
Há algo que detesto acompanhar, que é a política do Pará. Não que o Pará não tenha certa importância na política do meu cotidiano. Porém, tal como outras capitais brasileiras, salvo raríssimas exceções, são as mesmas caras políticas, os mesmos corruptos de sempre! O PMDB de Jader Barbalho é a corrupção tradicional: se alguém é mais sinônimo de corrupção no Pará, reconhecido no país inteiro, o nome de Jader Barbalho fala por si só. Não que Jader não seja um brilhante político: é um homem de uma inteligência fora do comum. É interessante observar que muitos do sul e sudeste crêem piamente que Jader é um coronel do Pará. Nada mais errado que isso. Jader é um político de bastidores, de articulações nas câmaras escuras do poder, nunca foi um “painho”, como seu rival ACM, da Bahia. Jader é sofisticado demais pra ser um coronel nordestino. Ele é um político tipicamente urbano, com um discurso populista característico do PMDB. Para os interioranos que prestam uma certa devoção a ele, está mais para o “dotôr” do que um “coroner”. Todavia, como já dizia a frase latina, “corruptio optimi pessima”, a corrupção dos ótimos é péssima. Jader Barbalho poderia ser um glorioso estadista, se tivesse algo chamado “caráter”. Como é mau caráter, só lhe resta a pose de um extraordinário ladrão de casaca. Banpará e Sudam que o digam, galinhas dos ovos de ouro de seu patrimônio pessoal. . .
Mas ele não é o único. Simão Jatene, o governador do Pará, tem uma fama nada bela de corrupção. Ele é acusado de perdoar as dívidas tributárias da cervejaria paraense Cerpa, financiadora de sua campanha. Aliás, Almir Gabriel, seu aliado, tem uma péssima fama de promover corruptos: se não é o governador Jatene, é o senador Luis Otávio Campos, um bandido de mão cheia, que de tão barato, roubou treze milhões de dólares do Banco do Brasil, para financiar uma empresa de navegação falida. Que dirá do prefeito de Belém, Duciomar Costa, famoso charlatão e falso médico, acusado dos trambiques mais vulgares que se há noticia! Isso porque o eleitor paraense, cansado dos desmandos da incompetência e autoritarismo corrupto petista de Edmilson Rodrigues, resolveu agüentar o risco de votar no charlatão pra mudar a esfera administrativa! Há também o ex-senador Ademir Andrade, famoso andrajo de moralista, cujo vexame foi ter sido preso por causa das falcatruas das Companhias das Docas do Pará. Quem já viu a criatura falando, acredita piamente que é o paladino da moralidade santarrona mais soberba. Nós, os pobres eleitores do Pará, votamos numa balança de relação custo e benefício: a relação do menos corrupto que mais faz, o velho dilema “rouba, mas faz”! Se na elite política paraense é assim, o caos de vigarice política no interior do Pará é algo assustador e legitimado! A Assembléia Legislativa, nem se fala! E a Câmara Municipal de Belém é o cabide de emprego e rapinagem do dinheiro público por excelência!
Quando se vê tamanhas falcatruas, tamanhas patifarias administrativas e vultosas fortunas com o dinheiro público, chega-se a seguinte conclusão, entre patética, trágica e cômica: o cidadão honesto é um cidadão de segunda classe, enquanto esses homens que estão no poder possuem um status jurídico diferenciado de todo o resto da nação. Todos sabemos que corrompem, em maior ou menor grau. Que se houvesse leis sérias, judiciários independentes e Ministérios Públicos combativos, todos eles estariam na cadeia. Contudo, a impunidade dá um caráter privilegiado, diferenciado dos demais. Em outras palavras, o político corrupto brasileiro é um sujeito que se diferencia do brasileiro médio, precisamente porque está acima das leis, pois é uma casta instituída. As escolhas do eleitor refletem um alto grau de impotência a respeito de suas oportunidades de escolher. É a mesmice de sempre, os velhos potentados, tal qual uma velha aristocracia feudal, que confundem seu patrimônio privado com o patrimônio público do povo. Esta casta de corruptos se perpetua no poder, precisamente porque os mecanismos de proteção do povo contra os governantes absolutistas são escassos, senão inexistentes. Os cidadãos brasileiros estão simplesmente desarmados contra essa máfia de criminosos. . . porque a lei é para os inimigos, e aos amigos tudo!
A política brasileira se retrata num aspecto curioso: raramente uma pessoa honesta derruba um corrupto. Collor de Mello foi derrubado por um Congresso Nacional picareta dos anões, tal como Jader Barbalho foi preso, supostamente, por pressão de seu inimigo, o senador ACM da Bahia. Na verdade, a campanha de moralização neste país, nada mais é do que uma briga de dossiês de corruptos lutando entre si, cada um pedindo a cabeça do outro, como urubus na carniça. Será coincidência que o partido mais incrivelmente corrupto do Brasil foi o mesmo que se promoveu na “Campanha da ética na Política”? Contudo, como diria o ex-presidente bebum Jânio Quadros, são as “forças terríveis” que movem este país.
O povo, metade vitima, também se torna metade cúmplice. Há uma espécie de satisfação com a corrupção, ainda que alguém a condene publicamente. Uma parte do eleitorado médio, apático, tolerante, compassivo com a corrupção alheia, talvez sonhasse em ser o corrupto, se também possuísse o poder de governar. Ora, uma boa parte desses políticos se elegem oferecendo mundos e fundos aos seus currais eleitorais! São cabides de empregos, facilidades governamentais, cestas básicas, privilégios, tudo para distinguir o cidadão comum dos demais! Não que estas mazelas não existam em países mais sérios. Porém, enquanto lá é exceção, aqui é regra. Há uma certa condescendência do eleitor médio com a corrupção, ora por apatia, ora por interesse. E ninguém consegue pensar que o preço a ser pago pela falta de moralidade pública é a desmoralização das instituições democráticas e a falência do Estado Brasileiro. Pior, os serviços públicos não funcionam, os cidadãos ficam mais pobres e miseráveis e nem se cogita que, o eleitor médio vendido ao político que o seduz, está, na verdade, se vendendo com o próprio dinheiro que paga! E não pensemos que alguns eleitores se vendem por pratos de comida! Muitos se vendem por preços maiores!
Não é por acaso que a corrupção, historicamente consagrada, está se tornando instituição de status no Estado Brasileiro. Só que ficou descarado, público e notório. O petismo que governa o poder hoje é fruto do mesmíssimo pensamento de alguns eleitores e políticos que encontramos no Pará. A diferença é que um grupo político inventou um pretexto fantástico para justificar a própria imoralidade: se todo mundo é presumivelmente corrupto na política, logo, os petistas também têm o direito de sê-lo. Nada mais autêntico que a corrupção petista! E o resto é discurso “udenista”. . .
Os cidadãos honestos dessa república são servos de uma casta estatal. Estão abaixo da lei, tratados como reles bezerros no pasto, enquanto os iníquos, os canalhas, os desonestos e as aves de rapina da pior espécie estão no poder. Enquanto o cidadão comum pode ser preso pelos crimes mais insignificantes, os corruptores-mores da república têm foro privilegiado e um arcabouço legal de impunidade que os tornam intocáveis. Os cidadãos comuns pagam tributos exorbitantes aos déspotas, tal qual pagariam tributos a César. Mal se percebe que neste país, há um abismo intransponível entre a classe política estatal e os cidadãos comuns. Do Presidente da República ao prefeito do município, todos possuem privilégios de casta e quase todos são corruptos! Atestado de honestidade é anátema, coisa das castas marginais da sociedade. E num país onde o marasmo e a torpeza são relevadas com anormal tolerância, só nos resta a criminalidade institucional tomar tudo, como aliás, já tomou: o governo federal fala por si mesmo! Se o Pará é um caso perdido, que dirá do Brasil. . .
Leonardo Bruno
Belém, Pará, 18 de agosto de 2006
Belém, Pará, 18 de agosto de 2006
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