segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Questões de coerência. . .

Ser “conservador” ou de “direita” no Brasil tornou-se tabu para a maioria das classes pensantes. De fato, anos de doutrinação ideológica das esquerdas em escolas e universidades criaram uma verdadeira distorção semântica e confusão ideológica dos conceitos anatematizados. “Direitista” e “conservador” tornaram-se verdadeiros espantalhos intelectuais para que as esquerdas pudessem rotular os recalcitrantes, conforme aos seus caprichos. A influência cultural foi tão poderosa, que até aquelas pessoas que simpatizam com os valores da direita morrem de medo de admitir publicamente suas convicções, tamanha lavagem cerebral sofrida na cabeça da população. A chantagem psicológica, a intimidação, a falsificação histórica, a estigmatização, são joguinhos preferidos dos militantes esquerdistas, para deixarem a direita conservadora cada vez mais acuada e amedrontada.

O mais grotesco é a direita tentar se auto-justificar dentro dos cânones ideológicos da própria esquerda, promovendo e repetindo seu discurso. Quando perguntados a respeito da “reforma agrária”, da “distribuição de renda”, da “injustiça social”, da “função social” da propriedade e outros slogans comunistas, o direitista médio cai numa sólida armadilha: ao invés de chutar a barraca e mostrar o contra-senso dessas idéias, faz justamente o contrário. Tenta legitimá-las, como se tais crenças fossem aspirações populares. Tal é o poder da revolução cultural marxista injetada sutilmente nas mentalidades formadoras de opinião e da política deste país. A hegemonia esquerdista é mais que absoluta. O pior é que a própria direita fortalece a essa hegemonia, como uma verdadeira idiota útil. Interessante notar uma questão, dentro dessa fábrica de difamação: ela tem origens nos anos 30 do século XX, na época em que a União Soviética reinava soberana sobre os intelectuais e onde Stálin era o guia genial dos povos. Os rótulos odiosos contra a direita na atualidade são bem mais velhos do que se imagina. “Reacionários”, “fascistas”, “atrasados”, “inimigos do progresso” ou então “inimigos do povo”. Ou no mínimo “corruptos”, “ladrões”, “bandidos”. A propaganda soviética não morreu. Ela sobreviveu até mesmo depois da morte da falsa defunta russa.

Percebi isso certo dia, quando eu estava numa mesa de restaurante, confraternizando com meus amigos. Um deles é um senhor respeitável, jornalista, homem de bons drinques e uísque, além de cidadão do mundo, viajado. O outro é empresário, espírito inquieto e empreendedor nato, além de um ser entusiasta de boas idéias. Estávamos conversando sobre a política nacional, quando surgiu o nome do ex-Presidente Molusco, do Sr. Lula, e da stalinista búlgara Stella, ou Dilma Rouseff. Eu fiquei perplexo com a conclusão do meu amigo jornalista: ele achava que o PT tinha se tornado um partido de direita! Tal resposta deixou-me intrigado. E aí ele finalizou: achava que o PT era de direita porque modificou toda sua política anterior. Negociava com banqueiros, cooptava empresários e ainda era tão ou mais corrupto quanto os governantes anteriores, além de aceitar a estrutura democrático-parlamentar. Se meu amigo fosse marxista, Lênin diria que ele sofre do problema do “esquerdismo”, a doença infantil do comunismo. Mas meu amigo está longe de ser esquerdista. É um senhor de sólidas convicções conservadoras. O problema é que o conservador médio não está sabendo sistematizar sua identidade, suas idéias.

Não pretendo aqui criar um sistema ideológico para as pessoas. Aliás, quem precisa dessa “consciência” hermética, fechada, são os sistemas e partidos totalitários. O paradoxo, contudo, é que a própria direita e os conservadores se vêem com os olhos da esquerda. Sem querer, meu querido amigo jornalista acabou por canalizar os estereótipos comuns disseminados por partidos de esquerda sobre a direita. A “direita”, por assim dizer, não é um grupo com algumas idéias ou diretrizes políticas e ideológicas mais ou menos definidas, mas sim um tipo de conduta política, de preferência ruim, atrasada, corrupta. E a esquerda, quando revela ser corrupta, atrasada e ruim de forma piorada, nunca é esquerda. Vira “direita”, ainda que os esquerdistas continuem a praguejar seu ódio ao capitalismo e à burguesia. No final das contas, a esquerda tem o monopólio das virtudes, mas nunca é responsável pelos seus atos. Até os atos da esquerda são culpas da direita. A linguagem viciada e desonesta da propaganda esquerdista faz com que toda a esquerda se isente da responsabilidade de seus crimes. E o pior é que muita gente boa cai nessa ilusão.
Na melhor das hipóteses, poderia-se afirmar que o PT se tornou de "direita", por ser da situação, governista. Se assim fosse, todos os Partidos Comunistas governantes na história do século XX seriam de "direita". Aì claro, dentro desse padrão, até a Rússia e China comunistas seriam direitistas. O que seria naturalmente absurdo!

Na mesmíssima mesa de restaurante, conheci outro jornalista, pessoa decente, de sólidos valores morais e homem de grande conhecimento da política brasileira e paraense. No entanto, fiquei chocado quando ele afirmou que o ex-candidato a Presidência da República, o tucano José Serra, era um homem de “extrema-direita”. Epa! Agora fui pego de surpresa. Como alguém com um histórico da UNE, da Ação Popular e do Polop pode ser de “extrema-direita”? Reitere-se que a tal “Ação Popular” foi a sementeira do tumor eclesiástico chamado “Teologia da Libertação”, o marxismo infiltrado nas fileiras da Igreja Católica. E o Polop, que se dizia um grupo católico, acabou por virar uma gangue terrorista bem marxista, responsável pelo atentado no Aeroporto Guararapes, em Pernambuco, no ano de 1966, matando duas e ferindo 15 pessoas. O mesmo José Serra já se afirmou de esquerda e, pasmem, acusou Lula de “direitista”. E o PSDB ficou choramingando por não ter sido mais chamado para a Internacional Socialista, na qual fazia parte. Às vezes me pergunto de onde meus amigos extraíram esses conceitos políticos, para exprimirem algo tão fora da realidade! A razão explicável está no contra-senso do imaginário político que se consolidou no país. Contra-senso de idéias que distorce a compreensão real da situação política do país. Uma deformação intelectual que custará gerações para consertar.

Voltemos ao boneco de formol, Lênin. Qualquer leninista inescrupuloso e inveterado saberia entender o que significa a “doença infantil”. Unir-se com banqueiros, aceitar dinheiro de empresários, fingir acatar o sistema democrático e parlamentar, é uma tradição tão arraigada do movimento revolucionário esquerdista, que só as pessoas ingênuas não percebem algo tão visível na política. Lênin já falava sobre isso, ao criticar a conduta sectária dos comunistas alemães na República de Weimar. E quem atualmente sustenta os movimentos revolucionários? Além do crime organizado, os banqueiros, os empresários, os donos do dinheiro, tal como Lênin aceitou alegremente dinheiro de empresários, dos banqueiros e até do “reacionário” Império Alemão para fazer sua revolução sangrenta. A Fundação Ford, Rockefeller, a ATTACC, do mega-especulador George Soros, dentre outros, vieram do comunismo? Não, são genuinamente capitalistas, embora adiram alegremente aos movimentos socialistas. E quem banca o vandalismo do MST, além do governo federal? Ongs estrangeiras, financiadas por empresários e até por governos europeus. O PT, os chamados “movimentos sociais”, a esquerda internacional, o ex-presidente Lula, são tão “direitistas” quanto o foram Lênin e os bolchevistas. A diferença é tão somente de tática.
Atualmente, os socialistas sabem que a economia planejada não faz parte de seus planos. Eles almejam aquilo que Hitler falou ao seu confessor, Herman Rauschining: o Führer confessou que a natureza do nacional-socialismo mudaria a relação do homem com o Estado. Não socializariam as propriedades e sim o povo!

O empresário médio não terá sua propriedade confiscada. Porém, perderá uma boa parte do domínio dela, já que o Estado inventará meios de regulamentá-la, cada vez mais, até transformar o proprietário numa espécie de fiel depositário ou posseiro do governo. O Estado socialista atual não acabará com o capitalismo. Vai é controlá-lo, domesticá-lo, para os amigos do rei e do Partido. Não é assim que funciona o esquema petista atual? Não é assim o sistema chinês, imitado pelo Vietnã e até pela Rússia, com algumas concessões e adaptações? Meia dúzia de empresários beneficiários pelo governo, tal como um cartel de privilégios financeiros e governamentais, em troca de aliança e sustento das estruturas políticas esquerdistas neo-totalitárias? Só que cada vez mais a burocracia estatal vai se expandir, como o empresário se tornará eterno refém de uma legiferança absurda, que criminalizará a vida social sob o pretexto de protegê-la. Tal expediente não será feito dentro de um sistema totalitário e sim nas democracias, através de organismos administrativos e ações judiciais. A aliança do PT com os empresários e banqueiros está a anos-luz de ser uma política de direita e nada mais é do que a velha tradição leninista de subjugar os aliados, aproveitando-se de seus benefícios. A diferença é que antes, os comunistas fuzilavam seus aliados. Hoje, os aliados serão apenas idiotas úteis domesticáveis, trabalhando para o enriquecimento do governo. Só não percebe quem não quer. . .

Uma questão de coerência entre as direitas. Elas precisam resgatar os valores comuns da vida, da liberdade, da família, do individualismo político, da tradição e da propriedade, além da livre iniciativa. Devem proteger esses valores, que são imprescindíveis para um sistema democrático estável e respeitável. Não basta apregoar a economia de livre mercado e limitar o poder do Estado. O combate deve ser cultural, no sentido de revelar os aspectos totalitários criminosos que estão por detrás da ideologia de engenharia social esquerdista. A guerra atual não é entre democracia e totalitarismo, mas entre os valores da civilização ocidental e os contra-valores da revolução cultural socialista. É a raiz do problema, que a direita, cega e estupefata, não consegue ver. . .

sábado, fevereiro 26, 2011

Hoje- Filme-palestra em Belém do Pará.


Daqui a pouco, neste sábado, dia 26 de fevereiro de 2011, 18:00, na Av. Brás de Aguiar, 821, Altos do Bar do Gio, na frente do Restaurante Spazzio Verdi, eu e meu amigo Klauber Pires apresentaremos o polêmico vídeo "The Soviet Story", que fala da natureza intrinsecamente criminosa do regime comunista. Depois do vídeo, faremos palestra sobre a história da União Soviética e os perigos dos movimentos comunistas atuais, na América Latina e no mundo. Não percam!


ENTRADA FRANCA!

domingo, fevereiro 20, 2011

Na política do homossexualismo intocável. . .

Antes de qualquer comentário é preciso esclarecer: uma coisa é a vida pregressa do homossexual e a sua individualidade. Disto, sua conduta não afeta substancialmente a sociedade, uma vez que ele responde particularmente pelos seus atos, sem interferir na vida de terceiros. É a regra da maioria dos homossexuais, que desejam viver suas vidas sem serem incomodados. Outra coisa é o movimento homossexual, com sua concepção perversa e distorcida de transformar a homossexualidade num padrão moral intocável, acima de quaisquer criticas e até com poderes especiais de policiar idéias, pensamentos e opiniões divergentes. Esse movimento ambiciona inverter e jogar de cabeça para baixo as noções éticas e morais de sexualidade e de família, através de uma violenta e histérica chantagem psicológica e mesmo legal contra a grande maioria da sociedade. Na verdade, de forma tendenciosa e proposital, o movimento gay faz uma confusão desonesta entre a rejeição da homossexualidade e o ódio à pessoa do homossexual. Daí a rotulação de criminalizar qualquer indivíduo que seja refratário às suas políticas e reivindicações. Julien Benda dizia que o século XX nos legou, com as ideologias totalitárias, a organização intelectual dos ódios políticos. No século XXI, querem politizar a sexualidade. É a intelectualização dos recalques, taras e ressentimentos sexuais.

Mas o que está por trás do movimento gay? Assistia a uma reportagem de um famoso cantor pop, falando alegremente sobre sua homossexualidade, quando afirmou qual circunstância marcou sua vida: a experiência de ser pai. No entanto, havia algo estranho na sua argumentação. Ele não fez filhos diretamente através de uma mulher e sim pagou por uma inseminação artificial e uma barriga de aluguel. Ou seja, a reprodução de alguns seres humanos não foi realizada através do ato de amor entre homem e mulher e sim por conta de uma manipulação laboratorial. Os filhos, por assim dizer, surgem conforme aos caprichos de um pai incapaz de se relacionar com o sexo oposto. É pior, tanto os filhos como as mães são apenas “objetos”, joguetes de um cidadão psicologicamente impotente de gerar descendência. E a paternidade é apenas um fetiche.

A seguinte pergunta que fica no ar é: por que alguém que tem aversão ao sexo oposto e não deseja, por meios naturais, formar uma família, teria direitos de família? Os socialistas e, em menor caso, os liberais, defendem a agendinha politicamente correta do “casamento gay”, em nome de uma suposta defesa dos direitos do indivíduo. Atualmente as palavras “liberdade” e “direito” andam prostituídas, corrompidas em seu sentido original. O “direito”, por assim dizer, serve justamente para inverter o seu sentido e perverter as instituições. E a “liberdade” se tornou uma reivindicação espúria de milhões de subjetividades neuróticas e problemáticas. Pior, as subjetividades neuróticas também viraram fontes de direitos!

Os liberais ainda fazem papel de inocentes úteis aos socialistas, quando afirmam que cada deva viver sua vida, contanto que não incomode os outros. Tal lógica parte de dois erros graves de princípio: primeiro, a de que quaisquer ações individuais perversas podem ser aceitas ou intocáveis, com a condição de se não incomodar os vizinhos, já que suas ações não pertencem ao julgamento isento de uma hierarquia de valores. E em contradição a esse relativismo, a de que, como regra absoluta, cada um deva respeitar o que seu vizinho faz. Como é que uma regra pode se fazer superior, se todas as atitudes subjetivas podem ser aceitas? Por que a regra de respeitar absolutamente o vizinho se faria superior se todas as demais atitudes não o são absolutas? Convém dizer que algumas atitudes, embora não criminosas, são moralmente condenáveis. Dentro da cabeça de alguns liberais, se o vizinho quiser se matar, a sociedade terá o dever de respeitar esse “direito”. Se o vizinho quiser vender um rim ou o próprio corpo em nome das tais “trocas voluntárias”, ele poderá fazê-lo, porque a sociedade nada tem a ver com isso. Percebe-se que o individualismo liberal não consegue nem mesmo sobreviver com a máxima tão apregoada de “não-agressão” de incomodar os vizinhos. O individualismo sem valores éticos preexistentes é destrutivo, tanto para o indivíduo, como para a sociedade. O relativismo metodológico e moral de alguns pensadores e prosadores liberais é um fiasco que vai levar a sociedade e a democracia à ruina.

É paradoxal que o individualismo liberal seja usado justamente para relativizar os direitos do indivíduo e para expandir o Estado e esmagá-lo. Alguns questionam o direito à vida e dizem que o direito está na morte, ora defendendo o suicídio assistido, ora defendendo o aborto. São os chamados “direitos reprodutivos” da mulher, literalmente negando sua potencialidade de gerar filhos. Há liberais que pregam a liberdade de venda de órgãos humanos. Ao destruírem os direitos de personalidade, alguns liberais relativizam os direitos do corpo, transformando-o num objeto de mercadoria e literalmente permitindo a perda do poder de cada indivíduo sobre seu corpo. Enfim, essa devastação dos valores morais e éticos acaba criando uma verdadeira atomização dos indivíduos, incapazes de se reconhecem publicamente no âmbito dos valores. Sem valores comuns na família, nas relações interpessoais e mesmo em toda a sociedade, a solidariedade comum também desaparece.

Alguém poderia alertar a determinadas vertentes liberais de que a liberdade não é o poder de fazer tudo, mas o poder de fazer escolhas éticas e morais, visando buscar finalidades corretas. A verdadeira relação da liberdade está no drama de consciência de saber discernir entre o certo e errado, entre o moral e o imoral, entre a razão e a perversão e escolher e assumir consequências. O problema é que os liberais confundem a defesa dos direitos individuais com a defesa dos caprichos e neuroses individuais. São duas coisas completamente diferentes. Não se pode crer na liberdade de escolha se não há caminhos necessários para que essa liberdade tenha uma bússola, uma diretriz, uma referência para o bem.

Os socialistas, mais do que nunca, perceberam o extremo poder corrosivo do individualismo sem os fundamentos morais que o justificam. Podem diluir as instituições intermediárias da sociedade, que coíbem o poder estatal, para justamente aniquilar os indivíduos e agigantar o poder governamental. Essa política é bem mais velha do que se supõe. Bertrand de Jouvenel, no clássico livro do “O Poder”, fala abertamente sobre esse método. Divida, fragmente, dilua para reinar. Em nome da proteção do indivíduo, destrua os direitos individuais, relativize e disperse a família e em nome de exigências e reivindicações absurdas, confusas, enfraqueça todos os elementos institucionais intermediários que limitam o poder governamental. A expansão esdrúxula de reinvindicações individuais na política está de mãos dadas com o fortalecimento do poder central e o enfraquecimento das solidariedades voluntárias. E a família é um dos objetos dessa política de destruição.

Os regimes totalitários, como o comunismo e o nazismo, jamais conseguiram destruir os conceitos da família. Poderiam espionar os familiares, obrigar parentes a fazerem dossiês contra amigos ou esposas ou então transformar os filhos em verdadeiras sucursais da polícia política contra os pais. De fato, isso abalava, desestruturava, deformava e destruía muitas famílias. No entanto, a intenção violenta de destruir os laços afetivos acabou por gerar uma reação. O mesmo se aplica à religião. Na destruição de todos os alicerces da liberdade civil, a família e a religião foram armas poderosas de resistência aos totalitarismos. Isso porque as tiranias assumiam de frente o combate à família e à religião e a brutalidade estatal gerava uma força oposta tão violenta quanto. A devastação moral e ética causada pelas delações e traições tinha menos a ver com a existência da família em si, do que com a traição dos valores que inspiravam o universo familiar. E a religião, com seu escopo de moralidade transcendente e superior, dava um sentido e coerência moral e ética, dentro das loucuras e perversões patrocinadas pelo Estado.

Todavia, a democracia liberal está permitindo a destruição dos alicerces tão defendidos nas piores tiranias. A reivindicação do “casamento gay” visa justamente atacar a família nos seus alicerces morais essenciais e mesmo questionar sua existência. Implica a sua relativização e desmoralização no âmbito da formação do indivíduo. Na ladainha dos individualismos liberais e socialistas, a família não é uma instituição comum, consagrada pela natureza e mantida pela tradição moral e religiosa, mas um capricho, que pode ser modificado pela lei do Estado. Tal destruição moral e ética é feita de forma lenta e indolor. E com a cumplicidade ou inercia de quem diz defender os direitos dos indivíduos.

A estupidez ingênua dos defensores da “união civil” ou do “casamento” homossexual é a de que ninguém tem nada a ver com isso. Curiosa inversão de valores. Antigamente, as famílias, a sociedade e o Estado, conjuntamente, tinham a preocupação de consolidar a melhor educação possível e a melhor referência para a formação de cada indivíduo. Esse princípio, na boca de liberais e socialistas, se inverteu. Agora, a família não deve servir aos filhos, mas sim às idiossincrasias de qualquer gente louca. É muita burrice acreditar que isso não gerará efeitos na sociedade.

A família, considerando um chavão muito utilizado, mas válido, é a célula-mater da sociedade. O que sai dela influencia o caráter e a consciência dos indivíduos. Uma boa família, com fortes orientações morais, amorosas e éticas, tende a formar cidadãos honestos, cumpridores de seus deveres e psicologicamente saudáveis. Uma família desorientada é passível, com algumas exceções notáveis, de criar cidadãos desajustados, delinquentes, psicologicamente problemáticos. Os modelos biônicos homossexuais de família implicam justamente destruir seus conceitos morais e éticos saudáveis, transformando a homossexualidade numa referência familiar. É pior, o próprio conceito de família está sendo relativizado. Se a homossexualidade pode ser fonte de direitos de família, o que esperar de outras reivindicações mais histéricas, que também poderão se enquadrar nessa fonte de direitos?

A experiência relatada pelo cantor homossexual que teve filhos gerados por manipulação laboratorial é o retrato cabal da chamada “família gay”. Uma família artificialmente produzida, cujo centro que é a relação amorosa entre homem e mulher e filhos simplesmente não existe. É uma relação impessoal, em que o pai faz de seus filhos meros animaizinhos, meros objetos de estimação. Mais grotesco ainda é um homem gastar milhares de dólares para reproduzir filhos, quando poderia realizar o ato sexual de forma natural e mais envolvente, sem gastar um tostão. Incapaz de amar uma mulher ou encará-la sexualmente, o sujeitinho idealiza a sua prole sem mães. Ou de mães desconhecidas, tal é o desprezo que sente pelas mulheres. Em uma revista de grande circulação, o cantor, perguntado como deseja ser visto pelos seus filhos, afirmou: - “Quero mais é que eles falem a seus amigos: ‘Meu pai é gay e ele é muito legal. Seu pai não é gay. Triste o seu caso’. Quero que eles sintam orgulho em fazer parte de uma família moderna”. Qual seria o “orgulho” de uma criança, filha de pai gay e mães desconhecidas, de pertencer a tal “família moderna”? A ótica do rapazinho pop é bastante perversa.

Pouca gente percebe que a expansão e o incentivo às práticas homossexuais em todos os alicerces da sociedade denota alimentar uma imaturidade no âmbito da sexualidade, no quesito de encarar o universo do sexo oposto. Mas ao que parece, é isso que as políticas estatais desejam: criar pessoas infantilizadas, sexualmente instáveis, fracas demais para se ligarem sexualmente a outra pessoa do sexo oposto, no intento de gerar filhos. Aí precisam transferir a sua capacidade de reprodução aos intermediários, aos laboratórios, a alguma empresa privada qualquer ou quem sabe ao próprio Estado. Qualquer dia não haveremos de nos assustar se o governo quiser financiar a reprodução sexual dos gays, via laboratório. Ou até dos heterossexuais. Com a condição de controlar os direitos de reprodução da espécie humana, abolindo a família.

A impessoalização da reprodução sexual e das relações afetivas, junto com a desagregação dos princípios da família, são questões que nem os regimes totalitários conseguiram subverter totalmente. O relativismo moral e ético enfurnado nas democracias liberais está tendo uma eficácia surpreendente no intento de fazer o serviço completo desses sistemas criminosos. E os socialistas captaram perfeitamente a mensagem, ao usarem o espantalho da “liberdade” para justamente destruir os conceitos, as instituições e as noções básicas morais e éticas da própria liberdade no mundo ocidental. E o preço a se pagar é muito simples e caro: criará uma geração de indivíduos carentes, desqualificados, sem relações amorosas realmente fortes e na falta da figura do pai e da mãe, eternamente dependentes do papai Estado. Ou no mínimo, uma legião de homenzinhos e mulherzinhas frágeis, sexualmente medrosos, cuja compensação será a pederastia ou o lesbianismo, neurotizados por temerem buscar o sexo oposto. O “casamento gay”, substancialmente, é apenas um mero reflexo disso. Coisas piores virão depois do reino do homossexualismo intocável e sacralizado. Esperem pra ver!

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Mulheres da burka mental - Parte II

Voltei a assistir àquele debate sobre a questão árabe-israelense, patrocinado pelo Jornal Folha de São Paulo e divulgado na internet. Falei, no artigo anterior, sobre a professora de filosofia Bernadete Abrão, com seus tiques nervosos, suas caretas, apertos de lábios, olhares esbugalhados e suas opiniões dementes sobre Israel e os judeus. A sua comparsa das causas islâmicas, dona Arlene Clemesha, tem um aspecto mais agradável. É até bonita (uma raridade na FFLCH, dominada por canhões soviéticos do tipo Marilena Chauí), embora se dependesse dessas mulheres, usariam barbas, ora porque são marxistas, ora porque agora têm a mania de serem pró-islâmicas. Algumas talvez não iriam tão longe. As burkas realmente serviriam melhor. . .

Dona Arlene Clemesha é historiadora da USP e é Diretora do Centro de Estudos Árabes da mesma universidade. Apesar do cabedal, as opiniões que ela emitiu na palestra não fazem jus a sua carreira. Pelo contrário, o que escutei é um emaranhado de tolices absurdas. Às vezes me pergunto por que o contribuinte gasta para formar tanta gente com idéias tão bobalhonas. É pior. Esse pessoal da USP defende o que há de pior no mundo. Dona Arlene Clemesha, tal como Dona Bernadete Abrão, é um poço de desinformação!

Dona Clemesha começa a falar sobre a revolta do Egito contra o governo Hosni Mubarak. Ela diz que a rebelião de lá não tem como causa as investidas dos radicais da Irmandade Muçulmana, mas tão somente algo “espontâneo” e, portanto, “popular”. Ela ainda diz que é besteira temer o chamado “perigo islâmico”, já que nas palavras dela, os jovens egípcios estão nas ruas para exigir dignidade, pra exigir emprego, pra exigir pão, pra exigir moradia, pra exigir direitos humanos, respeito e fim da tortura nas prisões, etc. Tal resposta deixou-me mais perplexo ainda: Dona Clemesha só falta vender a idéia da rebelião egípcia como uma espécie manifesta de “Fórum Social Mundial”, de “outro mundo é possível”. Convém dizer, desde quando exigir emprego, pão e casa para o governo pode ser considerada uma rebelião séria? Percebem-se aí os sentimentos difusos e incoerentes da massa. Na Rússia pré-soviética, a população exigia terra e pão e deu no que deu: uma ditadura sanguinária, que durou quase um século, com um preço de milhões de mortos. Por que no Egito, cuja tradição de democracia é tão inócua como na Rússia czarista seria diferente?

O que dona Clemesha finge ignorar é que a revolta egípcia tem todo o caráter de uma oclocracia, de uma rebelião de multidões, que ao causarem um caos governamental e destruírem o governo, vão deixar um vácuo de poder. Na velha tradição política ocidental, a oclocracia quase sempre leva uma nação aos caos e ao cesarismo, que é o governo da tirania. No caso islâmico, provavelmente a tirania teocrática vai tomar o poder. E quem ocupará este poder? Obviamente a Irmandade Muçulmana, o único grupo realmente organizado para tomar as rédeas do país, além do exército. A professora fala de democracia e direitos humanos, mas não nos cita um grupo sequer no Egito que defenda esses valores. Pelo contrário, as revoltas na Jordânia, no Iêmen, na Tunísia e demais países, a grande maioria formada de governos aliados dos Eua, têm o dedo do Irã no meio. Dona Arlene acredita que o Irã liga pra direitos humanos? Que os fanáticos islâmicos estão preocupados com isso? Claro que ela não é tão idiota assim. É tão somente uma pessoa intelectualmente desonesta.

A professora discute sobre o caso de um tunisiano que ateou fogo no próprio corpo. Ela diz que isso não tem caráter religioso. Ao menos, o tunisiano suicida não matou ninguém. Demonstrou um ato de desespero, em meio às tiranias comuns daquele meio. Mas nem por isso algo corrobora em favor da causa em jogo. Todas as revoluções assassinas têm seus mártires, por mais que eles não tenham a menor relação com o projeto político em ascensão. E a Irmandade Muçulmana, como a mídia pró-esquerdista, explorou fortemente a cena para chocar o ocidente.

A questão parece óbvia demais: o que a mídia ocidental e as Clemeshas da vida vendem para o ocidente é de que há ventos democráticos nos países onde há rebeliões pró-islâmicas contra ditaduras ou regimes pró-americanos. Que com a derrubada desses governos, sustentados maleficamente pelo governo dos Estados Unidos, nascerá a possibilidade de democracias no mundo islâmico. Claro que isso é, na prática, uma inverdade e uma tolice. O que os fatos nos revelam é que, no máximo, poderá haver uma radical mudança de ditaduras pró-ocidentais para ditaduras anti-ocidentais.

Em particular, no discurso da professora, há aquele antiamericanismo rançoso, mesclado com uma paixão louca e sorridente pelo terrorismo islâmico. O seu esquema mental simplista se revela da seguinte maneira: mundo árabe e islâmico coitadinho, vítima perseguida, caluniada, versus Estados Unidos, Israel, ocidente, malzinhos e conspiradores contra a felicidade muçulmana universal. Não nos esquentemos: Arlene Clemesha acha que o “perigo islâmico” é besteira. Mesmo que a ascensão da Irmandade Muçulmana possa jogar para o ralo a paz egípcia com Israel e retroceder toda a geopolítica do Oriente Médio para o ambiente da guerra dos seis dias de 1967, a professorinha da USP é só risinhos desconcertantes.

Porém, Clemesha sabe de que lado estará quando houver uma nova guerra provocada pelo Egito. Em 2005, o exército israelense retirou suas tropas em Gaza e deixou os palestinos livremente em paz. Em 2006, as mesmíssimas criaturas coitadinhas vítimas de Israel elegeram o Hamas, o grupelho terrorista mais radical e aliado do Irã, que decreta em seus estatutos a finalidade de destruir o Estado judeu. Depois das eleições, o mesmo Hamas massacrou uma boa parte de seus opositores e rivais da Autoridade Palestina, com requintes de crueldade e começou as hostilidades contra Israel. Os norte-americanos e judeus, contrariados, cortaram os subsídios que enviavam aos palestinos e não reconheceram o novo governo. E meses depois, os terroristas jogaram mísseis iranianos sobre as cidades israelenses.

E o que dona Clemesha diz, numa entrevista para a IHU (Instituto Humanitas Unisinos), em 2009? “Em 2006, quando o Hamas venceu as eleições aconteceu essa situação inaceitável, ou seja, o Estado de Israel, junto com os Estados Unidos e a Europa, não reconheceu a vitória do Hamas. Então, o povo palestino elegeu, democraticamente, um governo e o mundo não reconheceu esse governo e o derrubou. Isso sim é um exercício do autoritarismo e da ingerência.” Na lógica protozoária da professora, se uma comunidade eleger um governo hostil ao país vizinho, logo, este país deve reconhecê-lo de pronto, mesmo que ameace destruí-lo ou riscá-lo do mapa. Na lógica dela, os estados democráticos do mundo deveriam reconhecer um governicho terrorista que deseja destruir uma nação inteira. Ah sim, “autoritarismo” e “ingerência” para ela não é um governo declarar e usar de quaisquer meios para destruir outro país e sim a recusa mundial à sua política. E por que os governos dos Estados Unidos e de Israel deveriam reconhecer o Hamas, se o mesmo jamais reconheceu a legitimidade do Estado judeu? Contudo, Clemesha tem uma desculpa tola: o povo de Gaza elegeu o governo terrorista democraticamente. Mais uma razão para Israel negar qualquer ajuda a esse povo, que a despeito de toda a sua miséria, não quer a paz. Se as democracias ocidentais, nos anos 30 do século XX, negassem reconhecimento ao regime de Adolf Hitler, é possível que a professorinha tola afirmasse que tudo isso não passaria de ingerência e autoritarismo, porque uma ditadura pode ser justificável, sendo eleita. Se ela acata eleições onde um povinho vota em terroristas e assassinos no poder, que dirá então do caso egípcio, já que um deslize na política daquela nação pode levar uma região inteira à guerra?

Dona Clemesha, no alto de suas asneirices, ainda diz: “o choque não é de fundamentalismos ou de civilizações”. Reitera que o problema do fundamentalismo não é só islâmico, mas também judaico e quiçá, cristão! E ainda diz que o fundamentalismo é uma tendência mundial. A desonestidade intelectual aí ganha contornos tortuosos, dispersos. Ou seja, os fanáticos judeus e cristãos, tal como os islâmicos, explodem bombas em Shoppings Centers, jogam aviões em prédios, matam turistas incautos e estupram suas mulheres, degolam os infiéis e formam verdadeiros grupos terroristas, com conexões mundiais. Claro, os judeus fundamentalistas querem criar um gigantesco império judeu no mundo, tal como os cristãos, que ainda ressuscitam o ideal das cruzadas. A comparação aí é tão esdrúxula, tão vigarista, que só mesmo tamanha distorção de mentalidade pode levar a uma pessoa a adulterar os fatos de forma tão sombria.

No conflito causado por Gaza, em 2009, quando o exército israelense revidou os ataques do foguetório do Hamas, Clemesha ainda fala outras barbaridades: “Existem ataques dos dois lados? Existem! No entanto, primeiro, os ataques palestinos praticamente não causam mortos em relação aos ataques israelenses. Segundo, existe um motivo de fundo para essa violência”. Faltou relembrarem à senhora que, diferentemente dos árabes, os israelenses não usam civis como escudos humanos. Claro que ela faz vista grossa a inserção dos homens-bomba e outras práticas aberrantes do terrorismo islâmico. Clemesha ainda acrescenta, no debate da Folha de São Paulo: o Hamas é um grupo que tem como plataforma a guerra de libertação nacional. Medo! De “guerra de libertação nacional”, recordemos daqueles países da África que foram dominados pelos tiranetes tribais de plantão. Não será diferente com relação à Gaza. Clemesha ainda vende a idéia de que a popularidade do Hamas foi por conta da rejeição dos propósitos da Autoridade Palestina, que eram supostamente fracos, se comparados à incidência do grupo radical islâmico. É óbvio que ele ignorou os massacres praticados contra membros da Autoridade Palestina! Clemesha fala do terrorismo islâmico e das disputas internas sangrentas entre os palestinos como se fossem bons moços de uma sonolenta democracia escandinava. Ou anjos idealistas e, na prática, mártires esperançosos, com suas setenta virgens no céu!

Seguindo os passos da Dona Bernadete Abrão, Clemesha tenta relativizar as declarações de Armadinejad, afirmando que o ditador do Irã não afirmou que desejava jogar uma bomba atômica sobre Israel, e sim que o regime sionista deveria desaparecer. Nas palavras dela, “riscar a entidade sionista” é apenas eufemismo. E como não poderia deixar de ser, ela desperta a lenga lenga marxista de que o sionismo, sendo um pensamento de nacionalismo judeu, é um regime ultrapassado, que precisa deixar de existir, em nome do progresso histórico. E aí fez uma falsa analogia, afirmando que Armadinejad não tem intenções de destruir o Estado judeu, mas tão somente o modelo político de governo sionista. Na cabecinha da professora, o Irã quer desenvolver bombas atômicas pra soltar no Dia de São João. Ou financia terrorismo e homens-bomba contra Israel, não por ódio aos judeus, mas por ódio ao “sionismo”.

E curioso: na lógica da moça risonha, só o Estado judeu não tem o direito de existir, sabe-se lá por que causa, seja marxista ou islâmica! Só os palestinos estão isentos da ladainha marxista, ao defenderem a bandeira do seu nacionalismo! Claro, Clemesha, ao usar o tapa-sexo anti-sionista, demonstra ser defensora das causas terroristas e totalitárias mais abjetas do Oriente Médio.

O debate foi esclarecedor de muitas coisas. Primeiro, o total comprometimento das esquerdas com o fundamentalismo e terrorismo islâmicos. Segundo, a enorme superioridade argumentativa dos debatedores do outro lado, em particular, o cientista político Jorge Zaverucha e o jornalista português Joao Pereira Coutinho, que foram extremamente honestos e decentes com relação ao público. Eles desmitificaram muitas das demonizações alimentadas contra os judeus e Israel e foram claros nas questões problemáticas daquele conflito. Deixaram as duas mulheres, Bernadete Abrão e Arlene Clemesha, de burka em pé! E também, como não poderia deixar de ser, revelaram a superioridade dos argumentos pró-israelense e pró--ocidental.

domingo, fevereiro 13, 2011

Alguns mais iguais do que outros: a ignorância dos homens da lei com a justiça.

Conversava com um amigo, a respeito das inteligências jurídicas deste país. Atualmente, elas sumiram. Somos dominados por uma legião de tecnocratas, que não discutem as leis, dentro de perspectivas filosóficas, mas tão somente dentro das normas técnicas ou puramente legislativas. Quando eu fazia a faculdade de direito, ficava perplexo quando alguns doutrinadores eram elogiados como modelos de inteligência por interpretarem e escreverem sobre leis. Conheci um aluno presunçoso, que citava livros de doutrina e jurisprudência para mim, como se fosse a própria encarnação do direito. O cara era tão burro que não conhecia nada, a não ser de termos jurídicos. E não conseguia interpretar os conceitos e as palavras fora desses palavreados pomposos e vazios. Estudantes de direito boçais, eu conheço aos montes. A diferença é que hoje a classe está cada vez mais desvalorizada. Há faculdade de direito para qualquer pocilga do país.

Esses doutrinadores eram “inteligentes”, porque interpretavam a lei dentro da lógica fechada do legislador. O arraigado positivismo jurídico das inteligências acabou por criar uma corrupção epistemológica da perspectiva do direito. A lógica do direito se torna um fim em si mesmo, “pura”, acima da realidade preexistente. É o que poderia se chamar de “sacralização da norma”. O sentido filosófico do direito é, por assim dizer, o duvidoso axioma lógico do legislador, como se bastasse uma lei para resolver todos os problemas da sociedade. Quando o jurista modelo não é um doutrinador, é um concurseiro. Escutei em algum lugar, vindo da cabeça estreita de uma pessoa, que os concursados seriam as melhores inteligências do país. E aí escutei citar o nome do juiz William Douglas. Aliás, eu estava em uma livraria em Belém e encontrei seu livro, “A arte da guerra em concursos”, supostamente baseado no livro de Sun-Tzu. Esse, talvez, seja o livro filosófico do direito mais “elevado” a ser publicado em nossas letras jurídicas, atualmente. Nada contra o magistrado, ele precisa ganhar dinheiro. Porém, jamais será um São Tomás de Aquino, um Hugo Grotius, um Johannes Althusius, um Francisco de Victória ou um Francisco Suarez. Nem mesmo chegará a ser um Miguel Reale. No Brasil, o homem-massa, o tecnocrata ou o homem que passa em concurso viraram exemplos de inteligência. Basta que sua cabeça seja uma armazenadora de dados, como um computador, para o estudo de concursos de provas e títulos, que você já é considerado um gênio, mesmo que não entenda nada do que esteja decorando. Partindo dessa lógica, meu PC, que tem um terabyte de memória, parecerá mais inteligente do que um concurseiro.

Claro que essa fixação obsessiva pela norma geraria um vazio filosófico profundo. E ele está sendo ocupado por conceitos cada vez mais espúrios e irrefletidos do direito, dentre os quais, o alardeado “direito alternativo”. Ninguém se iluda que o direito alternativo seja contrário ao juspositivismo: ele mesmo é uma vertente juspositivista. A diferença é que ele encontra coerência esquemática na ideologia marxista, que faz do direito um instrumento de luta de classes. É uma nova forma de sacralizar a norma, através do materialismo histórico. A diferença é que o “direito achado na rua” apenas propõe que o juiz seja um militante parcial e defensor de causas políticas, como se fosse um juiz ideológico de um partido único totalitário. É pior, quando qualquer lei encontra guarida em quaisquer reivindicações políticas, das mais esdrúxulas possíveis, está a se expandir, absurdamente, a atuação do direito positivo e do Estado. Eu diria, sem delongas, que o direito alternativo é a estatização de todas as causas consideradas “sociais”, através de juízes ideológicos, partidários da causa totalitária marxista.

O novo ministro empossado do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, fez um discurso que reflete essa tendência. O magistrado falou que “a justiça não é algo que se aprende, mas algo que se sente. O juiz tem que ser sensibilidade. E saber direito, se possível”. E decretou, aos senadores, que não existe o juiz imparcial. A constituição de 1988 consagrou o ativismo jurídico. Medo! Ao defender as chamadas cotas raciais nas universidades, ele diz que evita as “a institucionalização das desigualdades”. E ainda acrescenta que não basta que todos sejam iguais perante a lei, é preciso tratar de “forma igualitária os iguais e de forma desigual os desiguais”. Aviso aos nobres colegas advogados: quando alguém recorrer ao STF, vamos ter que descobrir a sensibilidade muito particular do magistrado, já que nas suas palavras, a justiça deve ser um elemento bastante incompreensível!

Mas isso não é tudo. Li um artigo do ministro, em homenagem à faculdade de direito da UERJ, em um artigo comemorativo de 2005. Os trechos me incomodaram absurdamente, pela profunda cegueira de sua declaração: “O professor deve levar ao aluno o conhecimento das virtualidades da lei, da necessidade da aplicação da lei à luz dos fins sociais a que a se destina. O homem do Direito não pode ser alheio à realidade do que está aí na rua, dessa pobreza. Ele não pode ser alheio à necessidade de se aplicar o Direito levando em consideração novos valores trazidos pela Constituição Federal. Não há mais possibilidade de se fazer um estudo estanque do Direito. O estudo do Direito hoje é um estudo à luz de princípios éticos, morais”. E ainda completa: “É preciso dar solução que seja humana. A justiça tem que ser caridosa e a caridade tem que ser justa. É preciso estar atento às aspirações do povo, porque, no meu modo de ver, assim como o Poder Executivo se exerce em nome do povo, para o povo; o Poder Legislativo se exerce em nome do povo, para o povo; o Poder Judiciário se exerce em nome do povo, para o povo. A justiça é uma função popular. Na faculdade deve-se partir desse ensino com a cabeça bem aberta para tudo isso. Porque aí se formam pessoas que farão as suas opções”.

Preliminarmente, não me conste que a magistratura sirva para eliminar a pobreza. Nenhuma lei, nenhum decreto, nenhuma sentença vai resolver os problemas econômicos e sociais do país. Pelo contrário, o máximo que a magistratura pode fazer é não encher a paciência dos empresários ou dos trabalhadores assalariados, deixando que cada um busque o que ache melhor para si. Ainda não consegui entender onde a mera existência da pobreza se enquadra no conceito de justiça. Entretanto, desde que os juízes têm aderido ao “direito achado na rua”, eles se acham plenos de autoridade para impor a tão alardeada “igualdade material” na sociedade, ou seja, o socialismo por vias de sentenças ou acórdãos. Contudo, o segundo trecho me estarreceu mais ainda. Quando o magistrado afirma que a justiça deve atender às “aspirações do povo”, ou que os poderes se exercem “em nome do povo e para o povo”, O Sr. Fux cai na mitologia rousseauniana da soberania popular, em que o povo é colocado num plano superior, como se confundisse com a própria justiça. Isso, em outras épocas, se chamaria demagogia. Mas hoje é sinônimo de bom mocismo.

Hans Kelsen, com todas as deficiências factíveis em sua doutrina “pura” do direito, fez um relato maravilhoso sobre o julgamento de Cristo. Dizia que a condenação de um inocente, através de uma turba odienta, que preferiu escolher um culpado, ou seja, o bandido Barrabás, seria uma condenação devastadora da democracia. O ministro gosta muito de alardear suas origens judaicas, em particular, de neto de refugiados do holocausto nazista. Porém, o que me deixa perplexo é ele não perceber que a sacralização da vontade popular foi uma das razões que engendrou a ascensão do nazismo na Alemanha. Hitler foi eleito pelo povo alemão e os tribunais “populares” se achavam a personificação do “volk”, da entidade racial unificadora da Alemanha. Ora, se a maioria alemã deixou a minoria judaica à sanha do ódio nazista, qual seria o argumento do ministro Fux para defender os judeus? As aspirações do povo? O judiciário do povo, pelo povo e para o povo? O povo nunca foi e jamais será um sinônimo cabal de justiça. Ele pode escolher tanto Barrabás quanto Hitler, que não perceberá a menor injustiça nisso, já que acredita que a ordem dos números supera o bom senso da razão e dos valores superiores. Fazer parte da maioria, muitas vezes, aliviar o peso da consciência, por achar-se partidário de certezas, de “normalidades” e lugares comuns, através dos falsos dilemas confortantes da coletividade. “À luz dos fins sociais a que se destina”, a política de eugenia racial, a matança de minorias políticas, culturais ou religiosas e demais conveniências indigestas, podem ter muita coerência, nas palavras do juiz. Basta que o grupo energúmeno esteja no poder e seja amparado pela popularidade.

Como bem disse o ministro Fux, a sua justiça é “humana”. Desta argumentação, ele reconhece que não existem categorias superiores e transcendentes de moral ou de direito, que estão acima do direito positivo. As categorias que estão acima são imanentes, são “sociais”, são as “aspirações populares”, a “vontade do povo”. É pior. Quando ele afirma que os “desiguais devem ser tratados desigualmente”, percebe-se que ele nunca entendeu o postulado aristotélico-tomista da justiça, algo tradicionalmente arraigado na mentalidade ocidental. Ele confunde os postulados da justiça distributiva com os da justiça comutativa. Tratar desigualmente os desiguais não significa criar privilégios para pobres, negros, mulheres, homossexuais, etc. É simplesmente dar o que é devido, dentro de uma proporcionalidade, dentro daquele que se aproxima das reivindicações, méritos e graus de merecimento da justiça. O dar o que é devido está sujeito ao fato de que todos são iguais perante a lei. Isso quer dizer, em outras palavras, que existem direitos comuns que devem ser reconhecidos para todos e que todos têm a faculdade de exercê-los, na devida proporção de seus atos. Significa viver sob as mesmas regras, cuja desproporção levaria a injustiça, já que a desigualdade legal levaria a dar o que é devido sem o merecimento adequado.

Quando o Sr. Fux diz que negros necessitam de cotas raciais em universidades, para compensar supostas “injustiças” materiais ou históricas, ele viola a justiça distributiva precisamente porque os negros não conseguirão os cargos através dos méritos, e sim por conta de privilégios raciais. Por outro lado, viola a justiça comutativa, pois se a lei aí não se torna comum para todos, logo, os direitos não se tornam mais comuns. Basta que alguém tenha a pele escura, para criar direitos diferenciados do resto da comunidade. E por que razão? Resposta: nenhuma. Os negros têm as mesmas faculdades comuns dos brancos, dos índios e demais grupos étnicos, para disputarem os mesmos cargos, em níveis de igualdade. A pobreza ou a riqueza, substancialmente, nada tem a ver com a inteligência de quem disputa as vagas. Essas desigualdades não dizem respeito à justiça, posto que são naturais e aceitáveis. Aliás, justiça não se confunde com igualdade. Dar a quem é devido já implica, por si só um conceito de desigualdade, porque cada mérito, proporcionalmente, é diferenciado para cada um. Justiça é, acima de tudo, equilíbrio.

Alguém poderia objetar que há pessoas que não se enquadram nos padrões exigidos para exercerem os direitos. Os pobres não teriam acesso à justiça; os negros seriam supostamente injustiçados pelo racismo, as mulheres seriam o sexo frágil, etc. No entanto, a garantia de acesso à justiça não deve ser feita em prejuízo de toda uma sociedade. O pobre tem acesso á justiça, dentro do direito comum de que todos aqueles que se tornam pobres, podem ter acesso á justiça, com a garantia de isenção de custas judiciais e defensor público. Não é a mera natureza de ser pobre que faz alguém ser justo ou valida suas reivindicações em juízo. Os absolutamente incapazes também têm limitações no âmbito do exercício de seus direitos. Criamos direitos especiais para eles? Não, simplesmente a lei imputa um procurador legal para que ele seja representado nas mesmas condições de igualdade.

O Sr. Fux não sabe muito bem o que é justiça. Faz uma perfeita confusão de princípios e mistura as concepções filosóficas do direito com as ladainhas socialistas do “direito alternativo”. É mais grave: ressuscita o grotesco Rousseau e não percebe a gravidade do seu dilema, quando sacraliza o povo como portador do oráculo da justiça. E mais, em nome da justiça, acaba por acatar as piores injustiças e desigualdades, sejam aquelas de raça ou de condição social, quando na prática, acaba criando um judiciário onde alguns são mais iguais do que outros! A realidade imita a arte. Nunca a ironia orwelliana esteve tão contemporânea e presente na atualidade. . .