Este texto foi publicado no Mídia sem Máscara, no dia 27 de outubro de 2004. Como as velhas teorias estatizantes imbecis estão em voga na sociedade brasileira, achei necessário ressuscitar alguns textos dos meus arquivos. Com algumas pequenas adaptações e correções, uma boa leitura para meditar.
Presenciei uma história, no mínimo curiosa, que reflete muito bem a estupidez de nossos tempos. Em uma aula na Universidade Federal do Pará, uma aluna apresentou um projeto de monografia do curso de pedagogia, cujo titulo era “marketing educacional”, a uma professora, que é famosa por militar em um sindicato de professores universitários. O tema da abordagem da aluna era uma análise crítica a respeito das vantagens e desvantagens do marketing educacional, ou seja, da propaganda de mercado que a escolas fazem de sua qualidade na educação. Só o fato de a aluna ter colocado um titulo muito sugestivo e muito desafiador, deixou a professora de cabelo em pé. A aluna foi rotulada de alienada, porque “defendia o neoliberalismo”. Malgrado isso, a professora ainda disse que não havia nada de “crítico” no título “marketing” e repetiu a velha cantilena esquerdista de que a educação não é mercadoria e de que o mercado “só visa o lucro”. E como não devia deixar de ser, ela fez o maior sermão cultuando, numa espécie de sessão pornográfico-masoquista, as qualidades da educação publica, contra o nefasto projeto neoliberal de escolas privadas. Mas isso não é o bastante.
Certo dia eu tive a curiosidade de conversar sobre política com um empresário metido a ser simpatizante do PT, que é vizinho do comércio de minha mãe. Com uma aberração estranha ao senso comum, o bem sucedido empresário criticava os comerciantes e empresários, enquanto elevava a burocracia petista nas alturas celestiais. No cúmulo da incoerência, condenava os “lucros altos” das empresas, em relação aos salários baixos dos trabalhadores, como se os empresários fossem malvados saqueadores de assalariados. E no final, colocava as esperanças na burocracia petista, como se o Estado pudesse ser o salvador da pátria de nossos próprios problemas. Bem dizia Lênin que o burguês vende a corda que vai enforcá-lo. Se ele conhecesse esse nosso vizinho, os bolchevistas nem precisariam comprá-la, já que o tal comerciante a dava de graça.
Uma mera coincidência une os dois esquisitóides, a professora e o comerciante petista: a condenação moral do individualismo e do lucro. Vejamos. Para a nossa professora, funcionária pública e sindicalista, a intenção é muito clara no que diz respeito a seu horror ao “lucro” das escolas privadas: pura hipocrisia. O que nossa professorinha quer, como sindicalista, é apenas deter o monopólio da reserva de mercado relacionado aos professores do grupo sindical dela, ou seja, dos funcionários públicos. Ora, os lucros que as empresas de educação geram, serão frutos posteriores de novos empregos para professores. Gerar novas oportunidades de cargos privados, que poderiam empregar muito mais professores, não é o interesse de nossa sindicalista, uma curiosa contradição. Nem tanto. Se mais professores são contratados, a competição é mais acirrada, e sindicalistas como ela, que têm o emprego garantido, podem se sentir ameaçados. A razão é muito simples: sindicatos foram feitos para defender interesses corporativistas dos sindicalistas, não dos trabalhadores em geral.
De fato, com a concorrência das escolas privadas, a professora sindicalista não se dará ao luxo de fazer greves e mais greves, chantageando a população civil com o monopólio estatal da educação, já que o controle da escola ou universidade públicas é o monopólio de sindicalistas como ela. Quando esta professora condena as empresas que “só visam o lucro”, está condenando apenas a geração de empregos para novos professores, e ainda, novos concorrentes, que podem mostrar serviços melhores do que os dela. Isso explica o temor de professores públicos pelo malvado lucro e malvado “neoliberalismo”, se é que essa palavra tenha significado concreto. Por baixo dos panos, a ladainha esconde a falsa moralidade e o corporativismo mais desonesto, e interesses pessoais muito mais egoístas do que quaisquer atividades lucrativas. Ninguém quer perder as mamatas da loba. Somente isso. O pior é uma professora condenar o verdadeiro senso crítico de uma aluna, em nome do “senso crítico” deturpado de sua conveniência. Ou seja, em nome dos interesses estreitos e mesquinhos do corporativismo sindical, uma professora é capaz de censurar até o pensamento de uma aluna e negar que, no fundo, não passa de uma mulher visivelmente tendenciosa. É claro que a professora sindicalista afirma que educação “não é mercadoria”. Ela quer que a educação seja monopólio estatal somente dela e da turma dela. Defender a educação pública como virtude excelsa, com greves, aulas ruins, falta de professores, é só a defesa do emprego dela, contra o emprego de milhares de professores.
Vejamos o empresário petista. O pobre coitado está tão envolvido nas propagandas do governo, que crê piamente que é a culpado das desgraças nacionais. Aliás, há anos o povo é bombardeado por mil e um meios, crendo piamente que o empreendedor é um canalha em potencial, restando aos cidadãos outorgarem poderes autoritários ao Estado, para a gerência da economia. Ora, nossas campanhas para vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores e presidentes têm como meta demagógica a “criação de empregos”. Criação de empregos onde? Desde quando Estado tem o poder de criar empregos sem nepotismo, inépcia, endividamento público, corrupção, impostos arbitrários, entre outros métodos? Os políticos estão tirando da população o direito de buscar seus empregos, gerar seus negócios e empreender, mediante confisco sistemático do patrimônio privado da sociedade pelo Estado. E criando um mito em torno do empresário, escolhem um bode expiatório, simplesmente para parasitá-lo e extorqui-lo, para satisfação da classe política e burocrática. As nossas campanhas políticas eleitorais, com apelos paternalistas de mais emprego e renda vindo de um Estado usurpador dos bens da população, com mais impostos, tributos e intervenções arbitrárias, é algo que dá nojo, por tamanha desonestidade.
Não é por acaso, o empresário empreendedor é um ser vilipendiado, maltratado, hostilizado por todos, enquanto ele é o maior criador de empregos e renda deste país. Contudo, a ideologia antiempresarial domina de tal maneira os espíritos de muita gente, que até os empresários acabam fazendo o papel dessa farsa mitológica. Criou-se um estigma, como se o empresário fosse algo alheio ao povo, enquanto o político tivesse mais legitimidade que qualquer grupo social. A inversão de valores é notória. Aquele que concentra um poder elitista de violência estatal é nominalmente mais “popular” do que aquele que apenas gerencia com propriedade seus negócios. Isto porque, naturalmente, o voto popular, usado como simples artimanha demagógica, legitima até o pior e mais ditatorial dos poderes.
Nutre-se a crença de que o político que se critica e se odeia, com fama de ladrão, deve ter plenos poderes arbitrários para punir determinados setores da população, em nome da maioria. É curioso dar tamanha legitimidade para que o político tenha plenos poderes de extorsão, enquanto se culpa nos mesmos com a pecha de corruptos. Isto, claro, porque se acredita que os políticos tenham mais legitimidade para administrar a riqueza do que os donos do seu trabalho, sua riqueza e propriedade, apenas por uma moção de popularidade. É, em miúdos, uma esquizofrenia confusa, mesclada com uma idéia totalitária de Estado. O empresário petista que critica os seus colegas de oficio, enquanto elogia o político sanguessuga, que inventa projetos sociais apenas para se promover com mais poder, é apenas uma espécie decadente e suicida de um refém com síndrome de Estocolmo. Ele elogia o seqüestrador ou o assaltante, agradecendo pela sua vida, enquanto na prática, está a caminho do cadafalso. É, em suma, uma espécie de mulher estuprada, que agradece pelo estupro, pedindo mais carinho.
Se alguns empresários são ridicularizados como monstros empreendedores, outros são cúmplices dessas crenças antiliberais e anticompetitivas, já que é perfeitamente cômodo que o governo os escolha como privilegiados. Se o ingênuo vizinho da minha loja é petista por suicídio, outros o são por conveniências típicas e interesseiras de monopólio e regalias, comuns a qualquer lobby político. Condena-se o empresário empreendedor do comércio livre, para criar verdadeiros empresários estatais, com poderes monopólicos no mercado, através do Estado. Aí vêm os apelos protecionistas e nacionalistas, sem contar as empresas estatais, que entram na roda viva dos privilégios governamentais, às custas de quem está fora da mamata. Não é nada diferente da balela da professora sindicalista que condena a competição e o lucro de escolas privadas de educação, ao mesmo tempo em que defende escolas públicas deficitárias. Ambos defendem interesses privados, com a desculpa de que defendem interesses públicos.
Da mesma forma que temos os empresários estúpidos, que crêem que mais Estado é mais melhoria para a população, temos estudantes e professores de escolas privadas (ou mesmo alunos de escolas públicas) que comungam da bobagem crassa de que a educação deve ser totalmente estatal, ao gosto dos sindicalistas de plantão. Mal percebem que estes inocentes úteis fazem o jogo dos seus detratores. No final da história é sempre a mesma história: por trás do discurso antiindividualista, paternalista e voluntarioso de algumas pessoas, esconde-se interesses muito mais escusos e desonestos do que possamos imaginar. Decerto, o coletivismo serve para consagrar privilégios daqueles que o invocam, e para anular os direitos alheios, isto, com a subserviência dos que são prejudicados com essa mentalidade, achando que estão alargando os seus próprios direitos. E os apelos messiânicos, autoritários e antiliberais que dominam o discurso tanto dos políticos, como de alguns sindicalistas e empresários, isso somado às opiniões de uma boa parte do povo, só refletem o caos mental de nossa época tão medíocre.
Um comentário:
Conde,parabéns pelo seu Blog.Raramento lhe escrevo,mas saiba que o seu blog é muito importante para nós!Continue assim e parabéns pelo seu esforço e dedicação!
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