
Em plena copa do mundo, eis que passeio pelas ruas de Belém, e em cada esquina, cada rua, cada casa, há uma bandeira do Brasil estendida, e todos os becos são verde-amarelos. Imagens do futebol se misturam com as cores da bandeira, papeizinhos coloridos são amarrados em fios de cada poste, e no chão, as cenas da seleção brasileira se confundem com a própria identidade nacional, uma espécie de catarse em que os brios patrióticos do povo são exaltados. Em miúdos, a seleção brasileira, ao lado da Bandeira, do Hino, do Selo e do Brasão da República, é o mais popular símbolo nacional, expressão meteórica de caráter de um povo. Nada contrário a este sentimento patriótico. Todavia, há um problema nesse tipo de manifestação. Não que elas não tenham razão de ser ou não sejam autênticas. No entanto, o futebol, como a Copa do Mundo, antes de representar uma expressão de nosso nacionalismo e nossa identidade, mostra um retrato de nossas debilidades, uma manifestação, em suma, de fraqueza de caráter, de superficialidade. Essa fraqueza de caráter se reflete na visão alegórica de patriotismo, na falta de seriedade ou mesmo na desproporção entre a Copa do Mundo e o real significado de amor a uma nação ou identidade de um país.
Já diziam alguns escritores, que o brasileiro médio é um homem brincalhão, o “homo ludens”, que nada leva a sério e tudo é feito na aparência, no disparate e no espalhafato. É muito percebido pelos estrangeiros que o “lúdico” se mistura ao erotismo, exaltado como uma outra qualidade neste país. Porém, eis a falha sombria do “homo ludens”: o culto da aparência e do erotismo recusa qualquer capacidade de raciocinar; a emoção e a retórica suplantam a capacidade lógica; a simpatia ou antipatia instintiva convence mais do que a seca e gélida razão objetiva. Se o vício é percebido no povão, em manifestações catárticas do futebol, que dirá dos intelectuais, em sua maioria, que alimentam essa bestialização do homem lúdico e erótico? Eles mesmos personificam o homo ludens na cultura intelectual, quando julgam as questões concernentes à política e a economia, através das meras simpatias ou antipatias instintivas. Por isso que é perfeitamente explicável por que as exaltações do “erotismo”, do “espalhafato” e da “alegria” do brasileiro médio são elevados como um elemento de identidade. Retirando isso, nada nos sobra de substancial. . .
O nacionalismo brasileiro é algo falacioso, fictício, forçado. Falta em boa parte dos brasileiros, algo como consciência cívica, senso de deveres mútuos que consolidem a idéia de cidadania política. Ademais, até a palavra “cidadania” é vítima do “homo ludens”: tornou-se a panacéia pronta para todos os problemas e todas as questões estereotipadas do “bom cidadão”, enquanto a cidadania, perfeitamente compreendida, nada mais é do que a simples idéia de pessoas que exercem seus direitos e cumprem seus deveres, de forma madura. A “cidadania” se tornou um mito, uma alegoria, tanto quanto são alegorias, as manifestações patrióticas pela seleção brasileira. Se a exaltação nacionalista não é alegórica, personifica um sintoma do velho autoritarismo estatal, da velha confusão entre Estado e sociedade. Tal dependência de um poder paternal parte do pressuposto de uma falta de solidariedade civil, típica de países carentes de uma idéia de nacionalidade, pautada em valores cívicos de uma democracia. O nacionalismo brasileiro, enquanto vocação política, não depende da ação deliberada de seus cidadãos, mas da manifestação todo-poderosa do governo.
No caso da seleção brasileira, raramente se vê manifestações dessa envergadura, em situações onde os brios patrióticos são muito mais necessários e muito mais graves. A média dos brasileiros é menos patriota quando revive as festividades da Independência ou mesmo de interesses que dizem respeito à sua sobrevivência como cidadão de uma nação. A política internacional brasileira é totalmente alheia a uma boa parte dos brasileiros, e mal se sabe o que se passa, no que concerne à real administração dos interesses nacionais. Isso mostra o grau de desproporção, ou mesmo, distorção, do senso de nacionalismo do brasileiro médio.
Vários casos retratam a completa omissão do nacionalismo onde ele foi necessário. O governo brasileiro expôs o país ao ridículo, quando propagando uma idéia fraudulenta de livre comércio com a China, acabou vendo a soja do Brasil boicotada pelos chineses, sem que qualquer um cidadão do Brasil movesse uma palha a respeito. Pelo contrário, o Brasil, do governo federal e das Relações Exteriores até o Zé povinho, todos ficaram com caras de tontos, sem nenhuma reação contrária a tal deslealdade econômica. Isso porque a tão alardeada promessa da China, em apoiar a sonhada cadeira brasileira do Conselho de Segurança da Onu, foi formalmente ignorada pelos comunistas chineses. O governo brasileiro, para conquistar um cargo na burocracia mundial da ONU, colocou, no artigo 5º da Constituição Brasileira, a total sujeição dos tribunais brasileiros ao tribunal internacional deste órgão. Ou seja, constitucionalmente falando, o país praticamente negou a soberania nacional de seus tribunais. Nenhum cidadão deste país, nenhuma ordem de advogados, nenhum jurista, nada, ninguém se manifestou a respeito de tamanha estupidez diplomática!
O que dirá então da Argentina, já que o Brasil, sonhando com uma suposta soberania na América Latina, é capaz de ser provocada e humilhada pelos ingratos aliados hispânicos? O pior estava por vir. O governo brasileiro, colocando interesses ideológicos espúrios em detrimento da nação, promoveu uma candidatura na Bolívia, francamente hostil aos interesses do Brasil. O candidato a Presidência da Bolívia, Evo Morales, declarava francamente confiscar a Petrobrás sem menor indenização. O presidente Lula apoiou entusiasticamente a candidatura do boliviano, e quando o candidato foi eleito, fez justamente o que prometeu: confiscou mais de um bilhão de dólares em investimentos do contribuinte brasileiro na Bolívia e ainda mandou os acordos entre as duas nações para os quintos dos infernos. Inclusive criou atritos diplomáticos ao Brasil, humilhando publicamente o país e chamando 180 milhões de brasileiros de ladrões. Em outras palavras, o ladrão da Bolívia chama os roubados de ladrões. E o que o governo fez? Protestou contra a Bolívia? Rompeu relações diplomáticas com o país? Pressionou o país, inclusive com força militar? Que nada! Simplesmente engoliu seco o roubo da Bolívia e ainda justificou a bandidagem contra o povo brasileiro! A esquerda festiva, cão fiel do Presidente Lula, outrora nacionalista de plantão, acabou virando totalmente boliviana, totalmente inimiga do Brasil. E quem é que protestou? Resposta: ninguém! Nenhuma alma viva se manifestou contra o roubo do Brasil!
Isso porque o confisco da Petrobrás na Bolívia foi manietado pelo sargentão de Caracas, Hugo Chavez, que financiou a campanha de Evo Morales e ainda colocou a PDVSA, a empresa estatal venezuelana, no lugar da Petrobrás. No final da história, quem mandou na situação foi a Venezuela e quem suplantou a hegemonia brasileira no continente foi Hugo Chavez. E qual brasileiro se manifestou contra isso? Umas poucas vozes isoladas se manifestaram, para simplesmente serem engolidos na indiferença do povo brasileiro aos seus reais interesses.
Que senso de nacionalidade se pode criar de um país que ignora interesses que afetam inclusive sua soberania, ou mesmo sua existência como Estado-nação? As questões citadas são tão graves, que a própria integridade do país está ameaçada e a única coisa que o povo brasileiro pensa é no patriotismo rasteiro da seleção brasileira. Mas é a doença do “homo ludens”, a doença de agir mais por intuição fantasiosa do que por razão precavida. É a impressão fantasiosa, confusa, disparatada, que leva a crença lunática de que os americanos estão sinceramente desejando invadir a Amazônia, enquanto se apóia fielmente o roubo do Brasil pela a Bolívia. Muitos brasileiros (pasmem!) acreditam-se exploradores dos bolivianos!
O Brasil está caminhando para a destruição do Estado democrático de Direito, precisamente por carecer ao povo brasileiro qualquer noção moderna e madura de cidadania, comuns aos países democráticos estáveis. Os brasileiros não são os norte-americanos, que defendem sua soberania a qualquer custo, com seco pragmatismo, ou o povo judeu, essa nação de quatro mil anos de sobrevivência, que luta pela sua legitima existência numa terra hostil da Palestina. Se os brasileiros sofressem a diáspora do povo judeu, nada sobraria que lembrasse a existência do Brasil, nem mesmo a seleção da Copa do Mundo, tamanha a nossa real falta de importância histórica. Se os brasileiros são incapazes de lutarem por interesses nevrálgicos à sua sobrevivência no mar hostil das nações latino-americanas, que dirá de situações piores?
Por outro lado, uma nação que vive de alegorias fantasiosas é um caminho da farsa para a tragédia. O brasileiro médio é indiferente, quando relatos que dizem respeito ao seu dia a dia são decididos no exterior, enquanto a Copa do Mundo praticamente consome a maior parte de seus comentários, do bar da esquina às conversas de família. Atritos diplomáticos, rombos de bilhões de dólares do contribuinte por nações estrangeiras, hostilidades declaradas a seu país ou mesmo a omissão cúmplice e traidora de seu governo não parecem não ser com ele. Enfim, o patriotismo parece ser apenas um elemento de torcida organizada. Mais hostil é a seleção da Argentina ou da Alemanha. . .
Leonardo Bruno
6 comentários:
Panem et circences, meu amigo, panem et circences. Excelente texto.
Um abraço
Realmente é isso que se passa na leve e convidativa atmosfera brasileira, em que tudo é permitido, sendo o carnaval o supra-sumo bestial de nossa cultura inculta. O Brasil, basta refletirmos um pouco ( e isso não é novidade para nimguém), é a casa-da-mãe-Joana, é o país da desordem e do regresso, contrariando o primitivo e famigerado ideal positivista. Os (des)valores patrióticos e nacionais, como foi esclarecido no artigo acima, não são mais do que o pobre reflexo desta sociedade desprovida de amor a sua nação e, antes, de amor ao próximo. Eles desconhecem este sentimento, preferem louvar a seleção e sua atuação nas Copas do Mundo.
CORREÇÃO: o certo é ninguém e não nimguém, como eu digitei anteriormente.
Não provenho de grande vocabulário, mas vou tentar me expressar;
Venho olhando ao meu redor, percebo que as pessoas não têm interesse pelo BRASIL, se tem interesse, são interesses condenáveis, pois são interesses onde priorizam seu capital, o amor ao próximo e a nação foi esquecido, até mesmo por aqueles q a defendem, o brasileiro se orgulha do futebol, mesmo sendo a coisa mais banal para se orgulhar, se orgulha de suas rivalidades contra o seu próximo, o BRASIL é algo desprezível, o governo mantêm o índice de escolaridade baixa para não ter uma parte da população culta o suficiente para desintegrá-lo, e assim manter seu poder sobre as massas populares. .D eu tenho 14 anos, mas tenho uma visão onde esse BRASIL, vai ser algo espetacular, onde reina o pacifismo interno, e a brutalidade contra todos aqueles q se aproveitaram de nós...
Palavras de um coração: verde e amarelo
Não provenho de grande vocabulário, mas vou tentar me expressar;
Venho olhando ao meu redor, percebo que as pessoas não têm interesse pelo BRASIL, se tem interesse, são interesses condenáveis, pois são interesses onde priorizam seu capital, o amor ao próximo e a nação foi esquecido, até mesmo por aqueles q a defendem, o brasileiro se orgulha do futebol, mesmo sendo a coisa mais banal para se orgulhar, se orgulha de suas rivalidades contra o seu próximo, o BRASIL é algo desprezível, o governo mantêm o índice de escolaridade baixa para não ter uma parte da população culta o suficiente para desintegrá-lo, e assim manter seu poder sobre as massas populares. .D eu tenho 14 anos, mas tenho uma visão onde esse BRASIL, vai ser algo espetacular, onde reina o pacifismo interno, e a brutalidade contra todos aqueles q se aproveitaram de nós...
Palavras de um coração: verde e amarelo
Texto muito bem construído com argumentos fortes que mostram o total desinteresse do brasileiro pela sua terra, pelo seu chão. Realmente o nacionalismo do Brasil pela participação da seleção na copa do mundo reflete a total ignorância do nosso povo frente a problemas tão graves e este mesmo povo que alegoricamente se cobre com a Bandeira Brasileira,chega a nos provocar gargalhadas tamanha a sua idiotice.
Valeu. Gostei do seu texto.
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