O totalitarismo chavista esmaga a liberdade de expressão dos jornalistas.
Jornalistas agredidos pela polícia, sob as ordens de Chavez. Contra fatos, não há argumentos.
Um comentário:
Anônimo
disse...
TV DA VENEZUELA É MAIS PLURAL QUE A DO BRASIL O repórter especial da TV Record, Rodrigo Vianna, fez uma série de reportagens para o Jornal da Record na Venezuela, durante o referendo sobre a emenda constitucional proposta por Hugo Chávez e que previa a reeleição ilimitada. As quatro reportagens foram veiculadas pelo Jornal da Record entre o final de dezembro e o início deste mês.
Rodrigo Vianna disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta terça-feira, dia 09, que a TV venezuelana é mais plural do que a TV brasileira (clique aqui para ouvir o áudio).
Segundo Vianna, há dois blocos de TVs: um bloco das TVs privadas, de oposição a Chávez e outro bloco de TVs estatais, que apóiam o Presidente da Venezuela.
"Existe na mídia venezuelana dois campos muito bem demarcados. De um lado você tem TVs privadas, especialmente a Globovisión e o que sobrou da RCTV, são as duas TVs privadas que batem, mas batem o tempo todo, não se ouve o Governo, é pancada o tempo todo no Governo do Hugo Chávez. E de outro lado tem as estatais", disse Vianna.
Segundo Vianna, as TVs estatais são três: Venezoelana de Televisión (VTV), a TVES, que ocupou o sinal da antiga RCTV e a Vive TV, que tem uma programação mais cultural.
Rodrigo Vianna disse que a VTV não é maior do que as comerciais, mas, ao contrário do que ocorre no Brasil, essa emissora estatal briga pelo segundo e terceiro lugar na disputa pela audiência. "Ela funciona como um contraponto na Venezuela, realmente... Quem bate muito é a Globovisión, que curiosamente tem esse mesmo nome", disse Vianna.
Vianna disse que os dois blocos de TVs "não se comunicam". Ou seja, quando critica o Governo, as TVs de oposição não dão espaço ao Governo. E quando as TVs estatais defendem o Governo, não dão espaço para a oposição.
Segundo Vianna, o espectador venezuelano fica melhor informado que o brasileiro, porque pode ter acesso às duas versões diferentes.
Leia a íntegra da entrevista com Rodrigo Vianna:
Paulo Henrique Amorim – Rodrigo, você acabou de fazer uma série de reportagens depois de realizar uma viagem pela Venezuela. Quais foram os temas dessas reportagens e quantas foram as reportagens?
Rodrigo Vianna – Paulo, a gente foi para a Venezuela em dezembro acompanhar o referendo sobre a reforma constitucional venezuelana e acabamos ficando lá por mais uma semana, eu digo acabamos porque fui eu e o cinegrafista Josias Erdei. Acabamos ficando mais uma semana por lá e fazer uma série de matérias mais especiais sobre alguns temas: economia, mídia e o confronto político, o clima de confronto permanente que há na Venezuela. Basicamente os temas foram esses e aí, na volta, nós editamos esse material e exibimos no Jornal da Record entre o final de dezembro e o início de janeiro, agora.
Paulo Henrique Amorim – Vamos falar da mídia depois, mas me dá aí, em rápidas palavras o que é que você falou sobre a economia e sobre confronto político.
Rodrigo Vianna – A matéria de economia a gente procurou mostra que a Venezuela é um país que baseia a sua economia no petróleo, como é conhecido. A gasolina baratíssima, o que chama muita atenção, é mais barato encher o tanque de gasolina do que comprar água mineral. E o país, por causa disso, é rico, mas tem uma fragilidade porque não consegue produzir quase nada internamente. Os especialistas chamam de doença Holandesa. Exporta petróleo, inunda de dólares a economia e não consegue produzir mais nada, quase, ali dentro. Isso gera alguns problemas como na área de abastecimento, como nós constatamos ali, os supermercados de classe média com falta de abastecimento em produtos como abastecimento, como açúcar e, de outro lado, os grandes mercados que o Chávez promove pelo país, que são centrais de abastecimento que vende produtos mais baratos para a população. Então, a gente foi conversar com a população nesses grandes feirões promovido pelo Chávez, onde se vende comida, basicamente comida.
Paulo Henrique Amorim – Na questão ainda econômica, você pode observar como é a relação do Brasil na área econômica com a Venezuela, quais as vantagens que o Brasil leva?
Rodrigo Vianna – Na reportagem sobre economia a gente mostrou que esse grande feirão, esse mercado promovido nas ruas de Caracas, os produtos como frango e carne são basicamente brasileiros. A Sadia está vendendo frango como nunca na Venezuela, os produtores de carne bovina estão vendendo muito. Fora os acordos com Petrobrás e tudo, mas nessa área de alimentos eu colhi lá informações de que os venezuelanos das classes mais pobres nunca consumiram tanta proteína como agora, porque há programas de transferência de renda, como aqui no Brasil. Então, o consumo de carne e frango aumentou e onde que eles compram isso? No Brasil. Para o Brasil a relação com Chávez é ótima, os empresários brasileiros estão ganhando dinheiro lá na Venezuela enquanto a nossa imprensa aqui ficam querendo atacar o Chávez.
Paulo Henrique Amorim – E com relação ao confronto político, por exemplo, a derrota dele no referendo se, aparentemente, as pesquisas diziam que ele iria ganhar o referendo. As pesquisas erraram tanto quanto erraram ontem em New Hempshire.
Rodrigo Vianna – O que aconteceu foi o seguinte, a oposição quase não cresceu na Venezuela. Se você compara os números do referendo do dia 02 de dezembro com a eleição anterior em que o Chávez ganhou a eleição, ou seja, um ano antes, a oposição teve 4,5 milhões votos agora no referendo e na eleição anterior 4,3 milhões, cresceu muito pouquinho. O que aconteceu é que o chavismo encolheu. O Chávez teve mais de 7 milhões de votos em 2006 e agora, no referendo em 2007, ele teve 4,3 milhões. Três milhões de chavistas não foram às urnas., uma abstenção alta. Como nos Estados Unidos, na Venezuela o voto não é obrigatório e boa parte dos chavistas preferiu não votar. Existem várias explicações para isso, desde questões econômicas, porque há alguma inflação na Venezuela que está preocupando as pessoas, críticas à gestão do governo, a população apóia fortemente Hugo Chávez, o discurso e projetos, mas em alguns pontos os projetos não funcionam tão bem, isso foi dito lá por alguns especialistas e cientistas políticos. Eu contatei na rua, também, lixo na rua em Caracas, então há falhas na gestão, propriamente. E esse clima de confronto que uma parte do chavismo não gostou dessa coisa, o Chávez colocou a questão assim: votar “Sim” é votar em Chávez, votar “Não” é votar com o Bush. Parte do chavismo parece que não entrou nessa, não seguiu o Chávez de maneira tão unilateral.
Paulo Henrique Amorim – Agora, vamos falar da mídia. Como é que é a imprensa escrita na Venezuela?
Rodrigo Vianna – Olha, a imprensa escrita é uma coisa impressionante, mais impressionante até do que a nossa, aqui no Brasil. No dia seguinte à vitória da oposição, uma vitória legítima reconhecida pelo Hugo Chávez, os jornais todos traziam de opinião do jornal os jornais todos traziam o artigo do jornal El Universal, a página de opinião. Todos os artigos eram comemorando a vitória da oposição. Não havia ninguém ponderando, não havia ninguém pelo lado do governo. Não tem outro lado, é unilateral. O El Universal, El Nacional – que é outro jornal grande, não tem uma tiragem espetacular, mas são os jornais maiores de Caracas. Então, na imprensa escrita, é pancada no Chávez o tempo todo. É algo completamente unilateral. Mais do que no Brasil.
Paulo Henrique Amorim – E como é na televisão?
Rodrigo Vianna – A televisão também chama muita atenção. Eu, pelo menos, cresci nessa escola de ouvir o outro lado, de ter sempre uma tentativa – apenas de não acreditar em neutralidade, nunca acreditei nisso –, mas de buscar o outro lado, o apego à verdade factual, pelo menos, existe na mídia venezuelana dois pontos muito bem demarcados. De um lado você TVs privadas, especialmente a Globovisión, e o que sobrou da RCTV, que continua operando em cabo. São as duas TVs privadas que batem, mas batem o tempo todo. Não se ouve o Governo, é pancada o tempo todo no Governo do Hugo Chávez. E do outro lado as TVs estatais.
Paulo Henrique Amorim – Quantas são as estatais?
Rodrigo Vianna – As estatais são três. A Venezuelana de Televisión, que é a maior televisão, VTV.
Paulo Henrique Amorim – Ela é maior que as comerciais?
Rodrigo Vianna – Ela não é maior, mas me surpreendeu porque, ao contrário do que acontece aqui no Brasil, ela tem uma audiência bastante razoável. E disse um jornalista, correspondente brasileiro que está lá já há alguns anos, que a TV estatal briga pelo segundo, terceiro lugar de audiência. Então, ela funciona como um contraponto ali na Venezuela, realmente.
Paulo Henrique Amorim – A líder é a Globovisión, do Cisneros?
Rodrigo Vianna – Eu tenho a impressão que é a Globosión, não tenho certeza. A Globovisión não é do Cisneros. A Venevisión é do Cisneros. E a Venevisión tem uma postura um pouco mais moderada nos últimos anos. Até dizem que o Cisneros teria fechado um acordo com o Chávez e eles teriam se entendido de alguma maneira, e o clima entre Chávez e o Governo e a Venevisión está um pouco mais tranqüilo. Quem bate muito é a Globovisión, curiosamente tem esse mesmo nome, né?
Paulo Henrique Amorim – Quando as TVs estatais falam da oposição também é uma coisa unilateral.
Rodrigo Vianna – Também. É isso que chama a atenção da gente. Então, pelo lado das estatais, tem uma TV chamada TVES, que ocupou o sinal da antiga RCTV e tem uma terceira que se chama Vive TV, que é uma TV mais cultural, de programação sobre as comunidades do interior da Venezuela e todas elas têm um forte apelo de divulgar os projetos do Governo, é inegável que se fazem ali propaganda de projetos e as realizações do Governo do Hugo Chávez. A oposição ali não aparece, não tem voz para a oposição na TV estatal da Venezuela. Eu conversei com o diretor da Vive TV – que é uma dessas três TVs – e perguntei: para a gente parece exagerado, para quem chega de fora. Ele disse: ‘Mas você tem que entender o processo político aqui na Venezuela’. E aí relembramos juntos o que aconteceu em 2002, quando o Chávez foi derrubado por dois dias por um golpe midiático, com forte apoio da mídia.
Paulo Henrique Amorim – Foi o primeiro golpe da televisão.
Rodrigo Vianna – Foi um golpe midiático. Isso está retratado, você deve conhecer isso bem aí...
Paulo Henrique Amorim – Tem um documentário perfeito sobre isso.
Rodrigo Vianna – Exatamente, é aquele documentário ‘A Revolução não Será Televisionada’, e mostra muito bem o papel da televisão no golpe contra Hugo Chávez. Por isso o governo adota essa estratégia. Ele diz: ‘Nós precisamos enfrentar a matriz ideológica da oposição, oferecendo uma outra matriz ideológica em defesa do projeto que está no governo’.
Paulo Henrique Amorim – São dois blocos sólidos de concreto.
Rodrigo Vianna – Isso. São dois blocos que não se comunicam. É muito impressionante. Como a história dessa conversa com o Cisneros, mas isso não fica muito claro. Ela teria acontecido nos bastidores, essa conversa entre o Hugo Chávez e o Cisneros, que é um grande empresário da mídia da Venezuela.
Paulo Henrique Amorim – Quando você quer ouvir a favor do governo, você vai nessa televisão estatal, se você quer ouvir contra o governo, você vai nas emissoras privadas e estamos conversados...
Rodrigo Vianna – Pois é, de alguma maneira o público, eu até fazia isso todas as noites lá enquanto estava trabalhando, o público acaba se informando bem, porque tem os dois lados disponíveis na televisão. E aí eu me pergunto se aqui no Brasil a gente tem acesso a esses dois lados também. Apesar de achar que o conteúdo é um pouco violento demais na Venezuela, na mídia, violento verbalmente eu digo, mas, de alguma maneira os dois lados estão presentes, o público tem acesso aos dois lados das histórias assistindo as televisões privadas e a TV estatal. Tem uma liberdade de informação na Venezuela.
Paulo Henrique Amorim – Você diria que tem mais do que aqui? Você diria que na Venezuela tem mais pluralidade de informação do que aqui?
Rodrigo Vianna – Olha, eu acho que é possível dizer isso sim. Eu não vejo por exemplo, a esquerda... não tem acesso à televisão. O que se chama de esquerda não pode ir para televisão e defender o socialismo, por exemplo, na Venezuela tem gente defendendo o socialismo. Na TV estatal o projeto socialista, enfim, tem espaço para todo mundo. Do outro lado tem uma oposição conservadora falando nos canais privados. No Brasil a gente vai até só uma parte disso, há uma aparência de pluralismo, mas como nós conhecemos bem a história, esse pluralismo fica pelo meio do caminho, com algumas exceções.
Paulo Henrique Amorim – Deixa eu lhe perguntar uma coisa, e como é que é o tratamento ao Bush na TV estatal e na TV da oposição?
Rodrigo Vianna – Na TV de oposição pouco se fala do Bush. Acho que ele se tornou um personagem tão desacreditado no mundo inteiro que a oposição venezuelana também não usa o Bush para atacar o Chávez. Agora, a TV do Chávez ataca o Bush o tempo todo. Por exemplo, quando teve o referendo, houve uma declaração do Bush ou do governo Bush dizendo que tinha ganho a democracia na Venezuela, dando a entender que se o Chávez ganhasse tinha ganho o autoritarismo, aí abre espaço para um leque de jornalistas e comentaristas da TV estatal atacarem muito o Bush. É um figura demonizada pela TV estatal venezuelana.
Paulo Henrique Amorim – Você acha que o Chávez vai querer a reeleição continuada?
Rodrigo Vianna – Eu acho que ele quer e vai insistir, porque há uma brecha na Constituição venezuelana atual que prevê que a reforma constitucional ela pode ser por iniciativa do executivo, como foi essa em que ele perdeu em dezembro. Há outra possibilidade é a reforma constitucional com a assinatura de 15% dos eleitores. Essa segunda forma ainda pode ser tentada pelo chavismo. Apresentar um projeto que, por exemplo, prevê reeleição continuada com as assinaturas de 15% dos eleitores e levar isso para um outro referendo. Isso não agora, porque seria um desgaste enorme, talvez daqui um ano, dois anos ele pode voltar a carga e reapresentar esse projeto.
Paulo Henrique Amorim – O mandato atual dele vai até quando?
Rodrigo Vianna – Olha, 2012 ou 2013, não me lembro agora de cabeça.
Paulo Henrique Amorim – Bom, para fazer isso ele tem tempo (risos).
Rodrigo Vianna – Tem bastante tempo para isso, não é?
Um comentário:
TV DA VENEZUELA É MAIS PLURAL QUE A DO BRASIL
O repórter especial da TV Record, Rodrigo Vianna, fez uma série de reportagens para o Jornal da Record na Venezuela, durante o referendo sobre a emenda constitucional proposta por Hugo Chávez e que previa a reeleição ilimitada. As quatro reportagens foram veiculadas pelo Jornal da Record entre o final de dezembro e o início deste mês.
Rodrigo Vianna disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta terça-feira, dia 09, que a TV venezuelana é mais plural do que a TV brasileira (clique aqui para ouvir o áudio).
Segundo Vianna, há dois blocos de TVs: um bloco das TVs privadas, de oposição a Chávez e outro bloco de TVs estatais, que apóiam o Presidente da Venezuela.
"Existe na mídia venezuelana dois campos muito bem demarcados. De um lado você tem TVs privadas, especialmente a Globovisión e o que sobrou da RCTV, são as duas TVs privadas que batem, mas batem o tempo todo, não se ouve o Governo, é pancada o tempo todo no Governo do Hugo Chávez. E de outro lado tem as estatais", disse Vianna.
Segundo Vianna, as TVs estatais são três: Venezoelana de Televisión (VTV), a TVES, que ocupou o sinal da antiga RCTV e a Vive TV, que tem uma programação mais cultural.
Rodrigo Vianna disse que a VTV não é maior do que as comerciais, mas, ao contrário do que ocorre no Brasil, essa emissora estatal briga pelo segundo e terceiro lugar na disputa pela audiência. "Ela funciona como um contraponto na Venezuela, realmente... Quem bate muito é a Globovisión, que curiosamente tem esse mesmo nome", disse Vianna.
Vianna disse que os dois blocos de TVs "não se comunicam". Ou seja, quando critica o Governo, as TVs de oposição não dão espaço ao Governo. E quando as TVs estatais defendem o Governo, não dão espaço para a oposição.
Segundo Vianna, o espectador venezuelano fica melhor informado que o brasileiro, porque pode ter acesso às duas versões diferentes.
Leia a íntegra da entrevista com Rodrigo Vianna:
Paulo Henrique Amorim – Rodrigo, você acabou de fazer uma série de reportagens depois de realizar uma viagem pela Venezuela. Quais foram os temas dessas reportagens e quantas foram as reportagens?
Rodrigo Vianna – Paulo, a gente foi para a Venezuela em dezembro acompanhar o referendo sobre a reforma constitucional venezuelana e acabamos ficando lá por mais uma semana, eu digo acabamos porque fui eu e o cinegrafista Josias Erdei. Acabamos ficando mais uma semana por lá e fazer uma série de matérias mais especiais sobre alguns temas: economia, mídia e o confronto político, o clima de confronto permanente que há na Venezuela. Basicamente os temas foram esses e aí, na volta, nós editamos esse material e exibimos no Jornal da Record entre o final de dezembro e o início de janeiro, agora.
Paulo Henrique Amorim – Vamos falar da mídia depois, mas me dá aí, em rápidas palavras o que é que você falou sobre a economia e sobre confronto político.
Rodrigo Vianna – A matéria de economia a gente procurou mostra que a Venezuela é um país que baseia a sua economia no petróleo, como é conhecido. A gasolina baratíssima, o que chama muita atenção, é mais barato encher o tanque de gasolina do que comprar água mineral. E o país, por causa disso, é rico, mas tem uma fragilidade porque não consegue produzir quase nada internamente. Os especialistas chamam de doença Holandesa. Exporta petróleo, inunda de dólares a economia e não consegue produzir mais nada, quase, ali dentro. Isso gera alguns problemas como na área de abastecimento, como nós constatamos ali, os supermercados de classe média com falta de abastecimento em produtos como abastecimento, como açúcar e, de outro lado, os grandes mercados que o Chávez promove pelo país, que são centrais de abastecimento que vende produtos mais baratos para a população. Então, a gente foi conversar com a população nesses grandes feirões promovido pelo Chávez, onde se vende comida, basicamente comida.
Paulo Henrique Amorim – Na questão ainda econômica, você pode observar como é a relação do Brasil na área econômica com a Venezuela, quais as vantagens que o Brasil leva?
Rodrigo Vianna – Na reportagem sobre economia a gente mostrou que esse grande feirão, esse mercado promovido nas ruas de Caracas, os produtos como frango e carne são basicamente brasileiros. A Sadia está vendendo frango como nunca na Venezuela, os produtores de carne bovina estão vendendo muito. Fora os acordos com Petrobrás e tudo, mas nessa área de alimentos eu colhi lá informações de que os venezuelanos das classes mais pobres nunca consumiram tanta proteína como agora, porque há programas de transferência de renda, como aqui no Brasil. Então, o consumo de carne e frango aumentou e onde que eles compram isso? No Brasil. Para o Brasil a relação com Chávez é ótima, os empresários brasileiros estão ganhando dinheiro lá na Venezuela enquanto a nossa imprensa aqui ficam querendo atacar o Chávez.
Paulo Henrique Amorim – E com relação ao confronto político, por exemplo, a derrota dele no referendo se, aparentemente, as pesquisas diziam que ele iria ganhar o referendo. As pesquisas erraram tanto quanto erraram ontem em New Hempshire.
Rodrigo Vianna – O que aconteceu foi o seguinte, a oposição quase não cresceu na Venezuela. Se você compara os números do referendo do dia 02 de dezembro com a eleição anterior em que o Chávez ganhou a eleição, ou seja, um ano antes, a oposição teve 4,5 milhões votos agora no referendo e na eleição anterior 4,3 milhões, cresceu muito pouquinho. O que aconteceu é que o chavismo encolheu. O Chávez teve mais de 7 milhões de votos em 2006 e agora, no referendo em 2007, ele teve 4,3 milhões. Três milhões de chavistas não foram às urnas., uma abstenção alta. Como nos Estados Unidos, na Venezuela o voto não é obrigatório e boa parte dos chavistas preferiu não votar. Existem várias explicações para isso, desde questões econômicas, porque há alguma inflação na Venezuela que está preocupando as pessoas, críticas à gestão do governo, a população apóia fortemente Hugo Chávez, o discurso e projetos, mas em alguns pontos os projetos não funcionam tão bem, isso foi dito lá por alguns especialistas e cientistas políticos. Eu contatei na rua, também, lixo na rua em Caracas, então há falhas na gestão, propriamente. E esse clima de confronto que uma parte do chavismo não gostou dessa coisa, o Chávez colocou a questão assim: votar “Sim” é votar em Chávez, votar “Não” é votar com o Bush. Parte do chavismo parece que não entrou nessa, não seguiu o Chávez de maneira tão unilateral.
Paulo Henrique Amorim – Agora, vamos falar da mídia. Como é que é a imprensa escrita na Venezuela?
Rodrigo Vianna – Olha, a imprensa escrita é uma coisa impressionante, mais impressionante até do que a nossa, aqui no Brasil. No dia seguinte à vitória da oposição, uma vitória legítima reconhecida pelo Hugo Chávez, os jornais todos traziam de opinião do jornal os jornais todos traziam o artigo do jornal El Universal, a página de opinião. Todos os artigos eram comemorando a vitória da oposição. Não havia ninguém ponderando, não havia ninguém pelo lado do governo. Não tem outro lado, é unilateral. O El Universal, El Nacional – que é outro jornal grande, não tem uma tiragem espetacular, mas são os jornais maiores de Caracas. Então, na imprensa escrita, é pancada no Chávez o tempo todo. É algo completamente unilateral. Mais do que no Brasil.
Paulo Henrique Amorim – E como é na televisão?
Rodrigo Vianna – A televisão também chama muita atenção. Eu, pelo menos, cresci nessa escola de ouvir o outro lado, de ter sempre uma tentativa – apenas de não acreditar em neutralidade, nunca acreditei nisso –, mas de buscar o outro lado, o apego à verdade factual, pelo menos, existe na mídia venezuelana dois pontos muito bem demarcados. De um lado você TVs privadas, especialmente a Globovisión, e o que sobrou da RCTV, que continua operando em cabo. São as duas TVs privadas que batem, mas batem o tempo todo. Não se ouve o Governo, é pancada o tempo todo no Governo do Hugo Chávez. E do outro lado as TVs estatais.
Paulo Henrique Amorim – Quantas são as estatais?
Rodrigo Vianna – As estatais são três. A Venezuelana de Televisión, que é a maior televisão, VTV.
Paulo Henrique Amorim – Ela é maior que as comerciais?
Rodrigo Vianna – Ela não é maior, mas me surpreendeu porque, ao contrário do que acontece aqui no Brasil, ela tem uma audiência bastante razoável. E disse um jornalista, correspondente brasileiro que está lá já há alguns anos, que a TV estatal briga pelo segundo, terceiro lugar de audiência. Então, ela funciona como um contraponto ali na Venezuela, realmente.
Paulo Henrique Amorim – A líder é a Globovisión, do Cisneros?
Rodrigo Vianna – Eu tenho a impressão que é a Globosión, não tenho certeza. A Globovisión não é do Cisneros. A Venevisión é do Cisneros. E a Venevisión tem uma postura um pouco mais moderada nos últimos anos. Até dizem que o Cisneros teria fechado um acordo com o Chávez e eles teriam se entendido de alguma maneira, e o clima entre Chávez e o Governo e a Venevisión está um pouco mais tranqüilo. Quem bate muito é a Globovisión, curiosamente tem esse mesmo nome, né?
Paulo Henrique Amorim – Quando as TVs estatais falam da oposição também é uma coisa unilateral.
Rodrigo Vianna – Também. É isso que chama a atenção da gente. Então, pelo lado das estatais, tem uma TV chamada TVES, que ocupou o sinal da antiga RCTV e tem uma terceira que se chama Vive TV, que é uma TV mais cultural, de programação sobre as comunidades do interior da Venezuela e todas elas têm um forte apelo de divulgar os projetos do Governo, é inegável que se fazem ali propaganda de projetos e as realizações do Governo do Hugo Chávez. A oposição ali não aparece, não tem voz para a oposição na TV estatal da Venezuela. Eu conversei com o diretor da Vive TV – que é uma dessas três TVs – e perguntei: para a gente parece exagerado, para quem chega de fora. Ele disse: ‘Mas você tem que entender o processo político aqui na Venezuela’. E aí relembramos juntos o que aconteceu em 2002, quando o Chávez foi derrubado por dois dias por um golpe midiático, com forte apoio da mídia.
Paulo Henrique Amorim – Foi o primeiro golpe da televisão.
Rodrigo Vianna – Foi um golpe midiático. Isso está retratado, você deve conhecer isso bem aí...
Paulo Henrique Amorim – Tem um documentário perfeito sobre isso.
Rodrigo Vianna – Exatamente, é aquele documentário ‘A Revolução não Será Televisionada’, e mostra muito bem o papel da televisão no golpe contra Hugo Chávez. Por isso o governo adota essa estratégia. Ele diz: ‘Nós precisamos enfrentar a matriz ideológica da oposição, oferecendo uma outra matriz ideológica em defesa do projeto que está no governo’.
Paulo Henrique Amorim – São dois blocos sólidos de concreto.
Rodrigo Vianna – Isso. São dois blocos que não se comunicam. É muito impressionante. Como a história dessa conversa com o Cisneros, mas isso não fica muito claro. Ela teria acontecido nos bastidores, essa conversa entre o Hugo Chávez e o Cisneros, que é um grande empresário da mídia da Venezuela.
Paulo Henrique Amorim – Quando você quer ouvir a favor do governo, você vai nessa televisão estatal, se você quer ouvir contra o governo, você vai nas emissoras privadas e estamos conversados...
Rodrigo Vianna – Pois é, de alguma maneira o público, eu até fazia isso todas as noites lá enquanto estava trabalhando, o público acaba se informando bem, porque tem os dois lados disponíveis na televisão. E aí eu me pergunto se aqui no Brasil a gente tem acesso a esses dois lados também. Apesar de achar que o conteúdo é um pouco violento demais na Venezuela, na mídia, violento verbalmente eu digo, mas, de alguma maneira os dois lados estão presentes, o público tem acesso aos dois lados das histórias assistindo as televisões privadas e a TV estatal. Tem uma liberdade de informação na Venezuela.
Paulo Henrique Amorim – Você diria que tem mais do que aqui? Você diria que na Venezuela tem mais pluralidade de informação do que aqui?
Rodrigo Vianna – Olha, eu acho que é possível dizer isso sim. Eu não vejo por exemplo, a esquerda... não tem acesso à televisão. O que se chama de esquerda não pode ir para televisão e defender o socialismo, por exemplo, na Venezuela tem gente defendendo o socialismo. Na TV estatal o projeto socialista, enfim, tem espaço para todo mundo. Do outro lado tem uma oposição conservadora falando nos canais privados. No Brasil a gente vai até só uma parte disso, há uma aparência de pluralismo, mas como nós conhecemos bem a história, esse pluralismo fica pelo meio do caminho, com algumas exceções.
Paulo Henrique Amorim – Deixa eu lhe perguntar uma coisa, e como é que é o tratamento ao Bush na TV estatal e na TV da oposição?
Rodrigo Vianna – Na TV de oposição pouco se fala do Bush. Acho que ele se tornou um personagem tão desacreditado no mundo inteiro que a oposição venezuelana também não usa o Bush para atacar o Chávez. Agora, a TV do Chávez ataca o Bush o tempo todo. Por exemplo, quando teve o referendo, houve uma declaração do Bush ou do governo Bush dizendo que tinha ganho a democracia na Venezuela, dando a entender que se o Chávez ganhasse tinha ganho o autoritarismo, aí abre espaço para um leque de jornalistas e comentaristas da TV estatal atacarem muito o Bush. É um figura demonizada pela TV estatal venezuelana.
Paulo Henrique Amorim – Você acha que o Chávez vai querer a reeleição continuada?
Rodrigo Vianna – Eu acho que ele quer e vai insistir, porque há uma brecha na Constituição venezuelana atual que prevê que a reforma constitucional ela pode ser por iniciativa do executivo, como foi essa em que ele perdeu em dezembro. Há outra possibilidade é a reforma constitucional com a assinatura de 15% dos eleitores. Essa segunda forma ainda pode ser tentada pelo chavismo. Apresentar um projeto que, por exemplo, prevê reeleição continuada com as assinaturas de 15% dos eleitores e levar isso para um outro referendo. Isso não agora, porque seria um desgaste enorme, talvez daqui um ano, dois anos ele pode voltar a carga e reapresentar esse projeto.
Paulo Henrique Amorim – O mandato atual dele vai até quando?
Rodrigo Vianna – Olha, 2012 ou 2013, não me lembro agora de cabeça.
Paulo Henrique Amorim – Bom, para fazer isso ele tem tempo (risos).
Rodrigo Vianna – Tem bastante tempo para isso, não é?
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