
Recentemente, o presidente deu mais uma de suas inumeráveis declarações infelizes, que refletem o nível de mentalidade ao qual estamos sendo governados. No dia 28 de maio de 2009, no lançamento do Plano Nacional de Formação de Professores de Educação, Lula falou que: "Uma das razões pelas quais a escola pública foi se deteriorando é porque grande parte da classe média se afastou dela. Para não brigar [por qualidade], decidiu colocar os filhos na escola particular. E pagar na mensalidade de 3º ano primário o mesmo preço de uma universidade particular (...)"Nós precisamos caminhar para uma escola com tamanha qualidade, em que a disputa das mães e dos pais seja para colocar os filhos nas escolas públicas, e não correr ou fugir para escola privada, como aconteceu em 1970, 80 e 90". Se o operário das idéias não tem domínio correto no português, o mesmo pode se deparar com a lógica. Ele inverte todo o sentido da responsabilidade em culpar as vítimas pelo crime. Nas suas palavras, a culpa não é do governo, que usa mal o dinheiro público e mantém escolas ruins e fajutas. A culpa é da classe média, que não mendiga ao governo. A inversão de responsabilidades é notória. Se o Sr. Lula e os demais governantes financiam uma escola ruim, a culpa é do cidadão comum, que supostamente não exige o que ele e os políticos deveriam fazer.
A frase é mentirosa, para dizer o mínimo. A classe média se afastou da escola pública justamente para buscar qualidade de ensino. Se a escola privada educa melhor, por que valorizar os serviços de pocilga da educação estatal? Porém, na mentalidade patrimonialista e autoritária do presidente, todo mundo tem que bajular o governo. A culpa, por assim dizer, da classe média, é de agir independentemente, mostrar que não precisa beijar a mão de Lula para ter o que precisa. Ele acha que a classe média deveria ser um protótipo do retirante nordestino, e o Estado, uma espécie de coronel do sertão, na figura de um distribuidor de cestas básicas ou de bolsa-esmola qualquer. Se este país ainda tem algum tipo de desenvolvimento econômico é por conta da existência de uma classe média de empreendedores, ainda que massacrada pelo governo, através de impostos e políticas econômicas malucas. Ela é uma das maiores vítimas do peso de um governo caro, dispendioso, inútil e corrupto. Isso porque também paga pelas escolas públicas. Só que a classe média não as usa, por razões óbvias. E a maioria dos pobres só não foge do ensino público, porque não tem opção.
Curiosamente, o presidente que inquire a classe média por não exigir escola pública de qualidade é o mesmo que educou sua filha em Paris, financiado por algum amigo da elite da vida. É a mesmíssima filhinha de papai que explora a classe média empobrecida quando faz sua farra dos cartões corporativos às nossas custas. O outro filhinho do presidente, seu Fábio Luis "Lulinha", também estudou em escola particular. Se a justificativa presidencial é mentirosa, ela também é hipócrita. Como um bom oportunista demagogo, o presidente Lula tem discurso pra todas as platéias. Todavia, ele tem o luxo de mentir à vontade, já que tem o apoio da imprensa e de uma boa parte da classe política vendida deste país. Nunca neste país alguém mentiu com tanta aceitação, popularidade e condescendência. . .
Por outro lado, há uma perversão política de raciocínio na idéia do presidente. Ele induz a crer que a educação privada seja uma espécie de usurpação das funções do Estado. Na lógica dele, o Estado deve controlar tudo. Há até uma sutil chantagem psicológica contra a classe média. Lula dá a entender que a busca de ensino melhor nas escolas privadas é algum paradigma malvado das elites, uma conspiração contra a educação pública. Entretanto, o que se pode esperar de um governo cujas credenciais ideológicas são totalitárias? A educação pública é um dos maiores engodos do Estado moderno, uma das maiores usurpações das funções privadas dos cidadãos comuns de educarem seus filhos. Se não bastasse a incompetência do governo em instruir filhos alheios, ele não se contenta com seus fracassos: quer criminalizar quem educa melhor. O bem privado e a livre iniciativa são malvistos. E numa época onde a ideologia socialista domina como nunca as escolas e universidades, essa crença fantasmagórica do Estado supremo, onipotente, pai de todos os pobres e justiçador de todos os ricos, cada vez mais oficializa o governo na tomada de espaços outrora gerenciados pela sociedade civil. E o lento e gradual braço estatal se expande sobre tudo e a todos, bestializando a sociedade, tornando o indivíduo eternamente infantil, eternamente dependente das amarras governamentais. A vitimização do “excluído” é um sintoma ideológico dessa doença. Uma histeria que premia certos vigaristas e mantém muitos idiotas úteis!
O desprezo de Lula pela classe média tem sentido. Uma boa parte dela não se coloca como a “excluída” que dependa dos caprichos e favores do Estado. Entretanto, essa classe de pessoas está cada vez mais excluída das benesses do governo. Ela é criminalizada, insultada e literalmente roubada. E ela paga a conta pelos autonomeados “excluídos” de plantão!
6 comentários:
Caro Conde, leio seu blog e os que você indica (Olavo, Reinaldo etc)com fervor, enquanto ainda é possível existir oposição no País. É claro que falo da oposição de pessoas privadas, indivíduos que ainda não perderam a capacidade de raciocinar e conseguir enxergar a realidade no meio do véu da alienação geral. Oposição política não existe mais, apenas formalmente (PSDB/DEM). Está tudo muito ruim, mas infelizmente ainda não chegamos nem perto de tocar o fundo poço. Parabéns pelo seus textos, são uma voz na tempestade.
Fernando José - SP
EXCELENTE,como sempre,caro Conde!!!
PARABÉNS!!!
KIRK
Faço das palavras do fernando as minhas.
Na maior parte do tempo meus olhos estão vendados, estou cega e não vejo a realidade de meu país.É assim que me sinto ao ler um de seus e outros grandes textos. Muitas desgraças acontecendo. Cidades decretando estado de calamidade, mais de 50 mil desabrigados. E o país irá cediar a copa. Com um investimento de sei lá quantos bilhões...
O Admirável Mundo Novo vem aí: maconha liberada, madraçais do estado evidentemente coordenados pela elite lulista que há de faturar horrores com o monopólio da educação. Corram que 1984 vem aí.
Obrigado Conde.
Concordei com tudo, exceto por Vossa Graça escrever o nome completo do "Lula da Silva" usando "Ignácio" (mais "arcaico", portanto aristocrático...) em vez do simples e comum "Inácio".
Saudações!!!
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