São Paulo, a capital do Brasil!

Quando faço minhas viagens, um povo que sempre me chama atenção é o paulista. E a cidade que me causa profunda impressão é São Paulo. Não que eu seja fã de concreto e asfalto. Até certo ponto, tenho uma predileção por cidades históricas, prédios antigos, e, enfim, histórias do passado. No entanto, São Paulo tem uma qualidade pouco encontrada em nosso país: uma cidade cosmopolita, moderna, agitada; um povo ordeiro e educado; e um lugar próspero. Na verdade, é o coração do país.

Quando conheci São Paulo, pela primeira vez, confesso que me assustei. Nunca vi cidade mais gigantesca! Nada muito parecido com a realidade provinciana do Pará, com seu cotidiano sonolento e suas ruas previsíveis. A capital paulistana é um labirinto imenso de ruas e de gente. Senti-me um inseto do romance de Kafka. E Belém mal passava de um grande bairro daquele lugar.

Um amigo do Rio de Janeiro me pergunta se estava ainda em São Paulo, nesses dizeres: - E aí, já saiu da civilização? São Paulo, sem dúvida, é um exemplo de prosperidade para todo o país. Não é por acaso que é o estado mais rico. A agitação paulistana reflete uma ética de trabalho incomum para os padrões brasileiros. Em todos os lugares, do metrô às ruas, dos carros aos ônibus, as pessoas estão correndo, ora compromissadas, ora atrasadas. Para algumas pessoas de fora, isso dá um ar de neurótico ao paulistano. Não obstante a isso, a população desta cidade é de todo mundo. Do Brás, eu encontrava os italianos; o Higienópolis é cheio de judeus; a Liberdade é infestada de orientais. Se São Paulo é uma cidade do mundo, ironicamente, é a maior capital nordestina do país. Na minha última entrevista, uns idiotas tiveram chiliques quando eu dei a entender que os nordestinos deviam trabalhar na cidade grande, ao invés de parasitarem o Estado com bolsa-esmola no sertão. Esses indivíduos querem que o nordestino médio seja uma espécie de camponês medieval preso à terra, para evitar a busca de trabalho mais rentável nas metrópoles. Como se os nordestinos não fossem necessários ao desenvolvimento das cidades. Como se o trabalho, mesmo braçal, fosse algo indigno de ser procurado. Será que tais idiotas não percebem que os judeus, italianos e espanhóis de São Paulo também já foram braçais, como mascates ou plantadores de café? Em conversa com um velho taxista, neto de calabreses, falei: - Os italianos vieram em São Paulo como operários anarquistas pobres e seus netos agora são burgueses! Sem dúvida, a maioria dos nordestinos que vivem lá não troca São Paulo pelos grotões da Bahia ou de Pernambuco, nem pelo cacete!

O que mais me diverte no paulistano é o seu sotaque, algo bastante italianizado. Siammo Tutti Buonna Gente! Conheci uma amiga que me lembrava a personagem da falecida atriz Nair Bello, a “Santinha”, com aquele sotaque peculiar. Só faltava dar tamancadas em alguém e ter bobs na cabeça. A comicidade não se resumia ao sotaque. Os trejeitos típicos dos carcamanos, como falar pelas mãos sem parar, eram notórios. Um paulista italiano se cala pelas mãos. E o famoso “ô meu” é característico. Às vezes, o paulistano médio parece ser um sujeito muito sem graça, sem sal. Porém, o mulherio é poderoso. Encontrei mais mulheres bonitas em São Paulo do que no Rio. Imbatível mesmo, em matéria de mulher bonita, só o Rio Grande do Sul. E ainda dizem que o Rio é a “Cidade Maravilhosa”! Que nada! São Paulo é o cara! Tem tudo lá! E os idiotas da objetividade vão me dizer: - E as belezas do Rio? As praias? O Corcovado? Ah! Que vá para o inferno! Quem precisa de paisagens, se a cidade tem a Avenida Paulista pra comprar o que quiser? A Paulista é como um casamento: começa no Paraíso e termina na Consolação! Para quem vem do Pará, não há nada que encha mais o saco do que ver paisagens. A floresta amazônica é monótona, monótona!

Sem dúvida há uma diferença de mentalidade política em São Paulo. É certo que a grande capital não foge das mazelas comuns a nordestinos e nortistas: políticos corruptos e populistas, além dos velhos conchavos patrimonialistas. Dos Malufs da vida até a Martaxa, os eleitores paulistas dão uma de nordestinos do brejo. Que dirá dos intelectuais estúpidos, que São Paulo tem aos montes, com a USP, PUC e a UNICAMP? Nisto, os paulistas imitam o que há de pior nos franceses de Sorbonne. E a partir daí, São Paulo criou duas classes políticas odientas, umas das mais asnáticas do país: os petistas, comunistas comedores de criancinhas do ABC e os tucanos, comunistas chiques que usam talher e falam francês. Um amigo meu economista me dizia que a PUC tinha o curso de economia mais caricato do país. Se é verdade ou não, isso é porque ele não conheceu as faculdades de economia aqui no Pará. Se há algo que muitos cursos de economia fazem em todo o país é imitar a tontería dos cursos de economia dos paulistas. Não só de economia, mas de todo o resto. Que dirá da faculdade de filosofia, a "Fefelechi"? Os paulistas são imitados até nas burrices que cometem. Algo similar, só as faculdades do Rio, que costumam ser piores ainda. Há exceções. O IBMEC salva a honra paulistana! Pena que quase ninguém imita. . .

Os acadêmicos do Pará, com algumas exceções, adoram macaquear as asneiras da USP. Quando um uspiano chega em Belém, só faltam soltar o tapete vermelho. Ele pode falar as piores idiotices do planeta, mas o paraense médio acadêmico adora bajular um diploma dourado. Isso não é só um problema nortista, como é compartilhado pelo nordestino. Saindo das searas do sudeste e subindo mais ao norte, o povo adora as aparências bacharelescas. Todavia, nem tudo é tolice no reino da paulicéia. Há inteligências poderosas que contrabalançam a anormalidade uspiana. Encontrei grandes sumidades na capital paulistana e, a despeito das recaídas, o paulistano médio costuma ser politicamente sensato e pragmático. Gosta de lei e de ordem.

Muitos dizem que o Rio é a capital do Brasil; outros, mais áulicos, bajulam Brasília. Todavia, São Paulo é a junção dos Brasis que dá certo. O Rio é aquele alto grau de inépcia e desgoverno estatizante, no reflexo de uma capital decadente, uma ex-Brasília desprovida de seu antigo glamour, dominada pelo tráfico de drogas e governada pelas favelas. Já Brasília é uma fábrica de ilusões, uma usina de déficits, uma penca de burocratas parasitas e esnobes, além de esotéricos estúpidos. Oscar Niemeier, em cem anos de inépcia, criou aquele monstrengo absolutista e orçamentívoro em impostos, aquela feia Versalhes mal rabiscada de concreto.

São Paulo é também de concreto. Contudo, nos seus variados sotaques nacionais e internacionais, é o coração econômico e cultural do Brasil, é o cidadão do mundo!