
Enquanto o PT consagra, a passos lentos, o aparelhamento do Estado e uma vindoura ditadura totalitária, a direita liberal, educada e bovina, tal como madames do chá das cinco, ainda gastam tempo discutindo economecês liberal, enquanto perdem todos os espaços políticos e culturais. Isso se é que já não perdeu há muito tempo! Na discussão a respeito da Petrobrás, ao invés de alguns liberais defenderem os interesses nacionais, ficaram na esparrela econômica de que a Petrobrás deveria ser privatizada! Tamanha falta de realismo, tamanha pedância misturada a cegueira, parece comprometer os liberais num ostracismo bastante explicável.
Os liberais e conservadores deste país ainda não perceberam que para lutar contra a esquerda, não basta lógica econômica capitalista. A luta contra o esquerdismo é uma luta contra uma cultura instituída de mitos e crenças culturais arraigadas na política, na intelectualidade, no imaginário, que estão muito além de meros cálculos econômicos. A esquerda não dá a mínima para a racionalidade econômica (ou quando dá, é pra sustentar precisamente a loucura de sua burocracia estatal totalitária e dominadora). Os liberais, no campo armado apenas da economia, acabam, sem perceber, por se tornarem as verdadeiras empregadinhas domésticas da burocracia de esquerda, enriquecendo os bolsos da inteligentsia, enquanto são culpabilizados pelas mazelas parasitárias dessa mesma esquerda. O papinho de liberal economocês é um discurso irritante tão pedante, tão desconforme com a realidade, que realmente parece ser uma conseqüência rala da loucura petista que assolou o país. Mal sabem os pretensos liberais tupiniquins que os socialistas podem perfeitamente aderir a lógica liberal de economia, sem comprometer o totalitarismo estatal e cultural draconiano no resto.
Enquanto a esquerda é agressiva, violenta, suja, vil e baixa, na sua ânsia de poder, a direita parece uma donzela laboriosa, que conversando com um maníaco, está pronta pra ser deflorada mediante estupro. Enquanto a esquerda ataca por todos os lados, consolidando de maneira truculenta, sua hegemonia em praticamente todo os setores da sociedade civil, os liberais ficam na polidez assombrosa, onde era motivo de chutar a barraca. Brigam por motivos fúteis, observam detalhes e picuinhas econômicas, enquanto ignoram a política que está por trás do poder instituído. O liberal médio, salvo raras exceções, ainda não percebeu que existe um projeto muito mais além de sua reles lógica econômica. Como se a vida social só dependesse disso. . .
É por isso que vemos liberais apáticos, discutindo economecês sobre a Petrobrás, enquanto o jogo político na América Latina, é, sobretudo, geopolítico. É irrelevante discutir se a Petrobrás é estatal ou não, se há dinheiro e empresas de cidadãos brasileiros sendo roubados por outro governo, e este mesmo governo usando matérias primas que consumimos para extorquir nossos bolsos. A esfera vai além da questão econômica e caminha para a questão política, para a questão dos interesses das nações. Muitos liberais idiotas vão afirmar que brigar com a Bolívia geraria custos desnecessários, ou que uma suposta guerra ou conflito diplomático poderia causar transtornos econômicos ao Brasil. E que a solução pra resolver tudo, é só um milagre do livre comércio, que convenceria aos bolivianos tão idiotizados, as maravilhas do consumo capitalista.
Mas parece que esses liberais cegos não entendem que a sociedade livre só pode proteger seu ideal de livre comercio, mediante a segurança pública de suas nações, ou seja, exército e diplomacia. Nenhuma nação faz prevalecer seus interesses econômicos, apenas pelo poder econômico. Se fosse assim, qualquer nação seria facilmente surrupiada por nações militarmente mais poderosas. Para que uma sociedade liberal e capitalista sobreviva, não basta o comércio, mas condições políticas e geopolíticas para que esses interesses comerciais comuns prevaleçam. E isso implica o uso da diplomacia e das armas, quando essa ordem é quebrada.
Uma economia extraordinária como a americana, por exemplo, facilmente sucumbiria se não possuísse o exército mais poderoso do mundo. A diplomacia raramente prescinde da idéia de guerra. Se um país não tiver força para fazer valer seus intentos, suas palavras poderão ser letra morta. Por acaso a economia americana sobrevive só de empresas? Ou a diplomacia americana, junto com os governos que os americanos apoiaram para prevalecer seus interesses em alguns países, foi apenas com empresários? Investir é sempre um risco em qualquer lugar do mundo. Por acaso não é risco investir na China? Ou mesmo em outras regiões do mundo? A questão é que para uma nação fazer jus a seus investimentos e para que os pactos entre as nações sejam respeitados, em certa medida, a força militar é necessária para que os pactos sejam garantidos. Ou será que a Europa pós-guerra, o Japão ou mesmo uma parte do Sudeste Asiático foram salvos por meros investimentos econômicos? A omissão militar, em alguns casos, pode ser mais prejudicial que a ação. O caso de Cuba é clássico. Os americanos subestimaram politicamente o regime de Fidel Castro e no final, não somente deixaram um campo estratégico vago para a influência soviética na região, como tiveram a ameaça de um rival com bombas atômicas. Se os Eua tivessem invadido a ilha, teriam poupado mais dinheiro e dor de cabeça.
Pressionar militarmente é uma questão de contexto. Fazer guerra contra o Iraque e fazer a detènte contra a China são dois contextos diferentes de diplomacia e de guerra. O cidadão comum e a livre empresa, por si só, não garantem a liberdade e a propriedade em relação a outros países. Os empresários não podem assegurar a estabilidade e segurança de um país estrangeiro, até porque são presas fáceis para os Estados nacionais. A não ser, claro, que seus respectivos paises intermedeiem seus interesses. . .
A realidade geopolítica mostra precisamente isso. Só existe investimento americano e ocidental seguro na Ásia, por exemplo, porque o exército americano está protegendo Taiwan, Japão e Coréia do Sul da China e Coréia do Norte totalitárias. Foi pelas armas que o presidente da Bolívia tomou as propriedades do governo brasileiro. E foi pela chantagem diplomática que ele manteve seus interesses, em detrimento dos interesses do Brasil. O Brasil sofreu uma grave intervenção nos seus interesses, e de maneira grosseira, da parte do governo boliviano. Evo Morales mentiu para o povo brasileiro e jogou o exército, ou seja, uma força militar, para tomar as propriedades do Brasil. Isso já não cabe uma diplomacia conciliadora, mas firme, e se possível, o uso das armas.
Uma pergunta que fica no ar sobre o Brasil: que país é este que é incapaz de defender os interesses de seus cidadãos? Que governo é esse que aceita de maneira pusilânime, o vilipêndio dos interesses nacionais? Como o Brasil quer ser uma potência econômica, se na geopolítica sofre a pressão de paises mais fracos, como Bolívia ou Venezuela, mediante a chantagem ou mesmo a força militar? Com que propósito o Brasil quer ser o pólo mais importante da geopolítica na América Latina, se patrocina governos que são francamente contrários a seus interesses, e pior, permite até que algumas nações se armem mais que o seu próprio exército (vide a Venezuela)? Se uma nação é capaz de aceitar provocações humilhantes de países fracos, que dirá de paises poderosos? Quem é humilhado pela Bolívia, pode ser humilhado por qualquer país!
O Brasil está promovendo sua destruição econômica e geopolítica. Da feita que a Venezuela se arma, a ponto de ter exército mais poderoso que o Brasil; da feita que o próprio Hugo Chavez financia governos hostis à democracia, entre os quais, a própria Bolívia, estamos numa reviravolta geopolítica e militar, que mais dia, menos dia, o Brasil vai ter que decidir. E terá que tomar decisões enérgicas, a fim de prevalecer seus interesses no continente. Só que lamentavelmente, o país passa pela pior crise moral e política de sua história: um governo corrupto, inepto e inimigo do Brasil, enquanto Estado-Nação, comprometido com as forças totalitárias da América Latina; uma oposição bovina e bestificada, incapaz de entender o processo obscuro que caminha o país; e uma elite liberal pensante bocó, burra e ordinária, completamente fora da realidade, preocupada com continhas aritméticas de dados econômicos, enquanto o Estado de Direito Democrático afunda no continente.
Conde Loppeux de la Villanueva
4 de maio de 2006