sexta-feira, maio 06, 2011

Resposta a um comentarista

Um autor me dá a seguinte resposta:

"Sr Leonardo Bruno, Os estados comunistas não eram laicos, mas sim ateus".

Conde- A diferença é tão somente de nomenclatura e no processo de secularização. Quando um suposto “Estado laico” diz que os religiosos não devem se meter na política, faz a mesma coisa que um país comunista ateu. A diferença é que a proibição ou a estigmatização é sutil. Tudo em nome da “tolerância”, claro.

"Confundir os dois conceitos é ignorância ou desonestidade de sua parte".

Conde- Não é não. Eu não afirmei que todo Estado laico é ateu. Afirmei que o modelo de Estado laico vendido pelos secularistas é ateísta. O fato de querer marginalizar os religiosos no âmbito dos valores da sociedade ou mesmo os próprios símbolos e raízes da fé cristã é prova cabal de que esse laicismo está travestido de puro materialismo ateu. A diferença é que a secularização é lenta, gradual e indolor. Nem por isso se torna menos opressiva.

"Não li o tal do fraga, mas certamente ele não deve ter querido dizer que Religião gera pobreza. O que certamente o faz é a ausência de liberdade de consciência (incluindo a liberdade religiosa)".

Conde- Que asneira! Riqueza nada tem a ver com liberdade de consciência ou religião. Os judeus que geraram a riqueza no século XV não concebiam a “liberdade religiosa” de mudar de religião. Os cristãos do século XV, como os islâmicos, tampouco. E nem por isso foi-lhes negada a prosperidade econômica.

"Em qualquer país desenvolvido existe liberdade para se auto-declarar, por exemplo, ateu (coisa que não existe na maior parte dos países islãmicos, cuja maioria é miserável)".

Conde- Mais um que parte do pressuposto de que a geração de riqueza é um fenômeno recente. Claro que ele ignora toda uma cultura ancestral que engendrou e disciplinou a economia, as instituições, o direito, etc. E tudo isso foi disciplinado e orientado pelo cristianismo. Ou você acha que na Inglaterra do século XVIII você tinha liberdade pra ser católico?

"Povos desenvolvidos e civilizados entendem que ter ou não uma religião é uma questão de cada um e nem o Estado, nem niguém, deve meter o bedelho em semelhante escolha individual".


Conde- Os cristãos medievais, que criaram as catedrais, as universidades, os hospitais e uma boa parte do que possamos chamar de “civilização”, não deixaram de ser civilização porque ignoravam a liberdade religiosa. O seu problema é simples: um completo ignorante em história.

"Por isso, é natural que nesses lugares aumente o número de pessoas que se delaram sem religião".

Conde- Pelo contrário, dentro de um Estado laico, que na prática é ateísta, já que torna a opinião religiosa num capricho subjetivo e marginalizado da esfera estatal, e também dentro de uma universidade controlada por ateus e materialistas, é óbvio que o número de ateus tenderá a crescer. Essa é a incoerência do Estado laico: diz respeitar a liberdade religiosa, mas na prática, tem uma confissão ateísta, ainda que não assumida, já que quer tirar a religião fora da política.

"O Laicismo é uma das maiores conquistas da civilização ocidental",

Conde- O governo laico é produto da concepção teológica cristã da política. Laico não quer dizer não-confessional, mas simplesmente leigo, não-eclesiástico. O Estado dito “laico” é de confissão ateísta tout court. Tanto é verdade que ela relativiza todas as religiões num mesmo plano, quando na verdade, precisa negar todo um histórico cultural, ético e civilizacional ancestral que o engendrou.

"pois representa a tolerância, o pluralismo e o respeito à consciência individual de cada cidadão. Sem isso, não existe um verdadeiro Liberalismo"

Conde- Não sei que “tolerância” é essa em que o ateísmo e a engenharia social estatal se sobrepõe a tradições milenares de uma nação. Quando um liberal diz que o Estado deve governar a sociedade excluindo seus valores culturais e éticos, em nome da “tolerância”, isso é pura contra-senso. Logo, o Estado laico moderno é francamente ateísta, no sentido de não reconhecer valores superiores à sua vontade enquanto governo. E volto a dizer, os Estados comunistas não somente eram laicos, porque negavam qualquer confissão religiosa, como eram ateus, já que combatiam a religião. Mas o Estado laico democrático não é necessariamente diferente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sr Leonardo Bruno, eu sou o comentarista que você respondeu. Sinceramente, fico pasmo em ver alguém que diz defender ideias liberais pronunciar-se contra a laicidade do estado. Pra começar, estado nem deveria ter ideologia. Sua função deveria se restringir, basicamente, ao resguardo da segurança pública, do respeito aos contratos e, quando muito, na oferta de serviços públicos que facilitem a atividade empresarial, como portos e estradas. Todo o resto deve ser responsabilidade da iniciativa privada. É, portanto, óbvio que um Estado que cumpra suas funções não pode e nem deve se meter em questões religiosas, pois isso seria ferir direitos individuais básicos (é por acaso justo e coerente que um ateu pague impostos que serão gastos com distribuição de bíblias ou coisa semelhante?). A diferença entre você e os comunistas, Sr "conde",é que enquanto eles querem me obrigar a seguir Marx, Lênin e outros pseudo-profetas seculares, o senhor quer obrigar a toda a sociedade a comungar de suas crenças em jesus e na Virgem Maria. E se eu quiser achar que sua religião é uma grande bobagem? Independentemente da veracidade ou não da minha opinião, não cabe ao senhor (emuito menos ao Estado)tentar me coagir a pensar diferente. Faça o seu proselitismo, se quiser. Desde que não fira os direitos de ninguém, estará exercendo um direito que é seu. Igrejas e religiosos podem falar o que quiser numa democracia, sem o medo da repressão, desde que respeitem o direito alheio de não crer. Isso é, sim, um traço de civilizações mais evoluídas. Essa é a diferença básica entre as democracias ocidentais e as ditaduras islãmicas. Caso pense diferente, sr conde, tudo bem, mas estará sendo incoerente se declarando um "liberal".