cada um. Que todos devam ter acesso a uma educação mínima razoável, nem isso mesmo é determinante nos méritos pessoais. Ainda que alguém estude em escolas públicas ou privadas boas ou ruins, sem o esforço pessoal de educar-se, que é a busca consciente de conhecer, em nada adianta a formação do indivíduo. Ainda que a formação seja diferenciada para os alunos, nem mesmo numa sociedade pluralista e democrática a educação é igual. Da mesma forma que todas as escolas privadas experimentam diferentes níveis de formação ou qualidade, o mesmo princípio se coloca à escola pública. Ou seja, é simplesmente impossível de igualar os desiguais. É absurdo nivelar a educação, como também é visivelmente impossível nivelar os estudantes. Educação igualitária só existe em regimes despóticos, totalitários, cuja centralização absurda da educação visa destruir a pluralidade de idéias e a forma mesma criativa de educar, que por natureza é desigual.

A mesma esquerda que grita contra a “mercantilização” da educação, parece se esquecer que a educação mercantilizada e privada é a única que educa com seriedade neste país. Do resto, a educação pública, nascida no bom intuito de educar os pobres, acaba sendo um dos processos mais discriminatórios e injustos criados pelos governos, a fim de deixá-los na mais completa ignorância. Os pobres, como dependentes de um processo de serviços estatais quase sempre ruins, são os primeiros injustiçados pelos governos, seja pela má educação como pelo uso descarado do próprio Estado, na manipulação e doutrinação política. A educação pública é, por regra, um sistema notoriamente falido, e que só serve, na sua maior parte, para enganar os pobres e fazer a sanha de panelinhas sindicais de professores ruins e mal escolhidos. Isto quando não serve para politiqueiros de plantão, que fingem educar as crianças, torrando rios de dinheiro com escolas ineptas, que mais distorcem o sentido da educação do que educam. Quem de fato cria as piores desigualdades é o governo e a escola pública. E não é por acaso que uma boa parte da classe média e uma pequena parte dos pobres com algum recurso fogem dela. A escola privada apenas cumpre melhor seu papel de educar.

E num país onde a educação, seja ela pública ou privada em geral, possui um controle governamental obtuso, não é por acaso que agora sofremos um processo grosseiro de engenharia social, que distorce o que há demais profundo na educação, que é a busca do saber, falsificando critérios de avaliação. Não é por acaso que hoje em dia o governo não somente inculca uma distorção cultural e educacional do valor meritocrático do esforço, como também impõe ideologias raciais na educação. Quando vemos questões odiosas como falta de mérito ou mesmo exigências de cotas raciais como critérios de avaliação educacional, nota-se o quanto os governos podem ser corruptores do senso moral de uma população, controlando a educação. Isso quando alguns governos, num Estado laico democrático, impõem proibições arbitrárias à manifestação religiosa individual, em nome de uma pressuposta tolerância, condicionando padrões abusivos de comportamentos, que atentam contra a própria consciência de seus alunos.

Não é por acaso que a educação pública foi, por muito tempo, um dos mecanismos mais eficientes de controle dos regimes tirânicos do século XX. O Estado, impondo ideologias espúrias, depreciando a liberdade individual e o mérito e ignorando o que há de útil e elementar, como alfabetizar e educar, não é mera coincidência que cria uma legião de “politizados” analfabetos e presunçosos com a própria burrice. Cria-se uma trupe de pessoas irrefletidas, raivosas e depreciativas do saber, que desprezam tudo aquilo que desconhecem, como são verdadeiras vítimas da própria ignorância. É visivelmente impressionante que os movimentos estudantis sejam tão submissos quanto a este detalhe. Porém, lembremos que muitos dos movimentos estudantis foram outro parêntesis dos movimentos totalitários do século XX. Nada podemos esperar muito deles.


Para os que criticam, como monges medievais hipócritas, a suposta “mercantilização” da educação, em uma sociedade em geral com sérios problemas de má formação educacional, não é chegada a hora de questionar a educação pública? Ora, sairia mais barato para o governo pagar mensalidades em escolas privadas de qualidade para crianças pobres, do que o mesmo torrar dinheiro público jogado fora pra criar cidadãos semi-analfabetos e deformados culturalmente. Que escolas decentes são possíveis de gerar com professores ruins e histéricos, que fazem greves por esporte ideológico e escolas caindo aos pedaços? A política governamental, na criação de castas estudantis, sejam elas de cotas públicas ou raciais em universidades públicas, são um retrato da depreciação do ensino público neste país, o mais deplorável estelionato escolar. Estão, aos poucos, rebaixando ainda mais o nível da educação, enlouquecendo-a, embora a paranóia seja antiga. E como não poderia deixar de ser, ainda querem depreciar as escolas privadas que educam bem. Em outras palavras, a educação pública, no geral, não presta, e ao contrário da ladainha sectária da esquerda pseudo-pedagógica, mercantilizar a educação educa bem mais do que estatizá-la. Com uma educação pública tão burlesca e tão extravagante, que espíritos vamos criar nesta nação? O Tempora o mores!

sexta-feira, julho 21, 2006

A RESPONSABILIDADE PESSOAL DOS ATOS


Obs: Este texto sofre um pouco de arcaísmo, pois foi escrito há quase três anos, em 22 de novembro de 2003. Ele foi revisado, na medida do possível, já que o tema sobre a maioridade pena implica uma certa atualidade, até porque alguns assuntos vieram à tona na imprensa e na mídia.
Um jovem casal de adolescentes foge para um sítio abandonado, a fim de acamparem e passarem um final de semana juntos. No decorrer da passagem, encontram quatro celerados armados que os assaltam. O jovem é colocado de joelhos e sumariamente executado com um tiro na nuca. A jovem é raptada e depois de colocada num cativeiro, é brutalmente estuprada e torturada. Insatisfeitos com a crueza, um dos maus elementos, um menor de idade, com a cumplicidade dos demais, leva a jovem pro matagal e lhe aplica quase vinte facadas, a ponto de dilacerá-la, arrancando seu seio e quase a degolando. O Brasil assistiu estarrecido, a morte brutal de Felipe Caffé e Liana Friedenbach, barbaramente executados por uma quadrilha de canalhas, entre os quais, o adolescente, de 16 anos, que às vistas de um policial, mostrou uma frieza entre cínica e perversa: “Matei porque deu vontade”, eis as suas palavras. O apelido: “Xampinha”.

Tal crime reacendeu a idéia da diminuição da maioridade penal de 18 para 16 anos. E também os questionamentos a respeito da eficácia do Estatuto da Criança e do Adolescente, uma vez que pela lei, o menor não somente é inimputável, como inatingível.

O que mais impressiona quando tal discussão ocorre, é que existe uma ideologia que parece justificar a irresponsabilidade moral pelos atos. Explico: muitos dos juristas, militantes dos direitos humanos, políticos, quando criticam ou são contrários à diminuição da maioridade penal, apenas tiram a responsabilidade do bandido pelos atos que pratica, ainda que seja menor. Na pior das hipóteses, nossos militantes samaritanos parecem mesmo é vitimizar o crime e demonizar a vítima. Tais patotas intelectuais bombardeiam este discurso, encontrando no bandido, uma espécie de vitima, que procura no seu crime, um resgate social de uma sociedade omissa. Dos filmes brasileiros aos discursos marxistas de academia, a ladainha é sempre a mesma: o bandido é um coitado e a vítima é uma culpada inconsciente.

Aliás, o mal que assola nossa sociedade é precisamente a irresponsabilidade moral pelos atos individuais. Ela é um dos indicadores da violência e da barbárie a que chegamos, como também da falência do convívio social. E tais ideologias, em nome de vitimizar o bandido, muito antes de explicar a violência, apenas a justificam, como se houvesse algo razoável no assassinato do casal de adolescentes.

Essa irresponsabilidade moral alimentada ideologicamente tem outra aberração, a concessão de regalias e direitos sem o dever pra contrapô-los. Invoca-se a liberdade sem a responsabilidade por assumir a conseqüência de nossos atos. Se muitos defendem a inimputabilidade do menor que estuprou e matou a garota a facadas, em contrapartida, dão-lhe direitos políticos, civis e invocam até permissão para dirigir. Contudo, ele não assume nada, absolutamente nada, se o mesmo matar, roubar e destruir que nem o demônio. Tão gritante demagogia de nossos legisladores realmente foi feita pra criar uma espécie de deturpação moral entre os jovens e não conceber limites pra eles.

Para os nossos samaritanos, os xampinhas da vida que estupram, matam, violentam com a maior frieza são “irresponsáveis pelos atos”, apesar de possuir direitos civis e políticos que negam as Lianas e Felipes. Ou no mais, a “criança” (se é que podemos chamá-lo assim) é “vítima da sociedade”, cabendo a mesma aceitar os bizarros caprichos mimosos de tais pestilentos, até o dia em que algum outro celerado pior o mate de vez.

Nosso governo, como não poderia ser diferente, adora a apologia deste discurso social. O ministro da justiça já disse ser contrário à diminuição da maioridade, afirmando que não conceberia a um menor o ambiente violento de um cárcere. O que ele não me explica é qual o lugar necessário pra colocarmos um monstro como Xampinha. E tampouco dá a resposta ao destino do bandido, que vai ser a liberdade. Em outras palavras, outros xampinhas, cônscios da impunidade que os protege, ainda vão matar mais Felipes e Lianas pela frente.

Um certo cronista da minha terra afirmou que o criminoso mirim veio cobrar em Felipe e Liana, aquilo que a sociedade não deu em educação, saúde, diversão, etc. A pérola, todavia, é do ex-ministro da (des)educação, Cristovam Buarque, que nos afirma, numa mistura de ódio anti-elitista e apologia do crime, o seu veredicto sobre o ocorrido: “A elite brasileira tem que entender que não é adiantando a idade em que o menor entrará na cadeia, mas sim atrasando a idade que o jovem sai da escola que se resolverá essa questão...” Ou seja, a culpa não é do criminoso, é da sociedade, ou melhor, da “elite”, que nas palavras do ministro, quer adiantar a idade penal porque odeia os pobres.

Será que todos os garotos pobres deste país são necessariamente assassinos? Quantas crianças não sentem privações neste país e mesmo assim são exemplos de dignidade, honestidade e honradez? Será que todo pobre é necessariamente um bandido? O que meu amigo cronista e o ministro não explicam é porque uma menina rica, bonita e inteligente como Suzanne Von Richtofen matou os pais. Ou os motivos de cinco garotos da classe média alta que queimaram vivo um pobre índio dormindo.

O mais grotesco é dizer que a “elite” pede punição mais rigorosa quando se sente ameaçada. Ou seja, a morte da moça não tem relevância senão além dos raciocínios marxistas das classes sociais, como se o estupro ou o assassínio, por si só, já não fosse motivo de aberração, independente de qualquer classe que seja. Em outras palavras, a vítima é culpada pelo crime. Liana e Felipe eram da “elite”, logo, são culpados inconscientemente pelo sofrimento dos xampinhas da vida, porque tiveram uma vida mais feliz e eram mais bonitos e bem mais sucedidos do que o delinqüente. O rancoroso assassino de vida fracassada, matando as vítimas da “elite”, logo, ele resgata uma injustiça social, porque nunca possuiu uma Liana e nem tinha os méritos de um Felipe. Se isso não fosse uma apologia cínica da inveja e do descaramento moral de certos intelectuais, eu diria que, no mínimo, isso é tão psicologicamente demente quanto o assassínio do casal.

O que mais impressiona é que não são as “elites” malvadas que pedem rigor contra a violência, e sim toda uma sociedade de todas as classes sociais, ricos e pobres, cultos e iletrados, em suma, os que guardam algum tipo de decência, que pedem rigor nas leis e mais cobrança do judiciário no que diz respeito a justiça. O caso dos namorados assassinados transcende todas as classes e comove todas as pessoas sensatas, sem exceção, que convivem com a violência do dia a dia e a indiferença de leis brandas, que acabam por legitimar os criminosos e favorecer mais ainda a impunidade.

A responsabilidade moral é um dever de todos, dos pequenos e dos grandes, e não caberia alguém de se negar a tê-la, a não ser para os loucos e aqueles que não têm consciência do que fazem. Ainda que as crianças não tenham juízo dos seus atos, o fato de serem punidas pelos pais, presume-se que desde a tenra idade, elas são ensinadas a conceber limites, a possuir consciência o bastante da extensão de seus atos. E mesmo aquelas que não tenham pais virtuosos para tanto, a própria sociedade os ensina a conceber limites, pelas próprias regras do convívio social.

É claro que existem pessoas imaturas pra não conceberem a extensão de seus atos. E que as leis precisam de uma certa presunção de idade para a prática da vida social, sob pena de ocorrer abusos. Porém, nem isto imputa algo como a irresponsabilidade, pois em regra as pessoas possuem, em maior ou menor grau, consciência do que fazem. O crime, em sua maior parte, é um ato consciente, vindo de pessoas que sabem o que fazem, que dentro de sua escolha, muito mais que a formação, optam por praticá-lo. Todos os seres humanos são potencialmente criminosos, mas a maioria não pratica por questões de escolha e zelo por princípios. É por isso, que por mais que o criminoso seja um adolescente, ele jamais deve deixar de ser punido, ainda que essa punição seja proporcional a sua idade. Deve ser julgado, acima de todo, o grau de consciência do criminoso pra que ele seja punido. E os adolescentes de hoje, muito mais do que qualquer outra geração, são bem informados o bastante pra terem consciência do que fazem.

No caso de Xampinha é mais bizarro, pois o mesmo premeditou do assalto até o assassinato do casal. Ele tinha consciência do que fez e o fez porque quis. Comenta-se que antes de ser preso, ainda se orgulhava de ter estuprado a menina, como se fosse uma conquista ou um troféu, com a monstruosidade de dividi-la com seus comparsas. E sabendo que a policia estava à procura da vítima, assassinou a jovem, temeroso de ser denunciado. Muito antes de ser um desajustado, o que de fato é, ele calculou tudo, possuindo, muito mais do que a frieza dos próprios atos, a consciência de impunidade. Óbvio, pois o Estatuto da Criança e do Adolescente elevou perversos mirins da pior espécie como coitadinhos rejeitados pela sociedade. Isto porque é, supostamente, seu segundo assassinato.

A mesma inteligentsia que faz apologia de assassinos psicopatas mirins e pede inocência a eles, esquecendo, é claro, suas vitimas, ao mesmo tempo em que combate com afinco o rigor de punição aos criminosos, é visivelmente cúmplice desse estado de coisas. Ódio ideológico às elites, condescendência criminosa com a violência, culpabilidade da sociedade, insensibilidade às vítimas e redenção da criminalidade é o que está por trás de toda cantilena a respeito da irresponsabilidade moral do criminoso. Essa classe intelectual mal percebe o quanto é odiosa, mesquinha, rancorosa, preconceituosa e visivelmente mau caráter.

É ela que calunia a família, deprava a moral, irresponsabiliza o indivíduo e romantiza apaixonadamente a violência, enquanto enfraquece as leis e justifica moralmente o crime. Ela imputa a pecha da pobreza ligada ao crime, porque precisamente não passa de uma elite arrogante, que vê os pobres com desprezo e os acha propensos à criminalidade, porque, de fato, ela própria se identifica com o crime. Ela julga os xampinhas da vida como regra indutiva dos pobres em geral, não porque o celerado seja pobre, e sim porque ele encarna a ideologia de violência que elas apregoam. E culpando na sociedade o que é responsabilidade maior de um indivíduo, essa minoria organizada apenas descarrega o seu desprezo pela sociedade como um todo, e o que a sociedade representa. Como não criarmos psicopatas mirins com tais desvalores, bombardeados por décadas e décadas? Como não existir xampinhas, se os assassinos, por mais perversos e jovens que sejam, são isentos de sofrerem os frutos mínimos de seus atos?

Na tragédia que nós assistimos em São Paulo, a redução da maioridade penal é mais que necessária, para uma legislação que não só deixa impune, como legitima e incentiva o crime. O Estatuto da Criança e do Adolescente e a idade atual de capacidade penal não condizem com a realidade, tanto do crime, como das responsabilidades que os adolescentes assumem ou devem assumir. Temos que combater essa cultura ideológica que irresponsabiliza o indivíduo de seus atos e diviniza o crime como um produto de abstrações sociais inócuas. Devemos, acima de tudo, resgatar o indivíduo, não somente em sua dignidade, como também de assumir compromissos com seus concidadãos. E nisto, a liberdade do indivíduo deve estar de mãos dadas com a responsabilidade pessoal, perante aos outros e a si mesmo.

ADENDO
MINISTÉRIO PÚBLICO: PROMOTORES OPORTUNISTAS E CENSORES

O Ministério Público de São Paulo, na pessoa do promotor público (não seria promotor de eventos?) e assessor de direitos humanos da Procuradoria Geral de Justiça, Carlos Cardoso, enviou oficio solicitando cópia do programa de Hebe Camargo. Nas palavras do órgão, a apresentadora fez declarações que poderiam ser apologia do crime, ao afirmar que desejaria matar “Xampinha”, o assassino do casal Felipe Caffé e Liana Friedenbach, a respeito do terrível crime ocorrido em São Paulo. E solicitou as fitas desejando fazer uma “análise contextual” sobre o caso.

Em seu programa, na presença dos pais das vítimas, a apresentadora Hebe declarou: "Ele é tão monstro que fez o delegado chorar. (...) Ai, se eu pudesse fazer uma entrevista com o Xampinha...”. "Ele iria virar linguiça. (...) Viu Xampinha? Eu vou fazer uma entrevista com você, vou mesmo. Se me deixarem, eu vou, mas eu vou armada. Eu saio de lá e vou para a cadeia. Mas ele não fica vivo."

O que mais estranha é como o Ministério Público, que devia fazer um esforço sobre-humano em usar de toda lei para manter um menor vil e canalha assassino na cadeia, parece fazer reprimenda às palavras de uma apresentadora indignada. Que o nosso assessor dos “Direitos Humanos”, como tantos assessores pomposos de defensores da raça humana, ainda se prestem a defender direitos de bandidos, é algo de uma comicidade extrema. Isto porque os nossos paladinos da lei, da moral e dos bons costumes defendem a escória da raça humana, ou seja, os xampinhas da vida, que são pobres vítimas da malvada sociedade capitalista e neoliberal.

Porém, utilizar a indignação de uma apresentadora como pretexto a um processo criminal chega a ser patético. É uma censura pura e simples. Será que o Ministério Público vai processar toda palavra de ódio de um cidadão qualquer, que manifesta sua vontade de matar um celerado apenas pela indignação pura e explícita? Que eu saiba, apenas a mera declaração da vontade de matar, sem tal intento ser praticado, não constitui crime nenhum. Que o diga o caso de uma senhora como a Hebe Camargo, que com certeza, dificilmente mataria alguém. Ela não fez apologia ao crime porque simplesmente apenas expressou um sentimento de perplexidade e indignação e não insuflou em nada a matança de alguém. Um sentimento de perplexidade e raiva ouvida e compartilhada a quatro cantos do país, por qualquer pai de família ou dona de casa, adolescentes ou adultos, que têm esposas, filhos, namoradas e irmãos a zelar.

Que nossos assessores de “Direitos Humanos” tenham tendências totalitárias em nosso país, vá lá, não é novidade. Que os seus militantes utilizem-se de métodos dignos de um Stálin, para proibir palavras “fascistas” de revolta das pessoas comuns e honestas, são métodos largamente conhecidos. Contudo, utilizar uma instituição respeitável como o Ministério Público para fiscalizar propósitos de opinião de uma apresentadora, não somente é algo ignominioso, como atenta à livre expressão da imprensa e do cidadão neste país. Mas fazer o que não é mesmo? Se os seqüestradores de Abílio Diniz e Washington Olivetto são os ídolos de nossos paladinos da raça humana, agora temos a nova moda do mercado, os xampinhas da vida, matadores de “burgueses”. Seria o fim da picada. Mas tudo é possível neste país de néscio e sandeu. . .

sexta-feira, julho 14, 2006

INCORRETÍSSIMO. . .

Estamos na ditadura do linguajar politicamente correto. Qualquer manifestação contrária à “novilíngua” totalitária das esquerdas culturais é passível de processo. E eu posso dizer, sou um tipo de vítima predileto, já que meu falar não é muito cortês. Meu conservadorismo é católico, moralista, perfeitamente odioso aos olhos "progressistas"; meu liberalismo é quase vitoriano, reacionário, elitista e minha identificação cultural é visivelmente ocidental. Mas meu ocidentalismo não é etnocêntrico. Pelo contrário, o valor da cultura ocidental está precisamente pelo fato de se libertar de suas fontes européias e se transformar em princípios basilares de variadas civilizações. Na verdade, a cultura ocidental é um patrimônio universal criado no continente europeu e espalhada pelo mundo. Essa herança cultural vinda dos gregos, romanos, judeus e árabes se condensou num continente, que é o canal privilegiado das mais altas inspirações da intelectualidade humana. A Europa tem seu destaque mundial precisamente porque ela foi o caldeirão das culturas clássicas do Velho Mundo. Sem o que chamamos de cultura greco-romana e judaico-cristã, a Europa, suas instituições, seus legados e todo o legado do ocidente, simplesmente deixam de existir. Como um latino, um grego, um judeu, um cristão e um katolikós, eu me sinto um cidadão do mundo, um sujeito que reconhece no homem a sua humanidade, e outras demais coisas criadas pelo Deus de Israel!

E, no entanto, deparo-me com o horizonte estreito do multiculturalismo politicamente correto. O multiculturalismo é uma espécie de relativismo absolutista. Ele é capaz de negar as comparações culturais, por serem discriminatórias, ao mesmo tempo em que coloca as particularidades grupais e culturais como um fim em si mesmo. Ou seja, em nome de evitar comparações que possam fazer valer a superioridade de algumas culturas sobre outras, na prática, a lógica relativista leva a justamente isso, a cultura como um fim em si mesmo, colocada num plano de superioridade absoluta! É por isso que os movimentos multiculturais são totalitários na sua essência: eles idealizam uma concepção grupal monolítica e não admitem comparações. São fundamentalistas na sua essência ideológica e não toleram nada que seja diferente de suas conjecturas “culturalistas”. Na verdade, eles pensam como uma tribo fechada, bitolada, incapaz de aceitar as mudanças e a dinâmica entre as culturas e as idéias. Eles negam, de fato, a universalidade humana ou mesmo a lógica, em favor de sua linguagem fechada e peculiar de visão ideológica, que é uma profunda negação da realidade objetiva. É por isso que os movimentos multiculturalistas são anti-ocidentalistas e incoerentes, ainda que aparentem ter uma lógica no discurso. Até porque a lógica com que se apresentam não tem vínculo com a realidade. Pelo contrário, é uma dissociação dela, uma platonização radical do pensamento, a ponto de negar completamente qualquer senso do real.

É por isso que nos debates sobre política, economia, religião, cultura, etc, o multiculturalista médio cai na esparrela relativista, para explicar um nexo lógico que só ele compreende. Ele presume que a argumentação é apenas um viés retórico, uma imposição projetiva de uma visão da realidade, já que ele nega completamente o conhecimento objetivo. Como o ideal platônico e inatingível está acima da compreensão das coisas elementares, é como se uma loucura bem trabalhada dominasse sua alma, a ponto de sacrificar o real pelo abstrato, o conhecimento objetivo pela falsificação da ideologia. O totalitarismo é justamente uma ditadura platônica de uma ideologia, em detrimento completo da realidade. Os movimentos do tipo nazista ou comunista são o reflexo mais sombrio dessa tragédia humana.

Um caso particular é o linguajar politicamente correto. É a expressão ditatorial da linguagem, querendo moldar as palavras, de acordo com a censura prévia da expressão das idéias e dos comportamentos. De fato, sou vitimado por essa ditadura da burrice contra a inteligência. Um exemplo disso são os elogiosos epítetos de que sou acusado: “racista”,“sexista”,“homofóbico” e “fascista” e todos os jargões tolos da cantilena sectária dos multiculturalistas. De fato, sou “racista” porque me considero inimigo mortal das tolices do movimento negro e de toda a estupidez grupal racista que há nas cotas raciais, ou seja, o culto da raça acima do indivíduo (até porque, tal como os nazistas, o movimento negro quer estatizar a raça). Sou “sexista”, precisamente porque penso que a histeria feminista contra o macho é uma completa alienação da fêmea, uma homossexualidade politizada da feminilidade, em suma, uma forma contrária de sexismo. Sou “homofóbico”, precisamente por pensar que o único modelo moralmente aceitável e elementar é a conduta hetero e família alguma pode ter referência com um homem brincando de mãe e uma mulher brincando de pai. Família é algo mais sério que isso. E finalmente, sou “fascista”, porque defendo o Estado de Direito Democrático, o livre mercado, as liberdades civis e políticas elementares do mais clássico liberalismo. Faço questão de embasar meu conservadorismo moral, embora liberalismo e conservadorismo não são excludentes.

Todavia, no jargão politicamente correto, “racista” é ser contrário ao grupo paladino do “anti-racismo” preconizado pelo culto racial discriminador. “Sexismo” é simplesmente você não ser sexista da maneira deles (ou melhor, delas). “Homofobia” é você não ter desejos anais. E “fascista” é toda manifestação refletida, coerente e contrária ao socialismo. Se por um lado, o socialismo é completamente incoerente com um sistema político que respeita minorias, porém, a forma de organização grupal deles é visivelmente socialista, no sentido mais partidário, bolchevista e fascista do termo. Sem contar que o movimento negro é uma espécie de nazismo às avessas, uma forma de culto ariano africano! Deve-se entender que a “novilingua”, a deturpação da linguagem politicamente correta é uma distorção completa do senso da realidade. Criar rótulos sem nexo descontextualizados e invertidos de sua semântica, para invocar epítetos odiosos a seus rivais, é um método que seriam familiares a Stalin e um Hitler.

O culto “africanóide” dos militantes negros é um sinal de barbárie cultural, de retrocesso tribal, um isolamento histórico e cultural dos africanos aos avanços da civilização. A apologia da mulher feminista é uma forma homossexual ou assexuada da mulher vestal. O orgulho homossexual é uma crise narcísica, uma forma neurotizada de identidade sexual. E o socialismo atávico é o sinal completo de total coerência na organização totalitária deles, com a mais completa incoerência no sentido de se fazerem valer como “minorias”, numa sociedade majoritária. Até porque o socialismo despreza minorias. E eles, como minorias, parecem desprezar ainda mais as “minorias” que não entram na cartilha rígida, cristalizada e padronizada de pensamento deles, uma vez que até o consenso majoritário parece temer o seu julgamento. As opiniões mais independentes e isoladas são suprimidas pela repressão ditatorial e histérica deles. No linguajar da turba ignorante policialesca de pensamento politicamente correto, ser “racista”, “sexista”, “homofóbico” e “fascista”, ainda dá atestado de inteligência, nesses tempos tão sombrios. Ser incorretíssimo é ainda umas das poucas minorias, ainda que discriminadas, que sobram do são juízo elementar. Ser incorretíssimo é, acima de tudo, ser franco inimigo do totalitarismo cultural!

Leonardo Bruno

14 de julho de 2006

quarta-feira, julho 12, 2006

A mentalidade da servidão. . .


Um colóquio me fez refletir a respeito dos estereótipos mais comuns de várias opiniões deste país. Uma amiga minha muito inteligente, e, como ninguém é perfeito, crédula nos princípios socialistas, ficou particularmente furiosa com minha provocação. Eu fiz a seguinte pergunta: “ Sabe qual a diferença entre um coronel nordestino e Fidel Castro?” Resposta: “Fidel Castro tem muito mais poder!” Pronto! Minha doce a sábia criatura me fuzilou com aquele olhar inquisidor digno dos expurgos soviéticos. O curioso foi a justificativa de minha amiga, como, aliás, sempre ouço dos meus amigos socialistas, que é o cânone da mania cubana: o governo cubano “dá” educação, alimentação, saúde, segurança, entre outras maravilhas do Éden caribenho. E ela finalizou, entre o sereno e patético, tal como uma filha que fala de um pai: “Fidel sabe o que faz!”. Se os intelectuais do século XVIII inventaram o mito do “bom selvagem”, o século vinte inventou o mito do “bom ditador”.

Essa última argumentação saída de sua boca lembrou-me um trecho de uma das obras de Tocqueville, Democracia na América. Eis o que para mim tornou-se profético:

“Após ter agarrado cada membro da comunidade e tê-los moldado conforme a sua vontade, o poder supremo estende seus braços por sobre toda comunidade. Ele cobre a superfície da sociedade com uma teia de normas complicadas, diminutas e uniformes, através das quais as mentes mais brilhantes e as personalidades mais fortes não podem penetrar, para sobressaírem no meio da multidão. A vontade do homem não é destruída, mas amolecida, dobrada e guiada; os homens raramente são forçados a agir, mas constantemente impedidos de atuar; tal poder não destrói, mas previne a existência; ela não tiraniza, mas comprime, enerva, ofusca e estupefaz um povo, até que cada nação seja reduzida a nada além de um rebanho de animais tímidos e trabalhadores, cujo pastor é o governo”.

Quando vejo pessoas afirmarem tais questões a respeito da ditadura cubana, ou de qualquer outro regime despótico, nada me impressiona tanto a falta de auto-estima daqueles que não valorizam algo tão sagrado como a liberdade. Como bem previra este grande visionário francês do século XIX, as pessoas são capazes de abdicar da liberdade por pequenas coisas. Se um reles ditador como Fidel Castro não passa de um velho coronel nordestino todo poderoso, seus admiradores não passam de reles camponeses e capangas, obedientes a um pai onipresente, ainda que com a pretensa pecha de “intelectuais”.

Não vou longe. Uma coisa que ninguém se pergunta, quando repete a cantilena da “educação”, “saúde”. “segurança”, é o preço que um governo tirano cobra pra oferecer o que não passa de farelos. Quase todos os regimes autoritários e totalitários do século XX, dos nazistas, fascistas aos comunistas, utilizaram-se dos chamados “direitos sociais” pra reduzirem a população em uma nova servidão ao governo. Em outras palavras, o Estado “dá” educação, mas ele decide o que o cidadão pensa. Ele “dá” saúde, como se fosse um deus que tivesse o poder de vida e morte sobre as pessoas. Ele “dá” alimentação, embora escolha o que o cidadão come. Ele “dá” segurança, apesar de ser o fator motriz da insegurança, visto que é um poder arbitrário e onipotente. De fato, o poder monopoliza tudo, inclusive o direito de violência. O que sobra de uma sociedade como esta nada mais é do que um rebanho de ovelhas tímidas e adestradas. Ela tem os elementos mais odiosos de um antigo autoritarismo, mesclados como novos métodos de poder, controle e coerção.

O pior, todavia, é que tais ideais não são partilhados por pessoas tolas, e sim, por gente esclarecida, pretensamente culta e letrada. Talvez seja o sonho dessa turma alienada, avoada, ou mesmo inconseqüente, a falsa crença da segurança, numa suposta idéia de proteção onipresente de um ente superior. Parte-se de uma idéia ingênua da mitificação do poder, de uma autoridade moral paternal do Estado. Mais ingênuo ainda é afirmar que o Estado “dá” alguma coisa, mal sabendo que quando o Estado administra é justamente os bens alheios, que muitas vezes não lhe dizem respeito.


Malgrado essa gritante tolice, é mais tolo ouvir de certas pessoas que o Estado oferece serviços “gratuitos”. Realmente, até parece que os “virtuosos” funcionários públicos trabalham de graça, por algum dever cívico. Claro, não ocorre nas cabeças desses mentecaptos estatólatras, algo como servidores fazerem greves, abandonarem a população a Deus dará, criarem gastos supérfluos e privilégios obtusos e sufocantes com o dinheiro dos outros. Além das panelinhas e castas de eleitos pelo poder público, por regalias que um trabalhador privado nem sonha ter, porém, que paga pelos outros através dos impostos. Ademais, para certas pessoas, o Estado não vive do que a sociedade trabalha, é um fim em si mesmo, auto-gerador. E o mais cômico, ainda escuto essa história de “gratuidade” na boca de muitos economistas!

O mais terrível dentro desta mentalidade servil é que tal pensamento não rouba somente o direito de escolha, em qualquer âmbito da vida social. Simplesmente rouba a alma das pessoas e a capacidade de terem vontade própria. Cada pessoa é reflexo de um grupo, de um rebanho domesticado, cada sujeito não age por si mesmo, e sim segue pelo instinto da massa, tal qual maria-vai-com-as-outras, sob a égide de um obtuso poder centralizado. A espiritualidade livre, independente, é substituída pela cultura do unanimismo, da uniformidade dos espíritos, pela esterilidade do discurso repetido do chavão. De fato, este país está sofrendo uma crise letárgica de espiritualidade servil, uma anti-espiritualidade, uma anti-pessoa. Malgrado os horrores do século XX, ainda a tentação totalitária domina certos espíritos.

Caminharemos para a servidão, como dizia Tocqueville “até que cada nação seja reduzida a nada além de um rebanho de animais tímidos e trabalhadores, cujo pastor é o governo?”. Se as almas destes homens “cultos” desta nação são capazes de abdicar da liberdade pelo mito da proteção de um governo déspota, tudo leva a crer que sim. Que o diga os amantes da ilusória segurança dos “direitos sociais” da vida, do Pai Terrível Estado, acima dos direitos individuais sagrados da liberdade. Abdicam da liberdade pela segurança, porque antes que eles convençam a sociedade a renunciar a liberdade, eles mesmos já a renunciaram. Como diria um outro pai, não um pai terrível, porém, o grande pai da pátria norte-americana, o estadista Benjamim Franklin: “Aqueles que se dispõem a renunciar a liberdade essencial em troca de uma pequena segurança temporária não merecem liberdade nem segurança”.

Leonardo Bruno

segunda-feira, julho 10, 2006

MINORIAS TOTALITÁRIAS

Um fenômeno ligado às democracias são as proliferações de movimentos sociais e ong’s relacionados a reivindicações de “minorias” ou de grupos sociais pretensamente injustiçados pela sociedade, no que diz respeito a comportamentos, aptidões e idéias. Em particular, os movimentos de gays, feministas, negros, indígenas, entre outros, que através de tais organizações, cobram reconhecimento em suas opiniões.

Nada mais explicável, dentro de nossa sociedade, a organização de grupos que se reúnem para defender seus pontos de vista, uma vez que tal prática somente existe em países de tradições liberais e democráticas. Porque a experiência prova que somente nas sociedades liberais é que existem esses zelos ao pluralismo político e aos direitos individuais de quaisquer indivíduos ou grupos. Principalmente se for observado que os homossexuais são pessoas que estão fora de um padrão de moralidade aceito pela sociedade.

Contudo, o viés dos movimentos das minorias, no caso os gays, as mulheres, os negros e tutti quantti, sempre foi a idéia da politização dos comportamentos, como se a manifestação destes fosse um grupo partidário ou mesmo um ghetto. A sociedade, em parte, contribui pra isso, uma vez que existe, no caso específico dos homossexuais, uma certa dose de discriminação em comportamentos considerados incomuns ou imorais pela comunidade. Todavia, há excesso e radicalismo perigosos e impertinentes, numa espécie de culto grupal de tais organismos, como se eles fossem membros de uma classe eleita.

Não é por acaso que muitos movimentos gays, negros ou feministas apresentam uma contradição intrínseca de sua própria formação: eles se agrupam de uma maneira totalitária, criticando a tudo ou a todos que fogem de seus modelos construídos corporativa e ideologicamente, sem admitirem quaisquer críticas sérias e também válidas contrárias às suas exigências e condutas.

Um exemplo claro disso é a extrema ligação de muitos destes grupos com movimentos radicais de esquerda. Vários partidos de esquerda exploram a marginalização de muitos destes grupos sociais para alimentarem um certo grau de infantilismo, prometendo o paraíso pra lhe arrebanharem votos e canalizarem as frustrações pessoais. De fato, por uma ótica política, a estratégia é engenhosa, pois outros partidos políticos parecem não se interessar por exigências muito particulares, como comportamentos sexuais ou identidades raciais.

O mais impressionante, todavia, é que por essas influências, tais grupos são flagrantemente simpáticos a idéias antidemocráticas, sem se aterem ao fato de que possuem uma certa liberdade porque precisamente vivem nela. Não é por acaso que ouvimos um grau de messianismo que chega a ser patético, oriundos do movimento gay, feminista ou negro, de criarem idéias racistas e sexistas de culto cego aos seus próprios paradigmas e estereótipos e o horror à diferença. Uma contradição soberba, mas que se revela de uma forma notória.

Em nome da pluralidade, alguns movimentos sociais parecem não aceitá-la quando não as privilegia grupalmente. E o mais estranho é que desejam criar “direitos” específicos em nome de suas “diferenças”, sem respeitar as diferenças dos outros (isto quando não negam a igualdade perante a lei, comum a todos!). As feministas radicais, como os negros e os homossexuais militantes adoram fazer apologia da raça e de seu comportamento sexual, e, no entanto, escandalizam-se com qualquer crítica conservadora divergente de seus pontos de vista. Há, na verdade, uma tentativa de censura às avessas, como se tais grupos fossem os novos paladinos da moralidade, embora não possuam bagagem para tanto. O pior é quando se criam leis especificas atendendo-os, o que não passa de uma espécie de imposição de privilégios disfarçados.

Não são incomuns alguns grupos minoritários culparem a “sociedade ocidental” ou a “opressão capitalista” pela discriminação racial e sexual. Absorvendo os ideários radicais da esquerda, projetam ilusões, como se o socialismo ou outra forma de poder fantasioso ou “libertário” vá elevá-los a algum estado de redenção. É uma ingenuidade que beira a ignorância, pois os regimes socialistas sempre foram cruelmente impiedosos com as minorias, sejam elas sexuais ou raciais. Até porque o socialismo não valoriza o indivíduo, e sim a supremacia absoluta da coletividade. E numa sociedade coletivista, as minorias não têm espaço algum.

O capitalismo, o mercado, a democracia e o liberalismo favoreceram muito mais estas minorias do que qualquer outro sistema, pelos escrúpulos visíveis das liberdades civis que existem nos paises democráticos. Somente num país capitalista é que os gays, os negros e as mulheres possuem espaço livre na mídia, na sociedade civil a até numa sociedade de consumo, onde são atendidos em suas satisfações pessoais e no direito de serem ouvidos. Isto, sem arrebanhá-los em grupos fechados e partidos políticos e tampouco transformar isso em demagógica reivindicação política.

Num caso específico, a “politização” do sexo sempre pareceu algo entre o caricato e o patético. Visto que questões de comportamento sexual deveriam ser quase que sempre problemas da vida privada de cada um, e não uma preocupação do Estado. É claro que isto não é totalmente seguro, e há exceções, visto que na sociedade existem normas de conduta social também ligadas ao sexo, e que de certa forma, influenciam nas leis. Um exemplo clássico é a questão de práticas homossexuais em recintos públicos, um aspecto particularmente muito controverso, no que diz respeito à liberdade individual e algumas normas de conduta moral aceita na sociedade, inclusive tendo conseqüências legais. E outros, como o casamento de homossexuais e a adoção de filhos por casais gays, temas espinhosos dentro de uma sociedade culturalmente heterossexual.

As leis, de fato, não estão isentas de avaliações em relação à moral. O Estado totalmente amoral é apenas um mito, dentro do Estado laico moderno. As leis, de alguma forma, refletem um âmbito de moralidade e eticidade que está de acordo com o que a sociedade crê ser seus valores e princípios. Não matar e não roubar são princípios morais e éticos, tanto quanto os princípios ligados à família e às relações monogâmicas. A diferença básica numa sociedade liberal, é que ela reconhece aos indivíduos um certo grau de liberdade de escolhas nos aspectos morais, sem transformar isso num ato de coação. E o Estado liberal democrático apenas restringe os abusos, quando eles fogem do âmbito individual para prejudicarem terceiros.

Contudo, o que deve ser avaliado é a proporcionalidade da moral e do que é exigido, pois, nem todas as reivindicações movidas por comportamentos sexuais podem necessariamente ser atendidas. Questões como a sociedade civil entre homossexuais, no que diz respeito a bens e patrimônios construídos em comum, podem ser reivindicações razoáveis, dentro de certos limites. Porém, elevá-los no mesmo status de uma relação heterossexual é comparar duas situações não somente diferenciadas como incompatíveis. As responsabilidades, a natureza e a relevância de um relacionamento heterossexual são totalmente distintos de uma relação gay. Ainda que se possa atender certas exigências razoáveis, não se pode nivelar por baixo tudo em nem pode se negar certas crenças morais, que decerto, são também válidas.

O problema básico destas discussões é o perigo do relativismo moral. Certos grupos querem rebaixar a moral e os costumes, nivelando-os, aos olhos de um Estado democrático, como se a moral e a ética não tivessem uma hierarquização de valores. A liberdade de opiniões não nega a força e a coerência de certos princípios morais e eticidade. Tampouco o Estado democrático pode relativizar algumas regras de conduta, que são preciosas ao próprio convívio social. Pode-se tolerar alguns tipos de condutas, todavia, não é da responsabilidade do sistema democrático, e tampouco de qualquer sistema, atender quaisquer exigências, por mais absurdas que sejam, partindo do mero pressuposto de agradar a gregos e troianos ou trair o bom senso em nome deles. O homossexualismo, como algumas condutas sexuais marginais, podem ser toleradas, dentro dos atos individuais de cada um, mas nunca pode ser exemplo ou referência moral para qualquer sociedade, pela anormalidade que tal comportamento acarreta individual e socialmente. É por isso que o nivelamento do comportamento gay e o comportamento hetero são absurdos, precisamente porque o heterossexualismo, ao contrário do homossexualismo, não é uma mera conduta dentre tantas outras, mas o pressuposto básico para perpetuação da espécie, uma necessidade da própria natureza humana em reproduzir. Não se pode nivelar o amor entre um homem e uma mulher, ou mesmo as responsabilidades civis e morais entre um cônjuge heterossexual, seja no aspecto dos bens, como filhos e a família, com o “casal” ou dupla homossexual. A relação hetero é a base da família, pois só ela gera responsabilidades filiais e é por intermédio dela que a família é gerada ou mesmo imitada. Mesmo as adoções, filiações e paternidade ou maternidade estão inseridas dentro de uma conduta heterossexual e são reproduções jurídicas dela.


Por outro lado, temos os chamados movimentos negros e feministas. Há um processo de vitimização em tais grupos, que os militantes se julgam no direito de reivindicar privilégios legais ao Estado, como se os sofrimentos alegados por tais minorias justificassem esses privilégios. Nisto se reflete nas chamadas reservas de mercado para mulheres e negros, como as cotas raciais nas universidades e postos de trabalho, e também cotas sexuais. Em nome de se combater o racismo, os movimentos negros legalizam o racismo de maneira inversa, como se as supostas “dívidas históricas” pudessem ser pagas por gerações que não tiveram a menor culpa nisso. O mesmo principio de deduz nas feministas, já que estas amaldiçoam o macho por qualquer complexo que lhes dê na cabeça. Curioso é que as exigências e as justificativas que tais movimentos exigem privilégios são explicadas por supostas culpas sociais de quem não está incluído no grupo. O raciocínio aí não somente é visivelmente totalitário, como discriminador.

Ou seja, a culpa do mundo é não se sujeitar ou agradar aos caprichos das minorias militantes. O julgamento da sociedade, pelo prisma das minorias, não depende de uma responsabilidade individual em si de alguém com outro individuo, e sim de estereótipos grupais, sejam eles raciais e sexuais. Os brancos são culpados por serem brancos, porque cumprem um estereotipo de dominador europeu, como os homens são caracterizados como homens, enquanto patriarcais e machistas. O mesmo princípio se aplica aos homossexuais, que se acham no direito de condenar a sociedade heterossexual, enquanto não se cansam de se neurotizar e expiar suas culpas pela moral judaico-cristã.

O pior de tudo isso é o patrulhamento ideológico que está por trás do raciocínio e dos métodos de organização destes grupos. Não é mera coincidência que posições conservadoras do ponto de vista ético e moral são vistas como uma espécie de heresia, isso senão um sacrilégio medieval dentro das hordas progressistas. De fato, o autoritarismo policialesco de tais movimentos progressistas militantes não são menores do que o fundamentalismo religioso mais primitivo. Eles são, na prática, uma forma sublimada de fundamentalismo, embora de caráter ideológico. Em nome de criticarem a moralidade conservadora, eles mesmos se postam de moralistas, ainda que o seu princípio ético seja vago e permissivo. O critério de julgamento moral destes movimentos é só um: ou se acata o que eles dizem ou é condenado aos quintos dos infernos. O grupo, coletivo, é o imperativo moral superior e inquestionável, e qualquer cidadão que questione essa concepção, está excluído do processo. O mais impressionante é que tal julgamento é uma anti-ética, uma anti-moral, já que esvazia de conteúdo qualquer responsabilidade individual pelos atos, julgando-se aleatoriamente as pessoas pelo grupo. É a velha cultura e raciocínio de índole totalitária, fatalista e despótica, que prejulga as pessoas pelo raciocínio ideológico e conveniências grupais e não pelo prisma dos atos e da responsabilidade pessoal por eles.

E não é por acaso que as minorias militantes, no dogma moral de julgar a sociedade pelas suas rejeições e pelos seus complexos, possuem uma forte sedução pelas ideologias de engenharia social. Acham que podem transformar a sociedade manipulando a ética, os valores, os símbolos, a cultura, o bom senso e mesmo a razão elementar. E em nome disso, mal percebem o quanto acalentam um espírito moralmente corrosivo e destrutivo, cujas conseqüências são as piores possíveis. Ou seja, uma completa inversão dos valores, uma verdadeira esquizofrenia moral e ética, em nome de meros caprichos subjetivos, causados pela revolta e rancor. O “politicamente correto”, tal como a revolução cultural esquerdista infestada em universidades, escolas e centros culturais, são formas ostensivas de policiamento da personalidade, da linguagem, no sentido de moldar e forjar comportamentos artificiais. Nenhuma sociedade sã evolui com um princípio de moralidade pautada na crítica raivosa, na polícia de pensamento e de padrões e na moldagem servil de comportamentos. Pelo contrário, uma sociedade assim, se surgisse de fato como regra, ela retrataria o sinônimo mais grotesco de decadência.

Que dentro de nossa sociedade liberal, todas as consciências devem ser ouvidas, isso é óbvio. Que o direito a opinião deva ser sagrado, no sentido de que cada um tenha exercício do seu pensamento, além do debate livre e sério a assuntos controversos, isso também é louvável. O que não é louvável são grupos organizados criarem leis, artimanhas ou usar da força do Estado para imporem suas crenças, regras e ideologias. Tais artifícios são uma completa renúncia ao debate e uma forma disfarçada da censura a livre opinião. Tampouco cabe condenar àqueles que não concordam com os caprichos das minorias. A sociedade democrática se equilibra, precisamente quando há a liberdade de questionamentos, inclusive contrários a tais núcleos, incoerentemente chamados de “progressistas”. A sociedade democrática só sobrevive, de fato, quando a liberdade de pensamento e opinião é preservada, tanto de um lado, quanto de outro, para que haja equilíbrio. E mesmo essa liberdade, não renuncia a sua dose de moral, sob pena de caos.

Leonardo Bruno
Em 10 de julho de 2006