sexta-feira, setembro 07, 2007

“Exclusão digital”, uma grande besteira. . .

Muito se fala da tal “exclusão digital”, ou seja, da falta de acesso à internet, pela maioria da população brasileira. Malgrado a distância de muitos brasileiros a um computador, ong´s, políticos, juristas e esquerdistas militantes alardeiam as injustiças do capitalismo, como se o mesmo fosse culpado pelas mazelas da informática. E como não poderia deixar de ser, eles conclamam as chamadas “políticas sociais” de “inclusão digital”, como se o projeto socialista que está por trás disso, pudesse resolver a questão. É como se o Estado tivesse algum milagre para democratizar a internet. A experiência parece mostrar precisamente o contrário, já que a única coisa que o Estado fez, nesses últimos anos, foi tentar podar, ou mesmo querer censurar a internet. Tudo em nome do bem comum, naturalmente.

O termo “exclusão digital”, já por si só, significa uma sandice, uma vez que sua definição é genérica, e diz respeito tão somente a alguém que não usa a internet. Parte do pressuposto de que todo indivíduo, necessariamente, deva ser alguma espécie de “nerd”, de hacker, de obsessivo virtual. A verdade é que há muita gente que não usa a internet, não porque não tenha posses, mas precisamente porque não dá importância a ela. Quando se procura as estatísticas da internet no Brasil, antes de se provar a idéia mesma da “exclusão digital”, o fenômeno revela um dos processos mais amplos de acesso existentes. Os preços da internet caíram e qualquer classe social tem acesso a ela. Aliás, a importância da informática não está em si nos números de internautas virtuais, cada vez mais crescentes, e sim na capacidade que qualquer indivíduo tenha em poder de consumo, para acessar a internet. Há muitos cidadãos da classe média e alta que não acessam a rede, precisamente porque não vêem nenhuma utilidade nela. Eles podem comprar um PC, instalar um modem e mesmo pagar a mensalidade de um Velox. Contudo, não se interessam, pois acham irrelevante. Serão estas pessoas de classe média e alta, “excluídas digitais”? O pobre que acessa a internet por um real a hora é mais “incluído digital” do que o comerciante da classe média, que não tem a menor noção de informática, já que nunca se interessou? O problema das estatísticas a respeito da exclusão digital é a correlação mesma, que é falsa. O desconhecimento ou o desinteresse pela internet não é sinônimo de “exclusão social”. A relação entre internet e condição social é demasiado inverídica.


Declara-se que apenas 30 ou 40 milhões de brasileiros usam a internet. O caso é que tais estatísticas, antes de revelar a tal “exclusão social”, demonstram apenas a margem de usuários permanentes, não os eventuais. Esse cálculo não reflete o número de desinteressados, indiferentes e mesmo aqueles que odeiam a internet, os "excluidos virtuais" por opção. Há de se lembrar, também, a compensação de anos de atraso da informática no Brasil, em relação ao mundo. Até porque, ao contrário de uma boa parte do globo, a internet em nosso país é recente, e não há milagre algum que possa difundi-la, senão o tempo e o barateamento dos custos de acesso.


A democratização da internet se deveu exclusivamente por uma entidade que quase toda a esquerda odeia: o livre mercado. Dois eventos em particular, beneficiaram os usuários da internet: o fim da lei de informática e a privatização das teles. Os militares criaram uma das leis mais estúpidas que se há noticia nos trópicos: as famosas reservas de mercado para computadores nacionais, atrasando em quase quinze anos, o acesso dos brasileiros a aparelhos mais modernos. A lei de informática se punha da seguinte forma: os brasileiros estavam proibidos de comprar PCs importados, se houvesse um similar nacional. Se algum brasileiro comprasse um PC importado, poderia ser punido pela Policia Federal e ter sua mercadoria taxada e confiscada, porque não cumpriu a substituição das importações das empresas brasileiras. Como a produção de computação no país era inócua, e o governo queria inventar a roda, os industriais simplesmente copiavam e pirateavam as peças de reposição de computadores estrangeiros. Sem contar o contrabando ilegal, que era normal, num governo que conseguiu restringir o cidadão comum ao acesso à tecnologia de ponta. Uma coisa que a lei da informática fez, foi transformar um contrabandista numa espécie de herói da computação. Quando a lei de informática foi revogada, o Brasil teve que recuperar uma década de atraso perdido para conseguir qualidade e preços acessíveis ao consumidor, em níveis internacionais.

A privatização das teles e o crescimento do consumo de linhas telefônicas, foi outra grande revolução, em parte, patrocinada pelo livre mercado. O atraso de décadas em linhas telefônicas caras e obsoletas foi naturalmente superado, quando o Brasil abriu o mercado de telefonia e, junto com isso, o mercado de internets. O sistema Telebrás estatal, além de ruim, não conseguia produzir telefones para toda a demanda. Esperar fila para arranjar uma linha telefônica era uma luta. O preço era proibitivo às classes pobres. Com a privatização, o sistema de teles não somente democratizou o acesso a telefones, como a internet caiu dramaticamente de preço, sendo acessível a muita gente.


Há outro fenômeno curioso, que democratizou mais ainda o acesso à internet, principalmente às classes pobres: a criação de cafés virtuais, ou “cybercafés”, especializados em aluguel de horas de internet. Por um real, ou bem menos, qualquer pessoa tem acesso à rede virtual nessas lojas. Nos subúrbios de Belém do Pará, ou mesmo de Macapá, encontrei vários desses lugares virtuais, onde crianças pobres, por tão pouco, conseguem ter informação em nível mundial. As facilidades são muitas: os donos dessas casas já inventaram até “pacotes” de horários, em que o consumidor usufrui de horas a mais de acesso, com menor preço. O “cybercafé” tornou-se um ponto de encontro de jovens, que se divertem com joguinhos virtuais, captam informações escolares, livros, vídeos, contactam com amigos, enfim, com todas as facilidades de qualquer pessoa que tenha um Pc em casa. A “inclusão digital”, por assim dizer, foi causada por ações e práticas cotidianas capitalistas e bem liberais, que as esquerdas, em geral, condenam e querem destruir. . .


Ademais, a internet não só democratizou-se, enquanto bem de consumo, por causa do mercado: ela conseguiu ser um dos canais mais libertários de informação que se tem notícia. Ainda me lembro, quando em conversa com venezuelanos num programa de bate-papo, que eles usavam a internet em todo o país, quando Hugo Chavez confiscou a maior rede de televisão da Venezuela, a RCTV. Como a RCTV era a única mídia que abarcava todo o país, várias regiões ficaram sem notícias independentes, a não ser as do governo. E os internautas, difundindo as notícias de Caracas, sobre as manifestações em massa nas ruas, espalhavam a notícia por todo o país, quebrando o boicote estatal à livre informação. Raramente houve um invento que fosse tão inimigo dos ditadores e dos tiranos!



O mesmo processo ocorreu no Brasil. Se há um lugar onde o debate público livre existe em nosso país é a internet. Como o governo federal conseguiu neutralizar uma boa parte da imprensa, ora chantageando-a, ora comprando-a com muito dinheiro público, o único lugar onde o controle e a censura dificilmente predominam é a rede virtual. È graças a ela que hoje nasce uma oposição clara ao governo Lula, vergonhosamente boicotada pelos setores da mídia e da telecomunicação. A internet criou um público esclarecido e uma legião de escritores independentes, intelectuais de fina flor, que foram marginalizados nos centros culturais e na imprensa, quase todas dominadas pela esquerda cultural.

O paradoxo do Brasil é que existem dois países das notícias políticas e de atualidades: as verdades que passam pela internet e as meias-verdades que passam pela imprensa escrita e televisiva dos jornais. A discrepância chega a ser escandalosa. Daí a imprensa brasileira atual perder quase toda a credibilidade, quando as notícias que passam na TV, são neutralizadas por uma espécie de autocensura e comprometimento com os podres poderes da nação. Muitos críticos da internet objetariam que as milhões de informações da rede virtual poderiam ocultar e confundir a verdade com a mentira. Nada mais falso. O mais incrível é pensar que, em contraste do que é dito, as informações da internet conseguem ter mais credibilidade do que muitos temas publicados na TV. Há fontes de informações e pessoas que ganham confiabilidade ao público, precisamente por sua honestidade, e a liberdade de discernimento entre verdade e mentira acaba anulando as notícias falsas. É curioso pensar que as mentiras da imprensa televisiva, dos políticos, dos partidos, dos jornalistas, são desmascaradas em pleno público de internautas.

Nos Eua, por exemplo, jornalistas vigaristas tiveram suas reputações destruídas, quando internautas republicanos organizados coletavam informações extra-oficiais que demoliam falsas notícias, com fontes mais sérias. Era o caso da campanha de George Bush, quando um programa de TV quisera desmerecer a reputação do presidente. Quando a farsa fora descoberta, o jornalista que deu a notícia foi obrigado a pedir publicamente desculpas aos telespectadores. No Brasil, em uma época negra de mentiras oficiais contadas pelo PT e pelo governo Lula, qualquer fábrica de desinformação esquerdista é dizimada pela direita virtual. Os sites de oposição ao PT conseguiram um espaço livre que foi negado em todo o resto. Se hoje há jornalistas como Reinaldo Azevedo, Olavo de Carvalho e sites como Mídia sem Máscara ou mesmo comunidades do orkut devastando o presidente Lula, é precisamente por causa dessa liberdade extrema que a internet nos proporciona, no quesito da informação. Pessoas e sites desse naipe raramente seriam vistos na TV. Falar a verdade se tornou perigoso neste país.

Por falar em orkut, talvez o site mais popular do país, é uma extensa fonte de informação sobre tudo aquilo que não sai na mídia oficial. As comunidades de oposição, como as fontes de informação são tantas, que o internauta virtual consegue ser bem mais esclarecido do que qualquer cidadão comum do país. Tais informações não se limitam à política: qualquer coisa que se queira buscar pode ser achada na internet. Livros, música, vídeos, arquivos, enfim, é um mercado totalmente livre da informação.

No entanto, as ong´s apologéticas da tal “inclusão digital” são, no mínimo, paradoxais. Com a mentalidade tipicamente esquerdista, acreditam no controle central de todas as informações pelo governo, seja em nome da segurança ou mesmo do financiamento da expansão da internet. Em outras palavras, a “inclusão digital” é permitida, contanto que seja patrocinada pelo governo. Aliás, se os “cybercafés” democratizaram, e muito, a internet em todo o Brasil, aqui na minha cidade, a prefeitura de Belém inventou um meio de podar o acesso virtual: sobretaxou as casas de internet e tentou inventar formas esdrúxulas de controle de acesso para os adolescentes. Se os donos dos cybercafés não pagassem as taxas, suas lojas seriam fechadas. A justificativa tola foi por causa de um duplo homicídio de garotos, que supostamente teriam usado a internet, para marcar encontro com o assassino. E como não poderia deixar de ser, os paladinos públicos do bem comum não se contentam em apenas controlar pontos de internet: eles querem registrar e policiar o nosso acesso, em nome da nossa segurança. Alardeiam combater o racismo, a pedofilia e a “homofobia” (se é que criticar a homossexualidade é realmente crime!). Mas é claro, a internet é um sistema temido por eles! E tal como os adolescentes que acessam os PC´s para falar com namoradas ou jogar RPG, o Estado quer nos tratar como menores, criancinhas indefesas. As ong´s, que estão por trás disso, as organizações dos Direitos Humanos e mesmo o governo, sabem mais sobre nossa segurança do que nós mesmos. Eles é que são sábios! Nós, os internautas livres, somos criminosos presumidos, pedófilos, racistas, preconceituosos, enquanto eles são humanistas, politicamente corretos, prontos para salvar o mundo do capitalismo selvagem, rumo ao paraíso socialista. Como se o paraíso socialista cubano e chinês fosse um primor de “inclusão digital”!

O maior “excluidor digital” deste país se chama governo. Esse governo que sufoca a população em impostos pesados, esse governo que tenta restringir o acesso à internet, em nome de proteger as crianças “cidadãs”, esse governo que cria leis absurdas, no intento de restringir o mercado virtual, tudo em nome do ódio anticapitalista. Com tais paladinos do bem comum, teremos tanta “inclusão digital” como os cubanos, os chineses ou os iranianos. “Exclusão digital”? Uma grande besteira!

Um comentário:

Unknown disse...

Conde, o que você disse é verdade. Na minha casa não tinhamos linha telefônica antes das privatizações simplesmente porque não podíamos pagar. Depois passamos a ter acesso a um leque de informações e cultura que antes nunca teríamos imaginado.

Também é verdade que a mídia omite informações. Nos jornais aqui do sul não se encontram informações tão contudentes quanto as que achamos na internet. Isso sem falar que devido a própria natureza da internet as notícias ficam disponíveis durante muito mais tempo e são mais facilmente encontradas, diferente de informações de jornais.

Olhando a coisa do ponto de vista do governo é perfeitamente natural que eles tenham medo da internet, pois ela representa um sério perigo para ele.