quinta-feira, setembro 13, 2007

O que o povo vê e o que o governo vê: a parábola dos cegos!


“Deixai-os; são guias cegos; ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão no barranco”. Mateus Cap. 15, versículo 14.



Quando se analisa a psicologia comum da população brasileira, no quesito corrupção, há um processo de perda das proporções dos atos e do decoro político. Por mais que um ou outro se indigne com as bandidagens políticas do país, uma boa parte, senão a maioria, ainda acha que certos tipos de crimes podem ser aceitos dentro de um padrão de normalidade. Os eleitores não-petistas de Lula, em geral, pensam assim: acham que a corrupção atual é fruto de antigos costumes e tão iguais quanto à vigarice histórica da política tradicional. Tal pensamento cai num fatalismo moral assombroso: é como se a corrupção política fosse algo moralmente aceitável, precisamente porque sempre foi assim. E o populacho, no auto-engano e no materialismo mais rasteiro, justifica suas ilusões políticas, pelas compensações numéricas duvidosas da economia, ou então pelos farelos do bolsa-família. É a velha crença no “rouba, mas faz” da política brasileira. O pior, todavia, é que nem fazem. . .

Certo dia, ouvi a seguinte premissa de um eleitor petista: "- O PT rouba, mas o PSDB também rouba!". É como se a moral aí fosse um objeto de instrumentalização política e ideológica, e não um princípio categórico, uma obrigação e dever na consciência espiritual na cabeça de cada um. Se a corrupção traz benefícios aos “meus”, é legítimo; se for aos “seus”, é inválido! Daí a entender o porquê do povo achar que Lula faz uma caridade, dando subsídios aos pobres, ainda que às custas do empobrecimento e achatamento da classe média. Daí uma parte do povo engolir tal sorte de mentiras governamentais, precisamente por achar que compensa se vender ao governo. Ouço da “arraia-miúda”, a mesma sensação fatalista de corrupção moral: "- Se eu tivesse lá, também roubaria!". Ou seja, há muito mais cumplicidade com a corrupção, entre uma boa parte do povo, do que podemos imaginar.

O problema é quando essa sensação destrói os parâmetros limítrofes da moralidade pública. Os escândalos do presidente Lula e a extrema imoralidade e amoralidade do seu governo, para muitos, é um quesito de normalidade política aceitável. Entretanto, essa é a questão: a normalidade aí é uma vasta ilusão, e a moralidade pública cada vez mais se perde, numa depravação ética, tanto do povo, como das elites. Neste aspecto, o PT explorou, como ninguém, os sentimentos inferiores da maior parte da população. O partido chantageia a tudo e a todos, como se a corrupção fosse um expediente normal e comprometedor. Os petistas dizem para todos: "- Nós roubamos, mas, quem não rouba?". O caso é que essa frase deu carta branca para que o governo fizesse tudo o que desse na sua falsa consciência. O exemplo clássico desse pensamento ficou estampado nas próprias elites políticas do Congresso Nacional: Renan Calheiros foi absolvido, dentre tantas outras coisas, precisamente porque o Congresso também está envolvido com a corrupção. O PT rouba, Renan Calheiros rouba, e muito, mas quem não rouba no Congresso? Essa é a tragédia moral da sociedade brasileira.

O caso em questão é que a corrupção petista foge dos padrões da criminalidade existente neste país e vai mais além. Até porque a visão que o governo tem da corrupção não é imediata, não implica apenas o velho enriquecimento privado tradicional. A corrupção petista é apenas um mero processo, um mero instrumento, dentro de uma vasta ambição de um projeto totalitário. O mesmo partido que se apossou do discurso da “ética na política”, e da pseudo-moralidade de combate à corrupção, é o mesmo que joga às favas quaisquer escrúpulos, quando a questão é a disputa canina pelo poder. Porém, essa é a tônica do processo revolucionário: explorar as contradições e os discursos paradoxais, para tirar vantagem dos inimigos e se fortalecer mais e mais, até possuir o poder absoluto. A vitória petista aí é quase absoluta. O partido pode ser moralista e corrupto ao mesmo tempo, sem se dar conta de assumir por nenhuma causa em particular. Não há de se espantar, quando um petista reverbera um moralismo santarrão, quando inquire as mazelas dos inimigos, enquanto se sente no direito de corromper à vontade, e ainda justificar a corrupção, por toda sorte de clichês ideológicos. A manipulação dos sentimentos morais aí é notória. Numa tacada, o PT consegue chantagear àqueles que aceitam a corrupção, dentro de um padrão aceitável de normalidade; ao mesmo tempo, ele neutraliza as pessoas moralmente sãs, pelo epíteto acusatório de que todos são corruptos, até que se prove o contrário. Daí a ideologização da moral, em supor que a condenação moral ao petismo é algo partidário, desonesto, da mesma forma que o PT age. E, enquanto isso, os petistas se colocam numa situação de moralidade superior, precisamente porque eles não se comprometem com moralidade alguma. Não me espantará, se um dia, o mesmo partido que apoiou o senador Renan Calheiros, pedir o fim do senado, por considerá-lo imoral, e vender a imagem de Lula como uma espécie de honestidade sacrossanta. A absolvição de Calheiros foi o processo mais visível dessa desmoralização completa do Poder Legislativo.

Isso não é o bastante. O PT não se contenta apenas em acusar a sociedade toda de corrupta. Ele usa dos órgãos do Estado e mesmo de artifícios ilegais extra-oficiais para perscrutar e catar podres alheios. As graves denúncias de escutas telefônicas de juizes do STF, o uso da Polícia Federal para investigar inimigos políticos e mesmo falsificar provas judiciais, e mesmo a infame história do caseiro devassado em sua intimidade por força de um ministro da fazenda, são provas, mais que evidentes, de que o sistema democrático está ameaçado. São provas, inclusive, da tentativa de se estabelecer um sistema policialesco, em que a sociedade é sumariamente criminalizada pelo Estado. A metodologia mafiosa e inquisitorial do PT, de transformar a delação, a espionagem e mesmo a destruição de reputações alheias, num ato de virtude, é um retrato fiel de que tipo de governo ditatorial pode nos esperar, quando a democracia sucumbir. . .

É certo que a corrupção política não é de hoje. Em várias épocas da história brasileira, ela sempre foi um vício institucional no país, uma herança cultural perversa do patrimonialismo. Todavia, existia toda uma ordem de princípios morais e éticos que limitavam tal ação, e, embora houvesse bandidos nas altas esferas públicas, os honestos também eram vistos. A sociedade brasileira, apesar de tais mazelas, no geral, era honesta, cristã, católica, honrada, conservadora. Entre os mais velhos, a corrupção é exceção, não regra. E por mais que alguns fossem apáticos com as safadezas na política, a grande maioria não via isso como modelo pessoal de vida. Deplorava-a na vida cotidiana.

Historicamente, o Brasil teve tantos políticos corruptos, como políticos honestos. Mesmo num regime de exceção, como a ditadura militar, não se verá em nenhum presidente da república, um ato sequer de corrupção e favorecimento pessoal. O Marechal Castelo Branco, quando era presidente, quase puniu o irmão, quando este aceitou um carro como peita. Além de demiti-lo sumariamente, e obrigá-lo a devolver o “presentinho”, ainda estava pensando seriamente em mandá-lo pra cadeia. O general Ernesto Geisel simplesmente recusou a ascensão do irmão, Orlando, ao ministério das forças armadas, porque não queria transformar o governo num curral de família. Até tiranetes, como o ditador Getúlio Vargas, tinham certos escrúpulos morais no quesito da coisa pública. Por mais que seu irmão houvesse comprometido o seu governo com escândalos, o gaúcho de São Borja, homem trágico por natureza, deu um tiro no peito, temendo a própria vergonha. Eram outros homens e outros tempos. Hoje, a corrupção é a institucionalizada e os honestos foram suprimidos.

Os parâmetros da honestidade pública estão partidos e o país passa pela mais grave crise moral e política de sua história. Todos os vícios morais da corrupção política estão disseminados por toda sociedade civil. Os aspectos do certo e do errado, do que é justo ou injusto, do que é honesto ou desonesto, estão turvados na alma de muitos brasileiros. A anormal tolerância com a corrupção moral é o reflexo dessa doença. O pior dessa desgraça é que o povo ainda acredita que está dentro de um processo de normalidade democrática, de comum expediente, enquanto está afundando. Contudo, se o país é capaz de aceitar com tamanha submissão, tamanha leviandade e mesmo, tamanha covardia, a depravação moral dos costumes políticos, é porque ele é capaz de aceitar coisas bem piores. É uma neutralização completa da consciência moral, a ponto de reduzir um país à mais completa animalidade. Como também, se o governo desafia a tolerância do povo para escandalosamente fazer aquilo que faz, demonstrando um completo desrespeito pela população, é perfeitamente claro que este governo pode fazer coisas bem piores. Como, aliás, já faz. A corrupção do governo Lula é apenas uma parte ínfima do que está por trás dele. Coisas muito mais graves, como o envolvimento do governo com o Foro de São Paulo, os governos narcotraficantes de Chavez e Morales, o terrorismo das Farcs na Colômbia, e mesmo, o crime organizado no Brasil, são fatos que estão fora na visão da maioria dos brasileiros. E essa realidade secreta, funesta, oculta, é que está por trás da visão do governo.


O processo revolucionário patrocinado pelo PT está destruindo todos os alicerces morais da sociedade brasileira. O povo, moralmente falando, se corrompe e começa a pensar como o partido totalitário. E os homens honestos, minoritários, estão apáticos, cercados pelas multidões cegas e cúmplices de sua própria destruição. Enquanto a população cai no fatalismo e não vê o abismo que espera a sua porta, o partido revolucionário, na ânsia de destruir as instituições democráticas e as liberdades do povo, vê mais além, para jogar o país no abismo. São os cegos, guiados, pelos cegos. E o barranco espera-os.

2 comentários:

KCP disse...

Olá Conde,

Li o seu artigo, acho que vc escreve muito bem, porém discordo de alguns pontos que julgo ser muito reacionário. Veja bem, moramos em um país rico em sua diversidade, pelo fato de ser grande é mais de governar. Quando olhamos apenas para o nosso próprio umbigo, esquecemos de fazer uma comparação com outros, que podem ser até piores. Quantos países estamos vendo na miseria total, quantos países e povos neste momento não gostariam de ser brasileiros, etc. Temos muitos falhas sociais, políticas, econômicas, mas o Brasil está caminhando e desenvolvendo-se. Não vemos mais tanta fome, a questão da moradia está por um fio para ser resolvida e o lado sócio-econômico virá através da educação. Para ser sincera, acho que o Presidente Lula superou as espectativas, nossas relações melhorou muito no exterior, portanto devemos ser mais otimistas e acreditar mais em nós mesmos. Quando eu vejo que dá pizza com relação a algum assunto na política, gostaria sim, que eles comessem a pizza, mas não porque deu em nada, mas pelo próprio sabor da pizza que é uma delícia! Não podemos generalizar, não só na política, mas em todas as áreas, existem bons e maus profissionais ou políticos. No meu ponto de vista, se a direita fizesse uma aliança com a esquerda, a probabilidade do Brasil se desenvolver seria muito maior em todas as áreas. Por isso, vamos ser mais positivos, continuar trabalhando e cada um fazendo a sua parte, juntos poderemos preservar o meio ambiente .

Cordial abraço. Kátia de Cássia Pires. 10/04/2008

Conde Loppeux de la Villanueva disse...

Li o seu artigo, acho que vc escreve muito bem, porém discordo de alguns pontos que julgo ser muito reacionário.

Conde-Senhorita, esse é seu esquema mental? Mundinho "progressista" x "reacionário"? Sinceramente fiquei muito decepcionado com vc. No seu argumento, a validade de um postulado vale pela cronologia, não pelo senso de justiça.

Veja bem, moramos em um país rico em sua diversidade, pelo fato de ser grande é mais de governar.

Conde-E?

Quando olhamos apenas para o nosso próprio umbigo, esquecemos de fazer uma comparação com outros, que podem ser até piores.

Conde-Senhorita, não devemos nos comparar apenas com países piores, mas tb com os melhores. Dentre os melhores somos muito ruins. O Brasil poderia ser um país rico e respeitado se não fosse a miséria moral e intelectual do nosso povo e de nossas elites políticas. Pq a senhora pensa tão pequeno e fica se nivelando a uma África, se poderíamos ser Europa?


Quantos países estamos vendo na miseria total, quantos países e povos neste momento não gostariam de ser brasileiros, etc.

Conde-Senhorita, se eu fosse mais pobre do que brasileiro, com certeza eu não queria ser brasileiro, e sim melhor do que ele.

Temos muitos falhas sociais, políticas, econômicas, mas o Brasil está caminhando e desenvolvendo-se.

Conde-O Brasil está caminhando e desenvolvendo-se aos trancos e barrancos e seus passos são muito frágeis. Eu não posso compatibilizar riqueza, prosperidade e estabilidade com corrupção, sedição, conspiração e mentiras. Não conheço nenhuma sociedade que correlacionou isso com presteza. Uma coisa vai sacrificar a outra, vc pode ter certeza.

Não vemos mais tanta fome, a questão da moradia está por um fio para ser resolvida

Conde-A fome, de fato, reduziu, mas não foi por responsabilidade do governo e sim apesar do governo. Será que a senhora ignora que o governo Lula é contra o agronegócio, já que manda milhões para o MST invadir e saquear propriedades? E o problema da moradia está longe de ser resolvido.


e o lado sócio-econômico virá através da educação.

Conde-Senhorita, vc acha mesmo que um governo gerenciado por um semi-analfabeto e cheios de engenheiros sociais marxista vai criar uma educação que preste?


Para ser sincera, acho que o Presidente Lula superou as espectativas, nossas relações melhorou muito no exterior,

Conde-Realmente ele superou as nossas expectativas no quesito corrupção, aparelhamento do Estado, tráfico de influência, envolvimento com o crime organizado, entre outros. Quanto as relações exteriores, dá pra perceber que a senhora é uma inocente útil, no sentido leninista do termo. No exterior, somos conhecidos como as comadres de Hugo Chavez. O Brasil, no campo externo, defende o terrorismo, o narcotráfico das Farc, prepara uma corrida armamentista entre a Venezuela para destruir a democracia da Colômbia e deixa as forças armadas totalmente desarmadas. Aliás, o Brasil leva no rabo da China, com o caso da soja e ainda um chute da Bolívia, que confisca os gasodutos da Petrobrás, dando um prejuizo de um bilhão de dólares aos cofres públicos brasileiros. Aliás, o governo brasileiro está em vias de cometer outro suicídio geopolítico: no vizinho Paraguai, um político ameaça deixar o Brasil com luz elétrica mais cara ou sem luz, ao querer boicotar a usina de Itaipu. Senhorita, que mundinho vc vive?


portanto devemos ser mais otimistas e acreditar mais em nós mesmos.

Conde-A senhora realmente é otimista demais. Devia se informar melhor.


Quando eu vejo que dá pizza com relação a algum assunto na política, gostaria sim, que eles comessem a pizza, mas não porque deu em nada, mas pelo próprio sabor da pizza que é uma delícia!


Conde-Quantos anos tem a senhorita mesmo? Parece uma adolescente falando. . .


Não podemos generalizar, não só na política, mas em todas as áreas, existem bons e maus profissionais ou políticos.

Conde-Sem dúvida, não se pode generalizar. Porém, os maus estão governando o país. Se a senhorita é cega o bastante para isso, não sou eu quem vou abrir os olhos pra vc. Só não vê quem não quer.


No meu ponto de vista, se a direita fizesse uma aliança com a esquerda, a probabilidade do Brasil se desenvolver seria muito maior em todas as áreas.

Conde-Essa aliança já existe, minha senhora. Só que feita a base de muita propina, muito mensalão, muita troca de carguinho público e muita corrupção. Ora essa, que merda de país vc vive, mulher?


Por isso, vamos ser mais positivos, continuar trabalhando e cada um fazendo a sua parte, juntos poderemos preservar o meio ambiente .


Conde-A senhorita vive no mundo da lua!