
Um fenômeno parece pouco observado nas democracias modernas:
a condenação sistemática das elites, enquanto, contraditoriamente, estas mesmas se tornam mais fortes, mais poderosas e menos visíveis na política. Desde a revolução francesa, é um lugar comum a condenação sistemática dos ricos, dos bem situados, dos nobres, das inteligentes e dos aristocratas e das meritocracias em geral, com a pecha de que as elites são uma turma de malvados que conspiram contra a democracia e a igualdade. A literatura do século XIX é cheia de ódio aos homens de destaque. E como não devia deixar de ser, os burgueses são as vítimas do momento. . . No entanto, se as elites são odiadas, quem governa a democracia? É o povo? Só um soberbo idiota é capaz de crer nisso! As elites sempre governarão as nações, sejam elas boas ou ruins!
Na verdade, o igualitarismo democrático criou um precedente, no mínimo, estranho:
em nome de se combater as elites, acabou por criar mecanismos para torná-las mais ocultas, mais secretas, menos vistas e mais poderosas. Uma característica peculiar disso, é que a condenação sistemática das elites publicamente conhecidas coincide com a ascensão de elites conspiratórias, que tomam o poder, fora das vistas do povo e da sociedade. O exemplo clássico disso é a maçonaria, no século XIX. Essa instituição nasceu como uma espécie de irmandade, cujas razões remontam às perseguições religiosas e políticas contra eruditos e pensadores europeus nos séculos XVI e XVII. A maçonaria misturava elementos medievalistas de obediência e lealdade grupal, ordem secreta e preceitos rituais esotéricos e ocultistas de introdução iniciática. Ela refletia as tendências intelectuais européias dos Rosa-Cruzes alemães e outras associações intelectuais, que nutriam uma idéia de criar uma sociedade perfeita e utópica, com uma mescla de racionalismo e milenarismo. A sociedade
“esclarecida” oculta devia pensar e orientar a humanidade sem ser vista. No século XVIII, essas tendências milenaristas se abrandaram, para uma visão mais laica da realidade. Na verdade, a maçonaria é produto da feroz repressão política e religiosa na Europa do século XVII, que acabou por formalizar uma sociedade intelectual que escondia seus propósitos, por uma questão de sobrevivência.
Porém, este caráter secreto acabou por se tornar uma espécie de disfarce para o mando. Em países como Inglaterra, Estados Unidos e mesmo o Brasil, a democracia constitucional se coadunou perfeitamente com a ascensão e os auspícios de dessa elite invisível. Mesmo num país sem tradições aristocráticas, como os Eua, a maçonaria se tornou uma espécie de casta nobiliárquica, cujo discurso igualitário e libertário camuflava um projeto grupal de poder, de Estado e de sistema político. No final das contas, as brigas parlamentares, as disputas presidenciais e até mesmo as guerras provinciais entre partidos políticos, facções monárquicas e republicanas, acabavam sendo briga de maçons. É claro que os maçons não dominavam tudo, ou, pelo menos, eles encontravam resistência. Embora a influência da maçonaria na política seja notória no século XIX, há um exagero mitológico quanto a uma certa onipotência de suas atividades políticas. Todavia, o caráter secreto da maçonaria incrementava certas forças a esse grupo, e o fato de não ser visto aos olhos do público facilitava muito os anseios de uma elite no poder.
O surgimento de seitas iniciáticas ocultas é um dado impressionante nas democracias modernas. A maçonaria, ainda que involuntariamente, deu incremento ao revolucionarismo moderno e a organização secreta das elites.
Se o grosso da maçonaria tinha como projeto, um governo racionalista, partidário da tolerância e de alguns valores laicizantes no universo político, no entanto, isso não impediu que a velha tradição milenarista que a engendrou criasse uma seita de fanáticos dispostos a qualquer coisa para modificar a realidade pelas utopias. Neste ínterim, a revolução francesa foi o exemplo mais acabado dessa ascensão do revolucionarismo milenarista no poder. Os jacobinos, os girondinos e suas demais facções políticas simulavam uma oposição direta, o que era apenas uma briga política interna facciosa dentro de um mesmo projeto político e de um mesmo grupo maçônico. Os clubes, salões, associações e irmandades políticas, sob o disfarce do discurso populista, ocultavam suas reais intenções elitistas. Tinham um projeto comum, que era derrubar a nobreza, ou seja, a
“elite”, para se tornarem as novas elites. E quando derrubaram o rei, a monarquia e os nobres, só restou a disputa atroz pelo poder, com a decapitação sistemática de cabeças a granel. Os jacobinos não se contentaram com isso, apenas:
quiseram destruir a religião cristã e impor uma espécie de pseudo-religião estatal, inspirado nos dogmas da maçonaria. O Estado, tal como no paganismo romano, tinha sua religião civil, e seu líder, Robespierre, era o César
“incorruptível”. Eis o que foi a revolução francesa:
um banho de sangue, um prenúncio da tirania brutal e a impetuosidade de uma casta cheia de idéias milenaristas e revolucionárias, a ponto de destruir todos os elementos culturais, morais e institucionais da sociedade civil.
Neste processo, há um aspecto que acompanha esta ascensão conspiratória:
a crescente centralização do poder do Estado e a onipotência do poder político. Se na Revolução Francesa, o Estado republicano era muito mais opressivo, brutal e tirânico do que a monarquia absolutista, inclusive herdando todo os elementos odiosos do regime monárquico, as revoluções do século XIX continham as sementeiras que deram incremento aos regimes totalitários do século XX.
Por certo, o paradoxo do Estado moderno é a suposta exigência de publicidade e transparência nos negócios públicos, ao mesmo tempo em que ele engendra uma gigantesca burocracia, invisível, distante, fora dos olhos dos governados. As elites literalmente odiadas são aquelas vistas aos olhos do povo. No mundo medieval e renascentista, os nobres, os gentis-homens e os aristocratas em geral, eram vistos pelo povo. Eram vizinhos de seus povoados, e embora tivessem um modo distinto de vida e de mundo afastados da plebe, os governados sabiam, de fato, quem governava. Nobreza era símbolo de status e de referências políticas; ser visto por todos como exemplo e como autoridade política era o cerne da nobreza:
la noblesse oblige! Embora houvesse alguns inconvenientes sociais na distinção aristocrática, porém, a tradição consagrada, aos olhos do povo, era a de que a família do príncipe encarnava simbolicamente o consenso político. No entanto, a centralização monárquica, aos poucos, criou um certo distanciamento político das elites nobiliárquicas com o povo e esvaziou de poder da nobreza, que a partir do século XVIII, se tornou uma classe ociosa, decadente. Curiosamente, o poder da burocracia nasceu com o rei, que conseguiu aniquilar o poder de seus pares nobres, e, involuntariamente, promoveu uma força além dele. A monarquia criou uma legião de burocratas poderosos, porém, ressentidos com o status dos nobres. Eram os burros de carga da monarquia, enquanto viam que os dividendos ficavam com a classe nobiliárquica. Daí a entender a vulnerabilidade do príncipe, do rei ou do nobre, em relação a seus inimigos republicanos. A burocracia nascente que atacava a monarquia em público, por ser elitista, escondia o fato de que foi essa elite decadente que a promovia. Os reis e os nobres, como figuras eternamente visadas, tornaram-se vulneráveis ao julgamento da opinião pública, dominada pelos elementos hostis à monarquia. E no final da história, o descontentamento dessa elite burocrática acabou por patrocinar o processo revolucionário. Quando a revolução francesa degolava nobres, a aristocracia era apenas uma figura morta, amorfa, uma carga pesada, dentro da verdadeira elite republicana que manietava a guilhotina.
A revolução francesa, ao contrário do que dizem, nunca promoveu a burguesia. Ou melhor, se promoveu, foi de forma involuntária. O processo revolucionário francês nunca foi liderado por burgueses, no sentido que dá essa palavra. A grande maioria de seus líderes era de revolucionários profissionais, membros de clubes elevados a seitas messiânicas, com seus ritos secretos e suas idéias grupais. Membros da classe média, criados pela burocracia monárquica, ou então oriundos da baixa nobreza e do baixo clero, não continham nenhum projeto que elevasse os burgueses à elite da sociedade. Por mais que houvesse algum burguês nesse meio, não tinham nenhum projeto que promovesse politicamente a burguesia. Na verdade, nutriam um sentimento de apologia ao Estado, enquanto simulavam ódio aos abusos da monarquia. Se a burguesia ascendeu ao poder, foi precisamente pelo vácuo político das mortes sangrentas que a revolução francesa deixou. A grande maioria da burguesia, como dos camponeses e do povo era conservadora. Por mais que as velharias da monarquia não agradassem a muitos burgueses, a grande maioria poderia querer reformas, mas raramente revoluções. Mesmo os camponeses nutriam mais lealdade aos seus nobres do que aos republicanos. A rebelião de Vendéia, na França, quando camponeses armados defendiam os gentis-homens e os bispos das paróquias, é o exemplo clássico do quanto eram minoritárias as simpatias pela rebelião republicana. Superado o frenesi sanguinário dos jacobinos, e mesmo o aventureirismo imperialista de Napoleão Bonaparte, os burgueses e uma boa parte do povo aderiram de bom grado, a qualquer sinônimo de estabilidade política monárquica bourbônica. E mesmo que houvesse a república, os brios revolucionários mais violentos eram suprimidos.
Porém, tal como o aristocrata, o burguês se tornou uma figura visada. Se a distinção nobre era um status político, a distinção burguesa implicava no status de riqueza. Os mesmos venenos revolucionários contra o status nobiliárquico, agora se deparavam contra o recém status fundado na ostentação burguesa. Ou seja, mais uma vez, as elites odiadas são aquelas observadas. E como tal, o processo revolucionário, acatado por membros de elites ambiciosas, mas rejeitado pelo meio político, explorava o ódio antiburguês, pelo epíteto da
“desigualdade social” e dos valores do
“igualitarismo”. Os revolucionários organizavam seus movimentos, dentro de idéias messiânicas, desejando moldar a humanidade dentro dos parâmetros de seus valores. E como não devia deixar de ser, exploravam o sentimento de inveja da população contra as elites visíveis, manipulando suas divisões, enquanto preparavam o terreno para eles mesmos se tornarem a nova classe dominante.
O século XIX criou uma nova modalidade de sociedade secreta:
o partido revolucionário. Misto de partido político, seita milenarista, organização paramilitar e grupo terrorista, tal associação surgiu entre os grupos radicais socialistas e anarquistas, que até então, pipocavam na política revolucionária na Europa Ocidental e na Rússia dos czares. Em particular, na Rússia, esse partido revolucionário secreto envolvia-se numa ideologia radicalmente destrutiva:
o niilismo, que preconizava a ruína completa da sociedade vigente, para um novo modelo de sociedade, embasado nos quesitos grupais partidários socialistas. A perversão moral desses movimentos dizia respeito ao próprio critério de organização deles:
a individualidade é moldada de acordo com a sujeição total ao grupo. O grupamento serve para policiar o comportamento individual; e quem fugisse na linha da organização grupal, seria sumariamente eliminado. Na verdade, era uma seita de fanáticos com ares de máfia criminosa. O
“catecismo revolucionário” de Netchiaev era o reflexo sombrio da nova moralidade revolucionária e iniciática:
tudo pela revolução, nada contra a revolução. Deus, família, propriedade, cultura, amores, relações individuais e a própria individualidade deviam ser esmagadas pela fúria revolucionária. O revolucionário não tem pátria, não tem família, não tem amores:
a única obsessão é a revolução. E como a introdução iniciática implica desligar o indivíduo de todos os laços pessoais que o humanizam, a resposta é brutalizá-lo moralmente, até o ponto em que ele possa fazer e obedecer tudo, em nome da causa. Daí o escândalo quando Netchiaev mandou um discípulo de seu grupo para que matasse um recalcitrante, que desejava se desligar do movimento:
a prova de lealdade espiritual a um grupo de criminosos sacrifica a amizade e a dissidência. Ou até a vida.
As revoluções violentas são, em muitas situações, filhas espirituais das sociedades iniciáticas, de cunho socialista. A conseqüência básica do movimento de Netchiaev foi o partido bolchevista na Rússia. A forma rígida, centralizadora e servil dos discípulos desse partido é uma herança do movimento que o próprio Lênin soube captar, quando participava em um dos grupelhos inspirados pelo próprio Netchiaev. Lênin era militante atuante no
“Narodnaye Volia” (A Vontade do Povo), grupo terrorista e niilista russo, partidário dos ideais do
“Catecismo Revolucionário”, e adaptou, como poucos, a ideologia niilista com o marxismo alemão. Foi uma simbiose perfeita:
a ideologia de violência totalitária e estatólatra de Marx com os mecanismos terroristas e criminosos de organização do movimento anarquista russo. Se o quesito da lealdade grupal é o sacrifício do indivíduo pelo grupo e a delação mútua para manter a coesão orgânica do movimento, essa antimoralidade, sob o domínio do partido totalitário, abrangeu todo o corpo social para subjugá-lo e destruí-lo. Em outras palavras, os indivíduos eram coagidos a traírem seus laços de família, seus valores pessoais, seus amigos, seus pais, pela lealdade onipotente do partido e da
“causa revolucionária” imposta pelo Estado. A cultura de violência, expurgos, assassinatos em massa e delações mútuas nos regimes comunistas é a lógica de um esquema de movimentos iniciáticos fanáticos, que transformam a sociedade numa mera extensão de seu grupo. Em miúdos, os países socialistas se tornaram uma verdadeira sociedade iniciática de Netchiaev. E numa democracia, os movimentos socialistas escondiam seus crimes e sua duplicidade revolucionária, aceitando tanto o jogo democrático, como agindo criminalmente de forma a destruir o sistema. É, em suma, uma ética de crime organizado, sob sua forma política.
No entanto, o bolchevismo não é o único movimento com estas características. O nazismo e o fascismo são crias do mesmo fenômeno político. O nazismo não só era uma mistura de um partido, seita, pseudo-religião e bando criminoso, como uma casta que nutria rituais pagãos germânicos. E o fascismo, com seus rituais nacionalistas dos símbolos do império romano, e mesmo com sua organização militarista, também é outra mera imitação do fenômeno revolucionário leninista. Contudo, o nazismo e o fascismo adaptam a sua crença de casta de eleitos, dentro dos padrões da raça ou do nacionalismo corporativista. Isso diferencia do bolchevismo, ao menos na aparência ideológica, já que a idealização castiça de todos eles é a elite dos revolucionários profissionais, prontos a tomar poder em nome do povo. Na prática, a ideologia da raça superior, da nação suprema entre as nações e da classe revolucionária eleita pela história é visivelmente semelhante, na construção lógica. São variações de uma mesma essência orgânica de movimento político e ideológico.
Há outra característica das elites secretas revolucionárias:
elas invocam uma ideologia em que a humanidade é uma luta de todos contra todos, uma sucessão de conspirações ocultas. O elemento de violência hobbesiano é explícito no âmago dessas crenças, já que a sociedade é sempre uma palco de luta e a política, um estado de natureza. Na ideologia de classe preconizada pelos bolchevistas, os burgueses seriam uma elite de salteadores, que, inventando uma falsa democracia, conspirariam para se manter eternamente no poder. Os nazistas aplicaram o mesmo raciocínio aos judeus:
a Alemanha era dominada pelos sionistas, e como tal, havia uma conspiração para dominar o mundo, patrocinada por eles. Toda uma trama diabólica se escondia sob a dominação judaica:
a conspiração bolchevista, a conspiração dos banqueiros e capitalistas judeus, a "traição" contra os alemães, no Tratado de Versalhes, que deu fim à primeira guerra, etc. O delírio antisemita também foi usado pelos soviéticos:
os judeus eram acusados de "cosmopolitistas", "conspiradores", "revisionistas", "inimigos do povo", e elevados a uma classe inimiga. E os expurgos contra os militantes judeus do Partido Comunista não tiveram fim. Na realidade, as seitas iniciáticas projetavam para os outros, a sua própria visão de mundo. Luta de classes e de raças são definições do processo de disputa pelo poder deles. No intento autojustificável de sua organização, esses grupos forjam uma realidade que compactua com o cerne espiritual de suas ideologias.
A megalomania dessas seitas não tem fim. Elas preconizavam uma visão platônica de mundo, e, em face disso, almejavam moldar à humanidade na esfera da sua loucura coletiva. Daí a entender o porquê do socialismo soviético e mesmo do nazismo terem sido sistemas políticos imperialistas, no amplo sentido da palavra. A Alemanha Nazista representou um profundo perigo à humanidade, tanto quanto o bolchevismo. Eles quase devastaram a civilização e impuseram um período de trevas por todo o século XX, em guerras e aflições.
Se por um lado, este fenômeno foi causado pela tragédia da ascensão das massas na democracia, por outro, a reivindicação de uma autoridade moral do Estado acabou por promover uma centralização brutal do poder das elites. Todos esses elementos se casam com as sociedades iniciáticas, já que as massas não pensam por si mesmas e a autoridade absoluta é propícia a organização massificadora. De fato, os movimentos de massas, criados pelos regimes socialistas, sãos conseqüências lógicas das formas orgânicas de seitas iniciáticas. Mesmo o materialismo reles e vulgar nas democracias, com a preocupação demasiada do bem estar material, foi bem explorado pelas sociedades iniciáticas, até porque quase todas elas nutrem ideologias materialistas e anti-espirituais. O
"espiritualismo" grupal desses movimentos é uma total negação do espírito e da transcendência, um rebaixamento moral do homem. Se as novas elites dão migalhas materiais aos povos infantilizados por um poder paternal, do resto, elas comandam despoticamente todo o pensamento e a conduta humana. Reduzem a humanidade como gado!
Surge aí uma casta elitista e invisível, que não assume as responsabilidades inerentes ao governo de autênticas elites, enquanto culpa justamente os inimigos e os rivais como
“elitistas”. Isso porque seus métodos de dominação são invisíveis:
não se sabe onde termina o poder do Estado e onde começam as ações políticas da sociedade civil. O projeto totalitário é basicamente isso:
um poder invisível, onipotente, que policia, oprime e extermina a liberdade civil, pela conjectura de se desconhecer quais os limites e as ações do poder do Estado e das elites que governam. E é precisamente pela falta de limites é que há o poder absoluto.
As elites revolucionárias não se assumem como “
elites”: a demonização das
“classes dominantes” na democracia serve justamente para apenas destruir as elites tradicionais. Na verdade, o discurso de combate às elites foi um dos instrumentos mais perfeitos de ascensão das novas elites ao poder, seja na democracia, seja em um processo revolucionário. A moda agora é dizer-se do
“povo”, ser contrário aos elitismos. Tais facções políticas se unem às pessoas rejeitadas e infelizes e se dizem porta-vozes delas. Enquanto isso, os políticos exigem para si um poder jamais sonhado pelas elites tradicionais:
querem todo o monopólio do poder estatal, da cultura, da moral e da opinião. O mesmo princípio de aplica a Morales, na Bolívia e Correa, no Equador:
as elites tradicionais são justamente condenadas por não representarem mais o papel das classe dominantes. Ou, na prática, são as elites públicas, vistas aos olhos do povo, enquanto por trás dela, promove-se uma elite secreta, criminosa e iniciática. Há, por trás de todo o revolucionarismo na América Latina, os elementos característicos de uma classe totalitária:
crime organizado, guerrilha, militarismo, seita messiânica. E quando Morales e Correa fazem seus rituais pagãos, em nome do culto tradicional e tribal indígena, hostilizando os cidadãos de origem européia em seus países, isso lembra todos os elementos simbólicos que engendraram loucuras, como o paganismo nazista. Há implícita, uma forma de culto racial e cultural.
O mais grave de tudo isso é que esses movimentos têm foro internacional:
é o Foro de São Paulo, uma espécie de movimento socialista em escala continental, que organiza as atividades revolucionárias na América Latina. O Foro de São Paulo é uma sociedade secreta, desconhecida pela maioria das populações do continente latino-americano e que hoje governa vários países. O Brasil, a Bolívia e a Venezuela estão sob o seu domínio. Na artimanha dúbia, típica desse movimento revolucionário, as Farcs, o Mir chileno e vários outros grupos de guerrilha e narcotráfico estão sendo gerenciados pelo mesmo grupo, tanto quanto os partidos revolucionários num sistema legal. Aliás, as Farcs são um misto de grupo narcotraficante e terrorista, que assola a democracia da Colômbia, com o apoio formal de Chavez, de Lula e de Morales. Assola, inclusive, o Brasil, com o treinamento de táticas de guerrilha para grupos criminosos, como o PCC e mesmo movimento sociais, como o MST. Não há por que ignorar a ascensão de Evo Morales, o atual presidente da Bolívia, envolvido com o narcotráfico de seu país.
É impressionante notar que um detalhe de tamanha gravidade seja ignorado pela maioria das sociedades latino-americanas e mesmo por uma boa parte da imprensa. Contudo, as elites tradicionais, que deveriam pôr limites à ascensão de um poder perverso, renunciaram ao seu papel. Mostram sinais de decadência, e a despeito do perigo que ameaça todas as democracias, subestimam a força dessas associações secretas. Em alguns casos, querem conter a besta, alimentando sua fome ou mesmo fazendo acordos com um poder que quer destruí-los. E enquanto isso, esse poder oculto se fortalece e se arma, até se transformar o poder instituído. As elites democráticas, que poderiam defender os valores democráticos e da sociedade civil, simplesmente estão vendendo a corda que vai enforcá-los. Apreciam uma tática política, que na prática é suicida. Isso ocorreu com as elites políticas da democracia de Weimar, com a ascensão da Alemanha Nazista, e entre as classes políticas rivais dos bolcheviques, com o golpe de outubro de 1917 na Rússia. O mesmo processo ocorre aqui, no continente latino-americano.
Em toda a América Latina, o aparato ilegal da criminalidade revolucionária se alastra, junto com a conquista legal do poder. Uma visa destruir a outra. Uma prenuncia transformar a ilegalidade em atos legais e destruir toda a democracia. Seja por métodos revolucionários ou democráticos, a democracia está sendo varrida do mapa no continente. E as ditaduras revolucionárias, com seus movimentos secretos, fora dos olhares do povo, estão se estabelecendo, instituindo um poder invisível, inalcançável, absolutista, opressivo, cujo objetivo é levar os países para a servidão. A formação de um poder internacional de repúblicas totalitárias, suprimindo a autonomia das nações e a liberdade dos povos é o que está por trás do
"bolivarianismo" de Chavez e a
"integração" de Lula, Morales e alhures. Quanto menos se esperar, os povos já estarão sob os grilhões mais perversos do totalitarismo. E os filhos espirituais de Netchiaev e Lênin estarão mais vivos do que nunca, exigindo sangue!
Leonardo Bruno
Belém, Pará, 8 de fevereiro de 2007