sábado, abril 02, 2011

Sobre um certo vitimismo na opinião pública. . .

O capitão do exército e deputado federal pelo Rio de Janeiro Jair Bolsonaro acabou dando espaço para que criassem um “factóide” contra ele. No programa humorístico chamado CQC, em que os apresentadores fazem sátiras sobre figuras públicas brasileiras, o político se prestou a responder às perguntas de alguns entrevistados nas ruas e no meio artístico. No meio deles, apareceu Preta Gil, filha do cantor e ex-ministro da cultura Gilberto Gil, que fez a seguinte pergunta: “Se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?". E Bolsonaro, sem prestar muita atenção na questão, respondeu: "Preta, não vou discutir promiscuidade com quer que seja. Eu não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu”.

Foi o pretexto que os movimentos negro e gay esperavam para achincalhar o polêmico deputado e acusá-lo de “racista”. Em particular, os grupos homossexuais estão fazendo uma campanha agressiva, apelando a uma vitimização histérica mesclada com ódio a qualquer tipo de dissidência. E os militantes do movimento negro aproveitaram a onda de indignação fabricada e fingida, para ganhar pontos na opinião pública. Bolsonaro tem incomodado demais estes rebanhos amestrados de esquerda, quando faz suas críticas à política educacional dos homossexuais na educação pública ou mesmo quando contesta a validade da chamada lei "anti-homofobia" .

Embora o deputado fale algumas verdades e seja louvado por muitos conservadores e direitistas, não consigo admirá-lo. Ele acaba encarnando o estereótipo que a esquerda adora rotular nas forças armadas: a pecha de militar tapado, sectário, apologético de um radicalismo primário sobre política e economia. Isso ficou bastante claro quando o militar foi entrevistado pelo pseudo-cult dublê de humorista Jô Soares. O entrevistador, visivelmente malicioso, conseguiu estigmatizar o deputado com o protótipo odioso de militar estúpido.

Durante uma boa parte da minha infância e adolescência, eu convivi com o oficialato. Neste meio, encontrei pessoas extremamente inteligentes, estudiosas e intelectualizadas. Da vila militar onde morei, conheci músicos, poetas, pintores, médicos, cientistas, especialistas em história, filosofia política, direito e demais outras atividades culturais. Aliás, meu pai era um destes homens apreciadores de bons livros, que iam da literatura à filosofia, passando por história e economia. Embora houvesse elementos tacanhos nesse meio, a caserna sempre foi contrabalançada por homens extremamente cultos e esclarecidos, movidos por um autêntico e intenso patriotismo e senso de dever.

As forças armadas, junto com a diplomacia do Itamaraty, foram, durante uma boa parte da história republicana, o elemento canalizador das melhores cabeças de nosso país. A grande maioria do corpo do exército é sincera em defender a legalidade e a democracia e durante a conturbada história da república brasileira, as forças armadas foram, para o bem ou para o mal, o poder moderador das instituições políticas. Na verdade, foram os militares que criaram a república brasileira. Como dizia Nelson Rodrigues, quem proclamou a república usava espadas, penachos e esporas. E os militares fizeram revoluções que a esquerda jamais soube fazer.

Porém, Bolsonaro encarna o que há de pior no pensamento de muitos núcleos militares, que é um dos problemas básicos da república: o autoritarismo, a mania estatal dirigista e a crença estúpida de que a sociedade civil deve ser uma mera extensão da caserna. Esse aspecto usurpador do “poder moderador” imperial encabeçado pelas forças armadas criou um sério impasse na história política brasileira. Se por um lado, o conservadorismo dos seus membros impediu que as dissidências políticas e variadas forças subversivas desagregassem ou mesmo destruíssem a sociedade civil e o país, por outro lado, a ideologia positivista acabou por anular os valores constitucionalistas e parlamentares herdados da monarquia brasileira.

Daí a confusão mental do deputado em defender uma situação de exceção, como foi o caso da ditadura militar, e apregoá-lo como se fosse um modelo político viável. Alguns militares sofrem de uma doença chamada o mal do “republicanismo”, a mesmíssima enfermidade dos países da América Espanhola. Há um elemento implicitamente revolucionário e também subversivo no ideal republicano brasileiro. Ele representa uma ruptura radical com os legados políticos passados da estabilidade parlamentar monárquica e uma fé perigosa no futuro. Uma fé em que sempre o porvir voluntarista está acima dos valores do passado e do presente, a ponto de sacrificá-los em nome de uma causa hipotética.

Não me espanta que o regime militar, nascido de uma revolta legitima contra a ascensão do socialismo no país, tenha praticamente estruturado um modelo político e econômico estatizante e cheio de ranços socialistas. Se alguém fizer uma análise real sobre as idéias de Bolsonaro, verá que do ponto de vista puramente econômico, ele pensa a mesma coisa que os petistas. Ou pior, muitos petistas não se cansam de elogiar o modelo econômico criado pelos militares, com suas estatais faraônicas, endividamento público maciço e burocracias em cada nível da sociedade civil. O deputado adora criticar as privatizações e exaltar o desenvolvimentismo paternalista dos governos militares. Ainda prega que a venda da Vale, do Sistema Telebrás e outros, fora um ato de "traição". A filosofia de Bolsonaro é uma confusão doida entre Estado e nação, entre empresa e governo.

Contudo, ele mal percebe que o PT está tão bem arraigado nas instituições públicas e estatais brasileiras, justamente pelo fato de que o modelo econômico do regime militar acabou sendo muito bem aproveitado pelos socialistas. Sob determinados aspectos, Bolsonaro se assemelha muito ao PT. É tão socialista quanto os militantes de esquerda, só que dentro de uma versão nacionalista e supostamente conservadora. A diferença, e nisto ele tem razão, é que os militares não roubaram. Mas o PT rouba. E muito!

Os militares foram responsáveis pela prosperidade econômica do Brasil republicano. Fizeram do Brasil uma das dez maiores economias do mundo. No entanto, criaram um monstrengo governamental que até hoje assola o país e ameaça afundá-lo de vez.

Voltemos ao caso da Preta Gil. Escolhida para ser rainha da chamada “Parada do Orgulho Gay” em São Paulo, fez uma choradeira descomunal pra canalizar as dores do movimento negro e homossexual. Disse que foi injustamente agredida pelo deputado, pelo fato de ser negra e gay. Ainda reiterou que a ofensa não foi apenas contra ela, porém contra todos os negros e homossexuais (como se alguém a autorizasse a responder por todo mundo). E começou a onda de bajulação quando afirmou: "É uma causa minha desde que nasci. E crio o meu filho com a mesma liberdade. Por isso fico muito feliz de ver aqui representantes da polícia, da política e outros setores da sociedade organizada, porque acredito que podemos mudar sim essa onda de violência contra os homossexuais." Bem que eu gostaria que Dona Preta Gil explicasse essa “onda”. É o insulto de Bolsonaro? São os assassinatos de gays, provocados pelo próprio submundo gay? Os homossexuais se matam entre si nos seus guetos e a sociedade é que deve pagar a conta?

Ela ainda se gabou: "Nada do que eu fiz são coisas inaceitáveis. Ele já foi acionado judicialmente pelos meus advogados. A questão é que agora só vai juntando novas provas contra ele. Já são três processos." O demagogo e histriônico deputado do PSOL, Jean Wyllys, aproveitou a bobagem de Bolsonaro para atacá-lo, protocolando uma representação na Câmara dos Deputados. O exibicionista “ex-Big Brother Brasil” adora aparecer nas câmeras. E o paladino do movimento gay assim afirmou: "Não adianta ele mentir dizendo que confundiu. Não há termo de confusão entre 'mulher negra' e 'filho gay'". Na lógica doentia de Wyllys, a homossexualidade tem valor sacrossanto. Discriminar a homossexualidade tem o mesmo peso de ser racista!

Obviamente dá pra perceber o equívoco quando a referência principal de Bolsonaro está relacionada à conduta sexual promíscua de Preta Gil. A resposta dele destoa completamente da pergunta. De fato, a filha do cantor Gilberto Gil é famosa em se locupletar publicamente de sua vida sexual regada a surubas e casos com outras mulheres. Se isso é “aceitável”, fica por conta dela. Por mais que o capitão do exército tenha sido agressivo, antipático, bobo, não há o menor sinal de racismo.

No entanto, o policiamento ostensivo da linguagem não têm fim. Atualmente, as expressões não têm sentido pelas intenções de quem fala, mas pelo lado de quem as interpreta. E como os movimentos negros e gays precisam distorcer e vigiar a linguagem alheia para controlar pensamentos, logo, escolheram Bolsonaro como bode expiatório de um evento sem a menor importância. É a neurose das minorias organizadas: posarem de eternas vítimas, ao mesmo tempo em que forçam a aprovação de uma legislação opressiva e totalitária, além de discriminatória e desigual.

A grosseria de Bolsonaro é fruto de mal assessoramento e tacanhez. Ao portar dessa forma, acaba sendo idiota útil das esquerdas. Por mais que ele seja cheio de boa fé e tenha um posicionamento correto em muitas coisas, sinceramente, eu não acho que ele represente algo necessariamente inteligente na direita brasileira. Entretanto, não dá pra cair nesse choramingo da Preta Gil. O vitimismo rançoso dos militantes gays e negros só atestam oportunismo, má fé e pura vigarice política. Que as criancinhas mimadas do movimento negro e gay vão chorar em outra freguesia!

3 comentários:

Alessandro disse...

Olá Conde.

Mais um texto lúcido, analizando os fatos fora dos esquemas fixos e emburrecidos, infelizmente a grande parcela da população é refém de uma classe e não tem acesso a informações do outro lado, do JN a JR é a mesma pauta.

Gostaria que vozes como a sua e de tantos outros pudessem chegar a uma parcela maior da população Brasileira.

Anônimo disse...

"A diferença, e nisto ele tem razão, é que os militares não roubaram. Mas o PT rouba. E muito! ". Muito boa!!!!
E, que triste quando essa Preta abre a boca... A ignorância desse país é uma maldição.

Anônimo disse...

Parabéns,estimado Conde!!!


Almirante Kirk