terça-feira, agosto 15, 2006

Universidade pública: ou laboratório de totalitarismo!


Quem se encontra numa universidade pública, deve se impressionar com a posição dos seus ditos “intelectuais” povoando as cátedras acadêmicas: o enorme desprezo pela idéia da liberdade. Muitos destes homens doutos simplesmente desconfiam desta palavra, encharcados que são por ideologias coletivistas. Tais lugares-comuns de idéias se embasam da negação da liberdade individual e da existência do individuo, em favor de uma ordem abstrata, consciente e racional de controle da sociedade.

Esta ordem racional na boca destes iluminados seria a glorificação inócua do “coletivo” sobre o indivíduo, personificado na glória de um poder estatal despótico e absoluto ou de um partido condutor de massas. A ladainha comum de grande parte dos acadêmicos é a do governo “forte”, messiânico, transformador do homem “corrompido” pelo individualismo. Essa transformação que nega o livre arbítrio do homem, que o torna apenas produto do meio ou servo das opiniões dominantes, é isso que estes intelectuais conspiram.

Porém o mais assustador é o que isto produz na comunidade acadêmica: uma verdadeira esterilidade intelectual, um consenso de pessoas ao instinto de massa ou de rebanho. Aliás, um conjunto de pessoas incapazes de seguirem pelos seus próprios conceitos, enclausurados nas mesmices corporativas e coletivas de preconceitos e idéias preestabelecidas e estereotipadas. De tanto negarem a idéia da liberdade humana, de tanto acreditarem que são produtos das forças materiais, da cultura, da educação, do meio, das conjunturas históricas e de outras rotulações abstratas, acabam sem perceber, por reproduzir tal papel com se fosse autêntico, numa espécie de servidão voluntária.

Se tais pessoas não fogem de padrões estabelecidos, por outro lado, a falta de iniciativa incorpora uma idéia de obediência e servilismo intelectual perniciosa. O coletivismo, que nega ou despreza as opiniões independentes, é propício ao poder despótico, uma vez que os indivíduos, incapazes e imaturos de refletirem por seus próprios meios e fazerem suas escolhas, alguém vai refletir e tomar a iniciativa por eles. Este será o ditador, o partido ou Estado absoluto. Na prática, tais intelectuais difundem uma idéia de fatalidade histórica, atribuindo-se a forças impessoais e abstratas, um destino inquebrantável dos atos humanos.

Tocqueville, em suas sábias conclusões sobre as “eras democráticas” e as atribuições coletivistas do determinismo histórico, bem previa com salutar lucidez, tais conseqüências:

“Se essa doutrina de fatalidade, que tem tantos atrativos para aqueles que escrevem a história nos tempos democráticos, passando de escritores a seus leitores, penetrasse assim em toda massa de cidadãos e se apoderasse do espírito público, pode-se prever que logo paralisaria o movimento das sociedades novas e reduziria os cristãos a turcos”.

É assim, de fato, que as cátedras estão se transformando, uma comunidade de turcos dóceis e obedientes, crentes de uma incapacidade de ação condicionada pelas fatalidades de possíveis “leis históricas” ou “científicas”. Ou então, quem sabe, a espera de um sultão.

Mas esta síndrome, misto de imprudência e venalidade entre os intelectuais, de certa forma penetra e mina os ânimos da sociedade, uma vez que esta inteligentsia possui enorme influência na opinião pública (tendo acolhida, inclusive, em certos setores da igreja católica!). Se a saga de um intelectual sério é a busca maior da liberdade de opinião e a capacidade de independência do pensamento, grande parte deles não cumpre este papel. Na pior das hipóteses, utilizam a liberdade de opinião para conspirar contra a própria liberdade, que, de fato, usufruem. Criticam os valores democráticos, individualistas e liberais, para patrocinarem uma nova ordem política muito mais tirânica e autoritária. Ou melhor, uma ordem totalitária, onde os atos, expressões e desejos humanos subjetivos serão sufocados em nome de uma coesão obediente de princípios e idéias impostas por um poder político ilimitado e rigidamente centralizado. O indivíduo e sua capacidade de iniciativa serão vilipendiados, aniquilados, para se tornarem massas submissas, reproduzindo as utopias perversas dos engenheiros sociais.

O pior, contudo, é o fanatismo incutido em tais idéias supostamente “progressistas”. O coletivismo apregoado reduz toda crença a um propósito de interesse corporativo, pouco importando a verdade ou mentira de suas premissas, a não ser, claro, se o grupo corporativo se beneficiar de tal credo. O conhecimento deixa de ser um modo de esclarecer para obscurecer. A crença não tem razão por si mesma, tampouco o sentido ético ou moral, apenas tendo utilidade aos agrados do poder instituído coletivamente, sendo relativizado aos agrados e desvarios luxuriosos das circunstâncias.

Quando muitos intelectuais militantes apregoam que o conhecimento, a ciência, a arte, a filosofia, e várias expressões do intelecto são frutos de “interesses de classe” ou de outras nomenclaturas corporativas, muito antes de definir a realidade, eles definem a sua própria visão de mundo, restrita a um grupo determinado com idéias e valores coesos. Cabe afirmar, como muitos o já afirmaram, que as inclinações corporativas e intelectuais totalitárias são tribais. Elas partem do pressuposto de uma identidade grupal perfeitamente organizada e desconfiada da universalidade e das diferenças do homem, ao mesmo tempo em que se auto-afirma como casta iluminada.

De fato, a consciência tribal é incompatível com a diferença, senão hostil a ela. E o coletivismo, com seu messianismo de ideais únicos e padronizados, confere uma aura mística a tribo, da mesma forma como se atribui o mesmo fenômeno aos grupos totalitários. É só observar certas condutas da inteligentsia, que muito antes de ser uma mera convicção política, possui um sentido quase de devoção e fé cega. Tal casta de eleitos possuem símbolos, idéias, aptidões e padrões que condicionam não somente a vida privada do individuo, mas até sua visão de mundo.

Isso é perfeitamente notório na desonestidade comum entre o universo intelectual de inspiração coletivista e totalitária. Se o ideal é um fim em si mesmo, logo, quaisquer métodos são válidos, ainda que ilimitados, desde que satisfaça a pretensão do ideal. Malgrado o fanatismo ideológico, sua premissa, insatisfeita, parece tornar válidos qualquer tipo de método, seja o mais degradante e violento possível, a fim de se realizar seu exercício de poder.

Quando certos tipos intelectuais condenam a violência ou a guerra em certos grupos que os desagradam, e ao mesmo tempo legitimam os crimes que favorecem a seu ideal, tais fatores apenas revelam o quanto de venais e inescrupulosos são determinados grupos. Na prática, os fatos aparentemente “morais” e a retórica indignada são apenas instrumentos políticos ou estratégias, de acordo com os dividendos e conveniências da busca do poder. Mas o radicalismo ideológico não se contenta em lidar com princípios éticos: a ideologia é o princípio maior, ainda que para consegui-lo, os escrúpulos sejam jogados na lata do lixo. Mentir, falsificar dados, ludibriar, enganar e manipular, são os instrumentos que se utilizam os totalitários de quase todas as ideologias, para adaptarem a realidade às premissas falsas de suas ideologias. Exemplos clássicos são os fascistas, nazistas e bolchevistas.

Um dos propósitos mais horrendos no coletivismo é sua propensão a intolerância e seu desprezo pela dissidência. Numa sociedade em que todos serão obrigados e condicionados a um padrão nivelador de igualdade, a diferença, em si, será hostilizada, como contrária a este ideal. Se o ideal é fim, logo, o individuo é mera engrenagem desta sociedade, podendo ser descartado se não cumprir o papel preestabelecido socialmente. O coletivismo é um ideal com sacrifícios inúteis, pois dissocia o bem estar humano da própria finalidade buscada. Em outras palavras, o individuo é usado como um meio para o ideal, que se torna um fim em si mesmo. O pior de todo propósito de intolerância ideológica é a distância entre a finalidade idealizada dos atos, pelos meios arbitrários de consegui-la. Na verdade, para tais grupos radicais, os fins justificam os meios, sejam eles quais sejam, na busca de um ideal. O curioso é que o fanatismo imposto pela ideologia é uma forma extravagante de alienação de sua finalidade com os objetivos humanos.

Por outro lado, o ódio à diferença é sinônimo de afirmação de uma idéia, um propósito permanente de coesão de grupo. Não basta somente a coesão ideológica. Deve-se escolher um rival em potencial, a fim de manter a unidade grupal. Neste repertorio estão o “judeu”, a “conspiração sionista”, o “burguês”, o “capitalista”, o “revisionista”, o “trotskista”, o “sabotador”, o "inimigo do povo", o “kulak”, o “neoliberal”, enfim, os bodes expiatórios que movem a sanha do totalitarismo. Se tais grupos não se vêem como indivíduos, e sim como meras representações corporativas, também é certo que para estes, os rivais não são nem humanos, mas apenas estereótipos corporativos proscritos.

Quando as ideologias e os radicalismos se fortalecem, a tendência de tais grupos é perderem o senso das proporções de seus atos. De fato, existem grupos, cujo radicalismo não se contenta em apregoar uma idéia, mas combater uma idéia: o fanatismo ideológico não só leva em conta a intolerância nos próprios princípios, mas também dos princípios alheios. Para que a ideologia sobreviva, não basta que ela se prove por si mesma, ela deve derrotar seus inimigos reais e imaginários. Já não vivem somente na razão de seus próprios fundamentos, mas na contestação dos fundamentos alheios.

Os métodos, de tão arbitrários e violentos, acabam por assemelhá-los na loucura, no despotismo e no raciocínio dogmático e maniqueísta de supostos contrários. Não existe meio termo. O grupo radical quase sempre se julga o “bem” e o todo o resto como “mal”. Neste caso, a dialética vulgar é uma sublimação do bem e do mal religioso, dos bonzinhos e malvados, dos escolhidos e condenados. E embora certos grupos queiram matar Deus na Terra, cada um a sua maneira, têm sua religião: o progresso, as “leis” da história, a dialética, o materialismo histórico, a ciência, etc. Ou então, para alguns grupos totalitários conservadores, a figura de um Deus ou de uma ordem tão autoritária e tão fanática quanto eles. Uma característica comum em vários desses grupos radicais, é que embora diferentes nos pressupostos ideológicos, seus métodos de raciocínio se parecem. Os extremos, tal como a curvatura da ferradura, se tocam. Não existe muita diferença nas artimanhas dos fascistas e dos comunistas radicais. A intransigência, a intolerância mórbida é mutua e patológica. Há quem diga que o ser humano tem mais propensão a odiar do que amar. Nada mais verdadeiro, como mostram os grupos intelectuais de inspiração totalitária.

Apesar de todo esse histórico horrendo, as ideologias coletivistas, que visam padronizar o individuo possuem enorme popularidade entre os intelectuais universitários e alguns grupos políticos radicais da inteligentsia. Em particular, o socialismo, ideologia tal qual desacreditada em boa parte do mundo, em alguns setores têm recepção de uma maneira desproporcional. Explica-se isso ao fanatismo, provincianismo e até mau caratismo de membros da comunidade acadêmica, obcecados pela idéia do poder.

Ou então, uma válvula de escape de frustrações e ressentimentos pessoais, na crença fantasmagórica das utopias salvacionistas e na culpa de supostas causa externas a nós. Tais raciocínios simplórios aliviam as tensões de certas pessoas na ilusão de certas idéias, justificando, até certo ponto, as suas agruras e decepções.

O pior, contudo, é que nosso país tem uma grande propensão ao totalitarismo. Tal afirmação, em parte, pode ser exagerada. Porém, quando se vê uma imprensa, uma opinião pública e uma grande soma de intelectuais tão homogêneos em opiniões e idéias, e quando tais grupos alimentam hostilidade à divergência, isto se deve ao fato de arraigar-se entre nós uma longa tradição autoritária, incapaz de se lidar com diferenças. Não se aprecia muito aqui o intelectual livre, polêmico e antipático, e sim o intelectual da moda, o que repete aquilo que todo mundo quer ouvir. Isto tem a ver com um país que apresenta uma escassa lista de respeito aos direitos civis, políticos e individuais, além de fracas instituições democráticas através de sua história.

Embora a opinião pública de nosso país seja livre, ela é não é necessariamente independente e autêntica. Ela opina com o poder e por temor de desfavorecer o poder. Somos um país de tradições fortemente corporativistas, onde as tramas das relações interpessoais desprezam o mérito e a qualidade subjetiva, em favor dos conluios e conchavos grupais. Em particular, as idéias coletivistas e socialistas possuem fortes apelos entre os intelectuais e afins, pelos próprios costumes patrimoniais herdados do país.

De fato, a história totalitária e despótica de certos paises tem muito a ver com as características tão comuns a nossa cultura política: instituições democráticas frágeis, grupos intelectuais radicais e um forte senso na idéia da população, de um poder paternalista e autoritário. A tendência paternalista possui em contrapartida, um desprezo completo a idéia de iniciativa própria, tachada como inconveniente ou usurpadora. Não é por acaso que a iniciativa privada neste país é vista com desdém, enquanto o Estado é visto como uma autoridade suprema, detentor da moralidade e dono da verdade. Uma contradição em termos, pois é a política intervencionista e autoritária do Estado, o maior obstáculo ao desenvolvimento econômico e político do país. Possui-se em nosso país uma reverência perniciosa ao poder, propícia ao populismo demagógico ou mesmo ao poder arbitrário.

Um dos atributos mais heróicos, salutares e virtuosos de uma pessoa é seu senso de independência moral, espiritual e intelectual. É esta capacidade inerente a algumas pessoas que fizeram o mundo melhor. Se ocidente possui regimes democráticos e valorizamos os direitos humanos, se criamos a arte ou a filosofia, devam-se a essas qualidades daqueles que amam a liberdade e a iniciativa de seguir por seus próprios pés, a ponto de questionar os poderes constituídos. São esses atributos que dão razão a valorização do homem, ou seja, o de um ser único, cuja personalidade não é um molde mecânico do meio, mas sim uma existência particular e insubstituível.

São nas sociedades liberais, onde se valoriza o individuo, é que prevalece a tolerância às diferenças e o respeito à livre iniciativa. Presume-se que tais sociedades não são uma massa compacta de pessoas, contudo, uma sociedade pluralista, em que as diferenças são respeitadas. A tolerância, por princípio, é uma virtude individualista, pois se pauta na idéia do respeito e no reconhecimento das escolhas do indivíduo.

Não se está falando do individualismo político, na idéia como vulgarmente é divulgada entre os intelectuais socialistas. Aliás, há uma idéia profundamente equivocada do que isso representa. O individualismo não significa a afirmação do egoísmo humano. Significa a valorização da pessoa humana e de suas escolhas particulares. Pode-se dizer até, que se o sentido mais negativo atribuído ao individualismo é o egocentrismo ou “egoísmo”, em contrapartida, é muito mais inofensivo do que o coletivismo absoluto. O egoísta só limita seus atos aos parâmetros de sua existência. Já o coletivista quer impor um princípio acima da vida e da escolha e todos. Muito antes de propor um interesse “social” ou “coletivo”, talvez a tendência ao coletivismo seja a mais egoísta, mais egocêntrica, mais nociva e intolerante, pela incapacidade de conviver com as diferenças em nome de um ideal.

Se certas tendências em nosso país são predominantes entre os intelectuais, e muito levadas em conta, tais como as ideologias radicais socialistas, isso é motivo de sérias preocupações, pelo desprezo que tais pensamentos zelam pela liberdade. É público e notório que os intelectuais conspiram para o caminho da servidão. Se a história não se repete totalmente, porém, alguns eventos históricos podem ocorrer novamente, uma vez que as escolhas de certos indivíduos primam pelos mesmos erros do passado. Em miúdos, são questões que nunca podemos subestimar, pela influência negativa que tais grupos têm na educação e na opinião pública. Os totalitários em nosso meio estão por aí revelando a finalidade de suas aspirações. Decerto querem transformar a sociedade de cristãos em turcos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, anjinho!

Só passei rapidinho pra deixar um beijo! As coisas estão corridas aqui!
TE ADORO! ;)