domingo, setembro 09, 2007

Economistas de botequim. . .

A crise que assola os Eua, com a chamada “bolha” das vendas imobiliárias, ou seja, a procura excessiva de bens imóveis, tanto como investimento ou como moeda de troca, através de hipoteca, pelos norte-americanos, na cabecinha oca do brasileiro esquerdista, tem como sinônimo, mais um colapso do capitalismo. Os economistas de botequim nos dizem, apocalípticos: isso é a prova de mais uma crise de superprodução do sistema “neoliberal”. Outros, mais messiânicos, divinizam a idéia do Estado como salvador-mor da economia de mercado. E todos viram profetas do Dia do Juízo Final, com bolas de cristal nas mãos, na sua hipotética sociedade futurista, no decrépito socialismo. É como se o Estado se auto-gerasse por multiplicação dos peixes e pudesse salvar toda a economia de um país, ainda que ninguém responda que o governo não produz nada. Parasita o povo. . .

É certo que o caso americano é delicado, pois os norte-americanos, felizes da vida com os juros baixos do Fed, empolgaram-se e torraram suas poupanças em casas e consumo de bens de fora. Como a euforia dos investimentos imobiliários está se esgotando, já que os preços estão ameaçando cair, os americanos se deparam com os riscos de perder uma boa parte de sua poupança gasta em imóveis, sem contar o não-pagamento da dividas com as hipotecas. O mundo sente o peso dos norte-americanos, porque além de serem muito ricos, eles consomem uma boa parte do que é produzido no mundo. Do Brasil à Europa, do Japão à China, os empresários adoram os consumidores norte-americanos. Até os cubanos imploram por eles, vide a cantilena imbecil do “embargo criminoso” dos Eua. Como os americanos ameaçam se descapitalizar, os mercados mundiais podem sentir o peso da perda do cliente, antes rico, tornado mais pobre.

O problema começou a surgir em 2006, quando o governo americano, querendo controlar o surto inflacionário, aumentou os juros. Investidores, atraídos pela alta das taxas do Fed, começaram a comprar títulos da divida pública e a liquidez do mercado começou a diminuir. Com a brusca queda da liquidez e a alta dos juros, os preços começaram a cair, enquanto os juros começaram a pesar no bolso dos investidores de imóveis e hipotecas. Aqueles que compraram ou aceitaram casas como garantias de investimento, sentiram-se prejudicados, porque o preço dos imóveis desvalorizou. E quem hipotecou a casa para pedir empréstimos, ficou endividado. É claro que estes problemas não são previstos. Na verdade, há de se entender que surtos especulativos demandam certa dose de risco e a “mania” do mercado imobiliário é um jogo tão parecido quanto investir na bolsa. A diferença, talvez, é pelo fato de que são investimentos em escala, e a expectativa racional dos investidores foi turvada por uma dose de fatores incapazes de se captar. Todavia, tal crise está longe do colapso do capitalismo e, tampouco, de uma justificativa milagrosa do Estado. Na verdade, nem os economistas têm certeza se a prevista queda de preços imobiliários é essencialmente uma “bolha”. A solução apresentada para o problema não demanda esforços milagrosos estatais, e sim esperar quais serão as reais conseqüências de seus efeitos.


No Brasil, como o empresariado, ou mesmo o cidadão comum, está acostumado a toda uma sorte de proteções mercantilistas, nada mais assusta do que o risco. Que dirá então de um acadêmico universitário, quase sempre ele, um funcionário público? Competir no mercado é arriscado, como qualquer investimento na área privada. Até porque o sucesso depende de vários fatores, entre os quais, as expectativas racionais dos empresários, na percepção dos desejos dos consumidores, e mesmo e a cautela necessária, para se precaver dos fatores imprevistos. O cotidiano das sociedades capitalistas é assim: o futuro só pertence a Deus. Na realidade, esses riscos e essas imprevisões econômicas não pertencem ao mundo capitalista, e sim à realidade em geral. Viver é um risco. Um homem medieval que plantava um pedaço de terra e esperava as boas colheitas tinha imprevistos piores do que nos dias de hoje. Um navegante europeu do século XVI que arriscava sua vida para comprar especiarias em outro lado do mundo das Índias tinha mais riscos de morrer do que um mercador de hoje. Como os recursos da natureza, naquela época, eram mais escassos, e a segurança, quase inexistente, os perigos da fome, da miséria e da morte eram bem mais acentuados. Na verdade, aquela frase bíblica famosa “viverás do suor do teu rosto”, é o preço que o homem sofre pela imprevisão. Os riscos atuais do mercado são bem menores do que outras épocas, pois a sociedade acumulou experiências e opções alternativas para fiascos visíveis. É bastante provável que o alerta geral a respeito dos preços artificiais dos negócios imobiliários alertem a muitos compradores sobre as perdas visíveis desse investimento, e o processo se estabilize. Quem o saberá?

No entanto, o século XX inventou uma falsa ilusão das previsões econômicas: a idéia mesma do planejamento estatal e da intervenção governamental na economia, em determinar os fundamentos finalísticos da produção, da demanda e do preço de mercado. Em nosso país, essa crença é disseminada como água, como se fosse competência do governo prever ou avalizar todos os vícios do mercado ou de qualquer indivíduo. Se não bastasse essa visão previdenciária da economia, há pessoas que acreditam que o Estado mesmo, por algum milagre, possa prever o futuro, e, em face disso, tenha algum poder de “planejar” a economia. A crença desse mito se deve, em parte, ao fato de que muitas pessoas não perguntam de onde vem o dinheiro, quando o Estado paga a conta alheia. Muitas pensam que o Estado fabrica riquezas de árvores e coleta moedas de frutos. O cidadão médio não vê relação dos gastos públicos do governo com a dinamização da economia ou mesmo com a margem do seu bolso. Até porque os impostos são tirados dele, e quanto mais se aumenta a carga tributária, seu poder de consumo diminui, o mercado se retrai, os investimentos encarecem e os preços das mercadorias ficam mais caros. Se a estatolatria cria uma falsa ilusão de segurança, que dirá então dos delírios socialistas em torno dela?


O estatismo econômico foi o maior fracasso do século XX, e seu exemplo mais prático, o socialismo, junto com suas vertentes marxistas, nacionalistas, desenvolvimentistas, mostrou ser um abismo tão deprimente, um preço tão caro em miséria e mortes, que sua repetição é um completo ato de loucura. A despeito dos fracassos do Estado gerenciador e empresarial, o mito persiste na doença mental da consciência universitária e mesmo de uma boa parte do público. O mote pseudo-racionalista e pseudo-científico do planejamento governamental, contra a “anarquia” do mercado, é um lugar comum da inteligentsia e de muitos acadêmicos que ainda defendem esse modelo falido. Isso compensa o temor dos riscos com que muitas pessoas lidam com o mercado. Daí a popularidade, em nosso país, como em muitos lugares do mundo, da mitificação do Estado contra os riscos e imprevistos individuais de cada um, como se o governo fosse uma espécie de oráculo do futuro. Essa idolatria chega a ser um sentimento religioso sublimado, um sinal de estupidez de nossos tempos. Muitos objetarão em defesa do Estado, dizendo que o mercado é imperfeito. E o Estado? O século XX provou que as previsões e perspectivas do mercado, ainda que falhas, são mais confiáveis do que as previsões de um burocrata da Gosplan soviética, do Fed americano ou do Ministro do Planejamento em Brasília. Se as perspectivas do mercado, formadas por milhões de pessoas, já são falhas, que dirá então da mágica de um burocrata adivinhar os riscos e as necessidades econômicas de um país, por milhões de pessoas? É como se o burocrata usurpasse os poderes do próprio Deus, em desvendar o futuro e as necessidades humanas.

Daí provém as declarações mais idiotas deste país: clama-se intervenção estatal para tudo quanto é problema de mercado, e, em particular, com relação à crise norte-americana. Para a esquerda, é a prova de que o capitalismo, mesmo o americano, fracassa. É a falsa idéia de segurança que conforta, ainda que ninguém pergunte quem é que vai pagar a conta do lanche. Neste aspecto, revela-se o quanto o Estado é injusto: para que ele pague a uma pessoa, outras vão ter que pagar. E para ele fazer o milagre da salvação da economia, deve sacrificar tantos outros para seus caprichos. O termo Leviatã seria mais que apropriado, na figura do gigantesco peixe bíblico que engole qualquer coisa menor. Só que este peixe, quando engole a sociedade inteira, acaba comendo suas próprias entranhas. Como o Estado pode salvar alguém, se ele é um elemento marginal das atividades econômicas e é sustentado pelos cidadãos desse Estado? Como ele pode milagrosamente sustentar uma sociedade inteira, se para isso, ele retira desta sociedade? É certo que em alguns casos específicos, a intervenção na economia pelo Estado é necessária, ainda que com riscos de seus sintomas colaterais. Porém, no geral, ele é perfeitamente dispensável, e muito do que é alegado sob sua competência, mais prejudica do que ajuda a economia. Não se está afirmando que a sociedade prescinda do Estado ou de qualquer corpo político, o que seria ingênuo. Há papéis que o Estado comporta perfeitamente, como leis, justiça, segurança pública, execução de contratos e defesa do território nacional. É o “statu”, comportando a ordem pública e a pacificação dos conflitos. Entretanto, em funções puramente empresariais e econômicas, o Estado mostrou ser um verdadeiro fiasco. Mesmo em papéis previdenciários ou mesmo educacionais, o Estado mostrou ser permissivo. A crise do welfare state, e o uso indevido, senão criminoso, da educação pública, como fonte de doutrinação ideológica pelos regimes totalitários, são exemplos fáticos das maléficas influências do Estado na vida civil. Mesmo o monopólio total da violência jamais pode ser concentrado na figura do Estado. O direito de se armar e de portar armas são garantias de segurança do cidadão comum contra as mazelas do Estado, quando não há outro poder para fiscalizar os fiscalizadores da ordem pública. O equilíbrio entre público e privado, Estado e sociedade civil, bem público e propriedade privada, “imperium” e “dominium”, deve existir, para a preservação da sociedade livre e eficiência e fiscalização das atitudes do Estado.


Discutir sobre economia na realidade brasileira e mesmo na vida acadêmica universitária é como conversa de botequim: cada bêbado revolucionário sonhando com o putsch cubano em um porre de rum. . .é a típica conversinha de botequim socialista. Esse pessoal é uma bolha sim, não do mercado, mas de herpes. E haja engov!

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