quinta-feira, agosto 03, 2006

O HOMEM E O MITO: Che, apenas um assassino!


Nos centros acadêmicos estudantis, principalmente àqueles em que a esquerda é mais atuante, é comum encontrar o retrato de Che Guevara na parede, simbolizando, aos olhos de seus fãs, a figura romântica de um idealista exaltado, de um eterno protetor dos fracos e oprimidos, contra os desmandos do imperialismo americano e do capitalismo internacional. Nas comemorações de trinta anos da morte de Che Guevara, milhares de adeptos o cultuaram como verdadeiro “santo” dos tempos contemporâneos, numa espécie de nostalgia de um suposto paraíso desconhecido: desde o Éden cubano na Ilha de Fidel, até as “revoluções populares”, as aventurescas revoltas armadas contra os malvados tiranos e caudilhos oligárquicos da América Latina. Contudo, a figura de Che Guevara, antes de ser uma figura romântica, simbólica e até histérica contra a opressão das políticas norte-americanas, o invólucro do mito não se sustenta no que foi o homem Che Guevara: um fanático, capaz de fuzilar seus inimigos políticos com uma crueza implacável, um ministro da economia medíocre, que levou Cuba à bancarrota econômica e um guerrilheiro incompetente, perdedor de quase todas as guerrilhas que participou, inclusive literalmente perdendo a vida para o mísero exército boliviano.

Mas o papel de Che Guevara, desde os tempos da Revolução Cubana até hoje fora este: o de um homem carismático, que transmitia, como relações-públicas do regime, o apelo pseudo-idealista, sentimentalista, na disfarçatez de um crônico irrealismo da revolução. De fato, Che Guevara agrada muito mais a uma classe média excluída, supostamente letrada e recalcada de estar à margem do poder, do que realmente o povo em si, que o vê na mais extrema a sábia indiferença. Che é um homem, que desde a sua ascensão política, sobreviveu no que ele nunca foi, (um verdadeiro idealista ou um grande político), numa completa aparência, numa mentira muito bem contada, para que as classes médias universitárias cabeças de vento e invejosas das classes dominantes, sempre o almejem e com ele se identifiquem, numa espécie de alter ego do arrivismo e do gosto pelo poder.

Grande parte da propaganda projeta uma história ingênua, o do jovem rico indignado com as misérias do Terceiro Mundo, a fim de libertar o povo do imperialismo americano. Che Guevara é um modismo, um rosto de uma classe média decadente, pseudo-voluntariosa e extremamente paternalista, que na falsa lisonja das massas e na defesa dos oprimidos, quer ser o novo opressor. Não é por acaso que Che, vindo da tradicional e decadente oligarquia argentina, antes de inspirar valores democráticos realmente populares, condiciona seus propósitos supostamente “libertários” ao velho caudilhismo latino-americano, com seus velhos líderes patrimonialistas, tirânicos, populistas e messiânicos, que adoram o mito para ocultar as mazelas de seu regime. O socialismo cubano é reflexo de uma velha ordem com nova roupagem, e Che, com sua cara bonitinha e simiesca da classe média, é a versão latino- americana do jacobinismo que veio a ser as revoluções do século XX: um complexo de ditaduras monstruosamente sufocantes, endêmicas de arbitrariedades, cruéis e desumanas em seus princípios de desprezo às liberdades individuais e as liberdades políticas (e até a vida humana). Che encarna valores políticos mais retrógrados e atrasados da América Latina, e em matéria de obediência e subserviência a autoridade constituída, nos ditames do fenômeno totalitário e do Estado absoluto.

Outro fator que favorece o mito Che Guevara, incapaz de se ver o “homem” no espelho, é porque a morte, antes de apagar o mito, acabou por privilegiá-lo, no provérbio que diz que a morte torna verdadeiros mortos físicos e morais em celebridades. Se Che vivesse até hoje, o máximo que este indivíduo atrairia seria um senhor desprezo por ser visivelmente um medíocre, como, aliás, sempre o foi, e pelas tolices verborrágicas, uns sonoros bocejos seriam freqüentes. Se em vida, Che viveu de mitos sobre sua pessoa, a morte o impediu da fazer mais asneiras, o que facilitou para o regime cubano e para as esquerdas, a preservação e o rebuscamento da farsa.

“Endureserse, pero, sin perder la ternura jamas”. Esta frase, pronunciada como sinônimo das virtudes revolucionárias, se observada pela ótica de quem a pronunciou, antes de expressar voluntarismo e poesia, só reflete sectarismo e fanatismo mórbido. Destarte, Che realmente “endureció” quando mandou fuzilar sumariamente centenas de inimigos sem julgamento justo e imparcial, justificando “la ternura”, com a retórica da “vingança do oprimido” contra os “opressores”. A apologia do idealismo se confunde com a romantização da violência institucionalizada, da opressão generalizada e da legitimação do crime feita por um Estado revolucionário. Antes de patrocinar a “vingança do povo”, é típico dos fanáticos projetarem para outros os atributos que lhe são próprios. Os fanáticos querem que todos sejam como eles ditam. Na Revolução Francesa, os jacobinos, insatisfeitos com as limitações do poder, apelavam a cada vez mais derramamento de sangue, mais guilhotina, mais perseguições políticas, mais prisões sem julgamento, para “purificar” a revolução com o sangue de seus opositores. O idealismo guevarista é o sinônimo rudimentar de um idealismo inócuo e perverso, levado às últimas conseqüências, pois o fanático, nada mais é do que um idealista exacerbado, que não tolera as diferenças que ameacem seu platonismo. O “oprimido” continua sendo o povo, e a Revolução Cubana apenas trocou o poder para um fanatismo mais elaborado do que o regime anterior, pragmático e venal. Os tribunais revolucionários são apenas o retrato de um novo poder, que se legitimando pelo “povo”, acabou por suprimir a liberdade do próprio povo. As vinganças de um regime, antes de serem vinganças populares, supostamente desforrando a violência contra antigos algozes, no caso, os colaboradores da ditadura de Fulgêncio Batista, foram retaliações patrocinadas pelo próprio Che, como Chefe dos tribunais revolucionários, que manipulando o povo, acabou por fazer atos de tirania, estendendo a repressão, não aos velhos donos do poder, mas a todo aquele que discordasse do regime. Che Guevara, antes de inspirar valores nobres, voluntarismo, preocupação com os oprimidos, não passa de uma verbosidade mal preparada, para àquelas pessoas que consomem a inocuidade de idéias geradas pela apelação barata e pelo folhetim propagandístico. “La Ternura” é a roupagem mitológica de um regime e de um homem, que em toda sua vida, só fez “endureser”, nos desmandos de um regime despótico e uma cartilha pseudo-revolucionária. Os Comitês de Salvação Pública e o “Terror”, em plena Revolução Francesa, não são meras coincidências perto do que foi ou é hoje os tribunais “revolucionários”; os jacobinos e seus descendentes guevaristas são a inspiração mais perfeita e acabada disso, da guilhotina republicana ao paredón revolucionário. Che está para o paredón cubano, como Saint-Just está para a guilhotina.

O mais incompreensível, contudo, são as admirações extasiadas pelos feitos militaristas de Che Guevara. Na revolução cubana, que foi ganha pela astúcia de Fidel Castro e pela inépcia do exército de Batista, Che Guevara acabou se tornando o garoto-propaganda dos guerrilheiros da Serra Maestra, na super exaltação de seus dotes de guerrilheiro. Na prática, porém, a capacidade militar de Che Guevara era sofrível, seus movimentos guerrilheiros eram inócuos, acabando por perder para exércitos igualmente medíocres, como as tropas congolesas e bolivianas. É cômica esta admiração a um militar tão ruim, pois ao contrário do que o seu mito apregoa, as táticas guerrilheiras de Che fizeram a festa dos exércitos, que debelaram com extrema facilidade, as guerrilhas comunistas na América Latina que se inspiraram nele.

Para as cátedras de economia que adoram criticar os monocórdicos economistas “direitistas”, os “neoliberais” e toda a sorte de economistas igualmente duvidosos e ineptos que regem o país, é um nonsense ostentar em seus centros acadêmicos, a mística e o retrato de Che Guevara como modelo político-econômico a ser seguido, pois o seu exemplo como ministro da economia cubana levou o país a uma hecatombe de racionamento pior do que o oferecido pelo embargo americano. Não é por acaso que sabiamente Fidel Castro se livrou o mais rápido o possível dele. Espertamente, se Fidel Castro o baniu sutilmente de Cuba, aproveitou o culto produzido pelo mito, a fim de promover os grupos guerrilheiros patrocinados pelo seu regime. Para a classe média “idealista”, a propaganda pegou como água, na horda de clones de Che Guevara espalhados pelas universidades, centros estudantis e acadêmicos, como um sacerdócio a ser seguido, na mistura de fanatismo sectário, culto messiânico e pressuposta defesa da “justiça social” e dos “oprimidos” com a apologia mais descarada da violência, da imoralidade política e da ditadura unipartidária. Os empresários e capitalistas, bem mais espertos, fizeram de uma podre mercadoria ideológica, uma marca de camiseta, ganhando rios de dinheiro. Bem que Fidel poderia cobrar patentes pela sua produção publicitária mais genuína. Com uma legião de pequenos burgueses entediados da vida, rebeldes sem causa e problemáticos com os pais, Che Guevara é um produto de consumo que enriquece, unindo o apelo folhetinesco com os hormônios exaltados de jovens desocupados, possuídos por uma aura de intelectualidade pretensiosa e de valoração duvidosa, que confundem popularidade com sabedoria, justiça com inquisição ideológica, discurso racional e senso crítico com demagogia acusatória e canina. Pelo menos o mito de Che serve para alguma coisa útil; gera empregos e capital nas indústrias têxteis.

Eis a explicação do mito e sua contradição com o homem, em que a vida denuncia o mito, a práxis desmente a teoria. Che Guevara é um produto ideológico que permanece intacto, numa reputação fabricada e inexistente que nunca foi tocada, pela cumplicidade tendenciosa de seus cultores e pela unanimidade monolítica de seus admiradores. Munidos de uma grosseira fantasia, injetam projeções libertárias em um homem que nada inspirou de autêntico como legado, a não ser a demagogia, o lugar-comum, o fanatismo ideológico e a ditadura como modelo, além da superficialidade cultural dos universitários, que incapazes de se libertar de um atavismo ideológico decadente, (de um fanatismo rústico transformado em “idealismo”), precisam chorar o leite derramado na perda das verdades prontas e absolutas. Ademais, choram sem razão, pois os cubanos, soviéticos e tutti quantti, têm razões de sobra a chorar, e de Che Guevara e adjacências, estes cidadãos não têm motivos para idealizar, só para ter pesadelos.

9 comentários:

Anônimo disse...

"Pelo menos o mito de Che serve para alguma coisa útil; gera empregos e capital nas indústrias têxteis".

Hahahahaha!...

Anônimo disse...

Querido,

apaguei há pouco tempo meu perfil no Orkut porque estava recebendo muitos scraps desrespeitosos (sobretudo nazis me ofendendo ou então cantadas grosseiras). Meu namorado não gostou nadinha e então eu encerrei minha conta. Infelizmente a gente só pode se falar um pouquinho por aqui mesmo. Se eu não tivesse um namorado tão ciumento te passaria meu MSN. Aliás, se eu não tivesse namorado imaginaria "coisas" contigo. Ai, que maldade, ainda bem que ele não conhece seu blog! Mas bem que eu queria que ele tivesse a sua inteligência, coragem e capacidade de escrever bem!

Beijos! Te adoro!

Sarinha

Anônimo disse...

ELe não precisa saber. E eu sei respeitar a mulher dos outros. . .

Anônimo disse...

Vou pensar no seu caso... ;)


Onde vc mora?

Beijos!

Sarah

Anônimo disse...

Eu moro em Belém do Pará. e vc. ..

Anônimo disse...

Ai, é tão longe!!!
Moro em São Paulo, Higienópolis.

Anônimo disse...

Ai, é tão longe!!!
Moro em São Paulo, Higienópolis.

Anônimo disse...

Higienópolis, tipico bairro judeu de São Paulo. Quando eu vou por aí, eu sempre me hospedo perto de sua casa. Mas, passa aí o msn pra gente conversar. . .

Lela disse...

devo admitir que realmente me impressionei,e assino em baixo de tudo que foi escrito! Pena que existam pessoas coma mente tão fechada!