O comentarista do post anterior parece indignado pelo fato de eu perceber o óbvio: a de que a religião cristã, no mundo ocidental, é que gerou todo o escopo moral e ético que inspirou as sociedades democráticas modernas. E que o Estado laico, em nome de uma suposta isenção de um credo religioso, quer negar as próprias raízes institucionais da sociedade.
“Sr Leonardo Bruno, eu sou o comentarista que você respondeu. Sinceramente, fico pasmo em ver alguém que diz defender ideias liberais pronunciar-se contra a laicidade do estado”.
Conde- Primeiramente, a laicidade é uma contradição em termos. Os Eua são declaradamente um Estado laico, porém, toda sua cultura institucional, incluso seus símbolos, há forte conotação maçônica ou protestante. Quer dizer que em nome da tal “laicidade”, os americanos vão deixar de jurar sobre a bíblia? Vão abandonar aquilo que deu incremento ao seu modo de viver e pensar culturalmente? O Estado de Israel se declara “laico”, porém, é infestado de símbolos da fé judaica. Por outro lado, o sr. Liberalóide presunçoso não percebe que seu conceito de laicidade é puro ateísmo institucionalizado, já que preconiza a idéia de suposta “isenção” do Estado com a tradição religiosa, sendo que o governo se coloca contra toda uma tradição religiosa e cultural instituída.
“Pra começar, estado nem deveria ter ideologia”.
Conde- Pura ingenuidade de quem acredita numa teoria “pura” ou num Estado isento de juízos de valor. Antes desse “Estado Laico” existir, há uma cultura ancestral que esquematizou seus valores, suas regras, suas tradições familiares, políticas e éticas. É pura ingenuidade achar que a mera recusa do Estado laico em aceitar essa tradição não se constitui numa ideologia. Tal atitude não somente é ideológica, como de forte conotação materialista e atéia.
“Sua função deveria se restringir, basicamente, ao resguardo da segurança pública, do respeito aos contratos e, quando muito, na oferta de serviços públicos que facilitem a atividade empresarial, como portos e estradas”.
Conde- O fato de o Estado se preocupar com ações puramente civis não isenta o fato de que ele não está alheio a uma tradição cultural ou religiosa. Por que a legislação civil aceita somente o casamento monogâmico heterossexual e exclui o resto? Porque nossa formação cristã é monogâmica e heterossexual (embora o Estado laico, cada vez mais revolucionarista, ateísta e socialista, preconize modificar radicalmente o direito de família, através de métodos de engenharia social). Por que o cidadão comum acredita na sacralidade do direito à vida, reconhecido pelo Estado? Porque o Estado, logicamente, absorveu os valores do cristianismo no que diz respeito à vida humana. Querer omitir esse dado é pura desonestidade intelectual.
Todo o resto deve ser responsabilidade da iniciativa privada. É, portanto, óbvio que um Estado que cumpra suas funções não pode e nem deve se meter em questões religiosas, pois isso seria ferir direitos individuais básicos (é por acaso justo e coerente que um ateu pague impostos que serão gastos com distribuição de bíblias ou coisa semelhante?).
Conde- Primeiramente, se a grande maioria da população é religiosa e se uma boa parte dos valores da sociedade, mesmo laicizada, viera da religião, por que o Estado ignoraria a importância da manifestação e das origens religiosas da cultura? Se a bíblia é um livro que faz parte do nosso modo de ser e pensar, mesmo para os ateus, por que seria recusada?
A diferença entre você e os comunistas, Sr "conde",é que enquanto eles querem me obrigar a seguir Marx, Lênin e outros pseudo-profetas seculares, o senhor quer obrigar a toda a sociedade a comungar de suas crenças em jesus e na Virgem Maria.
Conde- Dentro da sua cabecinha oca, o mero fato de o Estado respeitar a religião e reconhecer nela uma fonte de direitos e de origens culturais é “prova” de que eu quero impor a religião a alguém? Que besteira! Quem parece querer impor o ateísmo público em nome de um conceito falsamente isento de “laicidade” é você. Eu jamais preguei a imposição religiosa a ninguém. Cada um creia no que quiser. O que quis dizer é, que uma boa parte de nossas instituições vieram dos princípios da religião e a tentativa de negar suas origens é uma forma de destruir, não somente os valores mais caros da sociedade, como também suas raízes. Estado laico é Estado não-confessional. Não é Estado ateu, que ignore as manifestações religiosas do povo.
E se eu quiser achar que sua religião é uma grande bobagem?
Conde- Sem nenhum problema. Como é meu direito achar que essa estorinha de Estado laico sem religião é pura asneira. E é.
Independentemente da veracidade ou não da minha opinião, não cabe ao senhor (emuito menos ao Estado)tentar me coagir a pensar diferente.
Conde- E quem é que está coagindo? E você quem está coagindo aos religiosos a calarem a boca, porque o Estado é “laico”.
Faça o seu proselitismo, se quiser. Desde que não fira os direitos de ninguém, estará exercendo um direito que é seu.
Conde- E quem falou o contrário, pigmeu? Ao menos, você deveria aprender a ler. Porque você me acusa de coisas que nem falei, embasado em preconceitos anti-religiosos.
Igrejas e religiosos podem falar o que quiser numa democracia, sem o medo da repressão, desde que respeitem o direito alheio de não crer.
Conde- Faz favor. Cita aí onde fui que eu disse que devemos impor religião a alguém? Você é quem está querendo impor a “laicidade” na cultura humana. Como eu falei, o Estado pode ser laico, ou seja, não tomar partido teológico declarado. Porém, não pode ser ignorada as raízes religiosas de um povo, principalmente no que diz respeito aos princípios que geraram as instituições sociais.
Isso é, sim, um traço de civilizações mais evoluídas. Essa é a diferença básica entre as democracias ocidentais e as ditaduras islãmicas.
Conde- Eu não sei até que ponto uma sociedade que legaliza o aborto, a eutanásia, o casamento gay e outras demais aberrações, pode ser considerada uma sociedade “civilizada”. Pelo contrário, quanto mais o cristianismo sai da cena cultural dos povos ocidentais, a tendência é a de que se tornem cada vez mais bárbaros. É até pior: vão virar islâmicos.
Caso pense diferente, sr conde, tudo bem, mas estará sendo incoerente se declarando um "liberal".
Conde- Na cabecinha do liberalóide, os liberais criaram valores que antes não existiam. É como se a doutrina dos direitos naturais não fosse, na prática, conceitos religiosos que acabaram sendo laicizados. Sr. Liberal, você anda a falar muita besteira para um crânio só. O liberalismo, sem as fontes cristãs ancestrais que validam seus conceitos de respeito ao indivíduo e limitem os abusos do relativismo, acaba se afundando naturalmente. Não é por acaso que o liberalismo político deu certo num país tradicionalmente religioso como os Eua, justamente por conta dos valores cristãos, que orientavam culturalmente os conceitos de liberdade da nação norte-americana.
6 comentários:
Se, como querem os ateístas/laicistas/etc., o Estado laico deve ser totalmente divorciado de qualquer fundamento religioso, forçoso reconhecer que isso significa que eles entendem que tudo o que se concebe numa sociedade é pura convenção humana, inclusive o direito natural. Ora, convenções podem ser alteradas, ao sabor da moda, ou do poder do grupo que controla o Estado. Nessa hipótese, o Estado, enquanto representante máximo dessa "coletividade racional", pode perfeitamente resolver que direitos como o direito à vida e à liberdade podem ser mitigados, se isso se der em prol das convenções vigentes então vigentes. Não é isso que ocorria na URSS? É preciso compreender que o conceito de "Estado Laico", em relação às religiões, significa que o Estado as aceita como válidas e as respeita, sem no entanto declarar nenhuma delas como oficial. A visão distorcida dessas pessoas é a de que o "Estado Laico" deveria se dedicar sistematicamente a perseguir a religião e apagar qualquer indício de que foi dela que partiram os valores que formataram a sociedade.
Hey, Conde, já há algum tempo eu venho matutando que um Estado, mesmo sendo laico, deveria deixar clara qual a moral utilizada em suas leis(moral católica, luterana, judaica, islâmica, budista, etc...) para que não surjam oportunistas tentando criar leis politicamente corretas, vagamente humanitárias ou coisa pior, o que resultaria em um conjunto de leis que adota princípios contraditórios(um conjunto inconsistente e fadado à ruína). Isso teria a mesma utilidade dos escritos dos Founding Fathers no EUA(mas de uma maneira mais poderosa), e impediria aberrações como a que presenciamos ontem no STF.
Penso que um Estado que não deixe claro o conjunto de princípios do qual parte, ou cujos princípios não são estáveis(ou ortodoxos), nem exibe a justificação ou a fonte de autoridade desses princípios, é um gigante com pés de barro. Cedo ou tarde alguém irá explorar essa fraqueza. O Brasil é um bom exemplo.
Concorda com isso?
Sr Conde, ignorarei vossas ofensas, até por uma questão de não rebaixamento do meu nível. Recomendo-te a leitura desse texto: http://www.ocapitalista.com/2007/02/artigo-f-e-religio.html é sobre a querela de Olavo de Carvalho com os liberais ateus. Você, assim como ele, defende algumas ideias certas, mas pelos motivos errados. Leia também um autor chamado Janer Cristaldo, ele trabalha muito bem essas questão das religiões (sejam elas teístas ou meramente civis, como o marxismo) como fundamentos de quase todas as ditaduras existentes no Mundo
Se a religião cristã foi importante na estruturação de nossa civilização no passado em que isso nos obriga a permanecer reféns de seus dogmas hodiernamente? A escravidão e o absolutismo monárquico também tiveram papel relevante na estruturação do capitalismo, você também defende tais instituições?
E não seja hipócrita, defender que o Estado atue em prol de uma determinada religião é, sim, querer enfiá-la goela abaixo àqueles que não comungam dos seus dogmas. Estado bom é estado que protege os direitos individuais do cidadão. Ponto final. Qualquer manifestaçção além disso é abuso. Se eu quero ser polígamo e fazer cultos ao Satanás isso é problema meu, desde que eu não fira direitos alheios.
Realmente, num ponto você tem razão, nossas leis estão impregnadas de dogmas enrustidos. A questão do casamento, é um exemplo. Por mim se realizava uma transformação radical em toda a atual legislação de família. O casamento deveria ser um negócio jurídico como outro qualquer, que o indivíduo pudesse realizar quantas vezes quisesse e com quem quisesse, desde que obedecidas certas condições. Isso com o único objetivo de resolver os conflitos econômicos decorentes desse tipo de situação. Mas enquanto prevalecer esssa mentalidade estúpida que acha ser legítima a coerção estatal em campos exclusivos da esfera privada, não haverá progressos.
O conde está certo.
Segundo a antropologia a moral é indissociável da idéia de propriedade privada. Uma sociedade que relativiza a moral, terminará relativizando a propriedade privada.
Não é por acaso que o fim da família tradicional sempre foi uma bandeira comunista desde os tempos de Engels. O erro de Engels é tomar o fim da moral familiar como "evolução", quando no fundo, é regressão a épocas do culto a mãe-terra.
O tal comentarista, ou está sendo desonesto para omitir tais fatos ou os desconhece. Ele parece confundir liberalismo(capitalismo) com correntes libertárias que flertam com o comunismo, pois tais correntes libertárias defendem o fim da religião e da moral.
Não se pode ao mesmo tempo defender a propriedade privada e ao mesmo tempo defender o fim da moral e religião. Quem relativiza a moral termina relativizando a propriedade privada. O "ninguém é de ninguém" não está muito longo do "o dinheiro não é de ninguém".
EXCELENTE - como sempre -,estimado Conde!!!
Parabéns!!!
Almirante Kirk
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