sábado, março 12, 2011

Sobre a psicologia de alguns empresários

Ao contrário das ideologias marxistas, de luta de classes e anticapitalistas, a grande maioria dos empresários é refratária à política. Suas perspectivas, em geral, dizem respeito ao dinheiro e somente neste ponto são capazes de esperar tempo de sobra para fazê-lo jorrar em seus bolsos. É paradoxal que não tenham essa mesma idéia com relação à política ou à cultura. Nestas áreas, os empresários que conheci, com poucas exceções, querem ações imediatas. E pelo fato de a política ou a cultura não materializarem algo concreto ou visível de curto prazo, acham que tais atividades não são “práticas” ou “viáveis”, ora porque não dão lucro, ora porque não conseguem ver a cultura e a política dentro de um conjunto.

Um caso exemplar eu escutei de um amigo. Ele foi buscar patrocínio a um sindicato empresarial aqui no Pará, para trabalhar com a militância liberal-conservadora. Seu intento era fazer palestras sobre os abusos da legislação ambiental e as tentativas da burocracia estatal e de políticos de chantagearem os empresários na área da agricultura e de madeireiras. Ele recebeu a seguinte resposta: o sindicato tinha seus advogados e, logo, não precisaria de trabalho cultural e de opinião pública para isso, por não ser “prático”.

O empresário idiota que falou essas palavras ignora como são feitas as leis de seu país. Desconhece as tendências da opinião pública, as assessorias contratadas e lobbies que produzem essas leis e de como esta influência determina as diretrizes dos tribunais e da política. Como um advogado poderia combater a lei, se ela é previamente feita em vias de criminalizar o empresariado? A estreiteza mental deste senhor é um retrato fiel da psicologia do empresariado brasileiro. Lênin tinha razão: a burguesia brasileira é capaz de vender a corda que vai enforcá-la.

Daí a dificuldade de convencer os empresários a trabalharem com a cultura, principalmente quando essa cultura não está endossada dentro de uma concepção vigente e preestabelecida. Ou nas mais estranhas das hipóteses, o empresário médio é capaz de dar dinheiro a um tipo de idéia ou atividade cultural, mesmo que seja hostil à livre empresa ou ao livre mercado. E por quê? Em particular num país onde o Estado ganha aura moral desproporcional e fora do comum, o empresário médio brasileiro, amedrontado com o governo, quer aparentar bom mocismo. De fato, a moda do momento é aderir à cultura politicamente correta. Ninguém mais faz caridade; agora é “responsabilidade social”. É como se o empresário, pelo fato de gerar rendas e ter seus lucros, fosse uma espécie de usurpador malvado, que deve devolver à sociedade o que tirou. E não é que muitos endinheirados otários caem nessa chantagem?

A cultura de dissidência cultural e política, tradição arraigada nos países de sólida tradição liberal, não é do feitio empresarial do Brasil. Pelo contrário, o empresariado ainda guarda enormes ranços mercantilistas no pensamento e sérios receios de enfrentar o governo. Um misto de estupidez e covardia conjugada. Na verdade, a tradição intelectual independente não é o forte nem mesmo dos intelectuais brasileiros, uma boa parte dependente dos recursos estatais ou atrelado ao funcionalismo público. O que não ajuda em nada, basicamente.

Muitas empresas são capazes de doar dinheiro para seus algozes, crendo que ao financiarem projetos de cunho anticapitalista ou anti-empresarial vão aplacar a fúria dos críticos. Se há algo que inexiste no grosso do empresariado é algum tipo de “consciência de classe”. A atividade comercial implica uma incrível pluralidade de grupos e sujeitos. Com a exceção de uma minoria, muitas vezes ligada aos conchavos do governo, a essência do comércio é o empresariado rivalizar entre si, na disputa de consumidores. A economia de mercado acaba neutralizando as atividades empresariais monopólicas, evitando assim uma concentração de poder econômico na mão de poucos. É, portanto, uma grande vitória do capitalismo liberal, ainda que alguns inventem meios de boicotar esse processo.

Há de se entender que muitos sindicatos empresariais não trabalham em favor dos empresários, mas contra eles. Na verdade, os sindicatos não brigam com o governo, justamente porque se beneficiam dele, através de restrições e reservas de mercado que podem criar posteriormente. Ou quem sabe conchavos, empréstimos favorecidos a juros baixos, subsídios ou mesmo isenções fiscais. Nisto, a liberdade de comércio se torna comprometida, desleal. Claro que nunca vão apoiar idéias liberais na economia. E na cabeça vazia de alguns empresários, a sociedade liberal e democrática pode até sucumbir, contanto que estejam com seus lucros garantidos. A China comunista não é um exemplo fático disso, com a inserção do empresariado capitalista no país? E o Brasil, atualmente, com o governo forte, não reflete esse deslumbramento estúpido?

A intelligentsia brasileira, atualmente, é quase toda formada nos cânones esquerdistas e estatistas. A idolatria do Estado como o provedor de tudo e solução para todos os nossos problemas domina de tal forma o imaginário cultural e intelectual do país, que qualquer dissidência neste sentido é visto com desconfiança ou anátema. Daí a tendência do empresariado médio a não brigar com o Estado ou mesmo temê-lo. Muitos empresários crêem que podem enfrentar os problemas da política e da cultura pelos mesmos métodos em que enfrenta os problemas do dia a dia da empresa. Basta negociar com os intelectuais, com os políticos e os burocratas, tal como se negociam no balcão, e tudo estará resolvido, num acordo de camaradas! Eles mal sabem que os intelectuais e os burocratas viram ativistas justamente para destruí-los. Estes não querem acordo, querem a sujeição ou destruição do empresariado.

Essa visão tapada é bem mais antiga do que se pensa. Uma das causas do sistema soviético ter sobrevivido tanto foi pelo simples fato de que os empresários achavam que os bolchevistas seguiriam à lógica prática da economia e não a perspectiva maquiavélica da política imoral e sem escrúpulos, lugar-comum da mentalidade marxista-leninista. Lênin realizou a NEP, a tímida abertura da economia soviética, e os empresários da Inglaterra e dos Eua acreditavam no mito do “Termidor” revolucionário russo, fazendo analogia com o Termidor da revolução francesa, quando a época do “Terror” havia sido encerrada com a decapitação de Robespierre. No entanto, o terror soviético estava vivíssimo e apenas deu uma trégua, para depois voltar a pleno vapor. Isso acabou custando o preço de ter-se mantido por quase um século a mais brutal tirania da história humana, além da perda de milhões de vidas. A mesma política se aplicou aos empresários alemães, quando Hitler ascendeu ao poder, no dia 30 de janeiro de 1933. Presumiam que poderiam amortecer a besta-fera nacional-socialista com a estreita racionalidade econômica. No final, acabaram virando empregadinhas domésticas do Partido Nazista e foram levados a uma guerra que arruinou não só o país, como também um continente.

Essa mesma crença é alimentada pelos empresários brasileiros atuais, quando afirmam que o PT mudou de política e virou um “partido de direita”. Ainda que o PT tenha alianças com o narco-terrorismo, com ditaduras islâmicas e regimes comunistas, além do que faz tudo para a expansão do totalitarismo na América Latina, os burgueses idiotas levam a sério a lorota de que Lula e as esquerdas mudaram de pensamento. Mudaram sim de tática, mas continuam os mesmos. E tiveram uma brilhante vitória, ao sujeitarem toda uma classe de imbecis enriquecidos aos seus desmandos políticos.

Quem terá coragem de financiar ou se associar a tendências liberais, conservadoras e anti-estatistas, se a maioria das cabeças pensantes molda o pensamento cultural e o imaginário em sentido contrário? E por que o empresariado, vítima de uma chantagem sistemática, na opinião pública e nos meios culturais e criatura visível aos anseios do Estado, teria forças para se rebelar contra essa estrutura de poder? A legislação brasileira, nos tributos, na justiça do trabalho e na formalização da propriedade é totalmente anti-empresarial. É como se os políticos, legisladores, intelectuais e burocratas criassem um sistema que amarra o empresário como eterno refém do governo. Porém, os empresários nada fazem para mudar esse quadro. Acovardam-se, mesmo quando alguém se oferece intelectualmente para ajudá-los. E de tão estúpidos, ainda boicotam os anseios políticos e ideológicos que poderiam se reverter em favor deles. É um estranho caso de idiotice e masoquismo o que domina a classe empresarial.

Recentemente a famosa página virtual Mídia Sem Máscara, informativo de tendências liberais-conservadoras, sofreu um revés, fruto de uma possível perseguição ideológica. O site tinha uma sociedade com a Livraria Cultura, na qual receberia valor de comissão por cada livro comprado no link da livraria. A “Livraria Cultura”, empresa de grande porte e uma das mais completas livrarias do país, bloqueou o seu link e quebrou um contrato com o site, alegando “violação dos termos de parceria”. O episódio, por si só lamentável, criou uma situação abertamente constrangedora ao site. A dita quebra dos termos de parceria foi exposta nas seguintes definições: “Blasfêmias, obscenidades, nudez e violência gráfica; manifestações de caráter político-partidário, religioso ou que denotem qualquer forma de preconceito; promoção de atividades ilegais e violação de propriedade intelectual e direitos autorais”.

A principio, que fique isto bem claro, nenhuma empresa é obrigada a manter acordos com quem quer que seja. A Livraria Cultura tem todo o direito de retirar seu nome, se não se agradar nos critérios de sua divulgação. Porém, o que chocou foram os motivos alegados. Ao insinuarem a tal quebra de termos de parceria, imputaram aos seus cronistas (dentre os quais faço parte), a pecha de blasfemos, obscenos, preconceituosos e criminosos, já que supostamente poderíamos ser promotores de atividades ilegais. É pior: esses rótulos também caíram mal nos leitores, uma vez que também lhes feriu a reputação. A reação do público foi fortíssima e violenta. Ao menos, a empresa poderia ter alegado outras coisas.

Mas por que essa atitude tão estranha e obtusa da Livraria Cultura? Não sabemos ao certo. Mas é provável que as razões estejam no fato de o “Mídia Sem Máscara” destoar completamente da linguagem politicamente correta comum dos meios acadêmicos e culturais vigentes. Será que alguém pertencente ao corpo administrativo da livraria, bastante preconceituoso, ficou ofendido com o teor contundente dos artigos publicados no site? Alguns podem ter ficado apavorados com a visão radicalmente anti-governamental e politicamente incorretíssima dos seus articulistas. Se os empresários, em geral, morrem de medo do governo, que dirá então dos empresários da cultura, que devem sofrer um policiamento ostensivo da classe intelectual marxista? Reconheçamos, contudo, que não sabemos ao certo o que ocorreu para a livraria tomar essa postura. É preferível crer apenas em mal entendido. Até porque a Livraria Cultura tem várias atividades culturais de grande monta na capital, São Paulo, e em todo o país. Não concordo com a opinião de alguns colegas articulistas ou leitores a rotularem a livraria de "incultura". As pessoas do MSM se excederam ao fazer julgamentos precipitados sobre a empresa. Neste aspceto, deve-se evitar qualquer tipo de radicalismo. Pelo contrário, a Livraria Cultura, como nenhuma outra, tornou acessível essa literatua política e filosófica de alto nível. Eu mesmo sou encantado pela livraria do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. Pena que ainda não construíram uma livraria aqui em Belém. Vamos esperar. . .

Os liberais e os conservadores estão ganhando força na opinião e na cultura do país. E a atitude da Livraria Cultura a colocou numa situação tal de constrangimento, que só restou à empresa voltar atrás e tentar consertar o mal entendido. Pediram desculpas. O lugar mais sensível do empresário é o de seu bolso. E os leitores e articulistas do “Mídia Sem Máscara” são também compradores dos livros da Livraria Cultura e viram seu fornecedor numa crise de credibilidade, ao duvidar de suas respectivas reputações. Embora seja uma livraria excelente, a Cultura tem concorrentes. E estes também são fortes. O caso, em suma, demonstrou a força crescente do movimento conservador no Brasil.

Os movimentos conservadores vão ter um sério desafio: criar uma consciência empresarial combativa, que saiba financiar atividades culturais ousadas e independentes, em sólida defesa da democracia e do livre mercado. O empresário médio ainda é psicologicamente refém do governo, acovardado e amedrontado pelas ameaças do fisco ou pelas chantagens intelectuais da esquerda. É preciso dizer-lhe que a realidade política e cultural vai mais além de seu limitado pragmatismo econômico e jurídico. Na verdade, é necessário revelar que são os valores da livre iniciativa e da liberdade individual é que consagram a segurança de sua vida, liberdade e propriedade. E que a moralidade conservadora preserva o estado de honestidade pública necessário para que a sociedade civil e o mercado prevaleçam.

4 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, os empresários tupiniquins são masoquistas, vá entender.

Anônimo disse...

Parabéns,estimado Conde!!!


Almirante Kirk

Anônimo disse...

Saia do Orkut de uma Vez Conde! aquilo la eh a materializacao(apesar de estar no mundo virtual) da inclusao digital no 3o mundo...um festival de palpiterismos!!!

Um Forte Abraco Cavaleiro!

HFC disse...

Tente processar a livraria cultura... Ou continue como um autêntico idiota a reclamar deles no bloguinho. Acho que qualquer processo que você tentar contra a empresa mencionada só vai dar em nada ... Então pode voltar a mediocridade de seu bloguinho ...