Eis que recebo o Informativo “Revista do Advogado” da secção OAB-PA, relatando a respeito do posicionamento da OAB em relação ao governo do presidente Lula: “(...) a OAB decidiu apresentar uma denúncia-crime à Procuradoria Geral da República, não tendo aprovado o pedido de impeachment por entender que não existe clamor popular (sic) além da falta de compromisso do Congresso Nacional à aprovação”. E de maneira tipicamente protocolar, o Sr. Presidente da OAB-Pará justifica tamanha omissão de tal instituição com os dizeres: “É dever de todo cidadão que tome conhecimento da existência de um crime ou de indícios, relatar esse fato ao Ministério Público, cabendo a esse proceder às investigações. Assim, a Ordem cumpre com dignidade seu papel histórico de zelar pela Constituição”. Será? No informativo “Tribuna do Advogado” da OAB-RJ, o Coordenador Nacional do Colégio dos Presidentes das Seccionais da Ordem e presidente da OAB/RJ, declara: “não há ainda um movimento apolítico forte, como tínhamos no tempo do ex-presidente Collor de Mello (sic)”.
Às vezes me pergunto em que realidade estão os conselheiros e presidentes das seções da OAB para falarem tamanhas bobagens, tamanhos discursos protocolares vazios de conteúdo, tão ao gosto do bacharelismo oco do direito brasileiro?! A coleção de alguns disparates e crimes deste governo é algo tão sombrio, que enumerá-los dá tristeza:
a)A opinião pública denuncia todo um esquema de corrupção aparelhada do governo Lula, a ponto de partidarizar o Estado brasileiro numa verdadeira fábrica de financiamento de um projeto de poder do próprio presidente;
b) Supostos envolvimentos do PT com grupos guerrilheiros e narcotraficantes da Colômbia e mesmo da ditadura de Cuba e do governo da Venezuela;
c) Tentativa de censura e controle de jornalistas e das atividades artísticas, com a criação do CFJ (Conselho Federal de Jornalismo) e a ANCINAV(Agência Nacional de Cinema e Televisão), visando cercear a liberdade de imprensa e de manifestação cultural, monitorada pela burocracia petista;
d) A traição do Brasil nas relações internacionais, quando perdeu seus gasodutos na Bolívia, para agradar as alianças ideológicas do PT com Hugo Chavez e Evo Morales, o presidente narcotraficante boliviano amigo do Presidente Lula;
e) Suspeitas de envolvimento do MST, que é o braço armado do partido do Presidente Lula, com o crime organizado e com as Farcs, inclusive, recebendo treinamento paramilitar deste grupo guerrilheiro;
f) Indícios de que o MST deu “orientações” ao PCC a fazer protestos contra a policia judiciária, o mesmo PCC que matou dezenas de policiais e outra centenas de pessoas em São Paulo;
g) Incentivo a invasões de terras e saques de propriedades pelo MST, patrocinados pelo próprio governo, com o dinheiro do contribuinte; sem contar a depredação e quebradeira do Congresso Nacional por grupos ligados ao MSLT (Movimento de Libertação dos Sem Terra), uma facção do MST, cujo líder fazia parte do Diretório do próprio PT! Isto porque o próprio PT custeou a invasão do Congresso, com caravanas e ônibus, para que as legiões de vândalos de esquerda depredassem o parlamento; em outras palavras, uma total afronta a um símbolo da democracia que é o legislativo, para mostrar o quanto o PT despreza as instituições democráticas e a independência dos poderes;
h) Envolvimento de um Ministro da Fazenda em espionagem nas contas de seus desafetos, para fazer chantagem política; e outras mil e uma falcatruas, conhecidas por todos nós.
Se tudo isso não é motivo para um Impeachment contra o presidente, o que um país deve esperar pra derrubar um governante corrupto e um “aparatchik” de vândalos, falsários, escroques, incompetentes, covardes e criminosos totalitários? Tocar fogo no Congresso? Matar mais policiais? Aceitar hostilidade de nações insignificantes? Implantar uma ditadura? A OAB, na sua vesguice mental, não somente se corrompeu ao poder instituído, como se acovardou. Temeu enfrentar o governo, porque no fundo, as panelinhas da OAB estão comprometidas com ele. Quem é que vai enfrentar o governo, se o mesmo pode oferecer cargos e mais cargos a guilda medieval corporativista e protofascista da Ordem? Será que o quinto constitucional, na escolha de advogados para cargos de juízes, está pesando nas decisões da OAB? É patético afirmar que o impeachment não devia ser exigido contra o presidente, porque não haveria “clamor popular” como na época de Collor. Por acaso os “clamores populares” da era Collor não foram monitorados por grupos bem organizados do governo atual? A “espontaneidade” da UNE e dos movimentos estudantis não foram organizados pelos petistas e comunistas que hoje estão no governo, já que os movimentos estudantis são dominados pelos partidos de esquerda? O Presidente da OAB-RJ acredita mesmo que as manifestações contra o governo Collor foram apolíticas? Será que ele é tão inocente assim? Difícil: advogados podem ser tudo, menos inocentes. . .
Nunca existiu essa história de “clamor popular” espontâneo incorporar idéias e diretrizes. Clamores populares só podem ser ouvidos se houver os canais necessários para que esse clamor seja escutado. Sem organização, sem projeto, os clamores populares serão difusos e posteriormente se diluem em nada. A OAB, que poderia canalizar uma maioria silenciosa insatisfeita, mas apática, acabou por fechar as portas para a voz da população e simplesmente deu razão ao governo. Por tão pouco, as entidades ditas “sociais” deste país caíam na histeria contra o governo Collor, enquanto o governo Lula, que é muito pior, é tratado de uma maneira pusilânime e subserviente.
O relativismo ético dos lideres da OAB é vergonhoso. Partem de um pressuposto de que a omissão de manifestação pública é aprovação de um governo corrupto, e, portanto, é tolerável um governo criminoso e imoral, porque há silêncio e letargia da população a seus crimes. Ou seja, para a OAB, quem cala, consente, e no caso específico dela, não somente se calou, como consentiu. Há de se recordar quando a República de Weimar foi destruída pelo totalitarismo nazista. Se dependesse dos presidentes da OAB, a perseguição contra judeus jamais seria denunciada, porque não haveria “clamor popular” do povo alemão em defesa da liberdade civil dos judeus alemães. O mesmo processo de destruição da democracia se vê atualmente nos países latinos, com a ascensão de Hugo Chavez na Venezuela e Evo Morales na Bolívia, usando do pressuposto da popularidade e do voto, em vistas de destruir a democracia. Para os presidentes da OAB, a mera declaração ou omissão de um povo vale mais que a eticidade, o decoro, as leis, que regem a validade e legitimidade das sociedades políticas numa democracia. Um governo não é válido ou inválido pela popularidade de um governante, e sim pelo compromisso fiel de preservar as instituições democráticas que se incube a servir, e aos valores comunitários de honestidade pública que se presta a obedecer. Sem os valores de honestidade pública e probidade na democracia, ela definhará para a tirania dos demagogos e inimigos da liberdade. Foi assim na Alemanha de Hitler. E isso ocorre na Venezuela e Bolívia. É por essa direção que estamos caminhando. . .
Que compromisso com a democracia é esse, em que uma entidade ligada a advocacia é capaz de um renunciar a sua vocação política, só pela omissão geral de todo o resto das instituições deste país? Que entidade é essa defensora da democracia, que vê a centralização do poder e o golpismo de um governo tirânico e criminoso com uma frouxidão assombrosa? Que defesa da democracia é essa que aceita o Congresso Nacional ser invadido por vândalos sustentados pelo próprio poder executivo? O Estado Democrático de Direito nunca foi tão ameaçado com o governo atual e a OAB transforma a discussão num obséquio protocolar, numa declaração peticional burocrática e nula de conteúdo. A advocacia neste país, que deveria zelar pelos valores da justiça, da liberdade e do decoro público, acabou definhando num grau tal de languidez perniciosa, que comprometerá a reputação dos próprios advogados deste país. Em suma, a advocacia no Brasil negligenciou a defesa do mais importante de seus clientes: o povo brasileiro.
Leonardo Bruno
Belém Pará, em 28 de junho de 2006