sábado, maio 21, 2011

Como os cristãos devem se proteger das ilegalidades supremas?

Paradoxalmente, há um poder na república, cuja institucionalidade está acima de todos os poderes. Ainda que haja leis, ainda que haja o poder legislativo, ainda que haja a Constituição, ele pode arbitrar e passar por cima de todos eles. Até as leis de Deus e do direito natural estão abaixo de suas determinações. Alguém poderá pensar que é o poder executivo. De fato, na história da república brasileira, o executivo quase sempre teve o papel de usurpador dos poderes. Até mesmo o governo Lula foi um exemplo fático dessa tendência, cada vez mais despótica, de passar pela harmonia dos poderes, legislando onde não deve, intervindo onde não é autorizado.

Contudo, esse poder acima de todos os poderes não é o executivo. Este, ao menos, está sujeito aos ditames da Constituição e das leis, além de ter o controle do judiciário e do legislativo. O poder absolutista a que me refiro se revelou recentemente na imprensa e na opinião pública. E houve advogados e juristas que fizeram rasgados elogios à instituição, pela sua abjeta decisão. É claro que essa instituição acima de todos os poderes se chama Supremo Tribunal Federal.

A decisão da Corte Suprema do país, reconhecendo a união estável entre os homossexuais, deixou os cristãos perplexos. Primeiro, porque a artimanha passou por cima do Congresso Nacional e da Constituição para se legitimar judicialmente. E segundo, para fazer isso, crivou de ilegitimidade o próprio direito de família. A mensagem do STF é muito clara: qualquer associação espúria pode ser considerada “entidade familiar”. Basta o tribunal se comover com o assunto, sofrer pressão de grupos minoritários organizados, para ignorar toda uma instituição já consagrada, rebaixando-a a um subjetivismo perigoso e abertamente permissivo. A interpretação que os ministros do STF deram à família fora de um desprezo completo pela moralidade. Tanto faz uma família ou um lupanar que dá no mesmo.

Por outro lado, a ação organizada entre o Supremo e as ongs da militância gay revelaram o quanto os cristãos, sejam eles católicos ou protestantes, estão sedados, paralisados, para uma reação à altura das artimanhas judiciais da chamada “revolução cultural”. O exemplo do Supremo em ter cometido uma ilegalidade e uma afronta à família é motivo de sobra para um novo despertar dos cristãos na defesa dos seus valores mais caros. Na verdade, o fato revelou uma intenção óbvia: os movimentos da esquerda cultural querem destruir todo o patrimônio cultural e simbólico do cristianismo na sociedade. A campanha violenta de secularização completa do Estado, das instituições e da política, quer extirpar o cristianismo do meio social. Na prática, laicidade virou claro sinônimo de materialismo e ateísmo, só que escamoteado, sutil, rarefeito e, portanto, ardiloso. Porque a pregação da laicidade se esconde por detrás de uma suposta idéia de tolerância iluminista contra os desmandos malvados da irracionalidade religiosa. Os valores cristãos incutidos no direito, na política e na sociedade, devem ser expurgados para se implantar uma espécie de pseudo-ética politicamente correta. O governo retira as cruzes das repartições públicas; modifica radicalmente os valores relacionados a vida e a família; e coloca o cristianismo num lugar de insignificância, no foro íntimo do mero capricho ou crença, quando a cosmovisão materialista e atéia e a moral utilitarista se tornam uma espécie de religião civil estatal.

O posicionamento do STF foi abertamente clerical, como se os ministros fossem a encarnação dos deuses, e a Corte, uma espécie de oráculo da “vontade geral” rousseana. Com a diferença de que nem mesmo o povo foi ouvido nessa questão controversa. Pelo contrário, os ministros da Suprema Corte trataram a população como um rebanho cristão estúpido e incapaz de fazer juízos sobre seus próprios assuntos. Aqueles, naturalmente, é que são “iluminados”, arautos do progresso humano e da igrejinha do Estado laico!

A comunidade cristã, seja ela católica ou protestante, está acuada, na defensiva. Muitos ainda não percebem os perigos de uma militância política que almeja destruí-la. O Estado laico, tal como se apresenta, é declaradamente anticristão. O STF, o movimento gay e a esquerda cultural realizam as mesmíssimas ações registradas no decorrer do século XX: transformam os cristãos em categorias de segunda classe, tiram seus direitos elementares de consciência na participação política e os isolam num ostracismo, a ponto de invalidar todos os seus conceitos e neutralizá-los.

Porém, o que fazer? Primeiramente, os cristãos de todos os credos devem se unir para uma causa: a promoção dos valores comuns da Cristandade na sociedade, na política, no direito e na cultura. Devem atacar em todos os aspectos da legislação, do direito e da educação, a secularização ateísta da sociedade. Não basta ficarem acuados, na defensiva. Devem contra-atacar, legitimar na Constituição, no direito, no judiciário, nas escolas e nas universidades, os valores do cristianismo. Devem combater o ativismo judicial disciplinando-o através da estrita legalidade sã. Ou na melhor das hipóteses, denunciar esse ativismo, que é visivelmente antidemocrático e totalitário, já que sujeita as decisões judiciais aos anseios ideológicos de um partido ou de um grupo político.

Alguém objetará, alegando que isso seria o caminho para um Estado totalitário religioso. Isso é abertamente falso. Qualquer cristão de boa consciência não estará pregando a imposição forçada da religião na comunidade. Pelo contrário, a liberdade religiosa e a liberdade de consciência devem ser preservadas. No entanto, ninguém até então chamava de “totalitário” o fato de que a nossa estrutura familiar sempre ter sido monogâmica e heterossexual, inspirada no cristianismo. O mesmo se aplica ao direito à vida ou à propriedade, que tem nos princípios cristãos, um enorme débito. Defender os valores essenciais da vida, da família, dos direitos naturais, na tradição cristã, é a salvaguarda contra o Estado totalitário que ascende, já que não reconhece nenhum outro princípio ou poder, senão ele próprio.

A regra atual é combater as ilegalidades “supremas”. É uma luta, não somente de todos os cristãos, mas do povo brasileiro contra a arbitrariedade judicial. A bancada evangélica e católica do Congresso Nacional, junto com demais deputados que defendem a instituição da família, devem unir esforços para tornar ilegal e inconstitucional o parecer do STF a respeito da “união estável” entre os homossexuais. A farsa do movimento gay e suas fraquezas estão mais do que expostas. Deve-se buscar todos os meios necessários para impor limites aos abusos do Supremo e os métodos sujos da revolução cultural marxista. Se as instituições brasileiras podem se autonomear “democráticas”, nenhum poder político desta república deve estar acima da Constituição e das leis. A sorte foi lançada. Os cristãos devem pegar as armas da apologética e da retórica e combater o processo do Leviatã que ameaça engoli-los. O campo de batalha é o direito, é a lei, é o Congresso, é a universidade, é a escola, é a igreja. Basta despertar. . .

5 comentários:

Anônimo disse...

EXCELENTE - como sempre -,estimado Conde!!!

Parabéns!!!


Almirante Kirk

César disse...

É realmente lamentável a situação do direito no país. Os ministros do STF não deixam dúvida de que se acham figuras divinas, nossos "deuses do Olimpo" que passam por cima do texto constitucional, dos princípios de quase duzentos milhões de brasileiros e toda a legislação pátria. Não há razoabilidade em colocar a "interpretação" da constituição nesse modelinho típico "revelado" por alguns juristas como o "eminente" Hans Kelsen: as cortes constitucionais. Todo o arcabouço jurídico atual é um sistema flagrantemente dominatório e que possibilita a instauração de uma mentalidade totalitarista. Uma cúpula de 11 pessoas que se vêem no direito de submeter uma imensa população aos desejos de seus ventres. Como afirmou recentemente o "Excelentíssimo" Ministro Ayres Britto, o STF agiu bem, visando à quebra de paradigmas sociais. Mas espera um pouco: o STF tem função de interpretar ou de legislar quebrando paradigmas sociais? Infelizmente trabalho no ambiente jurídico dessa Brasília, criada nesse isolamento do sertão para proteção dos desmandos da corja que aqui se instala. Lamento muito, mas daqui a pouco não poderemos manifestar crenças religiosas, a não ser as embasadas nas idéias desses comunas. Mais à frente, não poderemos educar nossos filhos de acordo com nossa integridade moral. E já temos juristas, vergonhosamente acatando teses fascistas, que privam o indivíduo de educar seus fihos com palmadas, com valores morais e outras perversidades levantadas por alguns merdas de "doutores". Aluno de direito não é educado para pensar, mas para reproduzir, e acabam, na sua inconsciência, por perpetuar injustiças através do instrumento que deveria refletir o justo, a equidade. Infelizmente.

Resistência Cultural disse...

Prezado Conde,

Tomo a liberdade de lhe sugerir uma troca de link's entre o seu blog admirável e o de minha humilde e cristianíssima Livraria Resistência Cultural. Obrigado.
Cordialmente,

José Lorêdo de Souza Filho
LIVRARIA RESISTÊNCIA CULTURAL
SITE: livrariarc.blogspot.com
São Luís-MA

Anônimo disse...

Hello foi a 2ª vez que li a tua página e gostei imenso!Bom Trabalho!
Adeus

"Política sem medo" disse...

Caro Conde, nem pediria para fazer um intercambio de blogs pois nao me considero a altura de tao monumental raciocinio como o seu mas gostaria de colocar sua pagina entre os meus preferidos pois so por esse texto ja da para notar que ha muita coisa boa por aqui e eu o visitarei sempre que possivel. Eu o encontrei gracas ao meu amigo Pedro da Veiga. Excelente explanacao do momento vivido pela politica brasileira. Abraco, Tereza