sexta-feira, fevereiro 15, 2008

O argumento dos anti-religiosos. . .

Quando divulguei alguns textos sobre as fraquezas do pensamento militante ateu, que agora é moda entre os liberais (e sempre o fora entre os socialistas), algumas opiniões soaram interessantes, pelo teor delas. Rodrigo Constantino e a turminha “libertária” me acusaram de ser fanático religioso, intolerante, inimigo da razão e obscurantista. Alguns socialistas, fazendo coro a eles, também entraram na onda, catalogando todas as maldades dos cristãos e da Igreja Católica e imputando a mim todas essas excrescências. De fato, o pensamento ateu militante é assim mesmo. Por mais que se exponham as fraquezas, disparates e falsificações deliberadas da religião apregoadas por eles, não se sujeitam às mesmas análises que imputam aos outros. Eles são os “progressistas”, os “iluministas”, os amigos da “razão” e da “ciência”. Por mais que isto não signifique absolutamente nada, e que seja apenas palavras vazias sem sentido algum, o mero fato de crer em Deus já o torna suspeito de ser um fanático.

Paradoxal, para dizer o mínimo, pois, nos últimos textos, eu mal falei de religião. Não comentei sobre dogmas católicos e tampouco alguma questão sob a ótica da Igreja. Todavia, os ateus militantes são maniqueístas: como autonomeados paladinos da razão, questioná-los é questionar o progresso da humanidade. Aí como não quiseram discutir os enunciados de sua crença no caos, no acaso inteligente ou na origem símia dos humanos, começaram a tergiversar no discurso, criticando o catolicismo ou então simplesmente usando de argumentos ad homines, para desmerecer o crítico. Esse é, de fato, o expediente comum com que se utilizam Dawkins, Hitchens, Harris e outros ateístas ignorantes. E é expediente maior de Rodrigo Constantino, que incapaz de compreender mesmo os aspectos filosóficos da religião que ele julga criticar, resta somente mudar o foco do debate para não responder nada e enganar o leitor.

Olavo de Carvalho, em um debate sobre religiões comparadas no orkut, deu uma aula sobre muitos detalhes do desenvolvimento filosófico das fés religiosas, em particular, o cristianismo católico, judaísmo e islamismo. Rodrigo Constantino, que ignora qualquer estudo religioso a partir da religião e só conhece, de fato, a fé cristã, por obra de seus detratores, passou maus bocados com o erudito jornalista paulista. Tudo o que Constantino fez foi usar de expedientes retóricos dos mais desonestos: desqualificar o rival na pessoa dele; desqualificar a opinião dele por chavões antireligiosos; embaralhar dados para não responder o foco das questões em debate; inverter o sentido das palavras para escolher o argumento que era melhor conveniente. Enfim, os estrategemas sofísticos mais vulgares, além de certa dose de mentirinhas bobas e rufos de vitória sobre o debatedor. E como não poderia deixar de ser, Olavo de Carvalho foi acusado de ser “fanático” por Rodrigo Constantino. Há de conjecturar que Olavo não tomou partido de religião alguma. Pelo contrário, ele explicou aquilo que normalmente se estuda em religiões comparadas, sobre as afinidades e diferenças que cada pensamento religioso nutre dentro de sua gênese histórica e filosófica. Para Rodrigo Constantino, o ateu ignorante, só restou rotular, estigmatizar e escrever textos bobos sobre o caráter do Olavo. O caso é que o ódio de Constantino não se resumiu a ele. Escreveu textos mais vulgares ainda sobre religião, como se isso atingisse o seu rival. Na verdade, o ódio dele é pessoal. Como sentiu uma completa humilhação dentro dos círculos religiosos mais eruditos, sobrou a calúnia, a injuria e a difamação para aparecer.

De fato, é isso que ocorre nos debates intelectuais em vários círculos acadêmicos e universitários no Brasil e o no mundo. O papa Bento XVI teve sua presença boicotada em uma universidade italiana, em nome da cultura “laica”. Em países como Eua e Inglaterra, os ateus militantes criam regras opressivas contra a manifestação religiosa pública, restringindo-a a foro privado, quando o ateísmo se torna regra social. É assim que Constantino entende a religião. Os católicos, judeus e protestantes devem relativizar sua fé pelas idéias dele. Isso porque um ateu, em geral, tem uma espécie laicizada de religião. Os mitos em torno da pregação laicista não têm fim. Mitos evolucionistas, mitos biológicos, mitos materialistas, mitos históricos, que implicam uma falsificação da realidade pela ideologia. Sem contar o mito da ciência, que é o chavão mais surrado desses academicistas de plantão.


Constantino nos pergunta a prova da existência de Deus por métodos “científicos”. É como se ele nos exigisse que colocássemos um ser atemporal, eterno, infinito e além de nossas expectativas num tubo de ensaio, num exame laboratorial. A pobreza metodológica da visão absolutista do empirismo retrata a carência mental deles. É como se a especulação filosófica se limitasse a parca metodologia científica. Neste ponto, quando a ciência natural tenta explicar concepções filosóficas e teológicas que estão além de suas expectativas de estudo, ela se torna mito, absorve aquilo que quer negar na própria religião e na filosofia. A mesma presunção de provar a existência laboratorial de Deus se aplica em todo o resto da vida humana. Alguns cientistas presunçosos acham que podem medir o amor, o ódio, a consciência humana, dentro de uma racionalidade matemática, mecanicista ou de um determinismo biológico. O liberal ateu idiota não percebe que um dos aspectos que nortearam o totalitarismo moderno foi precisamente essa idéia auto-divinizatória do controle da natureza e do ser humano em nome de um suposto conhecimento científico. Neste aspecto, o conhecimento “científico”, essa revelação gnóstica dos mistérios totais do mundo, prejulga substituir Deus e transformar alguns homens em deuses. A ideologia laicista impregnou de tal maneira a espiritualidade moderna, que ela se torna um dogma, uma crença auto-evidente. E ela demonstra ser muito mais obtusa e intolerante do que a religião.


É crença comum dos ateus militantes imputar aos religiosos, a negação da razão pela fé. A realidade prova justamente o contrário. O católico erudito não nega os enunciados da metodologia científica. Tampouco nega suas contribuições à humanidade. O que os religiosos discordam é a divinização da ciência elevada como totem explicativo de tudo. Neste ponto, quem dissocia fé e razão são os materialistas. Eles transformam os argumentos e métodos da ciência em dogmas, quando na verdade empobrecem o pensamento filosófico. O século XX, mais do que outro, provou a falácia do positivismo e do materialismo no campo epistemológico. Que na verdade, o apelo à razão e à ciência não passa de um discurso simplório, de uma visão rasteira de fé errada, de uma limitação das perspectivas filosóficas do ser humano. A ciência nunca explicará o amor, o ódio ou a consciência. Muitos tolos acham que a ciência explica a consciência, o amor ou o ódio, por medidas de adrenalinas e neurônios. Isso não é explicar a essência mesma desses atributos humanos, mas tão somente as reações químico-biológicas que advém de tais particularidades. Essa credulice de medir o ser humano em vistas de pressupostos mecânicos é um dos aspectos mais perversos do pensamento científico na modernidade.

O cardeal Joseph Ratzinger, o mesmo que depois foi elevado a papa Bento XVI, falou algo interessante sobre a “ditadura do relativismo”. Na realidade, o relativismo é tão somente com a religião e com os pressupostos éticos, morais e filosóficos tradicionais. Os secularistas que impediram o papa de fazer uma palestra universitária, em nome de uma suposta “razão”, são os mesmos ateus que acusam na religiosidade em si mesma, a pecha de obscurantista e fanática. Todos, à sua maneira, são os reais fanáticos. Todos, à sua maneira, possuem seus dogmas de fé. E o pior, não argumentam, não questionam, não sabem respeitar a divergência. O ódio irracional ao “medievalismo” e a ilusão rasteira da supremacia iluminista torna-os cegos para a realidade.

Os ateus são homens realmente de muita fé; crêem numa realidade irracional; são filhos do acaso; personificam-se apenas como uma espécie elevada de símio; e cujos destinos futuros são apenas o nada sobre nada. É o ser e o nada, na figura de Jean Paul Sartre. Não é por acaso que o século XX foi o século da náusea. E ainda dizem que a perda da fé religiosa vai progredir a humanidade! O humanismo dos ateus é o existencialismo do absurdo!

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente,caro Conde!!!

KIRK