
Estou na loja da minha mãe, cuidando dos negócios da família e eis que vejo um santinho de um candidato a vereador, em cima da mesa de trabalho, nas seguintes palavras: “vote no ‘anormal’ do brega”, professor e advogado!”. Aquela cena me pareceu curiosa, senão saída de um romance. Lembrou-me do brilhante folhetim escrito por Lima Barreto, “Os Bruzundangas”, que falava justamente da República Velha, com seus conchavos e suas parvoíces políticas e a degradação moral das elites governantes. De fato, já havia uma comicidade em nossa república: ela já nasceu velha! Se o Sr. Lima Barreto vivesse hoje, seu texto seria bem mais fecundo. Ainda não vi ninguém imitar a vida com a arte. Em nosso país, a realidade é tão surrealista que supera a arte do cômico.
Naquele cidadão vulgar, candidato a vereador, observava o rebaixamento moral, intelectual e ético das elites políticas brasileiras atuais. O mesmo princípio se aplicava às candidaturas a prefeito da minha cidade. Todos, em maior ou menor extensão, queriam parecer como o populacho ralé, sem as distinções graves e necessárias que se exigem nas lideranças políticas virtuosas. Todos queriam ser comuns, padrões medíocres da massa. Mais grotesco do que essa constatação é a falta de personalidade nas classes políticas. Se há algo que desapareceu nessa república foram às oposições. Se não bastasse a vulgaridade dos candidatos, quase todos beijavam a mão do vulgar-mor, do homem-massa, da personificação da revolta dos ralés da república: o Presidente Lula.
Às vezes me pergunto quais as qualificações do “anormal do brega”? Vejo um candidato a prefeito falando assim: “- Eu sou burro e pobre como você, logo, vote em mim”. É como se a burrice e a pobreza, tão comuns ao povo, fossem alguma virtude, dessem alguma moral para governar. Para contrabalançar a vulgaridade, o nosso candidato a vereador nos assevera: “professor e advogado”. E me pergunto: o que um “anormal do brega” pode ensinar de louvável ao povo? A baixeza cultural se associa ao mais rasteiro bacharelismo, como se o papel timbrado de um diploma desse autoridade intelectual ao vulgar. De fato, o que menos falta neste país são pessoas incultas, iletradas, porém, nobilitadas com algum título de “doutor”.
As elites democráticas atuais não vêem exemplos em instâncias superiores de cultura, política e moral que as distinguam. Elas mesmas não se exigem para esses fins. Agora quase todo político quer fingir ser do povo. O presidente da República se exalta por violar o português ou soltar sofismas de botequim sindical. Os candidatos vão na mesma onda, ora exaltando as virtudes da própria indigência moral e intelectual, ora exaltando uma falsa origem de pobreza. Quando o rei quer se parecer com o lacaio ou quando o prefeito quer se assemelhar a empregadinha doméstica ou dona de casa da propaganda eleitoral, é porque alguma coisa está errada com essa classe política. Antigamente, as empregadas domésticas e os lacaios sabiam fazer distinções. A massa buscava a se assemelhar aos melhores da elite. Ainda me lembro de um sujeito simples do povo, porém, muito sábio e honesto, que dizia: “- Eu não voto no sicrano, porque ele é parecido comigo, porque eu mesmo jamais saberia governar o país”. Agora é justamente o contrário. Mimados por discursos demagógicos, o lacaio ou a empregada doméstica acham que devem votar no rei semelhante a eles próprios. Ou pior: as elites querem ser piores do que o povo. A democracia, neste aspecto, é um circo, um fingimento, uma palhaçada. É um povo inepto, sem hierarquias de valores para escolher como ser governado. É uma elite inepta, postiça, nula, sem senso de autoridade e auto-exigência do dever moral para governar.
Se por um lado, quase todo político se orgulha de ser “massa”, ninguém quer assumir as distinções e deveres inerentes às elites. A “elite”, para a classe política, é o inimigo, o rival. É como se a distinção fosse em si mesma má. Claro, isso implica dizer que a padronização é um referencial de proximidade com o povo. Na prática, porém, é uma perversão moral das lideranças e uma destruição completa de valores hierárquicos no povo. Tal ódio contras as elites tem o aspecto cabal da inferioridade moral de nossos tempos, que é a inveja, o desprezo por aquilo que soa diferente e superior. Tudo que fuja aos padrões da massa em matéria de criatividade, zelo pelo dever moral, originalidade e inovação, é suprimido pela imensidão das multidões ignorantes, incapazes de saberem distinguir os bons e os maus. Os maus políticos, do mesmo modo, seguirão os padrões idiotizados da massa.
Há outro aspecto assustador neste fenômeno: as lideranças políticas, camuflando as distinções notórias de seu poder e seu status, acabam se escondendo nos anseios irresponsáveis das massas. Qualquer político que diga ser como o povo, de alguma forma, está mentindo. No entanto, a sua responsabilidade como líder se dilui na vontade das massas. É muito cômodo acusar os males de elites imaginárias, quando na verdade, são as próprias elites que se acusam nos outros! Quem dirá que o Presidente da República, este notório vigarista e charlatão, não é um membro da elite? Grotesco é ele se afirmar eterno operário, mesmo sendo a figura política mais poderosa do país. O grupelho intelectual petista, formado pela USP e pela UNICAMP, que o diga, na farsa de ser contra as elites, quando na verdade, tem quase toda a máquina cultural e universitária do país em seu poder!
Se analisarmos, por outro ângulo, o “anormal do brega” poderá ter algum sentimento de culpa de sua distinção. É, nas suas palavras, um advogado e professor. Contudo, para se mostrar mais povão, diz que é cantor de algo popular. Entretanto, tudo nos leva a crer que o homem é vulgar mesmo, e é mais promissor para ele se dizer um “anormal” de uma música visivelmente anormal, do que ser professor e advogado. Na verdade, chego à conclusão de que a realidade é bem anormal neste país.
Eu ainda sinto nostalgia de uma sociedade nobiliárquica, de eclesiásticos, de estamentos sociais, enfim, de reis. Sinto, inclusive, falta de profetas. Os do Antigo Testamento ofendiam o povo à exaustão e os enviavam pragas e punições divinas! Os nobres não fingiam que não mandavam: sabiam de seus deveres de casta e de governo. Os eclesiásticos colocavam ordem moral e espiritual nos reinos e principados. E a massa sabia e reconhecia seu devido lugar de insignificância. “Soberania popular”? Acaso as donas de casa e empregadinhas domésticas orgulhosas votariam em reis naqueles tempos? A civilização deixaria de existir antes de nascer! Nelson Rodrigues tinha razão: antes do século XIX, o mundo era feito de uma imensidão de idiotas e meia dúzia de notáveis. Quando os idiotas viram que eram maiores em número, acabaram colocando seus similares e afins no governo, nas universidades, nos lugares nobres de excelência. E os idiotas se rebelaram contra a ordem natural das coisas, invertendo tudo, como se a vulgaridade fosse sinônimo de excelência. Aí temos Lula no poder. E também o “anormal” do brega e muitos outros "anormais" da política. E outras figuras miúdas, senhoritos arrogantes e satisfeitos, invadindo as esferas mais graves do poder e da cultura. A democracia brasileira é a ditadura dos homens estreitos. É o país dos Bruzundangas. É a república dos bestializados!
11 comentários:
O Conde é um idiota que quer chegar à elite da categoria, se tornando um notável idiota.
Isso é demagogia pura. É o populismo mais rasteiro que nivela por baixo.
Eu até que me divirto com candidatos esquisitos e bizarros, mas ao mesmo tempo tenho medo que isso acabe se tornando uma condição sine qua non para candidatura. Num país com crise institucional, esse tipo de candidato tende a se eleger pelo voto de protesto, e é aí que mora o perigo.
A esemplo de Frank Aguiar, Clodovil (se bem que falou certas verdades no plenário), esse ano o cantor Netinho foi eleito. Já imaginou se a filha da Gretchen (a mãe também foi candidata a prefeita em Itamaracá), a Rita Cadillac, o Pit Bitoca, o cantor Ovelha, o Sérgio Mallandro etc, fossem eleitos também? Tá certo que a nossa política é cheia de malandragem e putaria, mas não precisamos jogar a toalha.
Eu defendo a República Velha e ajudei a reabilitá-la online.
tenho um blog sobre o presidente Júlio Prestes de Albuquerque.
Saudações Sr Leonardo
Aprecio seu blog, onde sua inteligência, cultura e requinte, desdobram-se em brindar-nos com precioso trabalho.
Conheço-o através do blog - Radar da Mídia e desde então, acompanho sua jornada.
Parabéns
Simone Serrou
Pela velha-nova direita espanhola, bramaram já Manuel Fraga Iribarne, presidente e fundador do PP, antigo ministro de Franco, ex-presidente da Galiza, assim como Esperanza Aguirre, também do PP e presidente da Comunidade de Madrid e a portavoz do PP no Congreso, Soraya Saenz de Santamaría.
Pela parte da Igreja Católica espanhola, cúmplice maior dos crimes do franquismo, a resposta é não só de degradado para com as decisões de Garzón como respondem pelo instrumento que melhor sabem manusear: a beatificação em série dos seus “mártires da fé”. E, nesta produção em série de santos e beatos, os bispos espanhóis, de um catálogo de cerca de 10.000, já beatificaram 977 e preparam uma nova fornada de mais 500.
Unidos ontem na opressão e nos crimes do franquismo, direita e Igreja voltam a reunir-se, hoje, em defesa da amnésia espanhola, procurando negar aos cidadãos de Espanha o direito a saberem dos crimes e aos descendentes das vítimas do franquismo poderem dar uma última morada condigna aos restos mortais dos fuzilados que defenderam a legalidade constitucional espanhola contra um bando militar sedicioso que, arregimentando mercenários marroquinos e apoios de Hitler, Mussolini e Salazar, assassinaram a República Espanhola e instalaram em Espanha uma ditadura fascista, cruel e vingativa que, durante 40 anos, mergulhou a Espanha na noite da opressão.
Resposta ao "maurício pau no cú",às 3:16 PM:você é um invejoso da capacidade,do esforço,do caráter,das virtudes,da decência,da honradez,do bom nome,da pessoa de bem,íntegra,honesta,do bom gosto e dedicação do caro Conde!!!
Parabéns,caro Conde!!!
Um abraço!!!
KIRK
Perfeito! Que tal uma análise da disputa pela prefeitura de São Paulo? Da manifestação de alguns policiais civis com apoio de sindicatos que se lançaram contra a PM a frente do Palácio dos Bandeirantes? Tudo promovido pelos bandoleiros desesperados com a derrota anunciada da Marta na próxima semana. O que podemos esperar para a próxima semana? Greve dos transportes públicos? Passeata de professores na Av. Paulista? PCC nas ruas ajudando a o partido (PT) de sua base aliada, a exemplo do que fizeram em 2006?
Correção: Onde se lê "esemplo", lê-se exemplo.
KIRK
Já Percebi que vc é o anjinho da guardo do Conto . ihhhhhhhhhhhh
O vagabundo "viva o cú",às 6:23 PM,em vez de enviar um comentário de sua própria lavra,cita comentários de terceiros,sem ao menos citar os autores e,pior,sem ao menos colocar entre aspas os referidos comentários,hehehe!!!
Que vergonha!!!
KIRK
Qual é,"maurício pau no cú",às 9:00 PM???!!!
Ciúmes agora,PORRA???!!!
Estou tentando salvar,inclusive, VOCÊ desta loucura comunista,seu infeliz...É que sempre que me deparo com gente doente,mentalmente falando,fico condoído,apiedado,penalizado com a desgraça espiritual alheia!!!Sabe como é cristão,não é,sempre acreditando que é possível trazer de volta,à luz,as almas que foram cooptadas ou escravizads pelas hostes demoníacas,que fazem com que estas andem em círculos,embotando seus espíritos,esvaziando-os por dentro quanto àquilo que verdadeiramente torna-o um ser humano NORMAL,hehehe!!!
Por favor,"maurício pau no cú",às 9:00 PM,da próxima vez,identifique-se...Ao menos isso,hehehe!!!
KIRK
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