sexta-feira, setembro 14, 2007

A síndrome do mal na modernidade brasileira. . .

Este artigo foi publicado, inicialmente, no dia 29 de junho de 2005. Como parece que muita coisa só tem piorado neste país, nada melhor do que republicá-lo, pois muito do que foi dito nele só tem se confirmado. Publicá-lo no meu blog serve de arquivo para que todos que queiram degustar, leiam. . .
Quando vemos em nossa sociedade, um bandido sendo cultuado como vitima da sociedade, enquanto a vitima mesma é considerada culpada; quando o crime é legalizado como forma de manifestação social justa, enquanto a injustiça e iniqüidade dominam os confins da sociedade e os bons atos são criminalizados; quando condutas consideradas imorais, depreciativas e eticamente degeneradas são elevadas como normas exemplares, enquanto os bons costumes são rejeitados; quando enfim, a distorção moral chega a ponto do culto do bizarro, do falso, do pestilento, do imundo, do podre, ao servir de modelos e prevalecer sobre o bem, o belo e a verdade, realmente se dirá que esta sociedade estará decadente, pronto para alimentar sua ruína, senão uma sociedade moralmente estripada.

A perda total de determinados referenciais éticos e morais apenas nos levam a isso. A doença do relativismo e a paranóia do ceticismo, como tentativas de corroer todos os valores historicamente consagrados e ao mesmo tempo atemporais em nossa sociedade, só nos levará a banalização do mal, a perversão da natureza humana. O caos moral, social e intelectual em que passa a sociedade brasileira hoje, na completa esquizofrenia de princípios, ao mesmo tempo em que se é incapaz de obter algum raciocínio lógico a respeito da busca do conhecimento, é um dos processos mais dramáticos de depravação que se tem noticia nessas plagas.

Os gregos, em particular, chamariam isso “apeirokalia”, ou seja, a incapacidade, mediante a ignorância, de conhecer as coisas belas. A apeirokalia é uma doença do desconhecimento e da ignorância. Essa ignorância leva a uma total desprezo pela compreensão da realidade. Não é por acaso que o caos intelectual e social brasileiro vem precisamente acompanhado de um total desprezo das coisas mais básicas de informação e convívio social, sem contar das coisas mais profundas. Porém, esse desconhecimento não é por falta de uma educação escolar básica ou falta de apoio governamental. Para vencer a “apeirokalia”, nenhum governo salvador nos educará. Essa busca do conhecimento é, sobretudo, uma questão ética e moral, e cabe a cada individuo fazer jus a estas escolhas, mediante um esforço próprio e um completo drama de consciência. Isso implica questionar crenças comuns e mesmo e um consenso doentio de idéias absurdas. Bem, belo e verdade realmente não fazem parte da realidade intelectual brasileira. A caverna de Platão está mais profunda do que nunca. . . o Brasil está num buraco de cegueira mórbida e a luz está muito distante!

O pior de tudo é que o culto do bizarro, da mentira consensual e da inversão moral está precisamente numa classe que devia, no mínimo, prezar por determinados valores de consciência: os intelectuais. Mas parece que os intelectuais, em particular, de nosso país tão provinciano, não nutrem o amor pela busca da verdade.

A verdade não existe, na boca destes sujeitos. A moral pode ser moldada às vistas deles e, qualquer projeto de engenharia social pode mudar as consciências, na mera fabricação consensual de valores e idéias estranhas a realidade, bastando forjar crenças. É basicamente isso o que se prega em qualquer universidade brasileira. O problema é a completa esquizofrenia deste argumento. Uma boa parte das universidades brasileiras simplesmente se presta a fabricar uma consciência paralela e alheia a realidade. Não é por acaso que, quando alguém se nega a ter consciência da realidade, só resta criar os absurdos da própria imaginação e os caprichos autistas da personalidade.

As universidades estão cheias de ideologias radicais, ideologias de violência, ideologias de bizarrices morais, ideologias de culto a ignorância pedante. O que é pior, o doente da apeirokalia deste país cultua a ignorância. Não há sábios ou lógicos e sim, apenas retóricos. Contudo, a relativização de tudo leva a isso: a negação completa da lógica como pressuposto básico de relacionar efeito e causalidade ao conhecimento. E como a suposta falta de verdade nestes homens só leva a negação completa de tudo, só resta forjar a loucura existencial deles. Isso me faz lembrar a Rússia pré-revolucionária, a “Mãe Rússia” dominada pelo terrorismo militante da inteligentsia, criada nas universidades. Dostoievski retratou muito bem o que passa a essa gente metida a pensante, que quer destruir o mundo a sua imagem e semelhança, em sua obra “Os Demônios”. A tragédia da revolução russa foi fruto precisamente destas pessoas que criaram um paralelismo ideológico a realidade, capaz de destruir toda a humanidade pela ideologia. Netchiaev, o terrorista do século XIX que fundamentou o “Catecismo Revolucionário” russo, retratou muito bem a idéia mesma da loucura da militância intelectual: a destruição de todos os alicerces da civilização através da violência e da total falta de consciência moral, para criar uma nova sociedade idealizada por eles. Isso implica matar entes queridos, trair e delatar amigos, destruir a família, a religião, a propriedade, exterminar inocentes, cometer genocídio e qualquer outra forma brutal, animalesca de violência, em nome do hipotético futuro revolucionário. Ora, não é por acaso que as trupes bolchevistas que tomaram o poder na Rússia, em 1917, não passavma de gangsteres sociopatas e assassinos, e criaram um dos sistemas mais criminosos e desumanos que se há registro na história.

Todavia, para eles chegarem ao poder, a Rússia passou por um processo de transmutação gradual de valores e idéias. A depravação da consciência moral da intelectualidade a tornou criminosa e destrutiva e seus germes, na expressão retórica de suas idéias, envenenaram toda uma sociedade. Enfim, a depravação da consciência acabou por se concretizar na depravação dos atos. Que há algo perverso e demoníaco nestas consciências, isso é público e notório. E aí nos faz lembrar a idéia mítica do diabo bíblico, aquele que rouba, mata e destrói. O século XX foi dominado pelo diabo.

Há trinta anos atrás, esta nação foi profundamente religiosa, acreditava em valores de família e honestidade e tinha um senso de familiaridade e cordialidade ao próximo, ainda que com suas históricas mazelas históricas e políticas de corrupção e autoritarismo. A criminalidade na época de nossos avós era rara nos centros urbanos. E mesmo nos interiores, a violência era isolada e particular. Hoje, um país que é bem mais rico, mais desenvolvido, é, também, o mais assassino e violento. Antigamente, bandidos eram bandidos e homens de família eram homens de família. Atualmente, os bandidos são divinizados como justiceiros sociais e os pais da família são mortos como criminosos inconscientes. Mulheres são violentadas neste país e ainda se quer convencer de que ela deve agradecer pelo estupro, porque é uma socialmente culpada. As militâncias de Direitos Humanos abraçam o ladrão, enquanto a vitima é ignorada. Só falta colocá-la na cadeia.
A fuga da responsabilidade moral é um dado notório deste raciocínio. Hoje em dia tudo é explicado intelectualmente em termos econômicos, de classe ou de cultura. Idéias assim negam qualquer responsabilidade pessoal pelos atos e acusa em forças abstratas, a causa de nossos males. No Brasil, o caráter é julgado em termos do bolso e da condição social. O pobre é bandido porque não tem dinheiro no bolso e o rico é vilão porque o tem. O pobre é um bandido coitadinho porque é pobre, enquanto o rico é safado porque é rico.

O nosso catolicismo brasileiro é apenas uma aberração comunista da Teologia da Libertação, mesclada com outros valores estranhos a cultura católica. É de pensar o porquê de amplos setores da Igreja Católica serem tão anti-vaticanistas, ao mesmo tempo em que apregoam as investidas do MST, a violência no campo e a revolução totalitária que varreria qualquer forma de cristianismo da América Latina. E a família, que era antes a base da educação do povo brasileiro, hoje é substituída por educadores totalitários e por novelas da Globo. Alguém ainda duvida por que temos tanta gente ignorante e criminosa?

Há trinta anos atrás, o povo brasileiro se achava o menos racista do mundo. Negros casavam com brancos e vice-versa e a mestiçagem foi por muito tempo uma auto-imagem de um povo, uma marca cultural ímpar desta sociedade. Hoje, o brasileiro médio se acredita racista, e uma boa parte dessa classe intelectual esquizofrênica quer simplesmente importar o racismo institucional de outros povos, inventando leis segregacionistas.

Qualquer artista, qualquer cineasta brasileiro é o mais completo paladino do bizarro. O que mais se vê no Brasil é a baixo-estima mesclada com uma sátira grosseira e rancorosa da sociedade brasileira. É sempre o mesmo culto vulgar do erotismo, da baixeza moral e de violência. Um aspecto particular dessa cultura é a exploração do erotismo, como se as mulheres brasileiras fossem verdadeiras prostitutas. E ainda essa mesma raça de intelectuais canalhas critica o porquê dos gringos terem opiniões tão depreciativas sobre as mulheres brasileiras. O multiculturalismo médio da inteligentsia é apenas a justificação da vulgaridade de suas opiniões e pseudo-idéias. Mulheres rameiras e homens gays agora viraram modismos exemplares. Ainda não me esqueço de um depoimento de uma mulher de família que não se achava moralmente melhor do que uma prostituta. Foi cômico, para não dizer trágico!

E hoje, o debate intelectual no Brasil caiu numa espécie de loucura, de desonestidade intelectual e de cinismo, capaz de deixar qualquer pessoa normal louca. Ninguém mais pensa, age por automação ou instinto ou então por ódio. Na crença disseminada do relativismo, o brasileiro médio está sujeito a todas as formas de paranóias: ele prega a justiça social com o Estado totalitário comunista que criou o Muro de Berlim, os campos de concentração e a miséria mais abjeta, ainda que ganhando como capitalista. Ele acredita piamente que os Estados Unidos vão invadir o Brasil e tomar a Amazônia e que a dívida externa é uma malvada conspiração do capitalismo internacional. Talvez só não há conspiração judaica mundial por falta de judeus aqui. Ele acredita que, com mais impostos contra seu bolso, ficará mais rico. E que lei da oferta e da procura é apenas uma ideologia exploradora de um escocês safado chamado Adam Smith. Para o senso comum distorcido de alguns brasileiros, todo brasileiro é racista até que se prove o contrário. Até a prova contrária de racismo é uma prova de racismo. Tem gente que já chegou a dizer que os casamentos mistos em nosso país são apenas conspirações da raça branca para destruir uma identidade racial negra. Ele se diz contra a violência do bandido, enquanto se crê culpado pela própria violência do bandido. Se tal argumento vingar de vez, qualquer bandido se sentirá justificado matando sua vítima. E não é por acaso que qualquer culto do bizarro é motivo de tanta popularidade. O povo, domesticado para absorver porcarias, só resta consumir no chiqueiro que nem um porco.

O Brasil perdeu qualquer relação de causa e efeito relacionado a lógica elementar. A revolução cultural doentia que esta classe pensante está patrocinando, só dará nisso mesmo: mais violência, mais miséria, mais desunião, mais infelicidade, mais solidão, mais banalização do mal. E onde esse caminho nos levará, na doença da apeirokalia? Só Deus sabe. . .

2 comentários:

KCP disse...

Parabens! Excelente, o seu artigo, posta exatamente a "loucura cultural e real" que estamos vivenciando no Brasil e porque não dizer no mundo. Teorizar as ações está tão banalizada que perdeu-se o sentido da razão e da emoção, onde nasce uma e morre a outra. Mas, uma coisa é inegável, o Brasil é um país grande, bonito por natureza e muito atrativo comercialmente. Talvez todo este caos que estamos vivenciando seja conseqüência de uma invasão virtual, onde a qualquer momento e de surpresa poderia se tornar real. É através dos conflitos que uma nação emerge ou se anula e se até agora estamos "vivos" é porque estamos emergindo. É claro que a partir de agora ou de muito em breve, novos parâmetros baseados na "causa e efeito relacionado a lógica elementar" desta "loucura cultural real" tenha que tomar um novo rumo para o desenvolvimento da respeitabilidade do ser humano. A banalização total e fracional dos mínimos conceitos éticos e morais tendem a ser resgatadas e estabelecidas ou então realmente a "doença da apeirokalia" ou outras piores virarão epidemia. Ou mesmo, poderemos chegar na maior catástrofe, a de ter chegado tão perto, mesmo mediante ao caos, da maior revolução cultural e intelectual já vivida e vivenciada neste país. E claro que pensadores como você poderão ajudar a construir uma nova história para o Brasil, isto é, se soubermos aproveitar esta oportunidade e enxergarmos o que nos faz bem e o que nos faz mal.
Sucessos. Kátia de Cássia Pires. 09/04/2008

Unknown disse...

Eu gostei muito do seu artigo, com mais tempo que eu tiver, estarei lendo mais de seus texto. Tambem quero uma indicação de livros pra que eu leia. um abraço
wellington
meu email é wpains@hotmail.com