segunda-feira, novembro 27, 2006

O Leviatã e seus possessos espirituais. . .

“Há uma frase muito citada no discurso de posse do Presidente Kennedy: ‘Não pergunte o que sua pátria pode fazer por você – pergunte o que você pode fazer pela sua pátria’. (...) Nenhuma das duas metades da declaração expressa uma relação entre cidadãos e seu governo que seja digna dos ideais de homens livres numa sociedade livre. A frase paternalista ‘o que sua pátria pode fazer por você” implica que o governo é o protetor, e o cidadão, o tutelado – uma visão que contraria a crença do homem livre em sua própria responsabilidade com relação a seu próprio destino. A frase organicista ‘o que você pode fazer por sua pátria’ implica que o governo é o senhor ou a deidade, e o cidadão, o servo ou o adorador. Para o homem livre, a pátria é o conjunto de indivíduos que a compõem, e não algo acima e além deles. (...) (o homem livre) considera o governo como um meio, um instrumento – nem um distribuidor de favores e doações nem um senhor ou um deus para ser cegamente servido e idolatrado.”

Milton Friedman (1912- 2006)





Até hoje eu me recordo do pensamento de uma amiga, que foi escolhida para ser oradora da turma de minha formatura, no curso de direito. Faço minhas lembranças, pois nada me apavorou mais do que aquele discurso e sua monstruosidade lógica, por trás das palavras bonitas. Ela dizia que os alunos da universidade pública deviam retribuir à sociedade, naquilo que ela pagou aos formandos. A colega não percebeu, que por trás das boas intenções de se “retribuir à sociedade”, coloca o indivíduo num status inferior. A “sociedade”, neste caso, torna-se um totem, um objeto abstrato de culto e proprietário do cidadão comum. Aliás, ela faz uma confusão semântica entre Estado e sociedade, como se a sociedade fosse um reflexo da organização e centralização do poder estatal. Em outras palavras, a “sociedade” é o Estado, representado pela universidade pública. E o cidadão comum, eterno devedor dessa “sociedade”, é um servo agradecido por uma dádiva dos céus. O discurso dela é reflexo de algo muito mais profundo, que contaminou a alma de uma boa parte da humanidade: a possessão ideológica do Estado totalitário no século XX. Hobbes foi bastante feliz em representar o Estado como Leviatã, o gigantesco peixe bíblico, que acaba engolindo os peixes pequenos, os cidadãos comuns. O Leviatã não engole apenas os civis: ele os enfeitiça com seu poder. E no final, ele os consome. Insaciável, por vezes, ele não poupa nem suas próprias entranhas, de tão destrutivo que é. Exemplos fatais são até corriqueiros. O surpreendente é a legião de possessos do século XX, capazes de se sacrificarem pelo Leviatã. É um dos maiores enigmas de nossa história contemporânea.

Recentemente, assisti a um filme sobre a vida de Olga Benário; militante alemã, judia e comunista, foi amante do famoso Luis Carlos Prestes, líder espiritual do PCB. Baseia-se no livro de Fernando Morais, “Olga”, e narra uma história romanceada, que é pura propaganda política. Muitas universitárias de cabelos longos e idéias curtas já leram o livro, achando que é uma novela. Algumas até se emocionam, tal como as dondocas que lêem romances açucarados de bancas de revistas. Mas o enredo do livro de Morais é qualquer coisa, menos histórico. De fato, é uma novela, já que o livro é uma mistura funesta de ficção e realidade. Há mocinhos e bandidos, stalinistas santos e fascistas ardilosos, o maniqueísmo ideológico do bem e mal personificado em indivíduos. . .


E como não devia deixar de ser nos filmes brasileiros, a história é um choramingo de hagiografia esquerdista: Olga é exaltada como uma comunista idealista, capaz de salvar o mundo da maldade humana, personificada pelos fascistas, capitalistas, nazistas e toda sorte de reacionários do Brasil e do mundo. Junto com Prestes e o komintem, participou da rebelião comunista de 1935. Presa pela polícia do capataz Filinto Muller, o governo Vargas, farto da bondade humana da esquerda, deportou-a para a Alemanha nazista. Lá, a pobre judia foi trancafiada num campo de concentração e morreu numa câmara de gás.

Isso seria real, se não fosse por um detalhe: Olga Benário e Prestes foram fieis cães de guarda do gigantismo do Leviatã, os possessos fanáticos de sua força. Eram espiões de Stalin e fiéis defensores do tirano. Inclusive, Prestes foi mentor intelectual do assassinato de Elza, a esposa do secretário do Partido Comunista Brasileiro. O livro de Fernando Morais e o filme falsificam de forma grosseira a história. Relatam-na como “provocateur"ou seja, como traidora do Partido, que entregou informações valiosas à policia brasileira. Na verdade, a jovem nem era militante e nunca entregou absolutamente nada. Há relatos históricos comprovados de que muitos camaradas do partido tinham perfeita consciência de que a mulher era inocente. Entretanto, Prestes nem titubeou: não estava interessado na inocência dela. Mandou executá-la sumariamente, estrangulando-a. Cinicamente, membros do partido comunista mandavam noticias da jovem ao secretário, preso nas masmorras de Vargas, afirmando que ela ainda vivia e em segurança. Esse era o tipo idolatrado de pessoas que representavam Prestes e Olga. Eles, embora criminalizassem os fascistas, faziam vistas grossas aos expurgos e assassinatos em massa patrocinados pelo Partido Comunista na União Soviética. E pela lógica sombria, queriam alargar esse sistema de terror sobre o Brasil e toda a humanidade. O Leviatã é implacável: engole a todos e é ainda autofágico. É como a revolução, que guilhotina a torto e a direito, até a lâmina chegar no pescoço dos guilhotinadores. Há de se lembrar que a revolução é a mãe do Leviatã moderno, e seu espírito de guilhotina se torna lei, quando a revolução dá a luz ao poder estabelecido. Nada mais correto em afirmar que a revolução é a opinião que adquiriu algumas baionetas. . .ou que sabe algumas guilhotinas.

Os comunistas não foram poupados da fúria sanguinolenta de seu monstro. Os sobreviventes da Intentona Comunista de 1935 que voltaram para a Rússia, quase todos foram esmagados pelo maquinário soviético. Não sobrou quase ninguém pra contar a história. Até os cúmplices em massa da matança foram assassinados. Yagoda e Yezhov, chefes da policia política soviética e notórios alimentadores do monstro marinho, foram sugados pela boca do peixe. Sobrou Stalin, o cérebro do monstro. Isso porque há situações em que o Leviatã come o próprio cérebro. Certamente pessoas como Olga Benario e Prestes sabiam dessas histórias. Porém, esse tipo de gente diz amar a humanidade em geral, e odeia a humanidade em particular.


A maior tragicidade do século XX é o sacrifício cego, irrefletido, fanático, da própria individualidade pela ideologia do Leviatã. Os seus seguidores não só sacrificam sua própria individualidade, como também a individualidade alheia. Encarnam uma força indômita, demoníaca, que apossa dos espíritos e os enerva, suprime, rebaixa. Olga Benario não foi somente esmagada pelo totalitarismo nazista: uma espiã soviética estava muito abaixo das virtudes de uma pessoa normal. Pelo contrário, a lógica dos campos de extermínio nazista seria perfeitamente aceitável a Olga, se ela fosse chefa de um Gulag. A militante comunista renunciou à sua família, à uma vida normal, por uma causa, que levada na íntegra, é patológica, doentia. Que dirá de Luis Carlos Prestes? Ele, anistiado por Vargas, depois de dez anos de prisão, acabou por apoiar o velho algoz de sua mulher. Lembremos, Olga não era somente amante de Prestes: era também mãe de sua filha. Imaginem alguém sacrificar sua dignidade, a ponto de apoiar um sujeito responsável indiretamente pela morte da mãe de seu filho? Todavia, para Prestes, a causa revolucionária do Leviatã valia mais do que a morte de sua mulher. Relembrar a história trágica de sua amante é algo supérfluo, perto das forças demoníacas e sedutoras da causa totalitária. Já dizia Stalin, que a morte de uma pessoa é uma calamidade, e a morte de milhões, uma estatística. Olga Benário poderia ser única, mas era apenas uma estatística, um pequeno preço a ser pago dentro da grandiosidade hipotética do futuro comunista. O gigantesco monstro marinho engoliu a alma dos dois. De Prestes, apenas sobrou-lhe o corpo. De Olga, nem isso!


Tal demonstração é apenas um pequeno arcabouço de coisas bem piores: há uma história na Rússia de Stalin, que reflete esse grau de anulação total do ser humano, em nome de sacrifícios inúteis a uma força abstrata, invisível e maligna. Foi em 1932, época da grande guerra que os bolchevistas moveram contra os camponeses kulaks, coletivizando a agricultura e reduzindo os cidadãos do campo a servos estatais. Pavlik Morozov era um garoto, filho de camponeses kulaks, que, fanatizado com a propaganda comunista nas escolas russas, ameaçou denunciar os pais e avós para a policia política soviética. No auge da fome, a família do rapaz escondia grãos de alimentos e bois de arado, temendo que fossem confiscadas pelo Estado soviético. Lutavam pela sobrevivência, já que a expropriação estatal de insumos e grãos causou uma brutal carestia de alimentos. Sabendo-se da ameaça de delação do jovem, a família não teve outro jeito senão matá-lo. Descoberto o assassinato, toda a família do garoto foi presa e deportada, sendo todos executados. O mais monstruoso dessa história foi o Estado soviético ter tornado Morozov um herói, precisamente porque era capaz de trair os pais em nome da causa revolucionária. Durante um bom tempo, as crianças soviéticas foram doutrinadas nas escolas a cultuarem a memória de Morozov e a delatarem seus próprios pais. O Estado nazista fazia este mesmo tipo de patrulhamento nas crianças alemãs: os pequeninos se tornaram mera extensão da policia política, a fim de policiarem os próprios familiares. Daí o surgimento da Juventude Hitlerista, do Komsomol e de todos os espécimes juvenis criminosos dos regimes totalitários. A alma das crianças foi estatizada. E o Estado aniquilou todos os laços de humanidade do delator: sua família, seus amigos, sua esposa, seu filho, seu pai, sua mãe, e todo seu círculo mais caro de afeto. O Leviatã despreza tanto as pessoas traídas, quanto as traidoras: são como os kapos judeus que, reduzidos a vira-latas da SS, entregavam seus concidadãos judeus. E tal como fizeram com o personagem Winston Smith, na novela de George Orwell, “1984”, o Estado mete a bala no leal servo do Leviatã, agradecido pelo projétil na nuca.

Lamentavelmente, as crianças são apenas uma parte da engrenagem totalitária. Até porque o Leviatã, ciumento de adoração divina, esmaga os indivíduos e seus laços pessoais, numa cultura insuportável de traições mútuas. Destrói os laços mais sinceros de solidariedade, enquanto os força numa cumplicidade lunática com a lógica criminosa do Estado. Hannah Arendt, em sua obra, “As Origens do Totalitarismo”, dizia que a sociedade totalitária sufoca o indivíduo até sua nulidade. Aliás, ela dizia, com razão, que o Estado totalitário acha que cumpre uma faculdade superior da natureza ou da história, sem ter nenhuma relação com o bem estar individual, ao esmagar a sociedade civil. É tudo em nome da “sociedade”, do “Estado”, da “classe”, da “raça”, etc. Por esta razão é que se faz crimes monstruosos e sacrifícios absurdos, em nome de uma coletividade em abstrato. O indivíduo é apenas um peão de uma engrenagem maior, descartável quando desnecessário ao sistema.

Por falar em traição, em Cuba, famílias inteiras são dilaceradas pela cultura policial da ilha-prisão. Para falar a verdade, quando o Leviatã domina uma sociedade, todo um país se torna um gigantesco campo de concentração de prisioneiros, kapos, policiais e o chefe maior do campo, o ditador. Cuba é uma prisão de Alcatraz no Caribe, com 11 milhões de pessoas detidas. Cidadãos cubanos, fiscalizados pelos CDR´s (comitês de defesa da revolução), são obrigados a fazer relatórios de seus vizinhos, seus amigos e até de seus familiares, com o intuito de serem cúmplices da própria escravidão. O Estado incentiva a fofoca mútua, com o intento de descobrir os “gusanos” contra-revolucionários reais e imaginários. Um escritor cubano exilado escreveu uma história assim: chamado pelo CDR e reticente em denunciar os amigos, o burocrata do partido comunista joga toda a papelada na mesa, com os relatórios de amigos e parentes, comentando os passos do pobre literato. Isso não é muita novidade em Cuba: lá, poetas agradecem pela prisão, fazem “auto-crítica” e ainda delatam parentes e amigos. Foi assim com o poeta Herberto Padilla; além de ter sido preso, humilhado e obrigado, na marra, a admitir erros que não cometeu, ainda acusou a esposa de subversão ao regime. Claro, esse casal nem agüentou: pegou a primeira mala e foi pra Miami, pra nunca mais voltar! Nelson Rodrigues dizia que o socialismo produz o anti-humano, a antipessoa. Perfeita descrição!

Contudo, os possessos do leviatã não apenas vivem em terras onde ditadores mandam e desmandam, enfeitiçados pela loucura do monstro: as democracias estão povoadas de possessões desse tipo. A revolução cultural politicamente correta é um arquétipo adaptado de uma cultura totalitária na democracia. O feminismo radical, o movimento negro racista, o gay militante e toda sorte de rejeitados, são devotos do Leviatã, crédulos da ilusão totalitária que promete o paraíso, mas ameaça massacra-los. A feminista mediana hostiliza o macho, odeia os maridos, rejeita a maternidade e anula a feminilidade, enquanto presta culto cego ao tirano abstrato que a rejeita. Na verdade, o tirano abstrato ri de sua desagregação pessoal, de suas reivindicações infantis. A feminista enragé é uma vestal do Estado, uma assexuada das ideologias. O militante negro racista, insuflado pelo ódio vazio da raça, vira instrumento de divisão social e alimenta mais ainda a segregação que tanto condena. O culto tribal das origens africanas extintas o isola da sociedade ocidental que o acolhe nas democracias. Lembra o nazismo, com suas idolatrias fictícias às Valquírias e aos deuses pagãos germânicos. Qual negro ocidental e cristão, em sã consciência, vai voltar às origens do vodu e da umbanda? E o “orgulho gay” militante é uma espécie de compensação psicológica de pessoas, que no fundo, são sofridas e frustradas, crentes na idéia de que a engenharia social pode moldar a moral por decreto. Não é isto que significa a lei contra a discriminação sexual? Uma tentativa do Estado de querer moldar nossas crenças, valores morais e até preconceitos? Quem são os homossexuais para moldar as crenças alheias, em favor de seus próprios credos e preconceitos? Será que vão processar a Igreja Católica e as demais igrejas Protestantes porque que não aceitam gays? Tais manifestações culturais são formas policiais de comportamentos, idéias e linguagens. Disfarçam a possessão totalitária implícita do discurso das minorias. Será estranho que essas minorias tenham, justamente, simpatias por regimes socialistas?

O interessante é que somente as sociedades democráticas têm escrúpulos para ouvir minorias. E, no entanto, querem a escravidão, contanto que o ogro filantrópico estatal os mimem. Ainda ouço a prédica de um militante homossexual e comunista que esperneia: Cuba tem o melhor sistema de saúde do mundo! Verdade, os gays são tratados como doentes mentais e confinados em campos de concentração, porque lá se presume que gays são “pessoas anti-sociais” com "desvios burgueses". Minorias não valem absolutamente nada no Estado socialista. Pra falar a verdade, nem as maiorias valem. Só valem como rebanho.

Muitos socialistas sabem das tragédias que defendem. Os cubanófilos brasileiros conhecem perfeitamente o alto grau de miséria espiritual, moral e material que passa o povo cubano. Em contrapartida, como são possuídos pela ideologia, fazem filtros da realidade, para camuflar os fracassos. Eles sabem que mentem. Todavia, eles acham que o terror e a miséria moral compensam o preço da ideologia que defendem. Vale a pena mentir, matar, destruir pelo que eles querem construir. Quem dizia isso era o dramaturgo Brecht, pois em nome do comunismo vale tudo. Que sociedade eles querem construir, destruindo tudo? Ridículos são aqueles meros simpatizantes de Cuba, completamente ignorantes sobre o que defendem! Enquanto eles são capazes de duvidarem das liberdades de nossas democracias, são capazes de crerem bovinamente nas mentiras de Fidel Castro! As fraudes grosseiras sobre a medicina cubana e mesmo sobre o padrão de vida do país, são opiniões que soariam folclóricas, se não fossem levadas a sério!

Minha amiga, aquela que fez o discurso da formatura, nem é socialista. Ela, como uma estudiosa de leis, jamais apoiaria quaisquer modelos totalitários. No entanto, a cultura acadêmica está tão impregnada de possessão estatal, que hoje muitas pessoas "doutas" idealizam o socialismo como um consenso. Discursam, sem perceber que aderem a lógica perversa dele. No auge de Hitler e Stalin, um esquerdista inglês já declarava uma célebre frase: hoje todos somos socialistas! O estado espiritual de nosso país e de uma boa parte do mundo está assim: é tão socialista, que nem notam a diferença! A cultura totêmica e mística do Estado possui a alma deles. É um péssimo sinal de nossos tempos!



Leonardo Bruno

27 de novembro de 2006

domingo, novembro 26, 2006

O liberal prático e o socialista autista

Este texto foi escrito no dia 18 de março de 2005 . O que mais me impressionou foram suas análises, no que diz respeito aos liberais e socialistas. Claro, falo do liberalismo, no sentido conservador do termo, que se contrapõe ao "liberal" americano e outras formas pseudo-libertárias. Aqui, faço uma leve comparação entre o discurso e a retórica do socialista e a retórica liberal, e a visível superioridade intelectual e argumentativa do pensamento político e econômico liberal, em relação ao pensamento socialista.
Quando observamos um debate entre um intelectual socialista e um intelectual liberal, temos uma discrepância não somente pela tonalidade do discurso, como pelos aspectos lógicos de cada um. Há realmente um estilo de pensamento e retórica que diverge em gênero, número e grau entre o socialista militante do liberal autêntico, na famosa expressão de Roberto Campos. De fato, para entendermos essas diferenças, devemos compreender primeiro que tipo de raciocínio move um liberal e um socialista.

O liberal médio tem como princípio a liberdade de pensamento e análise. Embasado neste sentido de livre pensar, ele é por natureza um questionador de esquemas mentais constituídos e de sua realidade vigente, já que sua filosofia, é por definição, individualista e em nome disso, preza como regra, sua filosofia de independência pessoal. O liberal, além de ser questionador é um racionalista nato. Ele procura não somente a busca de compreender a realidade pelo seu próprio sentido e bom senso, como também não se intimidar com os conceitos estereotipados de convenções vigentes, uma vez que o livre pensar é a regra.

Por outro lado, o livre pensar na visão liberal tem como meta a busca da verdade. É por isso que a idéia da tolerância, da razão, do bom senso e da capacidade analítica rigorosa é uma das características mais marcantes dos pensadores liberais, sejam eles clássicos ou modernos. Mas as liberdades liberais estão longe de serem anárquicas. Pelo contrário, eles finalizam um verdadeiro decoro ético de uso da liberdade. A liberdade não somente é a capacidade de agir segundo nossa consciência, como o dever moral de assumir responsavelmente aquilo que nós fazemos. A responsabilidade moral pelos atos é um dos princípios que movem o sentido da liberdade, na visão liberal. O homem livre age e assume por si. O homem que age segundo sua liberdade de consciência, defende a busca da verdade, embasada na sua capacidade de observar por si mesmo e pela sua experiência, a natureza dos objetos e realidade mesma. A atitude de independência individual neste contexto, nada tem de subjetivista. Tal ação independente visa simplesmente observar a realidade questionando e se desfazendo de preconceitos preestabelecidos, numa posição de imparcialidade. O individuo, agindo de modo independente e responsável, é o melhor juiz de seus atos e ações.

E o que poderemos afirmar do socialista? Se o liberal preza a busca racional da verdade e da independência pessoal, o socialista preza apenas o uso retórico da verdade. Enquanto o liberal acredita nas virtudes excelsas do individuo como juiz independente das verdades estabelecidas, o socialista crê piamente que as verdades são apenas convenções coletivas, cabendo ao mesmo moldar a coletividade, para a satisfação de suas aspirações ideológicas. Se o liberal, por regra, é racional, o socialista é retórico. Este não implica a tentativa de desvendar a realidade, mas querer fabricá-la e “transformá-la”. O relativismo ideológico e moral do socialista médio é uma tentativa de querer justificar a prevalência de sua idéia sobre as demais, sem prestar contas a realidade. Aliás, o discurso socialista reduz toda dimensão lógica a dogmas e esquemas grupais e classistas. A lógica é arbitrária e reflete um contexto existencial coletivo. É interessante observar que, enquanto o liberal é um individualista que tenta desvendar a realidade objetivamente, o socialista é um subjetivista nato, já que ele nega qualquer forma de conhecimento imparcial. E ele projeta em conceitos grupais, como se o consenso pudesse fabricar o realismo ou irrealismo de uma idéia. É, em suma, um autismo de pensamento. Uma contradição curiosa, pois o socialista, ainda que acusando o liberal de “individualista”, não passa de um pior tipo de individualista, o egocêntrico. O socialista médio apenas quer moldar a realidade objetiva no âmago de seu egocentrismo mórbido.


E eis a tônica do mistério, o liberal parece se preocupar com coisas fundamentalmente práticas e realistas, enquanto o socialista parece discursar numa cegueira estéril de pensamento, embora de maneira rebuscada. É curioso que embora o liberal tenha um discurso mais pragmático e realista, cuja atuação gera resultados válidos, ele apaixone muito menos do que o discurso socialista, cuja retórica é mais apelativa, apesar de vazia de conteúdo e inútil.

Mas sempre foi assim durante dois séculos de história intelectual. O liberal encontra desafios reais e para isso, busca soluções reais, enquanto o socialista cria problemas que não existem para gerar soluções mais absurdas ainda. Se entendermos como uma sociedade liberal constituída e gerando enorme progresso a humanidade no século XIX foi sucumbida pelas falácias do socialismo e de todas as ideologias totalitárias similares, dentre tantas explicações, uma que poderia ser contextualizada é essa: a capacidade retórica do socialismo em relação ao pensamento realista do liberalismo. Para muitos, o socialismo representa uma válvula de escape, uma compensação de insatisfações subjetivas, ressentimentos, complexos e despeitos que podem ser justificados por um discurso pseudo-racional e até progressista. Enquanto o liberalismo promete a realidade possível, o socialismo promete o messiânico céu na Terra.

Fazendo uma leve comparação entre os pensadores liberais e socialistas, há de perceber que uma boa parte da militância socialista nunca foi de boa reputação. Veremos dignidade e honestidade intelectual num Locke, Smith, Ricardo, Böhm-Bawerk, Tocqueville, Acton, Hayek, Popper, Mises, Aron e Roberto Campos. Sempre duvidaremos da honestidade, ou ao menos da credibilidade, de um Proudhon, Marx, Engels, Lênin, Mao, Sartre, Trotsky, Gramsci ou mesmo Emir Sader e Marilena Chauí. Enquanto os primeiros demonstram uma preocupação independente de compreender a realidade, ainda que ferindo suscetibilidades e preconceitos coletivos, os últimos apenas se prestam a cegueira de suas projeções e superstições intelectuais, sem o menor comprometimento com os fatos. Quanto mais os fatos desmentem os socialistas, mais os seus intelectuais se afundam no autismo ideológico.


Curioso é compreender como uma ideologia tão fantasiosa e absurda possa ter sido o baluarte de uma boa parte da classe intelectual. A explicação para isso, em parte, se deve a uma casta intelectual cada vez mais envolvida com a política. A inteligentsia, na crença fanática de uma radical transformação da sociedade, nutre uma insaciável sede de poder. O socialismo torna-se aí uma arma de convencimento em nome de um projeto despótico e planejado, bem ao gosto de uma classe militante, que presume uma sociedade como uma cobaia de uma engenharia social. Este projeto despótico é embelezado numa concepção mítica de um poder paternalista e redentor. Os intelectuais militantes, na mais grosseira vaidade intelectual, querem ser deuses ou paladinos morais. Eles vieram substituir o que antes era a posição dos santos e dos gurus. De fato, o discurso socialista, sendo de grande conteúdo sofistico, é uma luva para um jargão político que mobilize massas ou prometa o paraíso. O socialismo sobrevive de uma estupenda manipulação semântica e simbólica, invertendo as crenças do senso comum. O pior da militância socialista é se apropriar de valores considerados pela sociedade ou pela moral, como justiça, ética ou liberdade, apenas para destruí-los.

Neste ínterim, a conseqüência fática da politização do intelectual é sua completa aversão a honestidade, em nome de convicções facciosas ou tendenciosas. O socialismo, como a completa politização do intelectual militante, não se presta a um discurso honesto, e sim a um artifício de armas para a conquista do poder. Quase toda a literatura socialista praticamente se resume a táticas de tomada violenta e manutenção tirânica do poder. Não é por acaso que uma boa parte da classe intelectual foi omissa, covarde ou mesmo cúmplice dos maiores crimes do século XX. Se personalidades sociopatas como Lênin, Stalin, Trotsky, Mao, Pol Pot e muitos outros tiveram uma certa dose de reverência e admiração da inteligentsia, deva-se a esta classe intelectual socialista, a este baixo ¨clerc¨ da modernidade. E apesar das revelações dos crimes desses ditadores, permanece um culto a personalidade em torno deles, manifesto entre muitos círculos “acadêmicos” ou “letrados”. E graças aos socialistas, tais idolatrias ainda possuem muita força nos meios culturais, intelectuais e universitários, a despeito de seus fracassos políticos.

Por outro lado, parece que o público consome o socialismo para compensar frustrações existenciais, na crença famigerada de forjar um paraíso na Terra. Essa compensação se associa a uma histeria coletiva de uma intelectualidade fanática e uma militância de seguidores.

Na verdade, o socialismo tem um viés de uma idolatria, uma laicização da fé religiosa cristã, numa espécie de seita hermética. Na negação total de valores superiores e crenças transcendentais, o seu culto ao coletivo, ao Estado onipotente, ao Partido redentor e às “forças históricas” impessoais são sublimações de uma nova fé pagã, transformada em religião civil. O socialismo não somente é uma doutrina pseudo-religiosa, como uma crença supersticiosa de uma divinização do poder. O socialismo nega a Deus, mas edifica o poder temporal, elevado à divindade. Negando as crenças espirituais ou mesmo a realidade, os socialistas querem usurpar o lugar de Deus, forjando uma realidade e um ser humano que não existem. E em nome disso, são capazes de destruir toda uma realidade existente. A devoção socialista de seus intelectuais, tanto quanto de um público militante, é o vácuo histórico e moral que a tradição judaico-cristã se isentou em tais consciências. Na recusa de uma tradição milenar, acabam por se tornarem os mais perversos milenaristas. Os déspotas que governaram vários países comunistas foram elevados a novos deuses encarnados, tal como a ideologia elevada à nova fé doutrinária, e o Estado-partido como uma nova igreja. Tais credulices consolam uma massa de seres existencialmente desiludidos, ainda que alguns bem intencionados.

O autismo ideológico não é uma peculiaridade socialista. Contudo, uma boa parte do autismo ideológico do século XX se deveu aos esquemas mentais que os socialistas forjaram como visão de mundo. Se uma boa parte da militância intelectual se tornou indiferente ou mesmo cúmplice dos piores crimes totalitários do século XX, foi precisamente pela crença cega dos socialistas de defenderem as suas mentiras existências. A idéia mesma de que uma ideologia deve prestar contas a uma concepção grupal e fechada de pensamento, levou muitos intelectuais à inversão ética e indiferença moral. Como a ideologia é um instrumento político e de conquista do poder, logo, vale qualquer coisa, qualquer crime, qualquer atrocidade em nome do ideal defendido. Isto implicava inclusive esconder as sujeiras do sistema, quando sua demonstração era desfavorável ao ideal. E a mentira ainda existe, quando uma boa parte dessa classe intelectual, de uma maneira que chega a patologia clinica, cinicamente se autodeclara defensora da justiça, enquanto omite a história de crimes e barbaridades socialistas. Para o socialismo sobreviver como ideologia, os pretensos materialistas da práxis marxista, agora negam a realidade histórica em nome de platônicos ideais! Alegam que o “socialismo real” não era aquilo que idealizaram. É uma somatória de falsidades e desinformação, que só se explicam pelo caráter típico do pensamento socialista, que é seu autismo da realidade.



O preço do autismo socialista foi caro. Custou milhões de vidas, ditaduras sanguinárias, fracassos econômicos devastadores e uma completa destruição cultural das sociedades em que este sistema perdurou. Pelo contrário, as sociedades liberais provaram ser as mais prósperas, mais civilizadas e mais libertárias do que as sociedades socialistas. O discurso fleumático dos liberais mostrou mais coerência do que o discurso apaixonado e vazio dos socialistas. Duas óticas diferentes para resultados diferentes.


O liberalismo é uma consagração de uma tradição intelectual mais valorosa. Ele reflete muitos anseios encontrados na tradição religiosa do cristianismo e no pensamento grego e romano, em seus aspectos mais humanísticos. Não é por acaso que o movimento liberal nasceu por obra de intelectuais de formação religiosa, preocupados com os caminhos da tolerância, da liberdade política e do bem estar do ser humano. A desconfiança dos poderes temporais deste mundo é herança vinda da filosofia política cristã, em particular, a filosofia cristã medieval. Parte do pressuposto de que o poder, por definição, é sempre passível de corrupção, porque o homem, por natureza, é corruptível. E que qualquer mistificação do poder temporal, alem de ser um sacrilégio e uma idolatria, do ponto de vista religioso cristão, é um caminho perigoso para a mais completa tirania. Isso foi o despotismo socialista, a divinização dos poderes terrenos. Ainda que possuindo um caráter muitas vezes laico, o liberalismo herdou uma tradição política e moral consagrada na religião cristã, na saudável desconfiança dos poderes do mundo. Em outras palavras, o progresso pertence aos liberais e não aos socialistas.


A vitória da economia de mercado e das liberdades políticas das democracias liberais mostrou a diferença entre as duas tradições intelectuais. Enquanto o liberalismo conseguiu, através de conceitos práticos, provar sua eficácia no plano teórico, o socialismo é apenas arremedo de meias verdades, que se renovam para mais novas mentiras. Porém, sempre haverá aqueles que precisam renegar a lógica e a realidade pelos caprichos convenientes das projeções ideológicas. Por mais que o socialismo tenha sido derrotado no plano real das práticas políticas, todavia, seu mito ainda persiste, aos que odeiam as liberdades e precisam projetar idéias escusas, para inventar novas formas de tirana. E nunca podemos subestimar as idéias, pois elas refletem intenções e ímpetos que podem se tornar ações. Intenções podem se tornar atos. O ônus da liberdade é a eterna vigilância.

Leonardo Bruno

sexta-feira, novembro 24, 2006

O mito da abundância e o fantasma da escassez. . .


As sagradas escrituras, no livro de gênese, relatam a sina do primeiro homem, Adão, em relação à natureza nos dizeres: Viverás do suor do teu rosto! Adão, que vivia no Éden, não conhecia o trabalho, posto que tudo era abundante no Paraíso Divino e não existia a fome para se preocupar. Com a queda e a expulsão do Paraíso, o primeiro homem teve que arcar com as próprias conseqüências de sua punição, ou seja, a perda da abundância e o fantasma da escassez. Em outras palavras, o homem conheceu a fome. A natureza, em grande parte, é hostil ao homem. Para sobreviver, ele simplesmente tem que produzir, coletar, caçar, ou seja, gerar trabalho, sob pena de morrer de fome. Por isso, o homem transforma os bens da natureza para sua utilidade, o que nada mais é do que a riqueza. Pode-se dizer que, com a queda de Adão, nasceu a economia.

A palavra economia vem do grego, ou seja, “as coisas da casa”. Dizia-se “da casa”, posto que muitas das atividades que geravam riqueza na Idade Antiga, vinham da propriedade privada da terra, mais precisamente a agricultura. Em épocas remotas a propriedade da terra se confundia com o domicílio, uma vez que o espaço agrícola era a casa, o sustento e a localidade em que o proprietário fincava raízes.

Cabe fazer outra dedução em economia: escassez é regra, abundancia é exceção. À primeira vista, conceitos aparentemente relativos e, no entanto, esclarecedores. Por uma razão muito simples; os recursos da natureza são limitados e as necessidades dos homens, infinitas. É a escassez que atribui a idéia de riqueza, pois um dos pressupostos do valor é a dificuldade que tal coisa ou bem pode ser adquirida. Muito raramente se dá valor a algo abundante, pois as coisas em grande quantidade saturam as necessidades circunstanciais de quem as usufrui, pouco atribuindo importância se sua necessidade está satisfeita.

Por outro lado, existe outra atribuição da economia, além da escassez: é a escolha de prioridades infinitas, nas finitas possibilidades de se usar a riqueza. Tal escolha está associada aos valores subjetivos do individuo e sua prioridades no meio de utilizar a riqueza. Essa dedução é tão importante, visto que pouco se medita como são imprescindíveis tais escolhas na vida econômica da sociedade. De fato, por escolha gastamos, poupamos, criamos renda, desperdiçamos, produzimos, trocamos, enfim, tudo que poderia se dizer, o movimento complexo da economia.

Se os dilemas econômicos são escassez e escolhas em escala individual e pública, o grande desafio da economia é simplesmente alargar as capacidades de escolha do indivíduo, atribuindo não só um grau de segurança econômica, mas principalmente a possibilidade de dispor da riqueza, no intento de satisfazer a busca de seus fins subjetivos. Este raciocínio é particularmente importante dentro das sociedades que primam pelas liberdades individuais e no respeito pelas escolhas particulares. Tais sociedades que consolidaram este princípio são, em particular, paises democráticos liberais, que prezam pela propriedade privada e liberdade de mercado, como expressões concretas da liberdade individual de dispor dos próprios bens.

Contudo, um grande equívoco de se explicar as questões econômicas, é a crença muito vulgarizada, principalmente em algumas vertentes intelectuais radicais, de que a abundância é regra e escassez exceção. Tal raciocínio, parte do pressuposto de que a acumulação de capital ou a instituição da propriedade privada criam as desigualdades arraigadas em nossa sociedade, gerando dividendos para uns e pobreza para outros, e que a verdadeira abundância se primaria pela coletivização da riqueza. A idéia distributivista parece conciliar uma fé utópica de que a riqueza seria mais abundante se posta de maneira igualitária. Abolindo-se as instituições que supostamente criariam a desigualdade, tal qual o direito de propriedade e todas as suas instituições análogas, como o direito de herança, a sociedade seria mais justa e farta.

Esta explicação é de uma ingenuidade, senão um desconhecimento sem par de como a riqueza é criada. Por princípio, a riqueza não é um bem criado coletivamente. Cada indivíduo tem uma importância diferenciada de valor econômico, dentro do sistema produtivo da divisão do trabalho. Até porque, esse coletivismo social, muito antes de representar algo concreto, não passa de um ideal abstrato e inócuo, moldado por pretensas crenças de engenharia social pseudo-científicas. Este mito da abundância foi em parte, alimentado pelas idéias marxistas, que subestimaram as aptidões individuais, em favor de uma genérica e falsa premissa histórica do desenvolvimento da sociedade.

Na verdade, a economia de carne e osso, vivida pelos seres humanos, é produzida desigualmente, até porque os esforços particulares de cada um são desiguais. As aptidões, desejos, vontades e finalidades propostas a cada individualidade humana, determinam, muito mais do que quaisquer conjunturas históricas, o destino da economia. Pode-se dizer que, muito além dos objetivos pretensamente “econômicos” observados pelos materialistas históricos, os objetivos que norteiam a busca da riqueza são motivados por valores e satisfações não econômicas. Cabe afirmar, que a economia também é juízo de valor, pautado na utilidade. O juízo e consciência de valor é que norteiam as questões e necessidades econômicas, pois a economia, o dinheiro e a riqueza não são fins em si mesmos, mas meios de satisfação de nossas aspirações, em busca de valores não econômicos.

As únicas igualdades básicas que podem ser consagradas a todos os seres humanos, são aquelas que preservam seus direitos básicos e protegem oportunidades, como a vida, a dignidade, a liberdade, a segurança e a propriedade, princípios genéricos e comuns a todas as pessoas, a fim de potencializar a realização e satisfação de suas necessidades. Na preservação destes direitos, todos são potencialmente iguais, dentro da proporcionalidade de seus atos. No mais, a tão falada “igualdade de oportunidades”, dentro de uma sociedade que queira preservar a dignidade dos indivíduos, pressupõe condições mínimas básicas para que todos tenham o direito de escolha nas melhorias de condições de vida. Esta igualdade não pressupõe a nivelação dos indivíduos, posto que tal intento é injusto, como deplorável, pois pune a previdência, a capacidade e o mérito maior de quem teve por merecido, e nada ajuda àqueles que estão necessitados. A igualdade de oportunidades é na verdade, um padrão social mínimo de regras e condições que assegure aos cidadãos, as chances de ascenderem socialmente, dentro de uma sociedade democrática.

Pode-se dizer que os homens são tanto iguais quanto desiguais. São iguais na capacidade de exercerem direitos, todavia, são diferentes no modo de como exercem tais direitos. São iguais na qualidade de amarem e odiarem, mas são diferentes no estilo e caráter de expressarem tais sentimentos. São todos igualmente mortais, contudo, são desiguais na maneira como morrem. São todos indivíduos, pois cada ser humano é semelhante em possuir uma consciência e individualidade, porém, cada um tem sua vida, sua consciência e existência particular e autônoma, e seu modo de ver o mundo de uma maneira própria e singular. As características comuns da humanidade não negam as diferenças e desigualdades inerentes à qualidade dos homens. A economia, neste aspecto, sofre as conseqüências destas propensões naturais e complexas do ser humano.

O materialismo histórico e grande parte das ideologias radicais ignora esses detalhes básicos, o que foi motivo de experiências desastrosas em suas práticas econômicas. A busca da igualdade socialista, negando as peculiaridades individuais e destruindo as instituições similares da riqueza e prosperidade, como a iniciativa individual e a propriedade privada, acabou por patrocinar um novo tipo de despotismo, reduzindo a sociedade a uma espécie condicional de servidão social.

A coesão econômica posta pelas ideologias radicais pressupunha como regra, a coerção do Estado e do partido único como elemento artificialmente fabricado dessa unicidade, abrangendo não só o controle econômico centralizado, como também até o controle ideológico da sociedade, aniquilando quaisquer formas de diferenças. Na pior das hipóteses, as escolhas e prioridades econômicas e pessoais diárias que norteiam milhares, senão milhões de pessoas, dentro de uma sociedade de mercado, seriam transferidas para castas burocráticas onipotentes e poderosas, no intento de impor a “justiça social” ou quaisquer outras finalidades de “bem comum”.

O individuo, perdendo o direito de escolhas econômicas baseadas na sua utilidade e necessidade, perderia também a liberdade de reger sua vida, monopolizada por autoridades iluminadas e reformadores sociais, que imporiam, dentro de seus caprichos ideológicos, o que seria conveniente para os próprios cidadãos, ignorando suas reais necessidades.

A tão alardeada planificação econômica estatal, fonte de inesgotável imaginação dos reformadores sociais, nada mais provou ser um fracasso abissal, com um preço caro de conseqüências perturbadoras. A pretensa economia de abundância socialista simplesmente destruiu a riqueza, nas inesgotáveis crises de escassez e racionamento de recursos, como em alguns casos, provocou verdadeiros colapsos sociais, no caso a fome em massa e a morte de milhões de pessoas. Na pior das hipóteses, em nome de libertar os homens das necessidades econômicas e colocá-los no reino da abundância, o socialismo não só roubou a riqueza e prosperidade, como violou os mais sagrados direitos particulares do homem: a sua liberdade.
Os fracassos do socialismo no aspecto econômico e político estão em suas premissas básicas: a centralização econômica, fator de engessamento da criatividade tecnológica; o despotismo burocrático; e a falta de incentivo em produzir a riqueza, em parte, pela perda sagrada da liberdade individual do trabalho e prosperidade, com a abolição do direito de propriedade.

No mais, o engessamento da economia socialista gerou outro efeito perturbador: a destruição gratuita de riqueza, embasada na ignorância dos cálculos econômicos. Em outras palavras, a informação de valor que move as trocas comerciais, ou seja, o preço, simplesmente não existia na economia socialista. Os preços valorados nos regimes planificados eram meras fantasias catalogadas por burocratas, que queriam, através de mágica ou feitiçaria, preverem o futuro e as necessidades econômicas de todos os cidadãos. No final, a planificação socialista era um conjunto de cálculos, valorações e juízos burocráticos que distorciam de forma aterradora os custos de produção.

O planificador decidia a produção, o preço e os consumidores, através de avaliações aleatórias. Como os preços eram irreais ou pouco atraentes e a demanda não existia, pois o consumidor não tinha liberdade de escolha, logo, a produção era irregular e o consumo não compensava, uma vez que a própria procura era ditada pela mágica matemática do Estado. No final, o Estado produzia somente para si mesmo, para seus caprichos, ignorando solenemente os agentes econômicos. A pretensão do Estado socialista de abolir a lei da oferta e da procura por decreto, só fez a mão invisível do mercado informal dar um soco na cara do regime, na fonte inesgotável de corrupção e ineficiência que causava os severos controles governamentais obtusos.

Uma questão que impressiona pelo desconhecimento de causa, na penca de desvarios dos reformadores sociais, é a dissociação das conseqüências de abundância, sem levar em conta os meios de produzi-la. Se a crença da abundância foi herdada, em parte, da mitologia do Éden, da cultura judaico-cristã e da fé no Reino de Deus, e norteou uma grande soma de utopistas, o único sistema econômico que redundou no verdadeiro sentido da criação da abundância, no desafio de acabar com a miséria, foi precisamente a economia de mercado.

Muitos intelectuais socialistas desconhecem este detalhe, de que a possibilidade de combate à miséria nasceu somente a partir do século XIX, com a revolução industrial, que de fato, modificou drasticamente a geração de riquezas no mundo, numa guinada de produção em escala jamais vista na humanidade.

Muitos ainda ignoram que a miséria, em grande parte da história, foi um fantasma que assolou boa parte da humanidade, não somente pelas tão pretensas relações sociais ditas “injustas”, mas simplesmente porque a produção era incapaz de alimentar todos, inclusive as classes abastadas. Na maior parte da história do mundo, a miséria foi de tal regra na humanidade, que o homem a aceitava como uma fatalidade da natureza ou até divina. Os alimentos, além de serem quantitativamente insuficientes, eram caríssimos, até porque a produção não atendia a demanda de consumidores (isto porque nem o comércio era totalmente desenvolvido).
Por outro lado, a divisão do trabalho e as oportunidades de produzir riquezas eram muito mais escassas ainda. A terra era a mais importante fonte de riqueza e o nível de emprego, produtividade e produção eram baixíssimos, visto que de fato, havia poucas opções de geração de riqueza. É por isso que se pode dizer, sem sombra de dúvida, que o capitalismo é a mais revolucionária das formas econômicas já produzidas na humanidade. O comércio, a industria e a criação da divisão de trabalho gerou uma soma de riquezas nunca acompanhadas na história humana. Pode-se dizer, aliás, que além de revolucionar a economia, pela primeira vez na história, o homem deixou de considerar a pobreza como uma fatalidade natural da escassez, para transformar a sociedade mais próspera e rica. O mercado, pelo mecanismo da circulação de riquezas, é o mais fantástico meio de distribuição de renda já inventado, pois conjuga a criação de empreendimentos, através da liberdade de iniciativa e oportunidades múltiplas nas relações econômicas individuais.
O mercado, não somente aprimorou a liberdade de iniciativa, como invocou novos valores, tipo a ascensão social, algo impensável há alguns séculos atrás. De fato, o grande desafio da economia, nos últimos dois séculos, desde a sua fundação como ciência criada pelo mestre de Glasgow, Adam Smith, é o mesmo dilema que ainda permanece hoje, nos problemas que são atuais: a prosperidade econômica da humanidade, buscando o mito da abundância e combatendo o fantasma da escassez. Entretanto, a busca dessa abundância deve estar coadunada com um princípio de racionalidade, liberdade e escolha, sem a qual, se ressuscitará na economia humana, outros fantasmas de escassez.

quarta-feira, novembro 22, 2006

A humanidade medida pelo papel higiênico.

Um perfeito idiota latino americano grita no meu ouvido a seguinte pérola: Cuba tem a melhor medicina do mundo! E para provar isso, ele me cita estatísticas da Cepal, da ONU, e de tantas outras fontes, cujas origens são, no mínimo, duvidosas. Eu faço questão de duvidar das estatísticas. Há números que nem sempre refletem a realidade dos fatos. Em particular, num regime totalitário como Cuba, onde a liberdade de expressão não existe, estatísticas oficiais do governo soam como fraude. São puras propagandas políticas. E o idiota da objetividade vai me dizer: e a Cepal, e a ONU? Simplesmente pelo fato de essas entidades coletarem dados oficiais do governo, é que não são confiáveis!

Todavia, penso que a melhor maneira de avaliar uma sociedade não é pelas estatísticas. Minto: a melhor maneira de avaliar estatisticamente uma sociedade, é saber como ela usa seu papel higiênico! Quando um idiota me diz que Cuba tem a melhor medicina do mundo, eu fico pensando estatisticamente quantos cubanos têm papel higiênico em sua casa. Quantos cubanos conseguem limpar realmente sua bunda com decência. O idiota repete, histérico: Cuba tem a melhor medicina do mundo! Cuba tem padrões europeus de vida! Cuba tem mortalidade infantil abaixo dos americanos!

Façamos um comentário: em Cingapura, os banheiros são limpíssimos. Dizem as más línguas, que se um sujeito jogar papel higiênico na privada, é multado, e pode ser preso. Que dirá de outros países do mundo? Em algumas nações ricas, a sujeira fecal fora do lugar é reprimida por sanções mais brandas. Contudo, o povo ordeiro e limpo solta o barro e coloca seu papel higiênico na lata do lixo. Inclusive, quando o cachorrinho da madame solta as fezes na rua, a dona cata o excremento. Há países que devem sua história a uma latrina: a Alemanha é um exemplo. Martinho Lutero, em suas lendárias dores de barriga na universidade de Wittenberg, idealizou a teoria da justificação pela fé numa privada. Imaginemos o telógico alemão, com suas sombrias caganeiras e limpando sua bunda, crendo piamente que descobriu uma doutrina religiosa? Era na privada que Lutero tinha suas conversas com o demônio e não perdia tempo em humilhá-lo. Dentre outras de suas peripécias, nem limpou a bunda: mandou que o capeta o lambesse naquele lugar! Outros tempos!



No Brasil eu vejo essa diferença de mentalidade de região para região. Quando saio do Pará de ônibus e vou para o Rio Grande do Sul, percebo as diferenças de como o povo usa sua privada, e claro, seu papel higiênico. No sul do Pará e nos grotões do Piauí e do Maranhão, quando chegamos numa rodoviária, a primeira coisa que se vê no banheiro é aquele tsunami de fezes nas bordas do vaso sanitário. Claro, o papel higiênico está lá no fundo, entupindo os canos. Decerto aquilo é uma porcaria. Pior é quando aquele mal educado puxa todo o rolo do papel higiênico até deixar só o rolinho vazio. Todavia, temos até uma sensação de felicidade, ao descobrir que o nordestino ou paraense médio dos grotões do país ainda defecam e limpam a bunda com papel higiênico. Abusam do papel, jogado em tudo que é lugar. Pelo menos, eles sujam tudo e limpam a bunda! Bárbaros imundos? Talvez. Porém, a bunda deles é limpa! Sacanagem mesmo é quando se chega numa cidade nordestina, e num banheiro de uma rodoviária caindo aos pedaços, você encontra uma matraca, onde se lê uma placa: “banheiro, R$ 0,50”. Como a maioria do povo tem pena de pagar por essa pequerrucha quantia, tudo é cheiro de mijo e merda ao redor! Esse povo não conhece a escassez de papel. Há aqueles que limpam a bunda com folha de carnaúba. Entretanto, o papel higiênico ainda existe! E haja açaí e rapadura pra soltar!

Descendo estradas mais ao sudeste e sul do país e superando o centro-oeste, as privadas são quase todas limpinhas. Papel higiênico é ainda perfumado. Suspeita-se que bunda de sudestino ou sulista deva ser cheirosa (bunda cheirosa? Isso existe?). Numa rodoviária do sul e sudeste, tudo é ordeiro, lixo no lugar, descarga apertada, com cheiro de Pinho Sol e privada espumando colorido! Se um papel higiênico é sinônimo de civilidade, que dirá onde jogá-lo? Só pela diferença de privadas e uso de papéis higiênicos, dá pra entender o quanto difere o nível de vida médio de um nordestino, um nortista, um sudestino e um sulista no Brasil! E alguém me pergunta: E o centro-oeste? O centro-oeste está na fronteira entre a banheiro sujo e limpo, entra a merda entúpida e o aperto da descarga!



E Cuba? O país que se exalta pela educação, medicina e qualidade de vida de primeiro mundo nos números, é incapaz de ter papel higiênicos. Sério! Cuba tem carência de papeis higiênicos! A limpeza da bunda é racionada. Se o cubano médio faz fila pra comer ração do governo, a mesma lógica se diz pra limpar a bunda. Tem que esperar a fila. Pobres cubanos! Nem a caganeira foge da fila de racionamento! Dizem as fofocas dos turistas, que os cubanos usam os jornais do Partido Comunista para limparem a bunda. É divertido pensar num cubano usando o “Granma” e “Juventud Rebelde” para tais fins! Pelo menos, os jornais do governo cubano servem pra alguma coisa. O povo cubano é, em suma, um povo bunda-suja! O que compensa é a falta do que defecar, já que o racionamento não somente é de papel, como de comida! É provável, que em alguns casos, falte até papel de jornal pra tais asseios. Por causa da carência de tudo, provavelmente muita gente deve mais limpar a bunda do que ler os jornais.

O perfeito idiota latino-americano baba na gravata ao ler o jornal Granma que os cubanos limpam a bunda. Vocês já imaginaram que tipo de sociedade é essa, em que um papel higiênico se torna uma raridade, um bem precioso? É bastante provável que o cubano médio use cada borda do papel higiênico, pra não desperdiçar. Lembra aqueles holandeses do século XVII, que usavam torrões de açúcar no café, desesperados com o preço nas alturas do pó branco adocicado e do próprio café. Vão acabar inventando torrões de papel higiênico na merda. E quando falta o papel? Dizem que o povo cubano é, acima de tudo, ecológico: a grande maioria limpa a bunda com folhas de bananeira. É um país auto-sustentável!



Mas aqui entre nós: como um país miserável, que não consegue ao menos limpar a bunda direito, pode produzir medicina, educação e qualidade de vida boa? A indigência do papel higiênico não se resume aí. Fidel Castro se vangloria de ter prostitutas com diploma universitário, em particular, as médicas. Se até as médicas cubanas chegam a penúria de se prostituírem, é porque o quanto este país está numa situação famélica. Isto porque os turistas estão cansados de ver rufiões cubanos implorando por um papel higiênico ou sabonete. E as mulheres cubanas se prostituem pra limpar a bunda!

E um idiota da objetividade vai me perguntar: e como um povo que mal limpa a bunda, pode ter a melhor medicina do mundo? Ora, isso é uma grossa piada! A medicina cubana é tão séria quanto o despacho da encruzilhada. Até a mandinga da preta Mãe Domingas faz mais curas do que a “santería” cubana! A esquerda burra ainda quer importar os “pretos velhos” de lá! E tem gente que acredita na dosagem da feitiçaria: Cartilagem de tubarão, vacina contra o câncer, vacina contra a meningite B, cura para vitiligo, tudo falcatruas do governo cubano.

Os médicos cubanos estão para a medicina brasileira, assim como estão os nossos técnicos de enfermagem e macumbeiros. A reprovação num exame de revalidação de diploma médico no Brasil é de quase 100%. O médico cubano não consegue passar nem mesmo numa prova de residência elementar para médicos brasileiros. Que dirá das suspeitas de erros médicos entre médicos cubanos, já que suas técnicas são obsoletas e ruins?

Cuba é apenas uma ficção da esquerda. Os médicos cubanos são apenas curandeiros bem mais elaborados. A medicina cubana não faz inveja nem ao terreiro de umbanda. O padrão de vida é baixíssimo, vergonhoso para os padrões latino-americanos. A educação é castrada pelo governo, já que é uma doutrinação totalitária disfarçada de ensino. A miséria não poupa os mais instruídos, que se vendem por um sabonete. As estatísticas cubanas refletem um país que não existe. A ilha tem padrões europeus sim, da Albânia. Presume-se que até a Albânia limpa a bunda direito. E o papel higiênico, esse dilema da civilização? Em Cuba, é um artigo tão precioso quanto uma porcelana do oriente, tão raro quanto um ovo Fabergé! Para os padrões fisiológicos cubanos, o rabo de um nordestino vive no luxo, vale ouro!


Leonardo Bruno

22 de novembro de 2006

terça-feira, novembro 21, 2006

Brasil: o país mais politizado do mundo!

"Os iletrados têm sempre razão, porque são muitos e ocupam um lugar de elite, esse 'proletariado intelectual'... Lêem os livros e decidem sobre os sucessos de livraria, criticam os quadros e as exposições, aplaudem e vaiam no teatro e nos concertos, dirigem as correntes das idéias políticas, e tudo isto com a autoridade que o grau acadêmico lhes confere. Em suma, desempenham o papel de elite. São os nouveaux maitres, os señoritos arrogantes, graduados e violentos; e nós sofremos as consequências, amargamente, cruelmente."

Otto Maria Carpeaux


Uma coisa que demonstra o mais virulento atentado ao bom senso, são os nossos professores de história e de geografia, que ensinam aos pobres alunos de primeiro e segundo grau, as baboseiras retóricas que são obrigados a decorar no vestibular: as idéias pretensamente econômicas sobre a geopolítica e pretensamente críticas sobre história. Nossas escolas são bombardeadas por clichês castrenses de raciocínio e lugares-comuns imbuídos, oriundos de uma formação famosa por ser bitolada de raciocínio par excellence: nossas universidades públicas, influenciadas por estúpidas e estéreis idéias marxistas. O bombardeio mental dos Vesentinis, dos Magnolis, dos Arbex Jr. da vida, nos dão o grau de pobreza psicológica e de estreiteza econômica na qual o pobre aluno de ensino fundamental é obrigado a engolir, numa completa lavagem cerebral da idiotice implícita e vaselinada. Ou a “nova história critica” de um tal Schmidt, que não passa de uma bajulação nojenta aos regimes comunistas.

Não nos espantemos. Os alunos pretensamente críticos de nossas escolas, pretensamente reformadores e politizados com a militância engajada (ou mão de obra barata para as UBES da vida), mostram o grau de ignorância induzida, no repertório de tolices que são obrigados a ouvir e repetir como a mais tenra verdade absoluta e inquestionável. Produzem, assim, um imaginário neurótico de incontrolável paranóia cultural. O FMI, a burguesia, os banqueiros, os empresários, o capital, o mercado, o capitalismo internacional, a ditadura militar, a divida externa, o neoliberalismo, são os inimigos imaginários, os fantasmas econômicos de nossos pobres alunos, tal como o medo da cuca e do boi da cara preta. Sentem a síndrome da infância prolongada, pela necessidade do culto dialético da estatolatria socializante e salvadora. Estado é pai, Estado é Deus, Estado é literalmente “babá”, com referencias ao insólito deputado estadual do PT do Pará, que antes de ser objeto de culto dos enragés do curso de história da universidade, devia era ser objeto de estudo da arqueologia. Seria curioso pesquisar a síndrome do dinossauro econômico-político latino-americano e como era a sociedade na época da Idade da Pedra. "Idade da Pedra", refiro-me, claro, às ditaduras socialistas, o jurassic park russo, chinês, norte-coreano, cubano, etc, que os idiotas da esquerda chamam "socialismo real"! E o dinossauro político-econômico, o perfeito idiota latino-americano!

Não nos assustemos, se o deputado Babá declara ser o Estado babá de tudo. Ele deve crer piamente que o Estado se auto-gera, tem geração espontânea, uma biogênese. No final das contas, todo mundo quer do Estado, quer mamar no Estado, mas quem é que paga a conta? No final das contas, quem é que gosta de credor? O latino detesta pagar conta, o PT idem! Com certeza não são os deputados da esquerda que pagarão com o seu salário. Porém, o deputado do Estado babá, como todo socialista que se preze, adora fazer caridade, mas com o dinheiro dos outros. Ou melhor, no confisco dos bens dos outros.

Porém, o monopólio da moral não é fruto somente de historiadores e geógrafos. Temos também os professores de cursinhos. Estes que ganham rios de dinheiro no desespero alheio e andam com carros importados do ano, enquanto apregoam com uma ingenuidade, com uma candura tão incrível de compreender, a não ser pela patologia clínica, o regime mais lindo da face da Terra, as peripécias de titio Fidel Castro e de seu santo padroeiro Che Guevara. Os dois facínoras são santos: eles redimiram a história de maldade dialeticamente congênita dos burgueses e dos americanos e restauraram a “dignidade” do povo cubano na ilha transformada em Éden, na horda de dois milhões de refugiados e uns vinte mil mortos só na época áurea da “revolução”.

Todavia, não há nada estranho nisso, porque a verborragia inocentemente mentirosa, repetida mil vezes, se torna uma verdade, uma convenção. Não há de se estranhar quando um capitalista se diz socialista, porque é padrão-chique da boa educação pública estatal dizer-se da esquerda. Não há de se estranhar se um professor trabalha como um capitalista, lucra como um capitalista, enriquece como um capitalista, acumula como um capitalista, e com tamanha lógica econômica tão liberal, ele diga na maior cara de pau ser um socialista. Se ele disser que trabalha como capitalista e virar explícito liberal, ele será banido da face da Terra. Do contrário, tendo um carro importado, uma escola-fábrica de vestibulares e um discurso socialista, para delírio da platéia, este cidadão será “avançado” e “progressista”. Um empresário no Brasil só vai ter sucesso se cumprir o seguinte refrão: ganhe como capitalista e diga ser socialista. Ou em outras palavras, diga ser contra a “elite” no qual você pertence, no FMI no qual você é devedor, no capitalismo no qual você se enriquece, porque o “inferno” e os “ricos” sempre são os outros. E ganhe com isso, todos os favores monopolísticos do Estado no mercado e vire, para maldição dos malvados banqueiros privados, um banqueiro estatal, financiador de campanha, de preferência, de um partido de esquerda. PC Farias estará se remoendo do túmulo de tanta inveja. Só Marcos Valério mesmo!


Não nos desesperemos. Se malgrado o pobre aluno é bombardeado e doutrinado com tamanhos besteiróis econômicos e políticos, vem a fase áurea da universidade, no bacharelismo de certos professores e sociólogos mais encharcados em transformar o mundo, ou melhor, em domesticar o mundo. Que lindos são estes sociólogos, que falam das peripécias do materialismo dialético como uma ciência exata, redentora e melhor, redutora de toda a explicação do homem. Em economia, a mais valia, o horror hipócrita do lucro, é divulgado como a virtude revolucionaria da pobreza induzida. Como se esses professores trabalhassem de graça, por caridade. E, quando fazem greve, não pensem também neste horrendo pecado de ganhar mais, ainda que às custas do contribuinte.

Em História e geografia, a pobreza do raciocínio dialético retardou tanto a mente deles, que em plena queda do socialismo, ainda caminham para trás, ignorando a mais sábia história e a mais sábia geografia (e quem sabe a “dialética”, uma vez que o capitalismo prevaleceu sobre o socialismo, pregando uma peça neles). E o Direito, que é o clube da verborragia par excellence, os histéricos e lindos clichês como “justiça social”, “movimento popular” e a nova pérola, “direito alternativo”, são os linguajares poéticos e vazios, cujas expressões repetitivas e inócuas das palavras, na prática não dizem absolutamente nada.

Depois de tanto conhecimento inútil, de tanto lugar comum, tanto besteira bem dita (tanto quanto há muito idiota bonito), o aluno receberá o canudo com a seguinte formação intelectual e bacharelística: militante profissional. Aliás, existem três modalidades de doutorado e mestrado: imbecil, inocente útil e oportunista safado. O imbecil é aquele que pega porrada da policia, a massa de manobra que faz a revolução pelos outros e para os outros (de preferência, o poder dos outros). O inocente útil é o simpatizante, o otário que faz apologia do assalto ao poder, quando não, repetindo as mesmas frases de ordem e clichês, como futuro lacaio do novo poder. Em suma, é um verdadeiro servo de gleba intelectual. Há o terceiro e ultimo caso, que é o grau máximo da militância, o mais alto mérito deste grupo profissional: o poder pelo poder, o poder de mando da sociedade, de sua riqueza, como também de sua consciência.

O oportunista safado é o mais alto grau da militância, é o cérebro de tudo e de toda a engenharia social. Ele esbraveja em favor dos pobres porque sabe que os pobres são massa de manobra e comem promessas. Ele combate os ricos porque tem inveja dos ricos e ambiciona seu poder econômico. Ele critica o Estado e contraditoriamente faz apologia do Estado, porque no Estado, na vingança pública do Estado e no poder legal do Estado, é o seu mais completo meio para o fim único do poder. Ele vive da militância (e somente disso) porque do resto, tem real significado de sua insignificância, não aprendeu nada que preste, a não ser a sua convicção niilista de que a sociedade não presta, de que para criar uma linda sociedade solidária, deve fazer algo que menos preste ainda. Ele crê no futuro e justifica seus atos arbitrários pela razão do futuro, não porque ele o creia como tal, mas porque, no fundo, ele se aliena do presente e desdenha o passado, e justifica sua alienação acreditando ter o domínio e a justificativa do futuro. E no ódio que ele tem do presente e do passado, acaba justificando sua tirania, destruindo o presente junto com o passado e na prática, destruindo também o futuro.

Não nos desesperemos, porque o aluno, depois de tudo isso, acabará de concluir o seu mestrado de inteligentzia: ou seja, o da burritzia. E se não houver mercado para tanto (uma vez que existe um número gigantesco de sociólogos, filósofos, economistas por metro quadrado), pelo menos o mercado estatal da China e de Cuba agradecem pela preferência, absorvendo povaréu tão iluminado. Ou quem sabe o governo do Pará ou a presidência do Brasil. Aliás, eles terão muita concorrência, já que há os politizados sem diploma. Vender filosofia, economia e historietas de vulgata marxista a granel é moda em escolas e universidades! Quase todos têm pensamentos pra qualquer coisa, ainda que não tenham lido nada. O arraia miúda e o estudante médio não conhecem a frase "não sei". O povo opina sobre filosofia, história, economia, artes, ignorando praticamente tudo, fazendo coro aos idiotas diplomados, que não aprenderam nada! E ainda se orgulham de tão soberba e douta burrice, já que o importante é o palavrório vazio! A militância engajada terá longa vida pela frente. Que país politizado!!!

O MITO DO ESTADO TOTAL E A DEMOCRACIA DAS MASSAS


Este texto foi escrito no dia 08 de outubro de 2003. O seu teor ajuda a explicar como as ideologias mitificadoras das massas e do Estado onipotente, mesmo na democracia, levaram o mundo ocidental à ameaça dos pesadelos totalitários. Essa ameaça permanece, na medida em que a democracia, ignorando as limitações expressas do Estado na esfera das liberdades individuais, pode promover o poder mais tirânico da terra. O nazismo, o bolchevismo e o fascismo são sintomas que dessa perversão política. Perversão que banhou de sangue o século XX!
No final do século XVII e por todo o século XVIII, a idéia recorrente em relação à força política do Estado é o da limitação dos poderes. Em parte, fruto da resistência contra os desmandos do poder real, e em parte contra a política econômica mercantilista, tal princípio consagrou os primeiros direitos civis e individuais modernos, inclusive posteriormente a democracia. O Estado era visto como um mal necessário, que devia ser controlado pelas leis, pela divisão dos poderes e contido pela propriedade privada.

Quando imaginamos a idéia de abertura política e de mercado no Século das Luzes, mal se percebe hoje o quanto foram revolucionários os direitos individuais em relação ao poder político do rei e dos nobres. Por outro lado, as guildas e corporações de oficio eram monopólios econômicos de grupos escolhidos pelo monarca ou mesmo por tais entidades, que bloqueavam o desenvolvimento do comércio em geral. A quebra dos monopólios significou uma estruturação concreta das liberdades civis e o inicio da prosperidade econômica que o sistema de mercado proporcionou nos últimos dois séculos. A liberdade política foi um pressuposto necessário à segurança das demais liberdades civis, impondo uma estrutura legal, jurídica e institucional de limites ao poder estatal. Esse caráter saudável da descentralização política e limitação do poder muito se arraigou principalmente nos países de língua inglesa, o que acabou por consolidar seus estilos de governo.

Contudo, parece que o século XIX instituiu uma verdadeira resistência aos valores consagrados pelos liberalismos do século XVIII. Por um lado, conseqüência dos problemas aparentes criados pela Revolução Industrial, e por outro, resultado de novas reivindicações políticas de grupos sociais. Muitos intelectuais militantes, eivados de uma nostalgia e conservadorismo dos modelos passados, invocam a crítica ao sistema capitalista vigente e ao mesmo tempo do sistema democrático e parlamentar.

Quando se afirma “críticas conservadoras”, está se falando daqueles que viam no sistema de mercado um grau de degradação muito pior que os ofícios passados. Fala-se da mudança dramática das relações de trabalho que a industrialização gerou no século XIX, aprimorando técnicas que não somente revolucionaram a produção de riqueza, como as formas de trabalho. Isto momentaneamente acabou por tornar obsoletos os velhos ofícios artesãos e a produção da terra de seu poder econômico dominante.

O crítico mais conservador sem dúvida é Karl Marx. Se Marx invoca sua contemplação ao novo sistema de mercado, sua acidez contra o sistema é refletida em declarações altamente nostálgicas de modelos econômicos outrora passados. A sua crítica ao “materialismo” (isto vindo de um materialista), ao “individualismo burguês” e sua ojeriza a divisão do trabalho, pregando em contrapartida, a idéia centralizadora do Estado onipotente sobre a economia, muito antes de invocar valores progressistas, na verdade, demonstram valores escandalosamente conservadores, em razão de uma particular antipatia que o século XIX consagrou aos liberalismos.

Contraditoriamente, se as inclinações são conservadoras, as justificativas são revolucionárias. No século XIX, vemos a ascensão do racionalismo mecanicista e da técnica científica como explicação para todos os fenômenos sociais. A crença iluminista da razão mecânica aplicada as ciências naturais, poderia ser aplicada às práticas da sociedade, da economia e da política. Não é por acaso que a engenharia social nasceu aí, pela idéia mítica de que um Estado racional pudesse remodelar uma sociedade, através de métodos coercitivos de leis positivas, educação e intervenção na vida privada das pessoas. Na crença messiânica de que a sociedade é regida por “leis” sociais, o modelo de Estado burocrático racional se pautava em forjar e manipular essas leis, e, por conseguinte, toda uma estrutura social. Tal como a ciência natural, a sociedade poderia ser inventada pelos novos engenheiros sociais, descobridores dessas “leis”, como se a sociedade fosse uma pedra a ser esculpida. A sociedade, em suma, nesta visão mecanicista, era um complexo orgânico, uma máquiina, e o indivíduo, mera engrenagem desta unidade orgânica, cujo elemento organizador é o Estado.

Curioso, todavia, é o conceito retórico da “igualdade” nessas teorias. Os inimigos do liberalismo e das sociedades políticas livres daqueles tempos, ao mesmo tempo em que exaltavam a nostalgia de um passado patriarcal, corporativista, autoritário e profundamente restritivo ao individualismo, invocavam uma nova sociedade, camuflando valores “progressistas” do igualitarismo. Mas o “igualitarismo” aí não implica uma extensão mais abrangente de direitos individuais, e sim uma padronização unitária da conduta e do comportamento humano, na fusão do Estado com a sociedade. A nostalgia de um passado despótico se coadunava com uma nova forma mais perfeita e mais completa de despotismo, o despotismo massificador, em que os próprios indivíduos voluntariamente se sujeitariam aos padrões da massa, junto com a complacência servil das massas. E para isso, a técnica científica e a racionalização burocrática do Estado seriam as armas para criar essa sociedade sistêmica, numa organização rígida e militarizada da burocracia estatal. É neste estilo de pensamento, associado à rejeição ao liberalismo do século XVIII, que vemos nascer o positivismo, o marxismo, o materialismo moderno, o racismo e muitas das ideologias totalitárias do século XX.

Há aí uma mudança radical desde então do pensamento europeu no século XIX. O que antes era a idéia da limitação do poder estatal contra a sociedade civil, agora o Estado ganha aura de poder moral sobre a sociedade. É pior, ele ganha aura moral e “científica”. Outro aspecto do alargamento do poder estatal foi o alargamento dos valores democráticos, através do sufrágio universal, uma vez que muitos viam no Estado, um instrumento de reivindicação política contra os grupos abastados. E os políticos viram na legitimação da população, um alargamento maior do seu poder. Por outro lado, novos problemas sociais não previstos realmente exigiam um remodelamento do Estado frente a tais questões.

Obviamente o sufrágio universal fez parte de umas das grandes conquistas democráticas do século XIX. Contudo, parece que a democracia, alargando uma legitimidade ao poder do Estado, acabou por alimentar as sementes da própria contradição. O voto popular, como sinônimo de participação e método de controle dos abusos de poder estatal, tornou-se na prática, um fator de alargamento arbitrário do poder estatal. Tocqueville, em seu brilhante livro, “A Democracia na América”, percebeu na democracia, um perigo de tirania desconhecido, em que os indivíduos, presos nas redomas das autoridades absolutas das maiorias democráticas, seriam vitimas de uma verdadeira tirania da maioria. Nesta nova tirania produzida majoritariamente, o Estado teria um poder inimaginável sobre a população, uma vez que o poder estatal poderia ser legitimado por massas, que em nome de certas regalias, poderiam sucumbir a uma nova espécie de servidão voluntária. A autoridade moral da “maioria” poderia ser incomodamente inimiga das liberdades individuais.
O aristocrata francês via como inevitável as “eras democráticas”, o que em muitos casos era simpatizante. Porém, receava o status da liberdade nas democracias que seriam vindouras, visto que muitos dos atributos democráticos poderiam ser perigosos para as liberdades. Essa tirania da maioria, que tanto Tocqueville temia, era de fato o socialismo, no qual o igualitarismo padronizador seria uma espécie de “igualdade na servidão”, ao contrário da democracia liberal, que seria a “igualdade na liberdade”.

De fato, as ideologias coletivistas do socialismo do século XIX e do nazi-fascismo no século seguinte, viram na idéia da tirania majoritária, um passo direto ao poder político absoluto. Tanto Marx, como Lênin, em sua “ditadura proletária”, como Mussolini e Hitler, na fusão da nação e da raça com o Estado, viam no poder onipotente estatal “a ditadura da maioria sobre a minoria”, personificada em abstrações coletivistas. Em outras palavras, a “ditadura da classe”, “da nação” ou da “raça”. Se a democracia pressupõe a valorização dos direitos individuais, inclusive nos aspectos coletivos, os ideólogos e políticos precursores dos totalitarismos modernos observaram os temores de Tocqueville por outra ótica. Tocqueville invocava a liberdade contra os perigos das tiranias. Marx, Lênin, Mussolini e Hitler invocavam a tirania democrática como fator de destruição da liberdade do indivíduo.

Eis que surgiu o mito do Estado moderno. Se antes o Estado era visto apenas como mero instrumento da sociedade, limitado pelos poderes da vida privada e da emancipação do indivíduo pleno de direitos políticos, os cultores da estatolatria souberam dar uma reviravolta, transformando o Estado em um novo poder paternalista e autoritário sobre a sociedade. Em muitos países da Europa, os parlamentos democráticos sofriam de uma letargia política. De fato, os novos precursores totalitários e inimigos do parlamentarismo e da democracia liberal desconsideravam a legitimidade democráticas parlamentares, porque elas não representavam a massa como um todo, e sim grupos políticos partidários. Não estavam ao todo errados, pois grande parte da população sentia-se indiferente a política.



A solução que apresentaram foi a mobilização permanente das massas, através de um partido arrebanhador de pessoas obedientes e seguidoras de um líder ou partido. Se a democracia liberal não sabia compor uma coesão de massas, a onipotência do Estado e a doutrina do partido único saberiam arregimentar a “legitimidade” das novas paixões políticas. Os fascistas e nazistas tiravam proveito disso destruindo a democracia através dos métodos próprios da democracia. No caso da Rússia, a luta pelo poder foi mais violenta, na imposição de terror e violência política generalizada pelos bolcheviques, na institucionalização de um poder revolucionário e arbitrário.

A decadência da democracia liberal na Europa apresentou também outro colapso, mas de natureza econômica. A Primeira Grande Guerra e a crise de 1929 abalaram a confiança das sociedades democráticas nas liberdades tão arraigadas desde o final do século XVIII. O clamor universal da época tornou-se o clamor moral do Estado e do poder público como panacéia pronta para os problemas sociais. Tal amargura influenciou até os países democráticos mais estáveis, como Inglaterra e Estados Unidos, enquanto nos países de fracas tradições democráticas, como Alemanha e Itália, as democracias foram democraticamente derrubadas por ditaduras de inspiração ultra-nacionalista e totalitária.

O Estado agora tinha autoridade moral sobre tudo, inclusive contra os direitos individuais. Em nome disso, o poder estatal oferecia “direitos sociais” como forma de controle da população, assolada pela submissão e pelo paternalismo. Na Alemanha, na Itália e na Rússia, o Estado detinha um poder político e ecônomo inimaginável, a ponto de decidir não somente sobre a riqueza e a propriedade, porém, até a vida e morte dos cidadãos.

A pluralidade parlamentar foi substituída pela “democracia das massas” ou pelo “centralismo democrático”, ou seja, pelas organizações de massas obedientes à cúpula de um partido único, detentor exclusivo do poder, a quem todos devem prestar obediência, sob pena de contestar a coletividade. Esse tipo de organização era o argumento em que se utilizavam os totalitários comunistas e nazi-fascistas para se legitimarem como poder absoluto. As “massas” e não os indivíduos é que deviam ser representados.

A “democracia de massas” invoca ainda outro poder mais pernicioso do Estado unipartidário: a politização de toda vida em geral. O conhecimento, as artes, a ciência, a literatura, não são autônomos, eles sempre obedecem a uma convicção política, classial ou social predeterminada. Não existe imparcialidade do conhecimento, das artes, das ciências. Tudo é política, devendo ser banido se for contrário ao novo poder. A única ciência, a única arte verdadeira, é aquela que o partido dita para as massas. O Estado-partido é elevado como portador da “ciência” e da “revelação” da realidade na ideologia. Ou seja, o poder político é glorificado com idolatria religiosa.

Tudo que fuja do domínio do partido é a “arte degenerada” dos nazistas ou a “ciência judaica”; e no caso dos bolchevistas, é a “arte” ou “ciência burguesa”. Tais raciocínios implicam o controle partidário e estatal de toda a atividade intelectual. Isto, com a fanatização ideológica como elemento motor de uniformidade e mobilização de massas. Outra conseqüência lógica da politização de tudo foi a eminente destruição da vida privada. O Estado politizando a tudo e a todos, destruiu as esferas divisórias entre o público e privado que o limitavam, conhecendo um poder quase que absoluto. O pior e mais grotesco de tudo, é que o Estado, politizando todas as esferas sociais na dominação total, destrói todos os elementos vitais da política. Monopolizando e controlando a vida, a liberdade, a propriedade e a consciência das pessoas, o Estado conheceu um domínio tirânico nunca visto em toda sua história.

O mito do Estado benfeitor minou a maior parte do século XX. Ele envenenou o espírito da democracia moderna, em novos modelos de tirania, apenas antes previstos por grandes pensadores como Tocqueville. Não é por acaso que essa psicologia reina abertamente ainda hoje, quando se invoca a função do Estado em minúcias da vida cotidiana e até na formação cultural da sociedade, como a educação, ou na produção de riquezas, pela invocação moralizante de “distribuir renda” ou intervir na propriedade privada.

É o “espírito de dependência” que ainda domina o ocaso de certos espíritos. Qual a autoridade moral de políticos, burocratas e meia dúzia de corporações estatais decidirem planejar a vida econômica e social de toda uma sociedade? Com que direito o Estado pode impor como nos educar ou pensar? Que opinião majoritária é satisfatória ou mesmo legítima para destruir as próprias liberdades de escolha desta mesma maioria? Com que direito a renúncia da liberdade de alguns pode ser a obrigatória renúncia da liberdade de um?

Os cultores do Estado total ou do Estado quase total, apelando ao dogma da estatolatria detentora de tudo, apenas justificaram as piores tiranias que a história já registrou. E a “democracia das massas”, na destruição do indivíduo como autônomo ser de escolhas pessoais em favor de um rebanho grupal, apenas consolidou a pior, a mais ardilosa e a mais nefasta conspiração que já se conjugou contra as liberdades do ser humano. Os crimes assombrosos do século XX, o extermínio de judeus, as deportações e assassinatos em massa dos regimes comunistas, como a burocratização da vida privada levemente sentida nos países democráticos, a ponto de levá-los à ruína econômica, são as conseqüências do mito do Estado em nossa época. Nas democracias, o espírito paternalista estatal corroeu a crença na iniciativa individual e nos países totalitários, a sociedade conheceu uma estagnação espiritual em todos os atos da vida civil, com enormes dificuldades de reverter este quadro, acarretando terríveis sofrimentos à população.

É chegada a hora de questionarmos, para a sobrevivência da própria democracia e dos valores humanitários dos direitos individuais que ela procura zelar, a autoridade do Estado no que diz respeito ao poder sobre a vida privada. O mito do Estado provou não somente seu fracasso, como também uma tragédia de proporções catastróficas, que a história nos deixou para ensinar.

segunda-feira, novembro 20, 2006

WELFARE STATE: O ESTADO DA MENDICANCIA PÚBLICA OU DO MAL ESTAR SOCIAL

Este texto foi escrito em 16 de novembro de 2002. Republiquei-o, porque ele apresenta uma surpreendente atualidade. Na prática, as noções básicas de uma ciência econômica são imutáveis, imunes ao tempo e ao espaço. A lógica eficiente do livre mercado é um estado universal, em qualquer época e lugar, porque os seus princípios elementares são aplicáveis em qualquer sociedade, tal como as suas experiências.
Os fracassos dos modelos estatistas do século XX são visíveis, porque a lógica do Estado moderno e sua natureza de leviatã socialista tentam brigar contra a realidade da economia. Brigam com algo que está além de suas forças, porque é a realidade que assim determina. A social-democracia é um dos exemplos desses fracassos, cultuados como mitos do progresso!
A pérola comum de muitos esquerdistas ditos “moderados” de nossa atualidade é o alardeamento do modelo do welfare state ou social democrata, imitado das práticas européias dos anos pós-guerra do século passado. O welfare state, ou o chamado “bem-estar social” , se baseia na idéia do Estado-providência; ou mais precisamente no Estado que supre as necessidades econômico-sociais dos cidadãos dentro de uma política gigantesca de serviços, através de um poder público provedor de tudo e de todos. A ladainha comum na social democracia é a idéia poética de um Estado benfeitor e benévolo da felicidade humana, assegurando a “liberdade da necessidade” contra os riscos da própria escassez e das adversidades econômicas. “Liberdade da necessidade” prenuncia aí, a idéia de que alguém supra-poderoso e super-generoso privará a sociedade do peso da pobreza, para um paraíso do Éden perdido de abundância, gerenciado por uma burocracia voluntariosa e promotora do bem comum.

Quem não gostaria de serviços vindos de cima para baixo, ou seja, vindo dos céus, pelos serviços públicos gerados “de graça” pelo ente superior Estado? Mas o Estado-providência não é apenas um Estado-babá: ele também é uma espécie pretensiosa de “pai”, querendo em nome de sua autoridade, meter o bedelho em tudo. Nada escapa à sua visão de um paternalismo acolhedor e sufocante, que ampara e comprime, com sua ordem de regulamentações controladoras da vida privada, pelo clichê do bem comum. O Estado social democrata não somente é o benfeitor-mor, o provedor-mor, o salvador-mor do Éden mágico, como também ele é o planificador da economia, querendo decidir a gerência da propriedade dos cidadãos, ainda que com sua revelia. Em suma, o Estado é o Sancta Sanctorum, o salvador, o novo messias da distribuição de renda e da igualdade social, tal como o próprio Cristo há de multiplicar os peixes. O problema é que a população em geral se esquece quem é que paga a conta pelas utopias. Ou que quando o Estado dá, ele tira.

Justiça seja feita, os sociais democratas são um ramo da esquerda que melhor se aproxima do liberalismo, mais precisamente do liberalismo político. De fato, os sociais democratas fazem concessões à democracia parlamentar, às liberdades civis, ao pluripartidarismo e outras consagrações dos direitos individuais. Os sociais democratas foram os primeiros socialistas que renegaram o marxismo e a revolução, gerando uma onda de ódios entre os comunistas s socialistas mais radicais. Contudo, se o ideário social democrata era a renúncia da revolução, a crença do caminho socialista através de meios democráticos acabou por contradizer o cerne da própria ruptura social democrata. Isto porque a política econômica social democrata é totalmente contrária ao intento liberal democrático que a própria social democracia absorveu. Se os sociais democratas são liberais na política, na economia possuem os mesmos vícios tenebrosos dos comunistas e socialistas radicais. Na prática, a política social democrata, no intento de alargar a esfera do Estado, ainda que por meios democráticos, acaba por colocar em risco a própria democracia. No caminho democrático para o socialismo, seria um novo caminho da servidão, uma nova espécie de despotismo, no domínio total da burocracia autoritária em nome do bem público. A social democracia guarda conseqüências sutilmente danosas, cujos efeitos são sentidos em longo prazo, em aspectos políticos, econômicos e até psicológicos na sociedade.


No aspecto econômico e político, a social democracia, em nome do paraíso dos serviços sociais, concentra uma ordem de poder tão gigantesco ao Estado, a ponto de sufocar e arruinar a própria economia do país. Isto se deve a carga pesadíssima de tributos que o Estado se apropria, reduzindo o poder de compra da população e espantando os investimento de capitais. Por outro lado, para o serviço de bem estar social funcionar, a sociedade delega seus próprios recursos em forma de impostos a uma pesada burocracia, que muitas vezes cria privilégios e regalias espúrias com o dinheiro público.

Outro grave problema na social democracia é seu serviço de proteção social travestido em políticas de distribuição de renda e proteção aos menos favorecidos ou desempregados. Os impostos sobre grandes fortunas, como outros impostos progressivos, acabam por obstruir o aumento de riqueza, uma vez que tais políticas punem quem produz, em favor de quem não produz. A previdência estatal e o excesso de privilégios e proteções supérfluas geram uma casta de pessoas improdutivas nas costas do governo, às custas de quem realmente trabalha. Ou seja, os que mais trabalham ou investem pagam impostos mais altos para àqueles que pouco ou simplesmente não trabalham ou contribuem.

Isto cria um circulo vicioso, pois a carga de impostos altos dificulta novos investimentos e consumo, produzindo mais desempregados. O Estado social democrata, visando atender a demanda de novos desempregados que acaba criando, aumenta os impostos, até que o círculo suicida esgote os recursos, destruindo as fontes de renda do país. Mas se a carga tributária corrói a capacidade de produção do país, a centralização econômica do Estado, através de estatais monopólicas e deficitárias e burocracias improdutivas, impede a criatividade e renovação tecnológica do mercado, emperrando a economia. Não somente compromete a iniciativa privada, como contribui indelevelmente para a queda do padrão de vida e consumo da sociedade.

Se as conseqüências econômicas da social democracia são desastrosas, suas conseqüências políticas e psicológicas são mais perigosas ainda. A social democracia, para realizar seus intentos, alimenta um poder inigualável ao Estado, colocando em risco as liberdades individuais. A constante intervenção econômica (tanto em impostos pesados, como em regulamentações abusivas sobre a propriedade privada e as chamadas políticas de combate às desigualdades sociais), torna o Estado super poderoso, onipotente. Ao concentrar mais o poder econômico, o Estado reduz a capacidade de seus cidadãos de controlarem seus métodos de coerção. Este poder ilimitado de intervenção econômica esvazia de sentido a liberdade política, porque cada vez mais a sociedade, privada do uso livre de sua riqueza, torna-se dependente do poder do Estado para administrar seus próprios bens. O Estado concentra numa só tacada, o poder econômico e político em torno de si.

Este poder estatal voluntarioso afeta espiritualmente a população, que desenvolve uma “psicologia de dependência” do Estado todo-poderoso e super-protetor. Esta mentalidade forja a idéia de que todos os cidadãos devem ser pedintes do Estado, esperar dele e só por ele ser atendido. A ordem dos benefícios sociais que a social democracia fornece, cria um Estado de mendicância pública, que é recompensada à revelia do trabalho. Em outras palavras, se quase todos esperam algo de graça do Estado, a sociedade acaba desenvolvendo uma ética do não-trabalho, uma ética de parasitismo social. Ora, se o trabalho é punido pelos tributos para sustentar castas improdutivas de burocratas e dependentes do poder público, logo, é mais lucrativo ser também dependente do poder público. A crença de que o Estado tudo provê, rouba a fé na livre iniciativa e na liberdade individual e instaura uma espécie de servidão voluntária do povo ao poder político. Essa inversão de valores degrada o corpo social, aprofundando-a numa crise generalizada de letargia.

Essa destruição da iniciativa é conseqüência de uma sociedade que tudo espera vindo de cima, de um poder político onipotente, ao invés de agir por meios próprios. Isto alimenta o mito de que se o Estado não intervir, quase todos perderão sua razão de ser. A sociedade, que produz a riqueza e sustenta o Estado, acaba por depender das regalias do próprio Estado. E o mais curioso, senão cômico, é que o povo se torna mendicante de sua própria riqueza, confiscada pelos caprichos arbitrários de um Estado paternalista e sutilmente autoritário.

A social democracia, ao contrário das intenções benévolas e caridosas de seus pregadores e profetas, não só pode levar uma economia à quebradeira, como suas implicações políticas caminham para o Estado despótico. Ainda que existam mecanismos legais e parlamentares contra o poder do Estado, a destruição lenta e gradual dos direitos de propriedade e da liberdade econômica enfraquece as garantias de resistência da sociedade civil, cujo caminho só restaria o da servidão à burocracia. O Estado do bem-estar social é uma sociedade de mendigos pedindo pequenas regalias e favores ao poder político, em troca de suas liberdades mais sagradas. Em suma, o prenúncio de uma nova forma de ditadura, que oprime e ao mesmo tempo alicia. O bem-estar social, a “liberdade da necessidade”, na prática, é uma prisão em nome da necessidade, e um mal-estar social geral da liberdade.