quinta-feira, novembro 27, 2008

A política das “libertárias” criancinhas mimadas.

Recentemente assisti a um filme sobre a guerra civil espanhola. Como é de costume num assunto controverso, a película é uma santificação chorosa dos republicanos espanhóis. O título é “libertárias” e fala da história de um grupo de mulheres anarquistas empedernidas num misto de luta feminista e revolucionária, pegando em armas contra os “fascistas” (leia-se, o exército de Francisco Franco). Convém dizer: feminismo e ideologia revolucionária são meras redundâncias. Um aspecto que me chamou atenção neste filme é o primarismo intelectual do anarquismo socialista. Os personagens idolatrados como heróis no filme mais pareciam criancinhas birrentas e infantis, revoltadas contra a autoridade constituída, tal como que revoltadas contra os próprios pais. De fato, duas particularidades se notam nas posições dos anarquistas: a negação de um poder e uma hierarquia de valores, princípios e ciências em relação a eles próprios. E como eles negam que haja algo superior a eles, acabam se deidificando como autistas, como se eles próprios representassem a autoridade encarnada.

Algumas cenas do filme retratam esse tipo de personalidade. Uma fanática miliciana armada, no frenesi da queima de objetos de arte e esculturas de santos de uma Igreja, dizia: - Ni pátria, ni Dios, ni amos (nem pátria, nem Deus, nem amos)! Outro revolucionário, no âmago da histeria da destruição de palácios e conventos, reverberava, quase nestes termos: - Pode-se deixar a civilização em ruínas, precisamente por nós, os trabalhadores, construimos e podemos construir, do nada, um novo mundo (grifo meu). A loucura dessa frase parte do seguinte dilema: a humanidade voltará à idade da pedra, na mais completa tabula rasa, porque o sujeito, revoltado com aquilo que nunca criou durante milênios, agora se acha no direito de prejulgar e destruir tudo que a humanidade construiu. E mais, ele acha que a civilização é construída em torno de coletividades revoltadas do seu tipo. Mal sabe que a civilização é, muitas vezes, criação de inteligências privilegiadas, que se destacam justamente por ser algo mais além da coletividade. Porém, os homens medianos, pequerruchos, formados em bandos, acham que podem criar palácios e igrejas sem o engenho intelectual. Resumem a humanidade pelo trabalho manual rudimentar ou pela força. Enfim, resumem o mundo pela esfera material e animalesca, negando os aspectos espirituais mais elevados, que distinguem as inteligências superiores dos simples ineptos.

Se não bastasse a rebelião dos homens da massa, as mulheres da massa entram junto, como é o caso da história do filme. Uma rebelde da anarquista CNT (Confederação Nacional do Trabalho) reivindica um grupo só de mulheres para pegar em armas contra os “fascistas” e se recusa a obedecer aos homens. Ou melhor, as mulheres devem lutar de igual para igual com os homens na guerra civil. Esse hermetismo intelectual, essa cultura de auto-suficiência presunçosa em ser algo comum, inclina-se a um estranho rebaixamento da existência. Ser mulher não implica nada muito especial, se partirmos apenas da idéia de seu sexo (a não ser a beleza, delicadeza e um trato sutil de inteligência, algo que as feministas se recusam a ser). No entanto, a feminista radical transforma isso numa mistura ressentida de vitimização e idolatria. É como houvesse algo especial em ser inferior. Uma inferioridade que clama uma posição raivosa de soberba. Ou melhor, uma soberba e uma pompa que se justifica por se sentir eternamente inferior. O espanhol Ortega y Gasset falava que a nossa época contemporânea era “masculina”. As mulheres querem ser como os homens. E pobres coitadas, elas engolem as tolices destes, querendo imitá-los. No final, as pobres anarquistas são massacradas pelos soldados marroquinos nacionalistas e uma delas, barbaramente atacada e quase estuprada, só não é morta porque um capitão do exército franquista enxota quase a pontapés os soldados. Antes, as mulheres faziam filhos e os homens os levavam à guerra. Agora, as mulheres deixam os filhos e vão à guerra. Não é um sintoma da barbaridade de nossos tempos?

E por falar em inteligências, a rebelião das massas, das turbas, é a rebelião contra a inteligência, a rebelião do homem comum contra aquilo que ele mesmo julga e sabe ser superior. De fato, as ideologias revolucionárias fazem da quantidade um elemento acima da qualidade; fazem do número maior de idiotas uma força suprema ao inteligente solitário. Depois soube compreender perfeitamente a quem o vigoroso escritor Ortega y Gasset falava, por volta de 1928, sobre a famigerada sublevação dos “señoritos satisfechos”. O “satisfecho”, conformado com sua mediocridade, é inconformado com a superioridade alheia. Daí ele ter sido o braço armado da guerra civil espanhola, destruindo fachadas das igrejas barrocas, queimando pinturas de El Greco, fuzilando os eruditos padres de Aragón ou Salamanca e se achando o supra-sumo realizador de uma época. De fato, reconheçamos, ele o é. A diferença é que transformou uma época em obscurantista.

Voltemos ao caso das mulheres anarquistas, até então, chamadas de “libertárias”, pelo filme. É curioso perceber que o anarquismo pode ser qualquer coisa, menos libertário. Até porque, desde a revolução francesa, nunca se matou e oprimiu tanto como qualquer causa “libertária” (a única causa que talvez supere a liberdade em matança é a igualdade).
O anarquismo é uma curiosa confusão silogística entre a liberdade autista do indivíduo e sua total sujeição à coletividade. São duas coisas antagônicas, senão incompatíveis. A revolta contra as hierarquias é apenas a destruição orgânica das relações equilibradas de poder da sociedade, para dar espaço ao despotismo mais assustador. No filme, uma revolucionária anarquista invade um bordel e aponta um fuzil para uma cafetina e um cliente, um padre, “libertando” todas as prostitutas do puteiro. Lembra Dom Quixote beijando as mãos de Dulcinea, elevando a camponesa ignorante como donzela. O fato, paradoxal em si, denuncia a confusão: uma mulher que diz lutar contra todos os poderes e hierarquias do universo pega em armas, justamente para impor suas noções de política. Alguém diria: - Está se rebelando contra a tirania. Todavia, a violência utilizada para reprimir quem não entra na cartilha política já é a expressão mesma de um novo poder que se forma. O anarquismo, tal como outras ideologias revolucionárias, não é substancialmente, uma rebelião contra todas as hierarquias. Até porque a sociedade é naturalmente hierárquica, é um dado da natureza do homem e da realidade mesma. Lideranças, homens de carisma, homens de idéias, homens de empreendimento, sempre vão inspirar àqueles que precisam de um direcionamento para suas forças e opiniões. Porque a hierarquia não é apenas mera relação de poder. Ela é divisão do trabalho, divisão de tarefas, divisão voluntária de esforços, em que cada sujeito toma uma função para si e aceita uma ordem para realizá-lo. Seja numa sociedade de cinco homens ou de um milhão de pessoas, sempre existirá aquele que se destaca porque toma a iniciativa pelo resto. E a maré e a civilização vão juntas com ele.

A hierarquia significa também uma escala de valores, seja de natureza ética, moral, epistemológica, desde os superiores até os inferiores. Reflete, inclusive, a qualidade individual de cada pessoa no meio social e dentro de seus atos, talentos, aptidões e papéis sociais. Mal se percebe que os juízos de valor que os homens tiram sobre si mesmos e a sua realidade existente são hierárquicos. Mesmo apelando às forças transcendentais do universo, cuja figura maior é próprio Deus, o poder divino é a demonstração óbvia da expressão máxima da hierarquia no mundo.

Por outro lado, a valoração hierárquica implica sua própria limitação. Porque a racionalização da hierarquia expressa uma definição, e, por conseguinte, restrições ao alcance desse poder. A anarquia, destruindo a noção mesma da hierarquia, aniquila a definição e as atribuições do poder. Se não há o que pode ser definido como poder, o seu exercício pode ser qualquer coisa, pode ser qualquer mando.

No entanto, nem Deus, que é absoluto, exerce um poder arbitrário. E os anarquistas (e incluo no rol, os comunistas), na confusão mental que é notória neles, querem destruir as hierarquias racionais, necessárias e delimitadoras de poderes na sociedade para concentrar o poder na “coletividade”. Na prática, porém, isso é impossível. A “coletividade” propriamente dita só existe se houver organização. E organização é, basicamente, hierarquia de uns sobre outros. Entretanto, a exaltação do coletivismo supremo do anarquista é o contra-senso, uma forma de hierarquização. Porque o anarquismo não nega as hierarquias. Pelo contrário, o que os anarquistas levam, substancialmente, é o absolutismo das hierarquias mais opressivas e irracionais, pois nascem da premissa de que a coletividade é uma unidade amorfa, compacta; e na falta de uma estrutura orgânica das relações políticas de poder, a massa se torna dispersa e caótica. Ou mais, a massa agindo por si mesma é tirânica. Até porque a desordem é aquilo que Hobbes chamaria de “estado de natureza”: a guerra de todos contra todos. Contudo, a maioria das pessoas não suporta isso. A “coletividade”, por assim dizer, exige uma coesão, um mando que a organize. Na falta de um equilíbrio de poder, das divisões de poder, só resta uma autoridade centralizadora e cesarista, dentro da ausência das hierarquias intermediárias, para perpetuar-se sobre a massa. O anarquismo não destrói o poder. Destrói sim a qualidade e a capacidade de valoração do poder, em nome da quantidade que atomiza e esmaga politicamente o indivíduo dentro dessa coletividade. Quantidade, que no final, acaba em tiranias.

Não me espante que quase todas as ideologias anarquistas sejam essencialmente ditatoriais. O anarquismo, basicamente, é uma dissolução da sociedade política estável, com seus equilíbrios públicos e particulares, suas voluntariedades, seus hierarquias intermediárias e delimitadoras, seus pactos e seus interesses consensuais, para a absolutização completa de uma hierarquia centralizadora e totalitária e a homogeneização da comunidade, destruindo pluralismos e diferenças. Quase todo caos e a dissolução de uma sociedade política levam ao despotismo.

A guerra civil espanhola, tão exaltada na figura de seus grupelhos revolucionários, é a demonstração cabal da dissolução da sociedade política. Saques, fuzilamentos, massacres, estupros, queima de conventos e igrejas, violação de túmulos, bibliotecas e patrimônios históricos destruídos, sob a ação das turbas armadas que cantavam “A las barricadas” pelas ruas, representavam o início da nova ordem totalitarista que assolaria a Espanha. Os nacionalistas encarnavam a velha ordem conservadora e salvaram o país. De fato, a direita ganhou a guerra civil porque fez valer a realidade das hierarquias e da sociedade política. Ela não estava preocupada em “mudar” a realidade ou sacrificá-la nas disputas pseudo-escolásticas das ideologias. Enquanto os comunistas, anarquistas e trotskistas se matavam entre si por quizílias ideológicas e arruinavam a sociedade civil, a direita, que era tão fragmentada quanto a esquerda, tinha tão somente um propósito comum: salvar a Espanha do comunismo. O general Francisco Franco foi bem sucedido nessa empreitada. A direita venceu porque obedecia a hierarquias e isso foi primordial para sua vitória, ou seja, sua capacidade de organização e seu objetivo determinado. Um chefe forte, uma direita unida, uma soldadesca leal, pôs fim à desordem.

Por falar em “a las barricadas”, lembro-me de uma cena particular do filme: os anarquistas empunhando armas, maltrapilhos, com gorros da CNT, entoando em cima dos caminhões a inflamada e rebelde canção citada e dando vivas à revolução! Esse ódio à autoridade, esse desprezo bárbaro pelas coisas elevadas e superiores, assemelha-se a um bando de criancinhas mimadas e birrentas, que cansadas da professora do jardim de infância, infernizam a sua vida, esgotam a sua paciência, expulsam-na da sala de aula e tomam conta da creche. Ou, no mais, é a revolta histriônica de um recém-nascido, que cansado de obedecer aos pais, quer destroná-los de casa. Para as criancinhas desobedientes, umas boas palmadas resolvem. Para os anarquistas, os paredões e as cadeias franquistas. Simples assim!

sexta-feira, novembro 21, 2008

"Cuba é uma democracia"; Rafael Correa, presidente do Equador, mentindo ao jornalista.


Esse é o amiguinho de Lula, o presidente do Equador Rafael Correa, bajulando Fidel Castro, dizendo que o regime comunista em Cuba é uma "forma de democracia". Atualmente, o "camarada" Rafael está causando problemas diplomáticos ao Brasil, uma vez que rompeu acordos com a empreiteira Odebrecht, inclusive, proibindo os funcionários de saírem do país, e, ainda, se recusa a pagar os empréstimos que o BNDES fez ao Equador.

A independência do Brasil contada pelo descendente de seus protagonistas.


Encontrei esse vídeo do Príncipe Dom Luis de Orleáns e Bragança, Chefe da Casa Imperial, falando sobre a história da independência do Brasil. Uma excelente explicação histórica.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Terceiro bate-papo entre Conde Loppeux e David Carvalho.













Terceiro bate-papo entre o Conde Leonardo Bruno e David Carvalho, sobre atualidades da política. Imperdível. Clique aqui.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Segunda parte do bate-papo entre Conde e David Carvalho.










O Conde Loppeux e David Carvalho comentam sofre a religião africana e sobre a cultural judaico-cristão, catolicismo, protestantismo, além de outros assuntos. Clique aqui para baixar.

Marx-miliano, o boneco comunista!

Vídeo hilário: um boneco comunista pra crianças!

domingo, novembro 09, 2008

Bate-papo: Conde e David Carvalho falam sobre a vitória de Barack Obama.



Meu amigo David Carvalho, mineiro de Belo Horizonte, graduado e Física, pela UFMG e interessado em assuntos de política, convidou-me para um bate-papo gravado, a respeito da vitória de Barack Obama, nos Eua. Um podcast interessantíssimo e imperdível. Clique aqui para baixar.

sexta-feira, novembro 07, 2008

O Lula Deles.

Meu amigo André Mariosa, economista de São Paulo, enviou-me esse artigo sobre a vitória de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos. Um texto interessantíssimo.
Obama venceu. Ele é quase uma unanimidade. O mundo está simplesmente encantado por Obama. Eu devo ser muito, mas muito azedo mesmo. Eu torci por McCain. Eu entendo o encantamento do mundo com a eleição de Obama. Há meses quem poderia imaginar um preto, com o sobrenome Hussein, ocupando o posto de chefe político dos Eua? Só um parênteses aqui: sempre uso o termo “preto” e não “negro”. Quando se diz “negro” presume-se popularmente que estamos falando de uma raça. A ciência, até onde sei, não autoriza ninguém a falar de raças, a única raça que existe é a humana, ainda bem. Ainda que existisse uma raça negra e uma branca, Obama não seria negro, pois sua mãe é branca como a neve, ele seria mestiço. Enfim, não é pra discutir semântica com esse artigo, só quis explicar por qual motivo uso “preto”; as pessoas não percebem, mas dizer o politicamente correto “negro” é coisa de racista, enquanto o aparentemente desrespeitoso preto não é.

A imprensa, os intelectuais, a população mundial inteira apoiou Obama. O comentarista Arnaldo Jabor, por exemplo, aparecia em êxtase para propagar as qualidades de Obama e taxar os Republicanos de racistas. Ser a favor de Obama é um direito dele. Mentir não é. Jabor ignorou completamente a realidade. Fato fundamental para a construção do Partido Republicano foi o embate entre Abraham Lincoln e Arnold Douglas, este Democrata a favor da escravidão, aquele, Republicano contra. Foi o Republicano Lincoln, aliás, quem aboliu a escravidão nos EUA. Eu vi inúmeros episódios desse tipo, inúmeros episódios da imprensa mentindo a favor de Obama. Precisaria de outro texto pra tratar só disso.


Mas o que acho realmente divertido é quando a TV mostra americanos ou brasileiros dizendo o porquê de preferirem Obama. As respostas são sempre evasivas, uns dizem que ele representa mudança, outros vão pelo simbolismo do primeiro preto presidente, enfim, ninguém sabe responder. Afinal, quais as propostas de Obama? Ninguém sabe. Não interessa, o que interessa é mudar, não importa qual mudança. O candidato que eu gostaria de ver presidente também é preto, chama- se Alan Keyes, e sei exatamente o seu programa de governo, embora ele seja um candidato independente que teve apenas 0.1% dos votos.

Eu fico impressionado em ver como uma boa retórica pode iludir o mundo. As pessoas cometem a infantilidade de julgar um político pelas suas palavras, pelo seu discurso, e não pela sua história, suas alianças e as coisas reais que ele fez. Obama vai resolver a crise financeira? Não sei, os Democratas forçavam os bancos a emprestarem pra quem não tinha dinheiro pra pagar, por meio de lei, especialmente no governo Clinton. Bush tentou revogar tais leis, Obama esteve entre os contrários. Obama é intimamente ligado a ACORN, uma associação que faz lobby e pressão pra ter créditos “subprimes” ( aos maus pagadores e caloteiros), e que estão na raiz da crise. O fato é que qualquer um que não se deixar levar pelo embalo da imprensa e procurar realmente se informar verá que a maior realização de Obama foi aprovar uma lei que institui a educação sexual infantil no jardim de infância.

Teria muito pra falar sobre o verdadeiro Obama, não caberia aqui. Muita gente vai me chamar de racista. Contestar Obama já é suficiente pra isso. Uma vez, conversando com um senhor, discordei de posições de Lula e ele me disse: "- Você não gosta do Lula por ele ser pobre e nordestino”. Aqui elegemos o primeiro “homem do povo”, lá o primeiro preto. Pobre e preto deixaram de ser condição pra se tornarem atestados de caráter. Contestar alguém com essas características virou quase uma heresia perante a ditadura do politicamente correto.

Tudo o que deu certo no governo Lula, principalmente em economia, se deu pelo fato de Lula ter negado a sua biografia, pois se fizesse o que pregava seria um caos. Obama pode ser um bom presidente? Pode, basta ele ter o pragmatismo de Lula. Obama pode se dar muito bem se não for ... Obama.

O País dos Petralhas.

Tio Rei mandando ver no programa do gorducho puxa-saco do PT, Jô Soares. Imperdível.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Breve histórico da cultura, imprensa e a mídia a serviço do totalitarismo.

Um fenômeno foi espetacular no século XX: o uso dos meios culturais e de comunicação como um gigantesco instrumento de manipulação e desinformação em massa, a ponto de distorcer ou mesmo podar a compreensão da realidade. Neste aspecto, Ortega y Gasset estava correto em afirmar que uma dos instrumentos mais notórios de mando no poder político é sua opinião pública, ou melhor, sua opinião “publicada”. Claro, nem toda opinião pública é desinformação. Ela, muitas vezes, reflete o nível de reflexão de algumas elites intelectuais e políticas, e que acabam se entronizando no pensamento médio do povo. Quando é aberta, livre e decente, ajuda muito no esclarecimento da realidade e na disseminação de novas idéias. Contudo, pode ser usada tanto para o bem, como para o mal. Neste aspecto, a sua distorção começa a ser vista em larga escala, na primeira experiência histórica de proto-totalitarismo: a Revolução Francesa. Uma das questões que fizeram o Rei da França Luis XVI e sua esposa Maria Antonieta serem tão odiados pelo público foram menos os seus atos tirânicos do que os boatos, calúnias e difamações que sofreram durante todo o seu reinado. De fato, a força da desinformação foi tão peculiar que até hoje a Revolução Francesa é sacralizada, ainda que tenha causado um banho de sangue e de cabeças rolando no patíbulo. Uma parte do povo francês odiou a monarquia por nada. Ou melhor, por uma chuva de mentiras. Ninguém perguntou a outra parte que a amava. Esses não tinham “opinião pública” (quem se lembrará dos camponeses católicos massacrados de Vendéia?). Tudo isso custou a cabeça dos reis e de centenas de milhares de indivíduos, além da destruição física e moral de um grande país.

O mesmo fenômeno, em escala muito mais colossal, ocorreu a partir do surgimento da União Soviética. Não houve grupo mais mentiroso da história da humanidade do que os comunistas. Em 1918, início da guerra civil e da matança generalizada de grupos sociais inteiros patrocinada por Lênin, o Partido Comunista já fiscalizava tudo o que era publicado da Rússia para o ocidente, ao passar pelo crivo da Tcheka, a polícia política revolucionária. Nenhum texto, nenhum intelectual escapava da vigilância partidária. Pior foi a colaboração dos intelectuais pela mentira. Fascinados pelo empreendimento utópico que concretizava seus particulares ideais marxistas, muitos esconderam a brutalidade e a imoralidade do regime bolchevista, virando, eles próprios, censores de si mesmos e fiéis colaboradores. Uma obra famosíssima, idolatrada pela hagiografia da propaganda comunista, é “Os Dez Dias que abalaram o mundo”, do jornalista americano John Reed. Publicado como relato “autêntico” dos primeiros dias de poder dos bolcheviques, a história não passa de propaganda de desinformação. Também pudera, o Sr. Reed, além de ter sido um militante comunista desonesto, nem por isso foi poupado do crivo da Tcheka.

Quando Lênin morreu, surgiu Stálin. A elite intelectual e a opinião pública renderam loas ao novo tirano bolchevista. O “homolodor”, o massacre sistemático pela fome de seis milhões de soviéticos, entre os quais, quatro milhões de ucranianos, em 1932, não teve o efeito esperado no ocidente porque a opinião pública, em geral, mentiu e omitiu sobre o assunto. “Opinião pública”, leia-se, intelectualidade comunista nos jornais e universidades. A tragédia foi escondida dentro de um universo de falsificação em massa tal, que o mundo inteiro ignorou a história. Ou mais, acreditou-se nas versões falsas do Partido Comunista, enquanto as dissidências anticomunistas foram suprimidas, quando não, caluniadas. Dentro da novilíngua da intelectualidade esquerdista, qualquer indivíduo que denunciasse os crimes bolchevistas, era considerado um “fascista”. Com isso, Stálin matou a verdade, em silêncio sepulcral. E o "fascismo" se tornou o espantalho dos comunistas para desmoralizar seus detratores.

Foi pior. Se o caso ucraniano era omitido pela inteligentsia e por uma boa parte da imprensa, os governos dos países democráticos, infiltrados de simpatizantes stalinistas, preconizavam justamente o coletivismo soviético como modelo substituto do capitalismo, depois da crise de 1929. Curiosa simpatia, fruto de um humor negro: a solução para a quebra da Bolsa de Nova York seria justamente a deportação forçada de camponeses às fazendas coletivas e o planejamento estatal totalitário nas indústrias. Planejamento este que reduziu uma parte da população soviética ao canibalismo e a outra parte a condição análoga de escravidão.

A intelectualidade e a mídia acabaram por se corromper moralmente, ao defender uma monstruosa tirania e ao falsificar a sua realidade dentro dos países democráticos. Na época do Grande Terror, em 1936, milhares de intelectuais simpáticos a União Soviética deram verossimilhança à farsa dos julgamentos e expurgos do Partido Comunista em Moscou. Gente do quilate do dramaturgo Bertold Brecht e pessoas influentes na política inglesa, como o casal de socialistas fabianos Sidney e Beatrice Webb, demonstravam credibilidade a uma das maiores encenações do regime soviético. O escritor francês Louis Aragon sonhava com a ação da GPU, uma das abreviações da policia política soviética, atuando na França. Mesmo o romancista Lion Feuchtwanger declarava que os tribunais soviéticos tinham a perfeita intenção de se buscar a verdade dos fatos. Que dirá das afirmações do teatrólogo Bernard Shaw, que dizia que o prisioneiro soviético adorava o conforto e a humanidade das cadeias soviéticas?

Jean Paul Sartre, outrora fiel bajulador dos ocupantes nazistas, na época em que vivia nos cafés de Paris, tornou-se comunista e declarava que a existência dos arquipélagos gulag era invencionice. E quando a Coréia do Norte invadiu a Coréia do Sul, em 1950, ele condenou justamente a reação militar americana, como agressora. O mesmo caso se aplica ao historiador marxista inglês Eric Hobsbawn. Em 1940, ele escreveu um infame artigo defendendo o ataque soviético contra a Finlândia, em nome do antinazismo. Paradoxal indagação, já que a União Soviética invadiu o país com o aval da Alemanha Nazista, que era sua aliada.

Nos anos 60, época da contra-cultura (leia-se, revolução cultural comunista na educação e nos valores morais), a campanha de desinformação em massa e infiltração de grupelhos comunistas nos meios midiáticos e intelectuais foram sentidas na imprensa americana. E mais uma vez, os intelectuais e jornalistas contribuíram como fiéis servos das tiranias utópicas. A guerra do Vietnã é um dos maiores exemplos desse fenômeno. Até hoje, a grande maioria das pessoas crê que o exército americano perdeu a guerra. Todavia, os fatos dizem outra coisa: o exército americano jamais perdeu uma batalha naquele país. A ofensiva do Tet, em 1968, quando o exército comunista invadiu em massa o Vietnã do Sul, foi uma das mais destruidoras vitórias militares norte-americanas, inviabilizando, por muitos anos, as tropas norte-vietnamitas. Entretanto, o que foi uma vitória militar se transformou numa derrota moral. Muitos jornalistas americanos, simpáticos aos comunistas vietnamitas, criaram uma verdadeira propaganda assimétrica de informação, demonizando os seus compatriotas norte-americanos, ao mesmo tempo em que divinizava a ação comunista na guerra (ou escondia seus crimes). Como não poderia deixar de ser, as próprias universidades americanas foram uma fábrica de anti-patriotismo e antiamericanismo. Os covardes militantes pacifistas, usuários de drogas, vagabundos, selvagens, cretinos, em nome da “paz”, simplesmente apoiavam a entrega da Indochina a um regime criminoso e violento. A farsa contaminou a Europa. O filósofo velhaco Bertrand Russel, demonstrando sinais claros de senilidade e incoerência, junto com o vigarista incorrigível Jean Paul Sartre, participava de um fraudulento “tribunal de crimes de guerra” dos americanos no Vietnã. Quando os comunistas tomaram Saigon, em 1975, a Indochina foi submetida a um governo brutal. A matança da ditadura comunista do Vietnã custou cerca de mais de um milhão de vidas e a destruição completa das liberdades do país. Algo bem mais monstruoso ocorreu com a ditadura do Camboja: na ausência do exército americano pela região, patrocinou um dos experimentos mais sanguinários da história, matando 25% de sua população e transformando o país num verdadeiro campo de concentração em massa.

O exemplo do Vietnã se aplica perfeitamente à guerra do Iraque. A propaganda antiamericana aí é exemplo da paixão atávica e tradicional por setores da opinião pública e da inteligentsia no ódio às democracias. Por mais que um país democrático tenha banido uma monstruosa tirania; por mais que uma democracia se preste a instalar seu sistema de liberdades naquele país; por mais que os americanos tenham enviado bilhões de dólares pela sua recuperação econômica e política, a esquerda festiva sente uma saudade patológica pelo sanguinário Saddam Hussein. Os esquerdistas, ateus e feministas raivosos viraram até “islâmicos”.

E agora, uma curiosidade: a candidatura de Barack Hussein Obama à Presidência dos Eua. Se há algo mais assustador em nossos tempos, é permitir que alguém que oculta seu passado governe o país mais importante do globo terrestre. Os problemas são as mentiras e a imoralidade que estão por trás de sua candidatura oculta. Os americanos vão eleger um homem que nos bastidores odeia seu próprio país; vão eleger um homem que tem a fé ideológica e religiosa dos inimigos de seu país; vão eleger, em suma, alguém que é aliado dos inimigos dos Eua e de todo o sistema democrático que ele representa. Não será estranho que a mídia “liberal” norte-americana e toda a esquerda festiva torçam pela candidatura dele? Claro, também pudera: Obama já deu a entender que será displicente com os inimigos dos americanos. Fidel Castro, Hugo Chavez, Armadinejah e o próprio presidente Lula estão nessa teia de simpatizantes e agradecem pela caridade.

Nem se pode dizer, ao certo, que ele odeie “seu” país. Por mais que ele se diga norte-americano, nem mesmo o americano médio tem certeza de sua nacionalidade. Os seus aliados espirituais são simpatizantes do islamismo terrorista e esquerdistas que odeiam os Estados Unidos e querem ver o país prostrado diante das nações totalitárias de todo o mundo. Querem, inclusive, destruir os sistemas democráticos de todo o mundo.

Não menos espantosa é a cumplicidade da imprensa, da mídia e dos meios culturais pela criatura farsesca. Ao invés de esclarecer, a opinião pública oculta o que está por trás de Barack Hussein Obama. Os jornais, universidades e a grande mídia viraram uma extensão da cultura política totalitária, prontas para criar, em torno de vários mitos, o culto à personalidade de um líder tirano. Se há algo notório na campanha do candidato democrata à Presidência dos Eua é o populismo vulgar típico das republiquetas latino-americanas ou dos despotismos mais assombrosos.
A opinião pública dos países democráticos não cansou de mentir, em favor dos totalitarismos de todos os matizes e gostos. Ou mais, tornou-se homogênea, estéril, panfletária, tal como o são a imprensa e os meios culturais totalitários. Neste ínterim, as democracias desejam se autodestruir, cometer suicídio. Se a imprensa, a grande mídia e os meios culturais, no conforto de suas liberdades, conspiram para destroçá-las, o que se pode esperar da sobrevivência da democracia? Na melhor das hipóteses, a opinião pública está prostituindo a democracia. Barack Obama pode ser um sinal de grandes atribulações para os defensores da liberdade. O mundo pode estar em perigo quando a maior força democrática do mundo se permite liderar por um notório charlatão e um completo traidor de seu país. Os cidadãos dos países democráticos ainda não perceberam que a “opinião pública” e os círculos intelectuais do poder se tornaram suas fiéis embusteiras. São, enfim, a extensão da “opinião publicada” de seus inimigos.